Passagens sobre Perto

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Nem tão longe que eu não possa ver, nem tão perto que eu não possa tocar Nem tão longe que eu não possa crer que um dia eu chego lá

Alma e Corpo

Uma alma que conhece o seu próprio corpo, o mundo e Deus não pode aceitar que ela empurre o corpo como um dedo empurra uma engrenagem, nem ver-se alojada no corpo como um piloto invisível. Se bem pensarmos no caso, há uma contradição ridícula em encerrar a alma no corpo, nesse mesmo corpo que ela conhece limitado e rodeado por tantas outras coisas. E como é que aquilo que encerra antecipadamente todos os lugares possíveis, que os compara, para quem o longe e o perto estão juntos, quer dizer, em relação, que jamais separa sem unir, que não pode pensar nada fora de si sem o pensar por isso mesmo em si, que não conhece o limite senão ultrapassado, que é, finalmente, o todo de tudo, e mesmo até o todo dos possíveis, como é que esse árbitro universal pode estar prisioneiro em uma parte e aí limitado? Aí ligado, sim: o que não é a mesma coisa.

Os Ideais São Superiores às Crenças

Sou, simplesmente, uma pessoa com algumas ideias que lhe têm servido de razoável governo em todas as circunstâncias, boas ou más, da vida. Costuma-se dizer que o melhor partido para um crente é comportar-se como se Deus estivesse sempre a olhar para ele, situação, imagino eu, que nenhum ser humano terá estofo para aguentar, ou então é porque já estará muito perto de tornar-se, ele próprio, Deus. De todo o modo, e aproveitando o símile, o que eu tenho feito é imaginar que essas tais ideias minhas, estando dentro de mim como devem, também estão fora — e me observam. E realmente não sei o que será mais duro: se prestar contas a Deus, por intermédio dos seus representantes, ou às ideias, que os não têm. Segundo consta, Deus perdoa tudo — o que é uma excelente perspectiva para os que nele acreditem. As ideias, essas, não perdoam. Ou vivemos nós com elas, ou elas viverão contra nós — se não as respeitámos.

Sempre E Sempre

De longe ou perto, juntas, separadas,
Olhando sempre os mesmos horizontes,
Presas, unidas nossas duas fontes
Gêmeas, ardentes, novas, inspiradas;

Vendo cair as lágrimas prateadas,
Sentindo o coro harmônico das fontes,
Sempre fitando a cúspide dos montes
E o rosicler das frescas alvoradas;

Sempre embebendo os límpidos olhares
Na claridão dos humildes luares,
No loiro sol das crenças se embebendo,

Vão nossas almas brancas e floridas
Pelo futuro azul das nossas vidas,
Sempre se amando, sempre se querendo.

O Elogio da História

Nenhuma realidade é mais essencial para a nossa autocertificação do que a história. Mostra-nos o mais largo horizonte da humanidade, oferece-nos os conteúdos tradicionais que fundamentam a nossa vida, indica-nos os critérios para avaliação do presente, liberta-nos da inconsciente ligação à nossa época e ensina-nos a ver o homem nas suas mais elevadas possibilidades e nas suas realizações imperceptíveis.
Não podemos melhor aproveitar os nossos ócios do que familiarizando-nos com as magnificências do passado, conservando viva essa recordação e, ao mesmo tempo, contemplando as calamidades em que tudo se subverteu. A experiência do presente compreende-se melhor reflectida no espelho da história. O que a história nos transmite vivifica-se à luz da nossa época. A nossa vida processa-se no esclarecimento recíproco do passado e do presente.
Só de perto, na intuição concreta e sensível, e prestando atenção aos pormenores, a história realmente interessa. Filosofando procedemos a considerações que se mantêm abstractas.

Só que não havia palavras. Havia o movimento, a dança, o suor, os corpos meu e dele se aproximando mornos, sem querer mais nada além daquele chegar cada vez mais perto.

