O Necessário não é Propriamente um Bem
Toda a vida, em meu entender, Ă© uma mentira: já que Ă©s tĂŁo engenhoso, critica-a e recondu-la ao caminho da verdade. Ela considera como necessárias coisas que em grande parte nĂŁo passam de supĂ©rfluas; e mesmo as que nĂŁo sĂŁo supĂ©rfluas nĂŁo contribuem em nada para nos dar bem estar e felicidade. Pelo facto de ser necessária, uma coisa nĂŁo Ă©, desde logo, um bem; ou entĂŁo degradamos o conceito de «bem», dando este nome ao pĂŁo, Ă polenta e a tudo o mais imprescindĂvel Ă vida. Tudo o que Ă© bem, Ă©, por isso mesmo, necessário, mas o que Ă© necessário nĂŁo Ă© forçosamente um bem: há muita coisa necessária e, simultaneamente, de baixo nĂvel.
NinguĂ©m Ă© tĂŁo ignorante da dignidade do bem que degrade o conceito ao nĂvel dos objectos de uso diário. Pois bem, nĂŁo seria melhor que te aplicasses antes a mostrar todo o tempo que se perde na busca de superfluidades, a apontar como tanta gente desperdiça a vida na busca do que nĂŁo passa de meios auxiliares? Observa os indivĂduos, considera a sociedade: todos vivem em função do amanhĂŁ! NĂŁo sabes que mal há nisto? O maior possĂvel. Essa gente nĂŁo vive, espera viver,
Passagens sobre Ninguém
1737 resultadosÀ desgraça ninguém foge.
NINGUÉM OUSE ACONSELHAR OS OUTROS ANTES DE SEGUIR SEUS PRÓPRIOS CONSELHOS.
Eu não quero acabar com o trabalho de ninguém, repórteres tem que escrever algo e se eles não tem nada real para escrever eles inventam.
Não há ninguém sem o seu pé de pavão.
Não se Ama Alguém Senão pelas Qualidades Aparentes
Um homem que se põe Ă janela para ver quem passa, se eu passar, poderei dizer que ele se pĂ´s lá para me ver? NĂŁo, pois ele nĂŁo pensa em mim em particular. Mas aquele que ama alguĂ©m por causa da sua beleza, ama-o? NĂŁo; porque a varĂola, que matará a beleza sem matar a pessoa, fará com que ele deixe de a amar.
E se me adiam pelo meu juĂzo, pela minha memĂłria, amam-me, a mim? NĂŁo; porque eu posso perder estas qualidades sem me perder a mim mesmo. Onde está pois este eu, se nĂŁo está nem no corpo nem na alma? E como amar o corpo ou a alma, senĂŁo por essas qualidades que nĂŁo sĂŁo o que faz o eu, visto que podem perecer? Pois, amar-se-á a substância da alma de uma pessoa abstractamente e as qualidades que lá estiverem? Isso nĂŁo pode ser e seria injusto. Logo nĂŁo se ama nunca a pessoa, mas somente as qualidades. Portanto, que nĂŁo se riam mais daqueles que se fazem honrar pelos cargos e ofĂcios, pois nĂŁo se ama ninguĂ©m senĂŁo pelas qualidades aparentes.
Ninguém deve ser elogiado pela sua bondade quando não tem força para ser mau.
Ninguém está preparado para morrer, mas isto não faz diferença; morre-se assim mesmo.
O que importava era o traço dourado, o traço mágico que ela havia imprimido na vida dele e que ninguém poderia tirar.
A Soberania da Alma
A alma sabe que as verdadeiras riquezas nĂŁo se encontram onde nĂłs as amontoamos: Ă© a alma que nĂłs devemos encher, nĂŁo o cofre! Ă€quela devemos nĂłs conceder o domĂnio sobre tudo, atribuir a posse da natureza inteira de modo a que os seus limites coincidam com o oriente e o ocaso, a que a alma, identicamente aos deuses, tudo possua, olhando soberanamente do alto os ricos e as suas riquezas – esses ricos a quem menos alegria proporciona o que tĂŞm do que tristeza lhes dá o que aos outros pertence! Quando se eleva a tais alturas, a alma passa a cuidar do corpo (esse mal necessário!), nĂŁo como amigo fiel, mas apenas como tutor, sem se submeter Ă vontade de quem está sob sua tutela.
NinguĂ©m pode simultaneamente ser livre e escravo do corpo: para já nĂŁo falar de outras tiranias que o excessivo cuidado com ele nos impõe, a soberania do corpo tem exigĂŞncias que sĂŁo autĂŞnticos caprichos. A alma desprende-se dele ora com serenidade, ora de firme propĂłsito – busca a sua saĂda sem se importar com a sorte dessa pobre coisa que para aĂ fica! NĂłs nĂŁo ligamos importância aos pĂŞlos da barba ou aos cabelos que acabámos de cortar;
Nada é mais real que um sonho. As responsabilidades não precisam de o apagar.Os deveres não precisam de o obscurecer. Porque o sonho está dentro de ti, ninguém o pode tirar.
Dois Rumos
Mentir, eis o problema:
minto de vez em quando
ou sempre, por sistema?Se mentir todo dia,
erguerei um castelo
em alta serraniacontra toda escalada,
e mais ninguém no mundo
me atira seta ervada?Livre estarei, e dentro
de mim outra verdade
rebrilhará no centro?Ou mentirei apenas
no varejo da vida,
sem alĂvio de penas,sem suporte e armadura
ante o império dos grandes,
frágil, frágil criatura?Pensarei ainda nisto.
Por enquanto nĂŁo sei
se me exponho ou resisto,se componho um casulo
e nele me agasalho,
tornando o resto nulo,ou adiro Ă suposta
verdade contingente
que, de verdade, mente.
Sou um homem que um dia, ao abrir a janela, descobriu esta coisa importantĂssima: que a natureza existe. Verifiquei que as árvores, os rios, as pedras sĂŁo coisas que verdadeiramente existem. Nunca ninguĂ©m tinha pensado nisto. NĂŁo pretendo ser mais que o maior poeta do mundo. Fiz a maior descoberta que nenhum antes fez e ao pĂ© da qual todas as outras descobertas sĂŁo entretimentos de crianças estĂşpidas. Dei pelo universo. Os gregos, com toda a sua nitidez visual, nĂŁo fizeram tanto.
Feliz de quem recebeu do céu um pedaço de pão e não precisa de agradecer a ninguém além do próprio céu.
Ăšltimo Sonho De “soror Saudade
Ă€quele que se perdera no caminho…
Soror Saudade abriu a sua cela…
E, num encanto que ninguém traduz,
Despiu o manto negro que era dela,
Seu vestido de noiva de Jesus.E a noite escura, extasiada, ao vĂŞ-la,
As brancas mĂŁos no peito quase em cruz,
Teve um brilhar feérico de estrela
Que se esfolhasse em pĂ©talas de luz!Soror Saudade olhou…Que olhar profundo
Que sonha e espera?…Ah! como Ă© feio o mundo,
E os homens vĂŁos! — EntĂŁo, devagarinho,Soror Saudade entrou no seu convento…
E, até morrer, rezou, sem um lamento,
Por Um que se perdera no caminho!…
Ninguém pode manter a sorte imóvel e fazê-la durar.
Ninguém alcança o que não possui de nascença, e o que te é estranho não o podes cobiçar.
Ninguém quer morrer; no entanto, toda a gente precisa matar tempo.
E nas mensagens que nos chegam sem parar, ninguém pode notar, estão muito ocupados pra pensar.
Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.