Passagens sobre AdolescĂȘncia

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Projecto de Bodas

Hoje apetece que uma rosa seja
o coração exterior do dia
e a tua adolescĂȘncia de cereja
no meu bico de Isolda cotovia.

Hoje apetece a intuição dum cais
para a lucidez de nĂŁo chegar a tempo
e ficarmos violetas nupciais
com a lua a celebrar o casamento.

Apetece uma casa cor-de-rosa
com um galo vermelho no telhado
e os degraus duma seda vagarosa
que nunca chegue Ă  varanda do noivado.

Hoje apetece que o cigarro saiba
a ter fumado uma cidade toda.
Ser o anel onde o teu dedo caiba
e faltarmos os dois Ă  nossa boda.

Hoje apetece um interior de esponja
E como estĂĄtua a que moldar o vento.
Deitar as sortes e, se sair monja,
Navegar ao acaso o meu convento.

Hoje apetece o mundo pelo modo
Como vai despenhar-se um trapezista.
Abrir mais uma flor no nosso lodo:
Pedir-lhe um salto e retirar-lhe a pista.

Hoje apetece que a cor dum automĂłvel
Seja o Egipto de novo em movimento;
E que no espaço duma gota imóvel
Caiba a possĂ­vel capital do vento.

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A adolescĂȘncia Ă© um tribunal inesperado:
o julgamento do pai pelo filho,
o julgamento do filho pelo pai.

Apaixonaram-se como as pessoas se apaixonam na adolescĂȘncia, avassaladoramente e tambĂ©m por acaso.

Preocupar-se em ser adulto ou nĂŁo, admirar o adulto por ser adulto, corar de vergonha diante da insinuação de que se Ă© infantil: esses sĂŁo sinais caracterĂ­sticos da infĂąncia e da adolescĂȘncia.

A Grande Vantagem da Vida

– A grande vantagem da vida Ă© ensinar-nos outra vez a chorar. A vida infantiliza. Fica-se maior no que nos faz ser mais pequenos. Cresce-se fora o que se vai perdendo por dentro. Passamos a infĂąncia a querer crescer, a adolescĂȘncia a querer crescer. E depois percebemos que sĂł quer crescer quem ainda se sente pequeno. Um adulto sente-se pequeno mas pensa ao contrĂĄrio. Sente-se pequeno e quer ficar mais pequeno. Voltar ao tempo em que havia sonhos.
– Onde se perdem os sonhos?
– Todos os sonhos se perdem. Mesmo aqueles que vais ganhar, e vais ganhar muitos, se vĂŁo perder. Porque jĂĄ deixaram de ser sonhos. Sonhaste aquilo, tiveste aquilo. E acabou. LĂĄ se foi o sonho. O segredo Ă© conseguir gerar novos sonhos. Sonhos que consigam ocupar o espaço em branco deixado pelo sonho perdido.
– Mesmo que tenha sido ganho.
– Mesmo que tenha sido ganho.
– Queria ser como tu.
– E eu queria ser como tu. Queria olhar para a frente e ver que o caminho não acaba, o caminho a perder de vista.
– O teu não se perde de vista?
– O meu faz-me perder a vista.

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Com os Costumes andam os Aforismos

Com os costumes andam os aforismos. Assim, eis que eles tomam um carĂĄcter mais criticador e vibrante, isto na linguagem de Karl Kraus, homem sagaz e ventrĂ­loquo de certas causas que a sociedade nĂŁo confia Ă  voz pĂșblica.
Ele diz, por exemplo: «As mulheres, no Oriente, tĂȘm maior liberdade. Podem ser amadas». Ou entĂŁo: «A vida de famĂ­lia Ă© um ataque Ă  vida privada». Ou ainda: «A democracia divide os homens em trabalhadores e preguiçosos. NĂŁo estĂĄ destinada para aqueles que nĂŁo tĂȘm tempo para trabalhar». Tudo isto, como axioma, lembra Bernard Shaw, esse inglĂȘs azedo e endiabrado cujo Manual do RevolucionĂĄrio fez o encanto da nossa adolescĂȘncia.
Todavia, o aforimo do homem de letras, se impressiona, quase nunca comove ninguĂ©m. O autĂȘntico aforismo nĂŁo Ă© uma arte – Ă© uma espĂ©cie de pastorĂ­cia cultural. NĂŁo estĂĄ destinado a divertir nem a chocar as pessoas, mas, acima de tudo, propĂ”e-se transmitir uma orientação. É uma lição, e nĂŁo o pretexto para uma pirueta.
Os aforismos e paradoxos de Karl Kraus tĂȘm esse sabor irreverente que se diferencia da sabedoria, porque hĂĄ algo de precipitado na sua confissĂŁo. Precisam de ser situados num estado de espĂ­rito, para serem aceites e compreendidos;

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ConclusĂŁo

Fui amante da morte
e da beleza. Vi a loucura,
acreditei na vida.
Da infĂąncia falei
como lugar de abismo.
O prazer
foi também a grande fonte
de perturbação e alegria.
Lembrei as mulheres
que recusaram submeter-se,
escrevi palavras fĂșnebres.

NĂŁo poupei a adolescĂȘncia,
o coração magoado
e nĂŁo soube que fazer
de mim fora das palavras.
Escrevi para desistir
e depender
e ter identidade.