Males de Anto

A Ares n’uma aldeia

Quando cheguei, aqui, Santo Deus! como eu vinha!
Nem mesmo sei dizer que doença era a minha,
Porque eram todas, eu sei lá! desde o odio ao tedio.
Molestias d’alma para as quaes não ha remedio.
Nada compunha! Nada, nada. Que tormento!
Dir-se-ia accaso que perdera o meu talento:
No entanto, ás vezes, os meus nervos gastos, velhos,
Convulsionavam-nos relampagos vermelhos,
Que eram, bem o sentia, instantes de Camões!
Sei de cór e salteado as minhas afflicções:
Quiz partir, professar n’um convento de Italia,
Ir pelo Mundo, com os pés n’uma sandalia…
Comia terra, embebedava-me com luz!
Extasis, spasmos da Thereza de Jezus!
Contei n’aquelle dia um cento de desgraças.
Andava, á noite, só, bebia a noite ás taças.
O meu cavaco era o dos mortos, o das loizas.
Odiava os homens ainda mais, odiava as Coizas.
Nojo de tudo, horror! Trazia sempre luvas
(Na aldeia, sim!) para pegar n’um cacho d’uvas,
Ou n’uma flor. Por cauza d’essas mãos… Perdoae-me,
Aldeões! eu sei que vós sois puros. Desculpae-me.

Mas, atravez da minha dor,

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Em todas as coisas humanas, quando se examinam de perto, demonstra-se que não se pode afastar os obstáculos sem que deles surjam outros.

Raízes

Ehrenburg, que lia e traduzia os meus versos, repreendia-me: demasiada raiz, demasiadas raízes, nos teus versos. Porquê tantas? É verdade. As terras fronteiriças do Chile infiltraram as suas raízes na minha poesia e nunca puderam sair dela. A minha vida é uma longa peregrinação que anda sempre às voltas, que retorna sempre ao bosque austral, à selva perdida.
Ali, é certo, as grandes árvores eram por vezes tombadas por setecentos anos de vida poderosa, ou arrancadas pelo furacão, ou queimadas pela neve, ou destruídas pelo incêndio. Senti muitas vezes cair na profundidade da floresta as árvores titânicas: o roble que tomba com estrondo de catástrofe surda, como se batesse com mão colossal às portas da terra pedindo sepultura. As raízes, porém, ficavam a descoberto, entregues ao tempo inimigo, à humidade, aos líquenes, ao aniquilamento progressivo.
Nada mais belo que aquelas grandes mãos abertas, feridas e queimadas, que numa vereda do bosque nos indicam o segredo da árvore enterrada, o enigma que a folhagem mantinha, os músculos profundos do domínio vegetal. Trágicas e hirsutas, mostram-nos uma nova beleza: são esculturas da profundidade — obras-primas secretas da natureza.

Certa vez, caminhando com Rafael Alberti entre cascatas, matagais e bosques,

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A Sésta

Pierrot escondido por entre o amarello dos gyrassois espreita em cautela o somno d’ella dormindo na sombra da tangerineira. E ella não dorme, espreita tambem de olhos descidos, mentindo o sôno, as vestes brancas do Pierrot gatinhando silencios por entre o amarelo dos gyrassois. E porque Elle se vem chegando perto, Ella mente ainda mais o sôno a mal-resonar.

Junto d’Ella, não teve mão em si e foi descer-lhe um beijo mudo na negra meia aberta arejando o pé pequenino. Depois os joelhos redondos e lizos, e já se debruçava por sobre os joelhos, a beijar-lhe o ventre descomposto, quando Ella acordou cançada de tanto sôno fingir.

E Elle ameaça fugida, e Ella furta-lhe a fuga nos braços nús estendidos.

E Ella, magoada dos remorsos de Pierrot, acaricia-lhe a fronte num grande perdão. E, feitas as pazes, ficou combinado que Ella dormisse outra vez.

A Armadilha do Empenho

Fugir dos empenhos é das primeiras máximas da prudência. Nas grandes capacidades há sempre grandes distâncias, até aos últimos detalhes do término. Há muito para andar de um extremo ao outro, e eles estão sempre inebriados pela sua boa conduta: chegam tarde ao rompimento, pois é mais fácil furtar-se à ocasião perigosa do que se sair bem dela. Nas tentações do juízo, mais seguro é fugir do que vencer. Um empenho traz outro maior e está perto do despenho. Há homens que, por génio e mesmo por inclinação, metem-se em obrigações, mas quem caminha à luz da razão sempre vai com muita consideração. Estima-se ter mais valor o não se empenhar que o vencer, e, já que há um tolo profiado, escusa-se que com ele sejam dois.

