Deus castiga sem pau nem pedra.
Passagens sobre Paus
44 resultadosMaio de Minha MĂŁe
O primeiro de Maio de minha MĂŁe
NĂŁo era social, mas de favas e giestas.
Uma cadeira de pau, flor dos dedos do AvĂ´
— Polimento, esquadria, engrade, olhá-la ao longe —
Dava assento a Florália, o meu primeiro amor.Já não se usa poesia descritiva,
Mas como hei-de falar da Maromba de Maio
Ou, se era macho, do litro de vinho na sua mĂŁo?
O primeiro de Maio nas Ilhas, morno como uma rosa,
Algodoado de cĂşmulos, lento no mar e rapioqueiro
Como Baco em Camões,
LĂmpido de azeviche
E, afinal de contas, do ponto de vista proletário,
Mais de mĂŁos na algibeira do que Lenine em Zurich.
(Porque foi por esta Ă©poca: eu Ă© que nĂŁo sabia!)A minha Maromba tinha barriga de palha como as massas
E a foice roçadoira da erva das cabras do Ribeiro
Que se pegou, esquecida, no banco do martelo de meu AvĂ´
Cujas quedas iguais, gravĂficas, profundasMuito prego em cunhal deixaram,
Muita madeira emalhetaram,
Muita estrela atraĂram ao bico da foice do Ribeiro
Nas noites de luar em que roçava erva às cabras.
Algumas Proposições com Crianças
A criança está completamente imersa na infância
a criança não sabe que há-de fazer da infância
a criança coincide com a infância
a criança deixa-se invadir pela infância como pelo sono
deixa cair a cabeça e voga na infância
a criança mergulha na infância como no mar
a infância é o elemento da criança como a água
Ă© o elemento prĂłprio do peixe
a criança não sabe que pertence à terra
a sabedoria da criança é não saber que morre
a criança morre na adolescência
Se foste criança diz-me a cor do teu paĂs
Eu te digo que o meu era da cor do bibe
e tinha o tamanho de um pau de giz
Naquele tempo tudo acontecia pela primeira vez
Ainda hoje trago os cheiros no nariz
Senhor que a minha vida seja permitir a infância
embora nunca mais eu saiba como ela se diz
A mulher e a mula, o pau as cura.
A mancebo mau, com mĂŁo (pĂŁo) e com pau.
Boi atolado, pau nele.
O Mal da Cidade
O Homem pensa ter na Cidade a base de toda a sua grandeza e sĂł nela tem a fonte de toda a sua misĂ©ria. VĂŞ, Jacinto! Na Cidade perdeu ele a força e beleza harmoniosa do corpo, e se tornou esse ser ressequido e escanifrado ou obeso e afogado em unto, de ossos moles como trapos, de nervos trĂ©mulos como arames, com cangalhas, com chinĂłs, com dentaduras de chumbo, sem sangue, sem fibra, sem viço, torto, corcunda – esse ser em que Deus, espantado, mal pode reconhecer o seu esbelto e rijo e nobre AdĂŁo! Na cidade findou a sua liberdade moral: cada manhĂŁ ela lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma dependĂŞncia: pobre e subalterno, a sua vida Ă© um constante solicitar, adular, vergar, rastejar, aturar; rico e superior como um Jacinto, a Sociedade logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, cerimĂłnias, praxes, ritos, serviços mais disciplinares que os dum cárcere ou dum quartel… A sua tranquilidade (bem tĂŁo alto que Deus com ela recompensa os Santos) onde está, meu Jacinto? Sumida para sempre, nessa batalha desesperada pelo pĂŁo, ou pela fama, ou pelo poder, ou pelo gozo, ou pela fugidia rodela de ouro!
Alegria como a haverá na Cidade para esses milhões de seres que tumultuam na arquejante ocupação de desejar –
Em santo de carne, pau nele.
Casa de ferreiro colher de pau ? Isso justificaria o tanto de nutricionista engordando, o tanto de manicure que roĂ unhas e o monte de medico fumando ?
A casca engrossa o pau.
Todos Temos Duas Almas
Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro… Espantem-se Ă vontade, podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; nĂŁo admito rĂ©plica. Se me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. A alma exterior pode ser um espĂrito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botĂŁo de camisa Ă© a alma exterior de uma pessoa; – e assim tambĂ©m a polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofĂcio dessa segunda alma Ă© transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que Ă©, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existĂŞncia; e casos há, nĂŁo raros, em que a perda da alma exterior implica a da existĂŞncia inteira. (…) Agora, Ă© preciso saber que a alma exterior nĂŁo Ă© sempre a mesma…
– NĂŁo?
