A tristeza é uma doença, a alegria é um veneno.
Passagens sobre Veneno
135 resultadosO Procurador do Amor
Amor, a quanto me obrigas.
De dorso curvo e olhar aceso,
troto as avenidas neutras
atrás da sombra que me inculcas.Esta sombra que se confunde
com as mulheres gordas e magras,
entra numa porta, sai por outra
como nos filmes americanos,
e reaparece olhando as vitrinas.Meu olhar desnuda as passantes.
Ă€s vezes um bico de seio
vale mais que o melhor Baedeker.
Mas onde seio para minha sede?O andar, a curva de um joelho,
vinco de seda no quadril
(nĂŁo sabia quanto eras pura),
faço a polĂcia dos dessous.Eu sei que o ĂŞxtase supremo,
o looping no céu espiritual
pode enredar-se, malicioso,
no que as mulheres mais (?) escondem
no que meus olhos mais indagam.O dia se emenda com a noite
As mulheres vĂŁo para a rua
mas a mulher que tu me destinas
talvez ainda esteja em Peiping.Desiludido ainda me iludo.
Namoro a plumagem do galo
no ouro pérfido do coquetel.
Enquanto as mulheres cocoricam
os homens engolem veneno.
Evite manter no seu ambiente de trabalho um trabalhador de mau carácter ou desagregador. Medite que uma gota de veneno contamina o cântaro.
Substituir o pensamento pelo sonho Ă© confundir um veneno com alimento.
VatĂcinio
Hás-de beber as lágrimas sombrias
que nesta hora eu bebo soluçando!,
e o veneno das minhas ironias
há-de rasgar-te os tĂmpanos cantando!Hás-de esgotar a taça de agonias
neste sabor a Ăłdio… e, estertorando
hás-de crispar as tuas mãos vazias
de amor, como eu agora estou crispando!E hás-de encontrar-me em teu surpreso olhar
com o mesmo sorriso singular
que a minha boca em certas horas tem.E eu hei-de ver o teu olhar incerto
vagueando no intérmino deserto
dos teus braços tombados sem ninguém!
A maldade bebe a maior parte do veneno que produz.
LXXI
Eu cantei, nĂŁo o nego, eu algum dia
Cantei do injusto amor o vencimento;
Sem saber, que o veneno mais violento
Nas doces expressões falso encobria.Que amor era benigno, eu persuadia
A qualquer coração de amor isento;
Inda agora de amor cantara atento,
Se lhe não conhecera a aleivosia.Ninguém de amor se fie: agora canto
Somente os seus enganos; porque sinto,
Que me tem destinado estrago tanto.De seu favor hoje as quimeras pinto:
Amor de uma alma Ă© pesaroso encanto;
Amor de um coração é labirinto.
A cobra, quando entra na água, deixa o veneno em terra.
A glĂłria Ă© um veneno que devemos sorver em pequenas doses.
Lubricidade
Quisera ser a serpe venenosa
Que dá-te medo e dá-te pesadelos
Para envolverem, Ăł Flor maravilhosa,
Nos flavos turbilhões dos teus cabelos.Quisera ser a serpe veludosa
Para, enroscada em mĂşltiplos novelos,
Saltar-te aos seios de fluidez cheirosa
E babujá-los e depois mordĂŞ-los…Talvez que o sangue impuro e flamejante
Do teu lânguido corpo de bacante,
Da langue ondulação de águas do RenoEstranhamente se purificasse…
Pois que um veneno de áspide vorace
Deve ser morto com igual veneno…
O Mais InfalĂvel Veneno Ă© o Tempo
Tabaco, cafĂ©, álcool, ácido prĂşssico, estricnina — todos nĂŁo passam de poções diluĂdas: o mais infalĂvel veneno Ă© o tempo. Essa taça, que a natureza nos põe nos lábios, possui uma propriedade maravilhosa que supera qualquer outra bebida. Ela abre os sentidos, adiciona poder e povoa-nos de sonhos exaltados, a que chamamos esperança, amor, ambição, ciĂŞncia. Em particular, ela desperta o desejo por maiores doses de si. Mas aqueles que tomam as maiores doses ficam embriagados, perdem estatura, força, beleza e sentidos, e terminam em fantasia e delĂrio. NĂłs adiamos o nosso trabalho literário atĂ© que tenhamos maturidade e tĂ©cnica para escrever, mas um dia descobrimos que o nosso talento literário nĂŁo passava de uma efervescĂŞncia juvenil que perdemos.
Exilada
Bela viajante dos paĂses frios
NĂŁo te seduzam nunca estes aspectos
Destas paisagens tropicais — secretos,
— Os teus receios devem ser sombrios.És branca e Ă©s loura e tens os amavios
Os incĂłgnitos filtros prediletos
Que podem produzir ondas de afetos
Nos mais sensĂveis corações doentios.Loura VisĂŁo, OfĂ©lia desmaiada,
Deixa esta febre de ouro, a febre ansiada
Que nos venenos deste sol consiste.Emigra destes cálidos paĂses,
Foge de amargas, fundas cicatrizes,
Das alucinações de um vinho triste…
Guardar ressentimento Ă© como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra.
