Passagens sobre Meninos

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Frases sobre meninos, poemas sobre meninos e outras passagens sobre meninos para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Terra – 24

AntĂłnio, Ă© preciso partir!
o moleiro nĂŁo fia,
a terra é estéril,
a arca vazia,
o gado minga e se fina!
AntĂłnio, Ă© preciso partir!
A enxada sem uso,
o arado enferruja,
o menino quere o pĂŁo; a tua casa Ă© fria!
É preciso emigrar!
O vento anda como doido – levará o azeite;
a chuva desaba noite e dia – inundará tudo;
e o lar vazio,
o gado definhando sem pasto,
a morte e o frio por todo o lado,
sĂł a morte, a fome e o frio por todo o lado, AntĂłnio!
É preciso embarcar!
Badalão! Badalão! – o sino
jĂĄ entoa a despedida.
Os juros crescem;
o dinheiro e o rico nĂŁo tĂȘm coração.
E as décimas, António?
NinguĂ©m perdoa – que mais para vender?
Foi-se o cordĂŁo,
foram-se os brincos,
foi-se tudo!
A fome espia o teu lar.
Para quĂȘ lutar com a secura da terra,
com a indiferença do céu,
com tudo, com a morte, com a fome, coma a terra,
com tudo!
Árida,

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Imagens sĂŁo adonde Amor se Adora

Quem pode livre ser, gentil Senhora,
Vendo-vos com juĂ­zo sossegado,
Se o Menino, que de olhos Ă© privado,
Nas Meninas dos vossos olhos mora?

Ali manda, ali reina, ali namora,
Ali vive das gentes venerado;
Que vivo lume, e o rosto delicado,
Imagens sĂŁo adonde Amor se adora.

Quem vĂȘ que em branca neve nascem rosas
Que crespos fios de ouro vĂŁo cercando?
Se por entre esta luz a vista passa,

Raios de ouro verĂĄ, que as duvidosas
Almas estĂŁo no peito traspassando,
Assim como um cristal o Sol traspassa.

Os Sinos

1

Os sinos tocam a noivado,
No Ar lavado!
Os sinos tocam, no Ar lavado,
A noivado!

Que linda criança que assoma na rua!
Que linda, a andar!
Em extasi, o povo commenta que Ă© a Lua,
Que vem a andar…

Tambem, algum dia, o povo na rua,
Quando eu cazar,
Ao ver minha noiva, dirĂĄ que Ă© a Lua
Que vae cazar…

2

E o sino toca a baptizado
Que lindo fado?
E o sino toca um lindo fado,
A baptizado!

E banham o anjinho na agoa de neve,
Para o lavar,
E banham o anjinho na agoa de neve,
Para o sujar.

Ó boa madrinha, que o enxugas de leve,
Tem dĂł d’esses gritos! Comprehende esses ais:
Antes o enxugue a Velha! antes Deus t’o leve!
NĂŁo soffre mais…

3

Os sinos dobram por anjinho,
Coitadinho!
Os sinos dobram, coitadinho…
Pelo anjinho!

Que aceiada que vae p’ra cova!
Olhae! olhae!
Sapatinhos de sola nova,
Olhae!

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Mentir é uma falta do menino, uma arte do amante, um aperfeiçoamento do solteiro e uma segunda natureza do marido.

O que se Passa na Cama

O que se passa na cama
Ă© segredo de quem ama.

É segredo de quem ama
nĂŁo conhecer pela rama
gozo que seja profundo,
elaborado na terra
e tĂŁo fora deste mundo
que o corpo, encontrando o corpo
e por ele navegando,
atinge a paz de outro horto,
noutro mundo: paz de morto,
nirvana, sono do pénis.

Ai, cama, canção de cuna,
dorme, menina, nanana,
dorme a onça suçuarana,
dorme a cĂąndida vagina,
dorme a Ășltima sirena
ou a penĂșltima… O pĂ©nis
dorme, puma, americana
fera exausta. Dorme, fulva
grinalda de tua vulva.
E silenciem os que amam,
entre lençol e cortina
ainda hĂșmidos de sĂ©men,
estes segredos de cama.

Os Sinais

Saibam quantos vivem
neste mundo imenso:
Deus nĂŁo cheira a incenso.
É no estrume fresco
e na alga viscosa
que devemos ver
os sinais divinos
com os olhos de quando
éramos meninos.

A flor com que a menina sonha estĂĄ no sonho? Ou na fronha? A lua com que a menina sonha Ă© o lindo do sonho ou a lua da fronha?

