A verdadeira grandeza consiste em sermos senhores de nós mesmos.
Passagens sobre Senhores
590 resultadosO Juízo Final
Chegou o miserável milionário no céu e, impacientemente, esperou a sua vez de ser julgado. Introduziram-no numa sala, noutra sala, noutra sala, até que se viu frente a uma luz ofuscante, na qual pouco a pouco foi dintinguindo a figura santa do pai dos Homens. Em voz tonitroante este, tendo à direita, Pedro, e, à esquerda, uma figura que ele não conhecia, julgou sumariamente dois outros pecadores que estavam à sua frente. E, afinal, dirigiu-se a ele:
– Que fez você de bom na sua vida ?
– Bem, eu nasci, cresci, amei, casei, tive filhos, vivi.
– Ora – disse o Senhor – isso são actos sociais e biológicos a que você estava destinado. Quero saber que bondade específica e determinada você teve para com o seu semelhante.
– Bem – disse o milionário – eu criei indústrias, comprei fazendas, dei emprego a muita gente, melhorei as condições sociais de muita gente.
– Não, isso não serve – disse o Todo-Poderoso – essas acções estavam implícitas ao acto de você enriquecer. Você as praticou porque precisava viver melhor. Não foram intrinsecamente boas acções, desprendidas, não servem.
O milionário escarafunchou o cérebro e não encontrou nada.
Precisamos de nos retirar para um lugar apartado, de subir ao monte, para um espaço de silêncio, para nos encontrarmos a nós mesmos e ouvir melhor a voz do Senhor.
É o que fazemos na oração.
Experimentemos fazer esta pergunta: «Quem sou eu? Quem sou eu ante o meu Senhor? Sou capaz de exprimir a minha alegria, de O louvar? Ou tomo as minas distâncias? Quem sou eu ante Jesus que sofre?»
Na nossa caminhada quotidiana, especialmente nas dificuldades, na luta contra o mal fora e dentro de nós, o Senhor não está longe; está ao nosso lado.
Nós lutamos com Ele e a nossa arma é precisamente a oração, que nos faz sentir Sua presença junto a nós e a Sua ajuda.
Quando admiramos uma obra de arte ou qualquer maravilha que seja fruto do engenho e da criatividade do homem, o Espírito leva-nos a agradecer ao Senhor do fundo do nosso coração e a reconhecer, em tudo aquilo que temos e somos, um dom inestimável de Deus e um sinal do Seu infinito amor por nós.
Todos temos simpatias e antipatias; talvez muitos de nós estejam zangados com alguém.
Digamos então ao Senhor: «Senhor, estou zangado com este ou com com aquela, porque me fizeram mal; rezo-Te por ele e por ela.»
Rezar por aqueles que nos fizeram sofrer é um belo passo na prática da lei do amor.
O senhor não estava no granizo, na chuva, na tempestade, no vento… O senhor falou ao profeta Elias na brisa suave. No texto bíblico original é usada uma palavra belíssima, que não se pode traduzir com exatidão: a voz de Deus era um fio sonoro de silêncio.
Assim se avizinha o Senhor, com aquela «sonoridade do silêncio» que é própria do amor.
Qualquer um de nós sabe como o Senhor opera misteriosamente no seu coração, na sua salma.
E como é a nuvem, o poder, como é o estilo do Espírito Santo para cobrir o nosso mistério. Esta nuvem em nós, na nossa vida, chama-se «silêncio». O silêncio é exatamente a nuvem que cobre o mistério da nossa relação com o Senhor.
Para ouvir e acolher o chamamento de Deus, e preparar uma casa para Jesus, deveis ser capazes de repousar no Senhor. Deveis encontrar tempo, todos os dias, para repousar no Senhor, para rezar.
Rezar é repousar no Senhor.
Quando sentimos no nosso coração:
«Queria ser melhor… Estou arrependido daquilo que fiz…», é mesmo o Senhor que bate á porta. Faz-te sentir isso: a vontade de ser melhor, a vontade de permanecer mais próximo dos outros, de Deus. Se sentis esse desejo de melhorar, é Ele que bate á porta; abri-Lhe a porta! Não o deixeis ir-Se embora!
A nossa vida é um caminho em direção ao monte do Senhor, em direção ao encontro com Jesus.
A coisa mais importante que pode acontecer a uma pessoa é encontrar Jesus.
Os Reis Magos convidam-nos a seguir uma luz, uma luz amável, que não se apaga, porque não é deste mundo: vem do çeu e brilha… Onde? No coração. Esta luz é o própio Senhor: uma luz que não encandeia, mas acompanha e dá uma alegria única.
