Passagens sobre Palavras

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Frases sobre palavras, poemas sobre palavras e outras passagens sobre palavras para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Encontro

Felicidade, agarrei-te
Como um cão, pelo cachaço!
E, contigo, em mar de azeite
Afoguei-me, passo a passo…
Dei à minha alma a preguiça
Que o meu corpo nĂŁo tivera.
E foi, assim, que, submissa,
Vi chegar a Primavera…
Quem a colher que a arrecade
(HĂĄ, nela, um segredo lento…)
Ó frágil felicidade!
— Palavra que leva o vento,
E, depois, como se a ideia
De, nos dedos, a ter tido
Bastasse, por fim, larguei-a,
Sem ficar arrependido…

A experiĂȘncia ensina que sĂŁo pouquĂ­ssimos os que sĂŁo capazes de fixar o sentido das palavras que usam.

Quatro Sonetos De Meditação – I

Mas o instante passou. A carne nova
Sente a primeira fibra enrijecer
E o seu sonho infinito de morrer
Passa a caber no berço de uma cova.

Outra carne virĂĄ. A primavera
É carne, o amor Ă© seiva eterna e forte
Quando o ser que viveu unir-se Ă  morte
No mundo uma criança nascerå.

ImportarĂĄ jamais por quĂȘ? Adiante
O poema Ă© translĂșcido, e distante
A palavra que vem do pensamento

Sem saudade. NĂŁo ter contentamento.
Ser simples como o grĂŁo de poesia
E Ă­ntimo como a melancolia.

EnvolvĂȘ-la nos Meus Braços

TrĂȘs minutos depois de vocĂȘ ter partido. NĂŁo, nĂŁo consigo reprimi-lo. Digo-lhe o que jĂĄ sabe: amo-a. É isto que destruĂ­ vezes sem conta. Em Dijon, escrevi-lhe cartas longas e apaixonadas (se vocĂȘ tivesse permanecido na Suíça ter-lhas-ia enviado), mas como posso eu enviĂĄ-las para Louveciennes?

Anais, nĂŁo posso dizer muito agora – encontro-me demasiado alterado. Quase nĂŁo consegui conversar consigo, porque estava continuamente prestes a levantar-me e a envolvĂȘ-la nos meus braços. Tinha esperanças de que vocĂȘ nĂŁo tivesse de ir jantar a casa… De que pudĂ©ssemos ir a algum lado jantar e dançar. VocĂȘ dança… JĂĄ sonhei com isso vezes sem conta… Eu a dançar consigo, ou vocĂȘ a dançar sozinha com a cabeça inclinada para trĂĄs e os olhos semicerrados. Algum dia tem de dançar para mim dessa maneira. Esse Ă© o seu Eu espanhol, o tal sangue andaluz destilado.

Estou sentado no seu lugar e jĂĄ levei aos lĂĄbios o copo onde vocĂȘ bebeu. Mas nĂŁo sei o que dizer. O que vocĂȘ me leu pĂŽs-me a cabeça Ă s voltas. A sua linguagem Ă© ainda mais avassaladora do que a minha. Comparado consigo, nĂŁo passo de um petiz… porque, quando o Ăștero que hĂĄ em si fala,

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O CidadĂŁo LĂșcido em Vez do Consumidor Irracional

JĂĄ se sabe que nĂŁo somos um povo alegre (um francĂȘs aproveitador de rimas fĂĄceis Ă© que inventou aquela de que «les portugais sont toujours gais»), mas a tristeza de agora, a que o CamĂ”es, para nĂŁo ter de procurar novas palavras, talvez chamasse simplesmente «apagada e vil», Ă© a de quem se vĂȘ sem horizontes, de quem vai suspeitando que a prosperidade prometida foi um logro e que as aparĂȘncias dela serĂŁo pagas bem caras num futuro que nĂŁo vem longe. E as alternativas, onde estĂŁo, em que consistem? Olhando a cara fingidamente satisfeita dos europeus, julgo nĂŁo serem previsĂ­veis, tĂŁo cedo, alternativas nacionais prĂłprias (torno a dizer: nacionais, nĂŁo nacionalistas), e que da crise profunda, crise econĂłmica, mas tambĂ©m crise Ă©tica, em que patinhamos, Ă© que poderĂŁo, talvez — contentemo-nos com um talvez —, vir a nascer as necessĂĄrias ideias novas, capazes de retomar e integrar a parte melhor de algumas das antigas, principiando, sem prĂ©via definição condicional de antiguidade ou modernidade, por recolocar o cidadĂŁo, um cidadĂŁo enfim lĂșcido e responsĂĄvel, no lugar que hoje estĂĄ ocupado pelo animal irracional que responde ao nome de consumidor.