O Ideal PortuguĂȘs como Ideal para o Mundo

TrĂȘs pontos, segundo CamĂ”es, sobre os quais temos que meditar, e ver como Ă©. Ponto nĂșmero 1: Ă© preciso que os corpos se apaziguem para que a cabeça possa estar livre para entender o mundo Ă  volta. Enquanto nĂłs estamos perturbados com existir um corpo que temos que alimentar, temos que fartar, que temos de tratar o melhor possĂ­vel, cometendo para isso muitas coisas extremamente difĂ­ceis, nessa altura, quando a nossa cabeça estiver inteiramente livre e lĂ­mpida, nĂłs podemos ouvir aquilo que CamĂ”es chama «a voz da deusa». E que faz a voz da deusa? Arranca Ă queles marinheiros as limitaçÔes do tempo e as limitaçÔes do espaço. Arranca-os Ă s limitaçÔes do tempo o que faz que eles saibam qual vai ser o futuro de Portugal. E arranca-os Ă s limitaçÔes do espaço porque eles vĂȘem todo o mundo ao longe, o universo que estĂĄ ao longe, a deusa lho mostra, embora com o sistema errado, digamos assim, ou imperfeito, de Ptolomeu, e eles estĂŁo portanto inteiramente fora do espaço. Aquilo que foi o ideal dos gregos, e que os gregos nunca conseguiram realizar. EntĂŁo o que Ă© que aconteceu? Aconteceu que um dia houve outro portuguĂȘs que tinha ido para o Brasil,

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Delirio

NĂŁo posso crĂȘr na morte do Menino!
E julgo ouvi-lo e vĂȘ-lo, a cada passo…
É ele? Não. Sou eu que desatino;
É a minha dîr soffrida, o meu cansaço.

Delirio que me prendes num abraço,
EmendarĂĄs a obra do Destino?
VĂȘ-lo-ei sorrir, de novo, no regaço
Da mĂŁe? Verei seu rosto pequenino?

Misterio! Sombra imensa! Alto segredo!
Jamais! jamais! Quem sabe? Tenho mĂȘdo!
Que vejo em mim? A treva? a luz futura?

Ah, que a dĂŽr infinita de o perder
Seja a alegria de o tornar a ver,
Meu Deus, embora noutra creatura!

Ó Tranças De Que Amor PrisĂ”es Me Tece

Ó tranças de que Amor prisĂ”es me tece,
Ó mãos de neve, que regeis meu fado!
Ó tesouro! Ó mistĂ©rio! Ó par sagrado,
Onde o menino alĂ­gero adormece!

Ó ledos olhos, cuja luz parece
TĂȘnue raio de sol! Ó gesto amado,
De rosas e açucenas semeado,
Por quem morrera esta alma, se pudesse!

Ó lábios, cujo riso a paz me tira,
E por cujos dulcĂ­ssimos favores
Talvez o prĂłprio JĂșpiter suspira!

Ó perfeiçÔes! Ó dons encantadores!
De quem sois? Sois de VĂȘnus? – É mentira;
Sois de MarĂ­lia, sois dos meus amores.

Tarde no Mar

A tarde Ă© de oiro rĂștilo: esbraseia
O horizonte: um cacto purpurino.
E a vaga esbelta que palpita e ondeia,
Com uma frågil graça de menino,

Poisa o manto de arminho na areia
E lĂĄ vai, e lĂĄ segue ao seu destino!
E o sol, nas casas brancas que incendeia.
Desenha mĂŁos sangrentas de assassino!

Que linda tarde aberta sobre o mar!
Vai deitando do céu molhos de rosas
Que Apolo se entretĂ©m a desfolhar…

E, sobre mim, em gestos palpitantes,
As tuas mĂŁos morenas, milagrosas,
SĂŁo as asas do sol, agonizantes…

Eu nĂŁo Quero Esquecer os Dias que Viveram

Eu nĂŁo quero esquecer os dias que viveram.
Por eles escrevi estes versos mofinos;
escrevi-os Ă  tarde ouvindo rir meninos,
meninos loiro-sĂłis que bem cedo morreram.

Eu nĂŁo quero esquecer os dias que enumeram
desejos e prazeres, rezas e desatinos;
e, em loucuras ou entoando hinos,
lĂĄ na Curva da Estrada, azuis, desapareceram.

Eu nĂŁo quero esquecer dos dias mais felizes
a bĂȘnção branca-e-astral, lĂĄ das Alturas vinda,
nem tampouco o travor das horas infelizes.

Eu nĂŁo quero esquecer… Quero viver ainda
o tempo que secou, mas que deixou raĂ­zes,
e em verde volverĂĄ, e florirĂĄ ainda…

Loa

É nesta mesma lareira,
E aquecido ao mesmo lume,
Que confesso a minha inveja
De mortal
Sem remissĂŁo
Por esse dom natural,
Ou divina condição,
De renascer cada ano,
Nu, inocente e humano
Como a fé te imaginou,
Menino Jesus igual
Ao do Natal
Que passou.

