Passagens sobre Naturais

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Como Escrever

Minhas intuições se tornam mais claras ao esforço de transpô-las em palavras. É neste sentido, pois, que escrever me é uma necessidade. De um lado, porque escrever é um modo de não mentir o sentimento (a transfiguração involuntária da imaginação é apenas um modo de chegar); de outro lado, escrevo pela incapacidade de entender, sem ser através do processo de escrever. Se tomo um ar hermético, é que não só o principal é não mentir o sentimento como porque tenho incapacidade de transpô-lo de um modo claro sem que o minta — mentir o pensamento seria tirar a única alegria de escrever. Assim, tantas vezes tomo um ar involuntariamente hermético, o que acho bem chato nos outros. Depois da coisa escrita, eu poderia friamente torná-la mais clara? Mas é que sou obstinada. E por outro lado, respeito uma certa clareza peculiar ao mistério natural, não substituível por clareza outra nenhuma. E também porque acredito que a coisa se esclarece sozinha com o tempo: assim como num copo de água, uma vez depositado no fundo o que quer que seja, a água fica clara. Se jamais a água ficar limpa, pior para mim. Aceito o risco. Aceitei risco bem maior, como todo o mundo que vive.

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Toda a minha vida eu lidei com questões objetivas, então me faltam tanto a aptidão natural quanto a experiência para lidar adequadamente com pessoas e para cumprir funções oficiais.

Não há humanidade sem cultivo da terra.

Não há vida boa sem o alimento que ela produz para os homens e as mulheres de todos os continentes.

Devemos reencontrar o amor pela terra como mãe da qual somos naturais e à qual somos chamados a voltar constantemente.

Liquidar os Defeitos Pouco a Pouco

Legislasse eu em Inglaterra e a minha obra seria completamente diferente. Dentro das raças, dentro das nacionalidades, há duas espécies de defeitos: os defeitos naturais, que podem ser combatidos mas nunca extirpados violentamente, e que nos farão sempre distinguir um latino dum eslavo ou dum anglo-saxão, e os defeitos incrustados, os vícios adquiridos, que são vícios, sobretudo, de educação, de mentalidade. Ora se é quase inútil fazer guerra aos primeiros, porque eles têm sempre a vitória, já não é tão ideal, tão impossível, como se diz, desincrustar os últimos, liquidá-los pouco a pouco… Veja, por exemplo, como o Japão se transformou no curto espaço da vida dum homem…

É consequência própria e natural da inveja, perseguir os presentes e estimar os passados, matar os vivos e celebrar os mortos.

Se Eu Pudesse Trincar a Terra Toda

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento …
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural…
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva …
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica…
Assim é e assim seja …

Na Noite Terrível

Na noite terrível, substância natural de todas as noites,
Na noite de insônia, substância natural de todas as minhas noites,
Relembro, velando em modorra incômoda,
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
Relembro, e uma angústia
Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.
O irreparável do meu passado — esse é que é o cadáver!
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,
Na ilusão do espaço e do tempo,
Na falsidade do decorrer.

Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido —
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso — e foi afinal o melhor de mim — é que nem os Deuses fazem viver …

Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;

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Como É Bom Ser Bom

Tu, que vês tudo pelo coração,
Que perdoas e esqueces facilmente,
E és, para todos, sempre complacente,
Bendito sejas, venturoso irmão.

Possuis a graça como inspiração
Amas, divides, dás, vives contente,
E a bondade que espalhas, não se sente,
Tão natural é a tua compaixão.

Como o pássaro tem maviosidade,
Tua voz, a cantar, no mesmo tom,
Alivia, consola e persuade.

E assim, tal qual a flor contém o dom.
De concentrar no aroma a suavidade,
Da mesma forma, tu nasceste bom.

Este dever inevitável de me observar a mim mesmo: se outra pessoa me estiver a observar, é natural que eu também tenha de me observar; se ninguém o faz, observo-me ainda mais de perto.

Mestre

Mestre, meu mestre querido,
Coração do meu corpo intelectual e inteiro!
Vida da origem da minha inspiração!
Mestre, que é feito de ti nesta forma de vida?

Não cuidaste se morrerias, se viverias, nem de ti nem de nada,
Alma abstracta e visual até aos ossos.
Atenção maravilhosa ao mundo exterior sempre múltiplo,
Refúgio das saudades de todos os deuses antigos,
Espírito humano da terra materna,
Flor acima do dilúvio da inteligência subjectiva…

Mestre, meu mestre!
Na angústia sensacionalista de todos os dias sentidos,
Na mágoa quotidiana das matemáticas de ser,
Eu, escrevo de tudo como um pó de todos os ventos,
Ergo as mãos para ti, que estás longe, tão longe de mim!

Meu mestre e meu guia!
A quem nenhuma coisa feriu, nem doeu, nem perturbou,
Seguro como um sol fazendo o seu dia involuntariamente,
Natural como um dia mostrando tudo,
Meu mestre, meu coração não aprendeu a tua serenidade.
Meu coração não aprendeu nada.
Meu coração não é nada,
Meu coração está perdido.