A Inconstância no Amor e na Amizade
Não pretendo justificar aqui a inconstância em geral, e menos ainda a que vem só da ligeireza; mas não é justo imputar-lhe todas as transformações do amor. Há um encanto e uma vivacidade iniciais no amor que passa insensivelmente, como os frutos; não é culpa de ninguém, é culpa exclusiva do tempo. No início, a figura é agradável, os sentimentos relacionam-se, procuramos a doçura e o prazer, queremos agradar porque nos agradam, e tentamos demonstrar que sabemos atribuir um valor infinito àquilo que amamos; mas, com o passar do tempo, deixamos de sentir o que pensávamos sentir ainda, o fogo desaparece, o prazer da novidade apaga-se, a beleza, que desempenha um papel tão importante no amor, diminui ou deixa de provocar a mesma impressão; a designação de amor permanece, mas já não se trata das mesmas pessoas nem dos mesmos sentimentos; mantêm-se os compromissos por honra, por hábito e por não termos a certeza da nossa própria mudança.
Que pessoas teriam começado a amar-se, se se vissem como se vêem passados uns anos? E que pessoas se poderiam separar se voltassem a ver-se como se viram a primeira vez? O orgulho, que é quase sempre senhor dos nossos gostos,
Humilhações
Esta aborrece quem é pobre. Eu, quase Jó,
Aceito os seus desdéns, seus ódios idolatro-os;
E espero-a nos salões dos principais teatros,
Todas as noites, ignorado e só.Lá cansa-me o ranger da seda, a orquestra, o gás;
As damas, ao chegar, gemem nos espartilhos,
E enquanto vão passando as cortesãs e os brilhos,
Eu analiso as peças no cartaz.Na representação dum drama de Feuillet,
Eu aguardava, junto à porta, na penumbra,
Quando a mulher nervosa e vã que me deslumbra
Saltou soberba o estribo do coupé.Como ela marcha! Lembra um magnetizador.
Roçavam no veludo as guarnições das rendas;
E, muito embora tu, burguês, me não entendas,
Fiquei batendo os dentes de terror.Sim! Porque não podia abandoná-la em paz!
Ó minha pobre bolsa, amortalhou-se a idéia
De vê-la aproximar, sentado na platéia,
De tê-la num binóculo mordaz!Eu ocultava o fraque usado nos botões;
Cada contratador dizia em voz rouquenha:
— Quem compra algum bilhete ou vende alguma senha?
E ouviam-se cá fora as ovações.Que desvanecimento!
Os Loucos
Há vários tipos de louco.
O hitleriano, que barafusta.
O solícito, que dirige o trânsito.
O maníaco fala-só.O idiota que se baba,
explicado pelo psiquiatra gago.
O legatário de outros,
o que nos governa.O depressivo que salva
o mundo. Aqueles que o destroem.E há sempre um
(o mais intratável) que não desiste
e escreve versos.Não gosto destes loucos.
(Torturados pela escuridão, pela morte?)
Gosto desta velha senhora
que ri, manso, pela rua, de felicidade.
Dona Abastança
«A caridade é amor»
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor da alta finança.Família necessitada
A boa senhora acode
Pouco a uns a outros nada
«Dar a todos não se pode.»Já se deixa ver
Que não pode ser
Quem
O que tem
Dá a pedir vem.O bem da bolsa lhes sai
E sai caro fazer o bem
Ela dá ele subtrai
Fazem como lhes convém
Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem não tem
Fazendo mais e mais pobres.Já se deixa ver
Que não pode ser
Dar
Sem ter
E ter sem tirar.Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.Oh engano sempre novo
De tão estranha caridade
Feita com dinheiro do povo
Ao povo desta cidade.
Torna-se escravo o senhor que teme aqueles a quem governa.
Os Figos Pretos
– Verdes figueiras soluçantes nos caminhos!
Vós sois odiadas desde os seculos avós:
Em vossos galhos nunca as aves fazem ninhos,
Os noivos fogem de se amar ao pé de vós!– Ó verdes figueiras! ó verdes figueiras
Deixae-o fallar!
Á vossa sombrinha, nas tardes fagueiras,
Que bom que é amar!– O mundo odeia-vos. Ninguem nos quer, vos ama:
Os paes transmittem pelo sangue esse odio aos moços.
No sitio onde medraes, ha quazi sempre lama
E debruçaes-vos sobre abysmos, sobre poços.– Quando eu for defunta para os esqueletos,
Ponde uma ao meu lado:
Tristinha, chorando, darà figos pretos…
De luto pezado!– Os aldeões para evitar vosso perfume
Sua respiração suspendem, ao passar…
Com vossa lenha não se accende, á noite, o lume,
Os carpinteiros não vos querem aplainar.– Oh cheiro de figos, melhor que o do incenso
Que incensa o Senhor!
Podesse eu, quem dera! deital-o no lenço
Para o meu amor…– As outras arvores não são vossas amigas…
Mãos espalmadas, estendidas, supplicantes,
Mensagem – Mar Português
MAR PORTUGUÊS
Possessio Maris
I. O Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!II. Horizonte
Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
’Splendia sobre as naus da iniciação.Linha severa da longínqua costa —
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves,