Vivemos Para os Momentos Futuros, e Não o Presente
A ânsia de matar tempo, de liquidar o espaço de dias entre um acontecimento e o que lhe sucede, transmite, tanto em casos de amor como em outros, fins importantes, um estado de alma que se preocupa exclusivamente em atingir esse alvo previamente estabelecido. Não se pensa em mais nada. Semelhante à situação criada quando se sabe de antemão que se vai encontrar determinada pessoa que nos interessa muito. Fica-se incapaz de articular palavra, de estreitar vínculo com quem quer que seja que se nos atravesse no caminho. Está-se a viver em outrem, num estado fora da relação humana do dia a dia. Nem sequer ouvimos os sons, arrepiamos a pele ao tomar conhecimento consciente de notícias que já sabíamos de antemão pertencerem ao domínio público. Esta é também a ânsia do suicida que nada mais faz entre a decisão de cometer o homicídio e a prática do acto extremo.
Passagens sobre Acontecimento
283 resultadosA Ignorância leva ao Impulso sem Sentido
A ignorância é uma coisa vil, abjecta, indigna, servil, sujeita a inúmeras e violentíssimas paixões. Destes insuportáveis tiranos que são as paixões – e que por ora nos governam alternadamente, ora em conjunto – te libertará a sabedoria, a única liberdade autêntica. Para chegar à sabedoria, um só caminho e em linha recta; não há que errar, avança em passo firme e constante. Se queres que tudo te esteja sujeito, sujeita-te tu à razão; dirigirás muitos outros, se a ti te dirigir a razão. Ela te dirá o que deves empreender, e que maneira; assim não serás surpreendido pelos acontecimentos. Tu não podes apontar-me alguém que saiba de que modo começou a querer aquilo que quer. E porquê? Porque o comum das pessoas não é levada pela reflexão, mas arrastada por impulsos. A fortuna cai sobre nós não menos vezes do que nós caimos sobre ela.
Tudo é Fugaz
Considera com frequência a rapidez com que se passam e desaparecem os seres e os acontecimentos. A substância, como um rio, está em perpétuo fluir, as forças em perpétuas mudanças, as cuasas a modificarem-se de mil maneiras; apenas há aí uma coisa estável; e abre-se-nos aos pés o abismo infinito do passado e do futuro onde tudo se some.