Mestre, só seria como tu se tivesse sido tu.

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Afasta-te da companhia dos perniciosos, eles fazem nascer em ti um licenciosidade que lhe é natural.

Qualidades de Sentimento

«Um charco», pensou, «dá-nos muitas vezes, e de forma mais intensa, a impressão de profundidade do que o oceano, pela simples razão de que a vivência dos charcos é muito mais frequente do que a dos oceanos: era, segundo ele, o que acontecia com o sentimento, e pela mesma razão os sentimentos mais banais passavam por ser os mais profundos. De facto, a preferência que se dá ao sentir, mais do que ao sentimento, que é a marca de todas as pessoas sensíveis às emoções, conduz, tal como o desejo de fazer sentir e de ser levado a sentir, comum a todas as instituições postas ao serviço do sentimento, a uma diminuição do nível e da essência do sentimento face à sua manifestação instantânea como estado de ordem pessoal, e finalmente àquela superficialidade, inibição e total insignificância para as quais não faltam exemplos. «É natural que um ponto de vista como este», pensou Ulrich, completando a sua observação, «choque todos aqueles que se sentem bem nos seus sentimentos, como o galo nas suas penas, e que ainda por cima estejam convencidos de que a eternidade recomeça com cada “personalidade”!» Tinha a nítida percepção de estar perante um erro monstruoso, à dimensão de toda a humanidade,

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O desejo de conquista é coisa realmente muito natural e comum; e, sempre que os homens conseguem satisfazê-lo, são louvados, nunca recriminados; mas, quando não conseguem e querem satisfazê-lo de qualquer modo, aí estão o erro e a recriminação.

Insensibilidade Experiente

Envolve-me lentamente uma carapaça de insensibilidade; verifico-o sem me queixar. É também um desfecho natural, um modo de começar a tornar-me anorgânico. A isto costuma chamar-se, segundo creio, a serenidade da idade. É algo que sem dúvida deve estar ligado a uma viragem decisiva nas relações entre as duas pulsões cuja existência supus. A transformação que a acompanha não é talvez excessivamente forte; permanece cheio de interesse tudo quanto tinha outrora, mas há um certo eco que falta; eu, que não sou músico, represento-me esta diferença como uma questão de usar ou não o pedal. A pressão sensível e incessante de uma enorme quantidade de sensações importunas deve ter apressado este estado prematuro, esta disposição a sentir tudo sub specie aeternitatis.

Prazer com Virtude

Que dizer do facto de tanto os homens bons como os maus terem prazer, e de os homens infames terem tanto gosto em cometer actos vergonhosos como os homens honestos têm nas suas acções excelentes? É por isso que os antigos prescreveram que se procurasse a vida melhor, não a mais agradável, de forma a que o prazer fosse, não o guia, mas um companheiro da vontade recta e boa. Na verdade, a natureza deve ser o nosso guia: a razão observa-a e consulta-a. Por isso, viver feliz é o mesmo que viver de acordo com a natureza. Passo a explicar o que quer isto dizer: se conservarmos os nossos dons corporais e as nossas aptidões naturais com diligência, mas também com impavidez, tomando-os como bens efémeros e fugazes; se não nos tornarmos servos deles, nem nos submetermos a coisas exteriores; se as coisas que são circunstanciais e agradáveis ao corpo forem para nós como auxiliares e tropas ligeiras num castro (que obedecem, não comandam); nesta medida, todas estas coisas serão úteis à mente.
Não se deixe o homem corromper pelas coisas externas e inalcançáveis, e admire-se apenas a si próprio, confiando no seu ânimo e mantendo-se preparado para tudo,

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A Hipocrisia do Amor-Próprio

A natureza do amor-próprio e deste eu humano é de só se amar a si e de só se considerar a si. Mas que há-de fazer? Não saberia impedir que este objecto que ama esteja cheio de defeitos e de misérias: quer ser grande e vê-se pequeno; quer ser feliz e vê-se miserável; quer ser perfeito – vê-se cheio de imperfeições; quer ser objecto do amor e da estima dos homens e vê que os seus defeitos só merecem a sua aversão e o seu desprezo. Este embaraço em que se encontra produz nele a mais injusta e a mais criminosa paixão que é possível imaginar; porque concebe um ódio mortal contra esta verdade que o repreende, e que o convence dos seus defeitos. Ele desejaria aniquilá-la, e não a podendo destruir em si mesma, destrói-a, tanto quanto pode, no seu conhecimento e no dos outros, isto é, põe todos os cuidados em encobrir os seus defeitos, aos outros e a si mesmo, e não suporta que lhos façam ver, nem que lhos vejam.
É sem dúvida um mal estar cheio de defeitos; mas é ainda um mal muito maior estar cheio e não os querer reconhecer, visto que é acrescentar-lhe ainda o de uma ilusão voluntária.

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