Passagens sobre Prazer

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Frases sobre prazer, poemas sobre prazer e outras passagens sobre prazer para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Felicidade e Virtude

Como, ao que parece, há muitos fins e podemos buscar alguns em vista de outros: por exemplo, a riqueza, a música, a arte da flauta e, em geral, todos aqueles fins que podem denominar-se instrumentos, é evidente que nenhum desses fins é perfeito e definitivo por si mesmo. Mas o sumo bem deve ser coisa perfeita e definitiva. Por conseguinte, se existe uma só e única coisa que seja definitiva e perfeita, ela é precisamente o bem que procuramos; e se há muitas coisas deste género, a mais definitiva entre elas será o bem. Mas, em nosso entender, o bem que apenas deve buscar-se por si mesmo é mais definitivo que aquele que se procura em vista de outro bem; e o bem que não deve buscar-se nunca com vista noutro bem é mais definitivo que os bens que se buscam ao mesmo tempo por si mesmos e por causa desse bem superior; numa palavra, o perfeito, o definitivo, o completo, é o que é eternamente apetecível em si, e que nunca o é em vista de um objecto distinto dele.
Eis aí precisamente o carácter que parece ter a felicidade; buscamo-la por ela e só por ela, e nunca com mira em outra coisa.

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Queres gozar dos prazeres que proporciona uma vida doméstica cheia de tranquilidade e de harmonia? Escolhe mulher que te seja proporcionada, de modo que não tenhas o trabalho de elevá-la até à tua altura, nem o de baixar-te à altura dela.

O Dinheiro é o Coroamento de uma Existência Moral e Racional

A riqueza moral tem estreitas afinidades com a material; (…) não é difícil perceber por que razão isso acontece. É que a moral substitui a alma pela lógica; quando uma alma tem moral, deixam de existir para ela problemas morais, todos são problemas lógicos; pergunta-se se aquilo que quer fazer obedece a este ou àquele mandamento, se a sua intenção deve ser interpretada de uma maneira ou de outra, e coisas semelhantes. Seria como se uma horda caótica de gente se transformassse numa classe de ginástica disciplinada que, a um sinal do monitor, obedecesse às ordens de torção à direita, esticar os braços ou flectir os joelhos. Mas a lógica pressupõe experiências passíveis de repetição; é óbvio que, no momento em que os acontecimentos mudassem num torvelinho em que nada se repete, nunca chegaríamos a poder expressar a profunda intuição de que A é igual a A, ou de que o que é maior não pode ser menor, mas limitar-nos-íamos a sonhar – um estado que qualquer pensador detesta. E o mesmo se pode dizer da moral, pois se não existisse nada que se pudesse repetir, nada nos poderia ser prescrito, e sem poder prescrever nada às pessoas a moral não teria graça nenhuma.

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Em Louvor das Crianças

Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados — a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso.
A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais — a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis — elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue.
O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que,

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Musa Infeliz

Todo o cuidado nestas rimas ponho;
Musa, peço-te, pois, que me remetas
Versos que tenham rútilas facetas,
E não revelem trovador bisonho.

Meia noite bateu. Sai risonho…
Brilhava – oh, musa, não me comprometas! –
O mais belo de todos os planetas
N’um céu que parecia um céu de sonho.

O mais belo de todos os prazeres
Gozei, à doce luz dos olhos pretos
Da mais bela de todas as mulheres!

Pobres quartetos! míseros tercetos!…
Musa, musa infeliz, dar-me não queres.
O mais belo de todos os sonetos!…

Mal chegado já te escrevo para te dizer quanto penso em ti. Quando se está longe é que se vê como se ama. Como é triste não te ver e não ouvir a tua boa vozinha a dizer-me querido marotinho. Maria eu amo-te tanto e tu és tão boa. Quando eu te não tenho junto de mim não encontro prazer em nada. Eu olhava neste momento o teu retrato que me dava tanto gosto antes de te conhecer e que agora só me diz que estou longe de ti. Adeus querido amor. Pensa em mim como eu penso em ti.

O Carácter não se Revela no muito Consumir, mas no muito Criar

A primeira regra do carácter é a unidade – ou, nas palavras de Goethe, «ser um todo ou juntar-se a um todo». E a segunda, avançar, nunca recuar. Essas duas regras traçam uma linha de desenvolvimento em ascensão, da qual o homem de valor pode desviar-se numa certa medida, não tanto, porém, que os desvios enublem a regra. No primeiro grupo de instintos, por exemplo, poderá ser admitido o da limpeza, embora seja instinto com raízes no impulso negativo da repugnância. «Na criança – diz Nietzsche – o senso da limpeza deve ser estimulado vivamente, porque mais tarde florirá sobre aspectos novos até às alturas da virtude.» O asseio está próximo da devoção; e como é, se não há deuses? Mas não queremos chegar ao ascetismo de um banho frio perpétuo, nem que nos tornemos Apolos do cabelo bem penteado, nem vítima das manicuras; e sentiremos sempre uma secreta inveja daquele estadista teólogo que não deixava a sua ortodoxia interferir no seu apetite.
A mesma atitude tomaremos em relação à pugnacidade e à sua espora, o orgulho; temos aqui virtudes, não vícios – que podamos para que se desenvolvam melhor. Nada de impetuosidade briguenta e de presunção; a presunção é o orgulho da vitória apenas imaginária,

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É Preciso Viver-se com Paixão

