Passagens sobre Verdade

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O Engraxanço e o Culambismo Português

Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele.
Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá-los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia.
Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente como «engraxanço». Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os alunos engraxavam os professores,os jornalistas engraxavam os ministros, as donas de casa engraxavam os médicos da caixa, etc… Mesmo assim, eram raros os portugueses com feitio para passar graxa. Havia poucos engraxadores. Diga-se porém, em abono da verdade, que os poucos que havia engraxavam imenso.

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Para o Jornalista, Tudo o que é Provável é Verdade

«Para o jornalista, tudo o que é provável é verdade». Trata-se dum axioma estupendo, como tudo o que Balzac inventa. Reflectindo nele, nós percebemos quantas falsidades se explicam e quantas arranhadelas na sensibilidade se resumem a fanfarronices e não a conhecimento dos factos. Em geral, o pequeno jornalista é um profeta da Imprensa no que toca a banalidades, e um imprudente no que se refere a coisas sérias. Quando Balzac refere que a crítica só serve para fazer viver o crítico, isto estende-se a muitas outras tendências do jornalista: o folhetinista, que é o que Camilo fazia nas gazetas do Porto (…). Eu própria não estou isenta duma soma de articulismos, de recursos à blague, de graças adaptáveis, de frequentação do lado mau da imaginação, de ridículos, de fastidiosos conselhos, de discursos convencionais, de condenações fáceis, de birras imbecis, de poesia de barbeiro, de elegâncias chatas, de canibalismo vulgar, de panfletismo «bom cidadão». Quando não sou nada disso, sou assunto para jornais, mas não sou jornalista.

Nunca o homem deixa tanto de ser ele mesmo como quando fala por sua própria conta. Fornecei-lhe uma máscara e logo vos dirá a verdade.

Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência.

O que nós temos por verdade é apenas a mais provável, ou a menos improvável, de várias probabilidades.

Estão Todas as Verdades à Espera em Todas as Coisas

Estão todas as verdades
à espera em todas as coisas:
não apressam o próprio nascimento
nem a ele se opõem,
não carecem do fórceps do obstetra,
e para mim a menos significante
é grande como todas.
(Que pode haver de maior ou menor
que um toque?)

Sermões e lógicas jamais convencem
o peso da noite cala bem mais
fundo em minha alma.

(Só o que se prova
a qualquer homem ou mulher,
é que é;
só o que ninguém pode negar,
é que é.)

Um minuto e uma gota de mim
tranquilizam o meu cérebro:
eu acredito que torrões de barro
podem vir a ser lâmpadas e amantes,
que um manual de manuais é a carne
de um homem ou mulher,
e que num ápice ou numa flor
está o sentimento de um pelo outro,
e hão-de ramificar-se ao infinito
a começar daí
até que essa lição venha a ser de todos,
e um e todos nos possam deleitar
e nós a eles.

É espantoso como o ciúme, que passa o tempo a fazer pequenas suposições em falso, tem pouca imaginação quando se trata de descobrir a verdade.

A verdade é que fomos

A verdade é que fomos
feitos do mesmo sangue
violento e humilde

A verdade é que temos
ambos a graça de compreender
todos os homens e todas as estrelas

A verdade é que Deus
nos ensinou
que este é o tempo da razão ardente.

Deus hoje deu-me um pouco
do que toda a vida lhe pedi
foi esta calma e simples aceitação
de que é preciso que estejas
longe de mim
para que amando eu possa conservar
o meu coração puro.

As ruas hoje pareciam mais largas
e mais claras

As casas e as pessoas
pareciam diferentes

Foi só o tempo de pedir a Deus
que prolongasse o generoso engano.

Tu ensinaste-me as palavras simples
as palavras belas
as palavras justas

E fizeste com que eu já não saiba
falar de outra maneira.

O amor substitui
o Sol — que tudo ilumina.

Sonhar contigo é quase como
saber que existo para além de mim.

Se basta que de mim te lembres
para que o sono facilmente venha
porque não hás-de dar-me amor a paz
com que o meu coração de há tanto tempo sonha

Vês como é tão simples
ter o coração
tão perto da terra
e os olhos nos olhos
e a alma tão perto
da tua alma

Por que será

que quanto mais repartimos

o coração

maior e mais nosso ele fica?