As Discussões Nunca São Feitas de Boa Fé
SĂł os ingĂ©nuos podem crer que uma discussĂŁo visa resolver um problema ou esclarecer uma questĂŁo difĂcil. Na realidade, a sua Ăşnica justificação Ă© testar a capacidade de os participantes derrubarem o adversário. O que está em jogo nĂŁo Ă© a verdade, mas o amor prĂłprio. O bem falante leva a melhor sobre o que tartamudeia, o temerário sobre o tĂmido e o arrebatado sobre o escrupuloso. Estar de boa fĂ© equivale a potenciar as desvantagens, porquanto os escrĂşpulos se somam Ă circunspecção, dificultando a expressĂŁo. O que Ă© a boa fĂ©? Uma conduta de fracasso, um autĂŞntico suicĂdio… Quem participa em debates fala sem escutar, espezinha qualquer raciocĂnio que nĂŁo seja conduzido por si prĂłprio, despreza as oposições, ignora as obstrucções e, de certo modo, conquista a vitĂłria Ă força de palavras.
Cultiva a má fé com o profissionalismo do jardineiro que cria uma planta venenosa cujo veneno possui suavidades tão profundas que quem o prova já não passa sem ele. Para dar melhor resultado, a má fé não deve ser demasiado subtil. Com efeito, o seu impacte não será suficiente para desnortear o outro, rápida e duradouramente. Nesta matéria, a subtileza não substitui a brutalidade que, não obstante a detestável fama em certos meios intelectuais,
VisĂŁo
Noiva de Satanás, Arte maldita,
Mago Fruto letal e proibido,
Sonâmbula do Além, do Indefinido
Das profundas paixões, Dor infinita.Astro sombrio, luz amarga e aflita,
Das Ilusões tantálico gemido,
Virgem da Noite, do luar dorido,
Com toda a tua Dor oh! sĂŞ bendita!Seja bendito esse clarĂŁo eterno
De sol, de sangue, de veneno e inferno,
De guerra e amor e ocasos de saudade…Sejam benditas, imortalizadas
As almas castamente amortalhadas
Na tua estranha e branca Majestade!
Gazel da Lembrança de Amor
Tua lembrança não leves.
Deixa-a sozinha em meu peito,tremor de alva cerejeira
no martĂrio de janeiro.Dos que morreram separa-me
um muro de sonhos maus.Dou pena de lĂrio fresco
para um coração de gesso.A noite inteira, no horto,
meus olhos, como dois cĂŁes.A noite inteira, correndo
os marmelos de veneno.Algumas vezes o vento
uma tulipa Ă© de medo,Ă© uma tulipa enferma
a madrugada de inverno.Um muro de sonhos maus
me afasta dos que morreram.A névoa cobre em silêncio
o vale gris de teu corpo.Pelo arco do encontro
a cicuta está crescendo.Mas deixa tua lembrança,
deixa-a sozinha em meu peito.Tradução de Oscar Mendes
O Estado Ă© onde todos bebem veneno, os bons e os maus; onde todos se perdem a si mesmo, os bons e os maus; onde o lento suicĂdio de todos se chama a vida.
Aprendi que nĂŁo importa o quanto vocĂŞ se importe, algumas pessoas simplesmente nĂŁo se importam. Guardar ressentimento Ă© como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra.
É fácil acostumar-se ao veneno.
Ambição e Poder
Examinemo-nos no momento em que a ambição nos trabalha, em que lhe sofremos a febre; dissequemos em seguida os nossos «acessos». Verificaremos que estes sĂŁo precedidos de sintomas cuirosos, de um calor especial, que nĂŁo deixa nem de nos arrastar nem de nos alarmar. Intoxicados de porvir por abuso de esperança, sentimo-nos de sĂşbito responsáveis pelo presente e pelo futuro, no nĂşcleo da duração, carregada esta dos nossos frĂ©mitos, com a qual, agentes de uma anarquia universal, sonhamos explodir. Atentos aos acontecimentos que se passam no nosso cĂ©rebro e Ă s vicissitudes do nosso sangue, virados para o que nos altera, espiamos-lhe e acarinhamos-lhe os sinais. Fonte de perturbações, de transtornos Ămpares, a loucura polĂtica, se afoga a inteligĂŞncia, favorece em contrapartida os instintos e mergulha-os num caos salutar. A ideia do bem e sobretudo do mal que imaginamos ser capazes de cumprir regozijar-nos-á e exaltar-nos-á; e o feito das nossas enfermidades, o seu prodĂgio, será tal que elas nos instituirĂŁo senhores de todos e de tudo.
Ă€ nossa volta, observaremos uma alteração análoga naqueles que a mesma paixĂŁo corrĂłi. Enquanto sofrerem o seu impĂ©rio, serĂŁo irreconhecĂves, presas de uma embriaguez diferente de todas as outras. Tudo mudará neles, atĂ© o timbre da voz.