Passagens sobre Perto

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Frases sobre perto, poemas sobre perto e outras passagens sobre perto para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

As Mulheres Sempre Foram Mais Minuciosas na Vingança

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As mulheres sempre foram mais
minuciosas na vingança — disse Bloom. Folheiam-na
sem saltar uma página. E tratam das unhas
antes de pegar no machado.
Pelo contrário, um homem com raiva
e ressentimento é atabalhoado, desastrado,
incapaz de encontrar a pronúncia perfeita da violência,

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como se pegasse em ferramentas
despropositadas: a charrua
para arrancar uma flor,
o martelo para ver mais perto.

Gonçalo M.

Um homem sem paixões está tão perto da estupidez que só lhe falta abrir a boca para cair nela.

Poema para a Catarina

Hei-de levar-te filha a conhecer a neve
tu que sabes do sol e das marés
mas nunca repousaste os teus pequenos pés
na alvura que só longe e em ti houve

Tinha estado na morte e não pudera
aguentar tamanha solidão
mas depois tive a companhia do nevão
e tu hás-de vir filha com a primavera

E o deslumbrante resplendor da alegria
tua fidelidade eterna à vida
já não permitirão tua partida
quando raiar fatal o novo dia

As barcas carregadas com as rosas
virão perto daquela pura voz
abandonada pelos meus longínquos avós
em lagoas profundas perigosas

Não me afecta o mínimo cuidado
sinto-me vertical sinto-me forte
embora leve em mim até à morte
a cabeça de um príncipe coitado

Naquelas madrugadas primitivas
eu segregava um secreto pranto
vizinho da alegria enquanto
pelos dias tu ias de mãos vivas
O costume da minha solidão
é ver pela janela as oliveiras
que de todas as árvores foram as primeiras
que tocaram meu jovem coração

Purificado pelo tempo estou
um tempo de feroz esquecimento
vem minha filha vem neste momento
em que eu liberto ao teu encontro vou

Recordo-me do teu cabelo de chuva
quando tu caminhavas ágil e ladina
pelos desfiladeiros da neblina
nessa distante região da uva

Minha paixão viril serena pelos ritos
deseja que na minha companhia
tu sejas imolada à alegria
na surda região alheia aos gritos

Não olhes o meu rosto devastado pela idade
a vida para mim é como se chovesse
mas se viesses seria como se me acontecesse
cantar contigo a perene mocidade

O tempo em que viesses sim seria
um tempo vertebrado um tempo inteiro
e não meras palavras arrancadas ao tinteiro
e alinhadas em fugaz caligrafia

Viesses tu que a tua vinda afastaria
todos os meus cuidados transumantes
e para sempre alegre viveria
os meus dias infantes já distantes

A solução da solidão compartilhada
onde vejo o meu mais profundo mundo
seria a solução ampla e sem fundo
oposta sem resposta ao meu país do nada

Com a voracidade do olvido
seria só tu vires e lutares
e por mim de olhos enormes e crepusculares
serias ente querido recebido

Volta com os primeiros anjos de dezembro
num vasto laranjal eu quero amar-te
e então a tua vida há-de ser a minha arte
e o teu vulto a única coisa que relembro

O passado é mentira digo eu
sensível ao esplendor do meio-dia
e sob a árvore plena da alegria
o mínimo cuidado esmoreceu

Ao grande peso de tanto passado
com a insónia da dúvida na testa
basta a tua presença que protesta
e todo eu me sinto renovado

Como uma Voz de Fonte que Cessasse

Como uma voz de fonte que cessasse
(E uns para os outros nossos vãos olhares
Se admiraram), p’ra além dos meus palmares
De sonho, a voz que do meu tédio nasce

Parou… Apareceu já sem disfarce
De música longínqua, asas nos ares,
O mistério silente como os mares,
Quando morreu o vento e a calma pasce…

A paisagem longínqua só existe
Para haver nela um silêncio em descida
P’ra o mistério, silêncio a que a hora assiste…

E, perto ou longe, grande lago mudo,
O mundo, o informe mundo onde há a vida…
E Deus, a Grande Ogiva ao fim de tudo…

A Solidão é Pior do que a Pobreza

Ris-te do que te digo, mas quando chegar a tua hora, verás a falta que te vai fazer um apoio e o muito que precisamos de carinho para ir vivendo, à medida que os anos passam. Alguém que esteja ao teu lado, que te pegue na mão nos teus últimos instantes (que mais podemos fazer a um moribundo?). E quando os ouves falar assim, angustias-te, imaginas-te sem conseguires levantar-te da cama, agarrado às costas das cadeiras para te moveres dentro de casa, apoiando-te às paredes para alcançares a casa de banho, ensopado num rançoso suor senil; ou morrendo asfixiado, engasgado com qualquer coisa, com um pedaço de cartilagem de vaca mal mastigado, um simples gole de água, uma migalha de pão, um desses comprimidos que tomas para a hipertensão, para facilitar o fluxo sanguíneo, para o colesterol, para a hiperglicemia; vês-te afogado na tua própria saliva: tosses, sufocas, sem ninguém por perto que te dê uma palmada nas costas, ou te meta os dedos na boca para te ajudar a expelir o que tens atravessado na garganta, alguém que chame o 112 ou te meta num carro e te leve a toda a velocidade para o hospital ou o centro de saúde mais próximo.

