Passagens sobre Cadeia

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PaixĂŁo Secreta

Acordei com os primeiros pássaros,
já minha lâmpada morria.
Fui até à janela aberta e sentei-me,
com uma grinalda fresca
nos cabelos desatados…
Ele vinha pelo caminho
na névoa cor de rosa da manhã.
Trazia ao pescoço
uma cadeia de pérolas
e o sol batia-lhe na fronte.
Parou Ă  minha porta
e disse-me ansioso:
— Onde está ela?
Tive vergonha de lhe dizer:
— Sou eu, belo caminhante,
sou eu.

Anoitecia
e ainda nĂŁo tinham acendido as luzes.
Eu atava o cabelo, desconsolada.
Ele chegava no seu carro
todo vermelho, aceso pelo sol poente.
Trazia o fato cheio de poeira.
Fervia a espuma
na boca anelante dos seus cavalos…
Desceu Ă  minha porta
e disse-me com voz cansada:
— Onde está ela?
Tive vergonha de lhe dizer:
— Sou eu, fatigado caminhante,
sou eu.

Noite de Abril.
A lâmpada arde neste meu quarto
que a brisa do Sul
enche suavemente.
O papagaio palrador
dorme na sua gaiola.
O meu vestido Ă© azul
como o pescoço dum pavão,

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Na Luz

De soluço em soluço a alma gravita,
De soluço em soluço a alma estremece,
Anseia, sonha, se recorda, esquece
E no centro da Luz dorme contrita.

Dorme na paz sacramental, bendita,
Onde tudo mais puro resplandece,
Onde a Imortalidade refloresce
Em tudo, e tudo em cânticos palpita.

Sereia celestial entre as sereias,
Ela só quer despedaçar cadeias,
De soluço em soluço, a alma nervosa.

Ela só quer despedaçar algemas
E respirar nas amplidões supremas,
Respirar, respirar na Luz radiosa.

Dar um passo pode ser fruto de uma decisão complexa. Há a possibilidade de seguir para a direita ou para a esquerda, posso continuar em frente ou voltar para trás, desfazer. Cada escolha lançará uma cadeia de resultados. Mal comparado, é como acordar na estação Sèvres-Lecourbe e não ter mapa do metro, nunca ter estado ali, não saber sequer onde se está, não saber sequer o que é o metro. Ter de aprender tudo. Ao fim de um tempo, com sorte, conversando com pedintes cegos, tocadores de concertina, talvez se consiga chegar à conclusão que se quer ir para a estação Ourcq, esse é o lugar onde se poderá ser feliz, mas como encontrar o caminho sem mapa, sem conhecer linhas e ligações? É possível arrastar a vida inteira no metro de Paris e nunca passar por Ourcq. É também possível passar por lá e não reconhecer que é ali que se quer sair.

A cadeia do casamento Ă© tĂŁo pesada, que sĂŁo precisos dois para carregar com ela e, muitas vezes, trĂŞs.

Os Amantes

Amor, Ă© falso o que dizes;
Teu bom rosto Ă© contrafeito;
Busca novos infelizes
Que eu inda trago no peito
Mui frescas as cicatrizes;

O teu meu Ă© mel azedo,
NĂŁo creio em teu gasalhado,
Mostras-me em vĂŁo rosto ledo;
Já estou muito escaldado,
Já d’águas frias hei medo.

Teus prémios são pranto e dor;
Choro os mal gastados anos
Em que servi tal senhor,
Mas tirei dos teus enganos
O sair bom pregador.

Fartei-te assaz a vontade;
Em vĂŁos suspiros e queixas
Me levaste a mocidade,
E nem ao menos me deixas
Os restos da curta idade?

És como os cães esfaimados
Que, comendo os troncos quentes
Por destro negro esfolados,
Levam nos ávidos dentes
Os ossos ensanguentados.

Bem vejo a aljava dourada
Os ombros nus adornar-te;
Amigo, muda de estrada,
Põe a mira em outra parte
Que daqui nĂŁo tiras nada.