Natal

às moças da Serra

É meia noite … O sino alvissareiro,
LĂĄ da igrejinha branca pendurado,
Como n’um sonho mĂ­stico e fagueiro,
Vem relembrar o tempo do passado.

Ó velho sino, ó bronze abençoado,
Na alegria e na mĂĄgoa companheiro!
Tu me recordas o sorrir primeiro
De menino Jesus imaculado.

E enquanto escuto a tua voz dolente,
Meu ser que geme dolorosamente
Da desventura, aos gĂ©lidos açoites …

Bebe em teus sons tanta alegria, tanta!
Sino que lembras uma noite santa,
Noite bendita mais que as outras noites!

Celeste

Vi-te crescer! tu eras a criança
Mais linda, mais gentil, mais delicada:
Tinhas no rosto as cores da alvorada
E o sol disperso pela loira trança.

Asas tinhas tambĂ©m, as da esperança…
E de tal sorte eras sutil e alada
Que parecias ave arrebatada
Na luz do Espaço onde a razão descansa!

Depois, entĂŁo, fizeste-te menina,
VisĂŁo de amor, purĂ­ssima, divina,
Perante a qual ainda hoje me ajoelho.

Cresceste mais! És bela e moça agora…
Mas eu, que acompanhei toda essa aurora,
Sinto bem quanto estou ficando velho.

Vivemos numa Paz de Animais Domésticos

Uma cobra de ågua numa poça do choupal, a gozar o resto destes calores, e umas meninas histéricas aos gritinhos, cheias de saber que o bicho era tão inofensivo como uma folha.
Por fidelidade a um mandato profundo, o nosso instinto, diante de certos factos, ainda quer reagir. Mas logo a razão acode, e o uivo do plasma acaba num cacarejo convencional. Todos os tratados e todos os preceptores nos explicaram jå quantas espécies de ofídios existem e o soro que neutraliza a mordedura de cada um. Herdamos um mundo jå quase decifrado, e sabemos de cor as ervas que não devemos comer e as feras que nos não podem devorar. Vivemos numa paz de animais domésticos, vacinados, com os dentes caninos a trincar pastéis de nata, tendo aos pés, submissos, os antigos pesadelos da nossa ignorùncia. Passamos pela terra como espectros, indo aos jardins zoológicos e botùnicos ver, pacata e sàbiamente, em jaulas e canteiros, o que jå foi perigo e mistério. E, por mais que nos custe, não conseguimos captar a alma do brinquedo esventrado. O homem selvagem, que teve de escolher tudo, de separar o trigo do joio, de mondar dos seus reflexos o que era manso e o que era bravo,

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para uma canção de embalar

embalo a minha filha joana que acordou num berreiro.
a casa estĂĄ Ă s escuras, vou passando com cuidado
para não dar encontrÔes nos móveis, embalo esta menina
que se calou mas estĂĄ de olho muito aberto e quer brincar,
e hĂĄ um halo de luz parda a coar-se pelas persianas
e Ă s vezes uns farĂłis riscando estrias a correrem pelo tecto.

levo-a bem presa ao colo, toda de porcelana pesadinha,
enquanto a irmã estå a dormir meio atravessada nos lençóis.
ao chegar-me a outra janela vejo as luzes fugindo na auto-estrada
em direcção ao rio, a uma placa da lua sobre o rio,
e trauteio «jå gostava de te ve-er», enquanto acendo o fogão
para aquecer o leite e embalo a minha filha e a outra estĂĄ a dormir.

oxalå cresçam ambas airosas e bem seguras,
e possam ir na vida serenamente como os rios correm,
ou como os veleiros voam, ou como elas agora respiram
em cadĂȘncias regulares neste silĂȘncio tĂĄctil.
a meio da noite um homem acordou no sossego da casa
e pĂŽs-se a cuidar do sono das suas filhas pequenas.

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SolidĂŁo

Aproximo-me da noite
o silĂȘncio abre os seus panos escuros
e as coisas escorrem
por Ăłleo frio e espesso

Esta deveria ser a hora
em que me recolheria
como um poente
no bater do teu peito
mas a solidĂŁo
entra pelos meus vidros
e nas suas enlutadas mĂŁos
solto o meu delĂ­rio

É então que surges
com teus passos de menina
os teus sonhos arrumados
como duas tranças nas tuas costas
guiando-me por corredores infinitos
e regressando aos espelhos
onde a vida te encarou

Mas os ruĂ­dos da noite
trazem a sua esponja silenciosa
e sem luz e sem tinta
o meu sonho resigna

Longe
os homens afundam-se
com o caju que fermenta
e a onda da madrugada
demora-se de encontro
Ă s rochas do tempo