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Emboscadas

Foste como quem me armasse uma emboscada
ao sentir-me desatento
dando aquilo em que me dei
foste como quem me urdisse uma cilada
vi-me com tão pouca coisa
depois do que tanto amei

Rasguei o teu sorriso
quatro vezes foi preciso
por não precisares de mim
e depois, quando dormias
fiuz de conta que fugias
e que eu não ficava assim
nesta dor em que me vejo
do nos ver quase no fim

Foste como quem lançasse as armadilhas
que se lançam aos amantes
quando amar foi coisa em vão
foste como quem vestisse as mascarilhas
dos embustes que se tramam
ao cair da escuridão

Resgatei o teu carinho
quatro vezes fiz o ninho
num beiral do teu jardim
e depois, já em cuidado
vi no teu espelho do passado
a tua imagem de mim
e esta dor em que me vejo
de nos ver quase no fim

Foste como quem cumprisse uma vingança
que guardavas às escuras
esperando a sua vez
foste como quem me desse uma bonança
fraquejando à tempestade
de tão frágil que se fez

Resgatei o teu ciúme
quatro vezes deitei lume
ao teu corpo de marfim
e depois,

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Soneto V

Lançado ao pé de um monte, onde rebenta
Um rio, que ao mais alto vai correndo,
Um estrago de fogo estava vendo
Que quasi morto em cinzas se sustenta.

Eis quando ua Ave chega, e tão isenta
As asas sobre as cinzas vem batendo,
Que acende o fogo e vai o monte ardendo;
Mas cadavez o rio se acrecenta.

Despois de ter o mal e o dano certo,
Voando para mi, li-lhe no bico
“Em quanto vento houver vivirá a frágoa.”

Desejei de a tomar vendo-a tão perto,
Estendo a mão, mas com as penas fico,
Fugiu, e eu caí no fogo e n’água.

Pero Coelho

(Descobridor do Ceará)

Na umidade do cárcere de Olinda
– Enjaulado jaguar que a vida acaba
Lembrando a selva rumorosa e linda –
Sonha o conquistador da Ibiapaba.

O sonho é o resto da jornada: é a vinda;
E a morte; é a sede; é o desespero; a taba
Toda investindo. A terra em fogo. Um baba;
Outro cai; outro fica; outro se finda…

Dois filhos morrem nos seus braços: vede!
E nem, sequer, irmão de Agar, tem perto,
Nos olhos água que lhes mate a sede!

E, ao fim de tudo, acusações e gritas…
Ah! por que não tombara no Deserto
Abraçado com os seus israelitas!?…

Poema XVIII

Impetuoso, o teu corpo é como um rio
onde o meu se perde.
Se escuto, só oiço o teu rumor.
De mim, nem o sinal mais breve.

Imagem dos gestos que tracei,
irrompe puro e completo.
Por isso, rio foi o nome que lhe dei.
E nele o céu fica mais perto.

Vida

Vida:
sensualíssima mulher de carnes maravilhosas
cujos passos são horas
cadenciadas
rítmicas
fatais.
A cada movimento do teu corpo
dispersam asas de desejos
que me roçam a pele
e encrespam os nervos na alucinação do «nunca mais».
Vou seguindo teus passos
lutando e sofrendo
cantando e chorando
e ficam abertos meus braços:
nunca te alcanço!
Meu suplício de Tântalo.
Envelheço…
E tu, Vida, cada vez mais viçosa
na oscilação nervosa
das tuas ancas fecundas e sempre virgens!
À punhalada dilacero a folhagem
e abro clareiras
na floresta milenária do meu caminho.
Humildemente se rasga e avilta
no roçar dos espinhos
minha carne dorida.
E quando julgo chegada a hora
meu abraço de posse fica escancarado no ar!
Olímpica
firme
gloriosa
tu passas e não te alcanço, Vida.
Caio suado de borco
no lodo…
O vento da noite badala nos ramos
sarcasmos canalhas.
Não avisto a vida!
Tenho medo, grito.
Creio em Deus e nos fantásticos ecos
do meu grito
que vêm de longe e de perto
do sul e do norte
que me envolvem
e esmagam:
— maldita selva,