A paixão é o mote, a ausência dela é a morte. A paixão é o sentido e os sentidos, a ausência dela é o inadmitido e os proibidos. A paixão é, a ausência dela não. Já te questionaste, por exemplo, sobre a relação amorosa que tens ou sobre as relações fugazes que vais tendo? Encontras pontos de paixão recentes na primeira? Justificas a segunda pelos sismos de emoções que experiencias?
Se na primeira a tua resposta tiver sido «Sim», quero que saibas que fico muito orgulhoso de ti, tanto quanto o tempo que já levas de relação, pois revelas uma enorme sede de viver.
Se a tua resposta tiver sido um redondo «Não», pergunto-te eu: o que é que ainda estás a fazer com essa pessoa?
Na minha vida, sempre que a paixão desaparece eu mudo. Mudo de pessoas, mudo de trabalho, mudo de lugar, mudo de “hobbie”, mudo tudo. É preciso viver-se com paixão, pois não se vive de outra forma. Seguindo o exemplo que te estava a dar, todas as minhas relações acabaram quando a paixão findou. Não faço fretes, não posso ter medo de magoar a outra pessoa nem me posso obrigar a estar com alguém com a qual não me sinto eu.

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Os Prazeres Nunca Parecem Ser Suficientes

Parece-me que a natureza trabalhou para ingratos: somos felizes, mas os nossos discursos são tais que parecemos nem sequer suspeitar disso. No entanto, encontramos prazeres em toda a parte: estão ligados ao nosso ser, e os pesares não passam de acidentes. Os objectos parecem em toda a parte preparados para os nossos prazeres: quando o sono nos chama, as trevas nos aguardam; e, quando acordamos, a luz do dia nos arrebata. A natureza é enfeitada de mil cores; os nossos ouvidos são lisonjeados pelos sons; as iguarias têm gosto agradável; e, como se a felicidade da existência não fosse suficiente, é ainda necessário que a nossa máquina precise de ser incessantemente reparada para os nossos prazeres.

O que vos Nunca Cuidei a Dizer

O que vos nunca cuidei a dizer,
com gram coita, senhor, vo-lo direi,
porque me vejo já por vós morrer;
ca sabedes que nunca vos falei
de como me matava voss’amor;
ca sabe Deus bem que doutra senhor,
que eu nom havia, mi vos chamei.

E tod[o] aquesto mi fez fazer
o mui gram medo que eu de vós hei
e des i por vos dar a entender
que por outra morria — de que hei,
bem sabedes, mui pequeno pavor;
e des oimais, fremosa mia senhor,
se me matardes, bem vo-lo busquei.

E creede que haverei prazer
de me matardes, pois eu certo sei
que esso pouco que hei de viver
que n?um prazer nunca veerei;
e porque sõo desto sabedor,
se mi quiserdes dar morte, senhor,
por gram mercee vo-lo [eu] terrei.

Antes que Vosso Amor Meu Peito Vença

Será brando o rigor, firme a mudança,
Humilde a presunção, vária a firmeza,
Fraco o valor, cobarde a fortaleza,
Triste o prazer, discreta a confiança;

Terá a ingratidão firme lembrança,
Será rude o saber, sábia a rudeza,
Lhana a ficção, sofística a lhaneza,
Áspero o a mor, benigna a esquivança;

Será merecimento a indignidade,
Defeito a perfeição, culpa a defensa,
Intrépito o temor, dura a piedade,

Delito a obrigação, favor a ofensa,
Verdadeira a traição, falsa a verdade,
Antes que vosso amor meu peito vença.

É verdade que não pode haver alegria sem tristeza, prazer sem dor. É só quando dói um dente que avaliamos o prazer de nos sentirmos bem, não é? Se a gente não compreende essa antinomia, acaba por haver uma cristalização burocrática das emoções e dos sentimentos.

A Glória Mais Genuína

A glória mais genuína, a póstera, nunca é ouvida por quem é seu objecto e, no entanto, ele é tido por feliz. Assim, a sua felicidade consistiu propriamente nas grandes qualidades que lhe conferiram a sua glória e no facto de que encontrou oportunidade para desenvolvê-las; logo, foi-lhe permitido agir como era adequado, ou praticar aquilo que praticava com prazer e amor. Pois só as obras assim nascidas alcançam glória póstera. A sua felicidade consistiu, pois, no grande coração, ou também na riqueza de um espírito cuja estampa, nas suas obras, recebe a admiração dos séculos vindouros. Tal felicidade consistiu nos seus próprios pensamentos, cuja meditação será a ocupação e o gozo dos espíritos mais nobres de um imenso futuro. O valor da glória póstera reside, portanto, em merecê-la, e isso é a sua recompensa verdadeira.
Se chegou a haver obras que adquiriram glória na posteridade e que também a obtiveram entre os seus contemprâneos, tratam-se de circunstâncias fortuitas, sem grande importância. Pois, como os homens, via de regra, são privados de juízo próprio e, sobretudo, não têm capacidade alguma para apreciar as realizações elevadas e difíceis, acabam sempre por seguir nesse domínio a autoridade alheia, e a glória de género superior,

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Se Comparo Poder ou Ouro ou Fama

Se comparo poder ou ouro ou fama,
Venturas que em si têm occulto o damno,
Com aquele outro affecto soberano,
Que amor se diz e é luz de pura chama,

Vejo que são bem como arteira dama,
Que sob honesto riso esconde o engano,
E o que as segue, como homem leviano
Que por um vão prazer deixa quem ama.

Nasce do orgulho aquele esteril goso
E a glória d’ele é cousa fraudulenta,
Como quem na vaidade tem a palma:

Tem na paixão seu brilho mais formoso
E das paixões tambem some-o a tormenta…
Mas a glória do amor… essa vem d’alma!