– NĂŁo, senhor; muda de natureza e de estado. NĂŁo aludo a certas almas absorventes, como a pátria, com a qual disse o Camões que morria, e o poder,
Não sei com que armas a III Guerra Mundial será lutada. Mas a IV Guerra Mundial será lutada com paus e pedras.
Bolsa de quatro cantos nĂŁo chega aos paus.
Quando Toda Ă©s Terra a Terra
Marga, teu busto tufa,
Dois gomos e véus de ilhal
Palpitam palmo de gente
Nesse tefe-tefe igual
E há qualquer coisa de ardente
Que se endireita e que rufa
Nem tambor a general.Marga, teu peitinho estringes,
Toca a quebrados na praça
De armas que empunham rapazes
De guarda a uma egĂpcia esfinge,
E um vento de guerra passa
E o pau da bandeira ringe
Antes de fazer as pazes.Marga, que deusa de guerra,
A MiosĂłtis se interpĂ´s
Quando toda Ă©s terra a terra
Cálice de rododendro
Zango nunca em ti se pĂ´s
Em estames senĂŁo tremendo…
Homem grande, cavalo de pau.
O Morcego
Meia noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vĂŞde:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela Ăgneo e escaldante molho.“Vou mandar levantar outra parede…”
– Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o tecto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tĂŁo feio parto?!A ConsciĂŞncia Humana Ă© este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
Males de Anto
A Ares n’uma aldeia
Quando cheguei, aqui, Santo Deus! como eu vinha!
Nem mesmo sei dizer que doença era a minha,
Porque eram todas, eu sei lá! desde o odio ao tedio.
Molestias d’alma para as quaes nĂŁo ha remedio.
Nada compunha! Nada, nada. Que tormento!
Dir-se-ia accaso que perdera o meu talento:
No entanto, ás vezes, os meus nervos gastos, velhos,
Convulsionavam-nos relampagos vermelhos,
Que eram, bem o sentia, instantes de Camões!
Sei de cór e salteado as minhas afflicções:
Quiz partir, professar n’um convento de Italia,
Ir pelo Mundo, com os pĂ©s n’uma sandalia…
Comia terra, embebedava-me com luz!
Extasis, spasmos da Thereza de Jezus!
Contei n’aquelle dia um cento de desgraças.
Andava, á noite, só, bebia a noite ás taças.
O meu cavaco era o dos mortos, o das loizas.
Odiava os homens ainda mais, odiava as Coizas.
Nojo de tudo, horror! Trazia sempre luvas
(Na aldeia, sim!) para pegar n’um cacho d’uvas,
Ou n’uma flor. Por cauza d’essas mĂŁos… Perdoae-me,
Aldeões! eu sei que vós sois puros. Desculpae-me.Mas, atravez da minha dor,
A publicidade nĂŁo Ă© mais do que o ruĂdo de um pau a bater na caldeira.
Inspiração e Perseverança no Homem que Pensa
NĂŁo há nada de mais difĂcil em literatura do que descrever um homem a pensar. Um grande inventor respondeu um dia a quem lhe perguntava como fazia para ter tantas ideias novas: «pensando ininterruptamente nelas». E de facto bem pode dizer-se que as ideias inesperadas nos vĂŞm porque estávamos Ă espera delas. SĂŁo, em grande parte, o resultado conseguido de um carácter, de certas inclinações constantes, de uma ambição tenaz, de uma incessante ocupação com elas. Que tĂ©dio, uma perseverança assim! Mas, vista de outro ângulo, a solução de um problema intelectual nĂŁo acontece de modo muito diferente, como um cĂŁo que traz um pau na boca e quer passar por uma porta estreita; vira a cabeça para a esquerda e para a direita tantas vezes atĂ© que consegue passar com o pau; o mesmo acontece connosco, apenas com a diferença de que nĂŁo fazemos tantas tentativas ao acaso, mas sabemos já, por experiĂŞncia, mais ou menos como fazer as coisas. E se uma cabeça inteligente, como Ă© Ăłbvio, revela muito mais habilidade e experiĂŞncia nas voltas que dá do que uma cabeça estĂşpida, o momento em que consegue passar nĂŁo Ă© para ela menos surpreendente; de repente estamos do outro lado,
Sombra de pau nĂŁo mata cobra.