Prazer e Dor São as Únicas Certezas da Vida

Os filósofos têm tentado abalar todas as nossas certezas e mostrar que do mundo conhecemos apenas aparências. Possuiremos sempre, porém, duas grandes certezas, que nada poderia destruir: o prazer e a dor. Toda a nossa actividade deriva delas. As recompensas sociais, os paraísos e os infernos criados pelos códigos religiosos ou civis baseiam-se na acção dessas certezas, cuja evidente realidade não pode ser contestada.
Desde que a vida se manifesta, surgem o prazer e a dor. Não é o pensamento, mas a sensibilidade, que nos revela o nosso “eu”. Se dissesse: “Sinto, logo existo” ao invés de: “Penso, logo existo”, Descartes estaria muito perto da verdade. Assim modificada, a sua fórmula aplica-se a todos os seres e não a uma fração apenas da humanidade. Dessas duas certezas poder-se-ia deduzir a completa filosofia prática da vida. Fornecem uma resposta segura à eterna pergunta tão repetida desde o Eclesiastes: por que tanto trabalho e tantos esforços, já que a morte nos espera e o nosso planeta se extingará um dia?
Porquê? Porque o presente ignora o futuro e no presente a Natureza condena-nos a procurar o prazer e a evitar a dor.
O operário, curvado sob o peso do trabalho,

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Desconfio, visceralmente, dos políticos e dos militares. O desejo de servir os outros será assim tão puro? Vejo a forma como lutam pelo poder, quase histérica. Nunca estão perto de nós, servimos para votar e, nos intervalos, com extrema arrogância, falam em nosso nome.

Ah, o que é aquele Barulho

Ah, o que é aquele barulho

Ah, o que é aquele barulho que vibra no ouvidos
Lá em baixo no vale, a rufar, a rufar?
São apenas os soldados escarlates, amor,
Os soldados que chegam.

Ah, o que é aquela luz que vejo tão cintilante e intensa
Lá ao longe, brilhante, brilhante?
Apenas o sol incidindo nas armas, amor,
Enquanto avançam ligeiros.

Ah, que estão eles a fazer com todo aquele equipamento,
Que estão eles a fazer esta manhã, esta manhã?
Somente as manobras habituais, amor,
Ou talvez seja um aviso.

Ah, por que terão abandonado a estrada ali em baixo,
Por que andam de repente às voltas, às voltas?
Talvez tenham recebido ordens diferentes, amor.
Por que estás de joelhos?

Ah, não pararam para o médico cuidar deles,
Não detiveram os cavalos, os cavalos?
Claro, ninguém está ferido, amor,
Nenhum destes soldados.

Ah, é o padre de cabelo branco que eles querem,
O padre, não é, não é?
Não, estão a passar ao seu portão, amor,
Sem o irem visitar.

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Alguém caminha a meu lado sem rumor, como se tivesse os pés nus… A névoa entra pela boca, ocupa os pulmões. Perto de Canalazzo flutua e se acumula. O desconhecido torna-se cinza, mais leve; se faz sombra… Sob a casa onde fica o antiquário, desaparece de improviso.

Sussurro

Isto é um poço. Há sempre quem nele se debruce. A água
continua a correr sem qualquer destino, e sabemos
como se afasta devagar para ser igual às vestes
caídas, talvez abandonadas. Assim tu podes ver
o que se confunde ali com a luz e, depois, se torna
mais nosso. Sem pressa aproximas-te agora desse espelho
vazio e sentirás que só a brisa desce até ficarmos
perto de alguns sulcos. Eles tornaram-se maiores, humedecidos.
Inclinas-te um pouco mais como se finalmente escutasses
uma confidência. Sabemos que é em vão porque ninguém se encontra
ao teu lado e já não é suficiente o sussurro da água.

Minha Alegria

Minha alegria foi no teu caixão;
Deitou-se ao pé de ti, na sepultura,
A fim de acalentar teu coração
E tornar-te mais branda a terra dura.

Por isso, é para mim consolação
Esta sombria dôr que me tortura!
E ponho-me a cantar na solidão,
Meu cantico esculpido em noite escura!

Consola-me saber minha alegria
Longe de mim, perto de ti, na fria
Cova a que tu baixaste apoz a morte.

Fôste tu que m’a deste, meu amôr;
Agora, dou-t’a eu: é a minha flôr;
Eu quero que ela soffra a tua sorte.