JĂĄ Ă© tempo de […] pĂŽr de parte os preconceitos de orgulhosa ignorĂąncia que fazem que se desdenhem as palavras salĂĄrio e assalariado. SĂł conheço trĂȘs maneiras de estar em sociedade: ou como mendigo, ou como ladrĂŁo, ou como assalariado.

Ver com os prĂłprios olhos, sentir e julgar sem sucumbir Ă  sugestĂŁo da moda do dia, saber dizer o que se viu e sentiu, numa frase sucinta ou atĂ© mesmo numa palavra artisticamente modelada — nĂŁo Ă© maravilhoso? SerĂĄ preciso ainda felicitar-vos?

Cantigas

1

NĂŁo hĂĄ pressas, nem demoras,
No coração das cantigas;
Nem os relĂłgios dĂŁo horas
Quando cantam raparigas.

2

Como algum dia ando hoje;
Sou o mesmo apaixonado;
Quem disser que o tempo foge
É de nunca ter amado.

3

A saudade Ă© queda d’ĂĄgua
Que ao longe quebra, ao bater;
É um compasso de mágoa
Marcado por te nĂŁo ver.

4

Como um adeus de saudade
NĂŁo hĂĄ palavra tĂŁo louca:
Dizer adeus, ninguém hå-de
Ouvi-lo da minha boca.

5

Quem ama liga-se Ă  terra,
Quem canta, ao reino dos céus;
Quem pĂĄra que Deus o salve,
Quem anda que vĂĄ com Deus.

A emoção é sempre nova, mas as palavras usam-se desde sempre: daí, a impossibilidade de exprimir a emoção.

A Voz que Ouço quando Leio

Quando leio, hĂĄ uma voz que lĂȘ dentro de mim. Paro o olhar sobre o texto impresso, mas nĂŁo acredito que seja o meu olhar que lĂȘ. O meu olhar fica embaciado. É essa voz que lĂȘ. Quando Ă© sĂ©ria, ouço-a falar-me de assuntos sĂ©rios. Às vezes, sussurra-me. Às vezes, grita-me. Essa voz nĂŁo Ă© a minha voz. NĂŁo Ă© a voz que, em filmagens de festas de anos e de natais, vejo sair da minha boca, do movimento dos meus lĂĄbios, a voz que estranho por, num rosto parecido com o meu, nĂŁo me parecer minha. A voz que ouço quando leio existe dentro de mim, mas nĂŁo Ă© minha. NĂŁo Ă© a voz dos meus pensamentos. A voz que ouço quando leio existe dentro de mim, mas Ă© exterior a mim. É diferente de mim. Ainda assim, nĂŁo acredito que alguĂ©m possa ter uma voz que lĂȘ igual Ă  minha, por isso Ă© minha mas nĂŁo Ă© minha. Mas, claro, nĂŁo posso ter a certeza absoluta. NĂŁo sĂł porque uma voz Ă© indescritĂ­vel, mas tambĂ©m porque nunca ninguĂ©m me tentou descrever a voz que ouve quando lĂȘ e porque eu nunca falei com ninguĂ©m da voz que ouço quando leio.

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A Originalidade é Antitética à Novidade

Arte, mĂșsica e literatura significativas nĂŁo sĂŁo novas, como sĂŁo, como se esforçam por ser, as notĂ­cias dadas pelo jornalismo. A originalidade Ă© antitĂ©tica Ă  novidade. A etimologia da palavra alerta-nos. Fala de «inĂ­cio» e de «instauração» de um regresso, em substĂąncia e em forma, ao inĂ­cio. Directamente relacionadas com a sua originalidade e com a sua força de inovação espiritual-formal, as invençÔes estĂ©ticas sĂŁo «arcaicas». Trazem em si o pulsar de uma fonte distante.

NĂŁo concordo com uma Ășnica palavra do que dizeis, mas defenderei atĂ© a morte o vosso direito de dizĂȘ-la?.