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Uma vez eu ouvir dizer que existe um par perfeito nesse mundo para cada um, basta procurar pois o par perfeito pode está perto ou longe; mais estará lá esperando por você…

O Monge

-“O coração da infância”, eu lhe dizia,
“É manso.” E ele me disse:-“Essas estradas,
Quando, novo Eliseu, as percorria,
As crianças lançavam-me pedradas…”

Falei-lhe então na glória e na alegria;
E ele-alvas barbas longas derramadas
No burel negro-o olhar somente erguia
Às cérulas regiões ilimitadas…

Quando eu, porém, falei no amor, um riso
Súbito as faces do impassível monge
Iluminou… Era o vislumbre incerto,

Era a luz de um crepúsculo indeciso
Entre os clarões de um sol que já vai longe
E as sombras de uma noite que vem perto!…

Os Nossos Verdadeiros Amores

Quando se é novo é sempre a somar. Somam-se amigos, emoções, experiências, livros, canudos, sítios, responsabilidades, preocupações e ambições, vícios e prazeres que não viciam.

Até cada ano de vida que se viveu é celebrado como se fosse uma proeza. É triunfalmente que se chega aos 6, 10, 14, 18 ou 22 anos. E com razão. Ainda consigo lembrar-me que eram obra.

Depois, não sei a que a idade (é aquela em que nos deixamos de importar tanto com as coisas, daí nunca darmos por ela), começamos a compreender a alegria e a liberdade de subtrair coisas e pessoas que só nos pesam, roubando-nos tempo, paciência e a calma necessária para sobrevivermos e que se vão tornando, monstruosa e deliciosamente, cada vez maiores.

O tempo de subtrair é cruel e frio e imensamente libertador. Dá vida aos últimos anos de vida que temos. Sim, porque a vida acaba. A morte acontece e, irritantemente, dura para sempre. Há quem diga que é como o tempo antes de nascermos (até um génio como Samuel Beckett caiu neste pensamento impreciso) mas não é. O tempo depois de morrermos é sempre pior do que o tempo antes de nascermos.

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O Provincianismo Português (I)

Se, por um daqueles artifícios cómodos, pelos quais simplificamos a realidade com o fito de a compreender, quisermos resumir num síndroma o mal superior português, diremos que esse mal consiste no provincianismo. O facto é triste, mas não nos é peculiar. De igual doença enfermam muitos outros países, que se consideram civilizantes com orgulho e erro.
O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela — em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz. O síndroma provinciano compreende, pelo menos, três sintomas flagrantes: o entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades; o entusiasmo e admiração pelo progresso e pela modernidade; e, na esfera mental superior, a incapacidade de ironia.
Se há característico que imediatamente distinga o provinciano, é a admiração pelos grandes meios. Um parisiense não admira Paris; gosta de Paris. Como há-de admirar aquilo que é parte dele? Ninguém se admira a si mesmo, salvo um paranóico com o delírio das grandezas. Recordo-me de que uma vez, nos tempos do “Orpheu”, disse a Mário de Sá-Carneiro: “V. é europeu e civilizado, salvo em uma coisa, e nessa V. é vítima da educação portuguesa. V. admira Paris,

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blues da morte de amor

já ninguém morre de amor, eu uma vez
andei lá perto, estive mesmo quase,
era um tempo de humores bem sacudidos,
depressões sincopadas, bem graves, minha querida,
mas afinal não morri, como se vê, ah, não,
passava o tempo a ouvir deus e música de jazz,
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes,
ah, sim, pela noite dentro, minha querida.

a gente sopra e não atina, há um aperto
no coração, uma tensão no clarinete e
tão desgraçado o que senti, mas realmente,
mas realmente eu nunca tive jeito, ah, não,
eu nunca tive queda para kamikaze,
é tudo uma questão de swing, de swing, minha querida,
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber,
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.

há ritmos na rua que vêm de casa em casa,
ao acender das luzes, uma aqui, outra ali.
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha
no lusco-fusco da canção parar à minha casa,
o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,
minha querida,

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Era uma Pedra Feminina

Era uma pedra feminina
muito perto de uma pedra bem masculina
onde
a todo o comprimento do mastro
batiam os dentes das aves.
E o que restava das mãos mais antigas
pedia ainda dinamite
talheres avulso
mastodontes inviolados
alguns jovens em renda para bordar as estradas
hastes primaveris correndo o risco de se tornarem de bronze
acenando
a uma paisagem
hexagonal
maior que a soma de todas as janelas.