Passagens sobre Reis

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Direito: autoridade legĂ­tima para ser, fazer, ou ter; como o direito a ser rei, o direito a fazer mal ao prĂłximo, o direito a ter sarampo, entre outros.

O Albatroz

Ă€s vezes no alto mar, distrai-se a marinhagem
Na caça do albatroz, ave enorme e voraz,
Que segue pelo azul a embarcação em viagem,
Num vĂ´o triunfal, numa carreira audaz.

Mas quando o albatroz se vĂŞ preso, estendido
Nas tábuas do convés, — pobre rei destronado!
Que pena que ele faz, humilde e constrangido,
As asas imperiais caĂ­das para o lado!

Dominador do espaço, eis perdido o seu nimbo!
Era grande e gentil, ei-lo o grotesco verme!…
Chega-lhe um ao bico o fogo do cachimbo,
Mutila um outro a pata ao voador inerme.

O Poeta é semelhante a essa águia marinha
Que desdenha da seta, e afronta os vendavais;
Exilado na terra, entre a plebe escarninha,
NĂŁo o deixam andar as asas colossais!

Tradução de Delfim Guimarães

Os Poetas

Nunca os vistes
Sentados nos cafés que há na cidade,
Um livro aberto sobre a mesa e tristes,
IncĂłgnitos, sem oiro e sem idade?

Com magros dedos, coroando a fronte,
Sugerem o nostálgico sentido
De quem rasgasse um pouco de horizonte
Proibido…

Fingem de reis da Terra e do Oceano
(E filhos sĂŁo legĂ­timos do vĂ­cio!)
Tudo o que neles nos pareça humano
É fogo de artifício.

Por vezes, fecham-lhes as portas
— Ódio que a nada se resume —
Voltam, depois, a horas mortas,
Sem um queixume.

E mostram sempre novos laivos
De poesia em seu olhar…

Adolescentes! Afastai-vos
Quando algum deles vos fitar!

Virtudes Ociosas e Bolorentas

Mais que amor, dinheiro e fama, dai-me a verdade. Sentei-me a uma mesa onde a comida era fina, os vinhos abundantes e o serviço impecável, mas onde faltavam sinceridade e verdade, e com fome me fui embora do inóspito recinto. A hospitalidade era fria como os sorvetes. Pensei que nem havia necessidade de gelo para conservá-los. Gabaram-me a idade do vinho e a fama da safra, mas eu pensava num vinho muito mais velho, mais novo e mais puro, de uma safra mais gloriosa, que eles não tinham e nem sequer podiam comprar.
O estilo, a casa com o terreno em volta e o «entretenimento» não representam nada para mim. Visitei o rei, mas ele deixou-me à espera no vestíbulo, comportando-se como um homem incapaz de hospitalidade. Na minha vizinhança havia um homem que morava no oco de uma árvore e cujas maneiras eram régias. Teria feito bem melhor visitando-o a ele.

A lisonja corrompe quem a recebe e quem a dá; e a adulação não é mais útil ao povo do que aos reis.

Enquanto outros Combatem

Empunhasse eu a espada dos valentes!
Impelisse-me a acção, embriagado,
Por esses campos onde a Morte e o Fado
Dão a lei aos reis trémulos e ás gentes!

Respirariam meus pulmões contentes
O ar de fogo do circo ensanguentado…
Ou caĂ­ra radioso, amortalhado
Na fulva luz dos gládios reluzentes!

Já não veria dissipar-se a aurora
De meus inĂşteis anos, sem uma hora
Viver mais que de sonhos e ansiedade!

Já não veria em minhas mãos piedosas
Desfolhar-se, uma a uma, as tristes rosas
D’esta pálida e estĂ©ril mocidade!

Se eu tivesse escrito o Rei Lear, levaria com remorsos toda a minha vida de depois. Porque essa obra é tão grande, que enormes avultam os seus defeitos, os seus monstruosos defeitos, as coisas até mínimas que estão entre certas cenas e a perfeição possível delas. Não é o sol com manchas; é uma estátua grega partida.

O LeĂŁo e o Porco

O rei dos animais, o rugidor leĂŁo,
Com o porco engraçou, não sei por que razão.
Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna
(A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna):
Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes,
Poder de despachar os brutos pretendentes,
De reprimir os maus, fazer aos bons justiça,
E assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça;
Mas em vĂŁo, porque o porco Ă© bom sĂł para assar,
E a sua ocupação dormir, comer, fossar.
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria,
Soltavam contra ele injĂşria sobre injĂşria
Os outros animais, dizendo-lhe com ira:
«Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!»
E ele, apenas grunhindo a vilipĂŞndios tais,
Ficava muito enxuto. Atenção nisto, ó pais!
Dos filhos para o génio olhai com madureza;
Não há poder algum que mude a natureza:
Um porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos
O faça cortesão pelos seus vãos caprichos.

Que Vençais no Oriente tantos Reis

Que vençais no Oriente tantos Reis,
Que de novo nos deis da ĂŤndia o Estado,
Que escureçais a fama que hão ganhado
Aqueles que a ganharam de infiéis;

Que vencidas tenhais da morte as leis,
E que vencĂŞsseis tudo, enfim, armado,
Mais é vencer na Pátria, desarmado,
Os monstros e as Quimeras que venceis.

Sobre vencerdes, pois, tanto inimigo,
E por armas fazer que sem segundo
No mundo o vosso nome ouvido seja;

O que vos dá mais fama inda no mundo,
É vencerdes, Senhor, no Reino amigo,
Tantas ingratidões, tão grande inveja.