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Não te Queixes

Não te queixes. Recolhe em ti a amargura, não a disperses, não a esbanjes com os outros. Ela é tua, nasceu de ti, da tua miséria, pertence-te como os ossos e as vísceras. Concentra-te nela, absorve-a, faz dela a tua grandeza. Porque só se é grande pelo sofrimento, não pela futilidade do prazer. As pedras não sofrem, Cristo esteve «triste até à morte». Tem desprezo pelos homens felizes, porque dos homens felizes «não reza a história». Só a dor pode medir o teu tamanho de excepção, só ela pode medir o que tu vales. O sofrimento medíocre não dá mais do que a comédia, mas a grandeza da tragédia só pode atribuir-se aos grandes. Não te aconselho a que vás ao encontro da amargura, mas se ela vier ter contigo, acolhe-a com serenidade. Não sucumbas aos seus golpes, aguenta-os até onde puderes. E se és homem de verdade, tu a aguentarás.
Também as grandes alegrias são do destino dos grandes, porque elas são irmãs dos grandes sofrimentos. Só os pequenos e mesquinhos se alegram e sofrem com o que é mesquinho e pequeno. Aquilo que é pequeno é imperceptível a quem o não é. Que juízo fazem de ti,

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Quem ama nunca se funde nem confunde com o amado. Os egoísmos buscam modificar o outro para o fazer à sua imagem e semelhança. O amor aceita e promove o ser do outro, enquanto verdade livre e autónoma, com o seu significado, rumo e valor próprios.

A sabedoria não vem automaticamente com a idade. Nada vem – exceto rugas. É verdade, alguns vinhos melhoram com o tempo, mas apenas se as uvas eram boas em primeiro lugar.

Eu não quero nenhum homem-sim em torno de mim. Quero que toda a gente diga a verdade – mesmo que custe o seu trabalho.

As Descrições dos Romances

Jean-Paul Sartre: De um modo geral, aliás, já não sei muito bem porque se escrevem romances. Queria falar do que pensei ser a literatura e além disso do que abandonei.
Simone de Beauvoir: Fale; é muito interessante
Jean-Paul Sartre: Ao princípio, pensava que a literatura era o romance. Dissemo-lo.
Simone de Beauvoir: Sim, uma narrativa, e ao mesmo tempo via-se o mundo através. Isto dá qualquer coisa que nenhum ensaio sociológico, nenhuma estatística, pode dar.
Jean-Paul Sartre: Dá o individual, dá o pessoal, dá o particular. Um romance dará esta sala, por exemplo, a cor dessa parede, desses cortinados, da janela, e só ele o pode dar. E foi do que eu gostei, os objectos serem nomeados e muito próximos no seu carácter individual. Eu sabia que todos os sítios descritos existiam ou tinham existido, que por conseguinte era mesmo a verdade.
Simone de Beauvoir: Embora você não gostasse muito das descrições literárias. Nos seus romances há descrições, de vez em quando, mas sempre muito ligadas à acção, à maneira como as pessoas as vêem.
Jean-Paul Sartre: E breves.
Simone de Beauvoir: Sim. Uma pequena metáfora, três palavrinhas para indicar qualquer coisa, não verdadeiramente uma descrição.

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O que é uma Pessoa Religiosamente Iluminada

Em vez de perguntar o que é a religião, prefiro perguntar o que caracteriza as aspirações de uma pessoa que me dá a impressão de ser religiosa: uma pessoa que é religiosamente iluminada parece-me alguém que, utilizando as suas melhores capacidades, se libertou das grilhetas dos seus desejos egoístas e está preocupado com pensamentos, sentimentos e aspirações a que se agarra devido ao seu estreito valor superpessoal. Parece-me que o que é importante é a força deste conteúdo superpessoal e a profundidade da convicção relativa ao seu significado esmagador, independentemente de se fazer alguma tentativa para reunir este conteúdo com um ser divino, pois de outro modo não seria possível considerar Buda e Spinoza personalidades religiosas. De igual modo, uma pessoa religiosa é devota no sentido de que não tem quaisquer dúvidas sobre o significado e o carácter desses objectos e fins superpessoais, que não necessitam nem garantem uma fundamentação racional (…)
A ciência só pode ser criada por aqueles que estão profundamente imbuídos de uma aspiração de verdade e compreensão. Todavia, a origem deste sentimento nasce na esfera da religião. A esta esfera pertence também a fé na possibilidade de as regulações válidas para o mundo real serem racionais,

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Com uma vida pobre (e qual é a vida rica?) com a vida pobre eu me salvo dela através do imaginário. Só que meu imaginário não se faz através de acções e sim através do sentir-pensar que na verdade é sonho.