O Ăšltimo NegĂłcio

Certa manhĂŁ
ia eu pelo caminho pedregoso,
quando, de espada desembainhada,
chegou o Rei no seu carro.
Gritei:
— Vendo-me!
O Rei tomou-me pela mĂŁo e disse:
— Sou poderoso, posso comprar-te.
Mas de nada lhe serviu o seu poder
e voltou sem mim no seu carro.

As casas estavam fechadas
ao sol do meio dia,
e eu vagueava pelo beco tortuoso
quando um velho
com um saco de oiro Ă s costas
me saiu ao encontro.
Hesitou um momento, e disse:
— Posso comprar-te.
Uma a uma contou as suas moedas.
Mas eu voltei-lhe as costas
e fui-me embora.

Anoitecia e a sebe do jardim
estava toda florida.
Uma gentil rapariga
apareceu diante de mim, e disse:
— Compro-te com o meu sorriso.
Mas o sorriso empalideceu
e apagou-se nas suas lágrimas.
E regressou outra vez Ă  sombra,
sozinha.

O sol faiscava na areia
e as ondas do mar
quebravam-se caprichosamente.
Um menino estava sentado na praia
brincando com as conchas.
Levantou a cabeça
e,

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Se Ă©s capaz de, entre a plebe, nĂŁo te corromperes, e, entre Reis, nĂŁo perder a naturalidade (…) tua Ă© a Terra com tudo o que existe no mundo,

Eloquência positiva é aquele que persuade com doçura, não com violência, ou seja, como um rei, não como um tirano.

Raios não Peço ao Criador do Mundo

LX

Raios não peço ao Criador do Mundo,
Tormentas nĂŁo suplico ao Rei dos Mares,
Vulcões à terra, furacões aos ares,
Negros monstros ao báratro profundo:

NĂŁo rogo ao deus de amor que furibundo
Te arremesse do pé de seus altares;
Ou que a peste mortal voe a teus lares,
E murche o teu semblante rubicundo.

Não imploro em teu dano, ainda que os laços
Urdidos pela fé, com vil mudança
Fizeste, ingrata Nise, em mil pedaços:

Não quero outro despique, outra vingança,
Mais que ver-te em poder de indignos braços,
E dizer quem te perde, e quem te alcança.

A Poesia

… Quantas obras de arte… Já nĂŁo cabem no mundo… Temos de as pendurar fora dos quartos… Quantos livros… Quantos livrecos… Quem será capaz de os ler?… Se fossem comestĂ­veis… Se numa panela de grande calado os fizĂ©ssemos em salada, os picássemos, os alinhássemos… Já nĂŁo se pode mais… Estamos atĂ© ao pescoço… O mundo afoga-se na marĂ©… Reverdy dizia-me: «Avisei o correio para que nĂŁo me trouxesse mais livros… NĂŁo poderia abri-los. NĂŁo tenho espaço. Trepam pelas paredes, temi uma catástrofe, ruiriam em cima da minha cabeça»… Todos conhecem Eliot… Antes de ser pintor, de dirigir teatros, de escrever luminosas crĂ­ticas, lia os meus versos… Sentia-me lisonjeado… NinguĂ©m os compreendia melhor… AtĂ© que um dia começou a ler-me os seus e eu, egoisticamente, corri a protestar: «NĂŁo mos leia, nĂŁo mos leia»… Fechei-me no quarto de banho, mas Eliot, atravĂ©s da porta, lia-mos… Fiquei muito triste… O poeta Frazer, da EscĂłcia, estava presente… Increpou-me: «Porque tratas assim Eliot?»… Respondi: «NĂŁo quero perder o meu leitor. Cultivei-o. Conhece atĂ© as rugas da minha poesia… Tem tanto talento… Pode fazer quadros… Pode escrever ensaios… Mas eu quero manter este leitor, conservá-lo, regá-lo como planta exĂłtica… Compreendes-me, Frazer?»… Porque a verdade, se isto continua,

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NĂŁo Alardear a Boa Sorte

Mais ofende ostentar a dignidade que a pessoa. Fazer-se de grande homem é odioso: bastaria ser invejado. Quanto mais se busca estima menos se a consegue. Ela depende do respeito alheio, e, assim, não pode ser tomada, mas merecida e aguardada. Os grandes cargos demandam autoridade ajustada ao seu exercício, sem o que não podem ser dignamente exercidos. Conserve a que merece para cumprir com o substancial das suas obrigações: não a esgote, ajude-a sim; e todos os que se fazem de aquinhoados no cargo dão indício de que não o mereciam, e que a dignidade a tudo se sobrepõe. Quem quiser ter merecimentos, que seja antes pela eminência dos seus dotes que pelo seu adventício, pois até um rei há-de ser mais venerado pela sua pessoa que pela extrínseca soberania.

Cegos como as Peças de Ouro Reluzentes

A Fama, a GlĂłria, as Armas, a Nobreza,
A CiĂŞncia, o Poder e tudo quanto
Em honra e distinção, de canto a canto,
Encerra deste mundo a vĂŁ Grandeza,

A Pluto, cego deus, com vil baixeza
Adoram de joelhos, como a santo:
Pois sĂł o deus do reino atroz do espanto
Pode ser rei e Numen da riqueza.

Do dossel do seu trono estĂŁo pendentes
C’roas, mitras, laurĂ©is, brazões, tiaras,
Que o cego deus reparte Ă s cegas gentes.

Tudo of’rendar-lhe vai nas torpes aras,
Cegos co’as peças de ouro reluzentes,
A Honra, a Liberdade, as vidas caras.