Busca algum fofo morgado
Que, solto já dos tutores,
Ao domingo penteado,
Vá dizendo à toa amores
Pelas pias encostado;

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Desigualdade Natural e Desigualdade Institucional

É fácil de ver que, entre as diferenças que distinguem os homens, muitas passam por naturais, quando são unicamente a obra do hábito e dos diversos géneros de vida adoptados pelos homens na sociedade. Assim, num temperamento robusto ou delicado, a força ou a fraqueza que disso dependem, vêm muitas vezes mais da maneira dura ou efeminada pela qual foi educado do que da constituição primitiva dos corpos. Acontece o mesmo com as forças do espírito, e a educação não só estabelece a diferença entre os espíritos cultivados e os que não o são, como aumenta a que se acha entre os primeiros à proporção da cultura; com efeito, quando um gigante e um anão marcham na mesma estrada, cada passo representa uma nova vantagem para o gigante. Ora, se se comparar a diversidade prodigiosa do estado civil com a simplicidade e a uniformidade da vida animal e selvagem, em que todos se nutrem dos mesmos alimentos, vivem da mesma maneira e fazem exactamente as mesmas coisas, compreender-se-á quanto a diferença de homem para homem deve ser menor no estado de natureza do que no de sociedade; e quanto a desigualdade natural deve aumentar na espécie humana pela desigualdade de instituição.

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Ă€ DiscĂłrdia

Pouco importa amarrar com mĂŁo valente
A DiscĂłrdia infernal, com cem cadeias,
Que ela tem subtilezas, tem ideias
De saber desligar-se facilmente.

De que serve lançar limpa semente
Em chão infecto, de zizânias feias,
De ervilhacas, lericas, joio, aveias,
Sem os campos limpar primeiramente?

Ninguém, té gora, à ligadura górdia
O nĂł soube desdar, que o vil EgoĂ­smo
Empata as vazas Ă  geral ConcĂłrdia.

NĂŁo se pode extinguir o Despotismo,
Nem acabar c’o impĂ©rio da DiscĂłrdia,
Sem cortar a raiz do Fanatismo.

Produzimos uma Cultura de Devastação

Todos os anos exterminamos comunidades indĂ­genas, milhares de hectares de florestas e atĂ© inĂşmeras palavras das nossas lĂ­nguas. A cada minuto extinguimos uma espĂ©cie de aves e alguĂ©m em algum lugar recĂ´ndito contempla pela Ăşltima vez na Terra uma determinada flor. Konrad Lorenz nĂŁo se enganou ao dizer que somos o elo perdido entre o macaco e o ser humano. Somos isso, uma espĂ©cie que gira sem encontrar o seu horizonte, um projecto por concluir. Falou-se bastante ultimamente do genoma e, ao que parece, a Ăşnica coisa que nos distancia na realidade dos animais Ă© a nossa capacidade de esperança. Produzimos uma cultura de devastação baseada muitas vezes no engano da superioridade das raças, dos deuses, e sustentada pela desumanidade do poder econĂłmico. Sempre me pareceu incrĂ­vel que uma sociedade tĂŁo pragmática como a ocidental tenha deificado coisas abstractas como esse papel chamado dinheiro e uma cadeia de imagens efĂ©meras. Devemos fortalecer, como tantas vezes disse, a tribo da sensibilidade…

A primeira necessidade da magistratura é a responsabilidade eficaz, e que enquanto alguns magistrados não forem para a cadeia, como, por exemplo, certos prevaricadores do Supremo Tribunal de Justiça, não se conseguiria esse fim.

A Alegoria da Caverna

– Imagina agora o estado da natureza humana com respeito Ă  ciĂŞncia e Ă  ignorância, conforme o quadro que dele vou esboçar. Imagina uma caverna subterrânea que tem a toda a sua largura uma abertura por onde entra livremente a luz e, nessa caverna, homens agrilhoados desde a infância, de tal modo que nĂŁo possam mudar de lugar nem volver a cabeça devido Ă s cadeias que lhes prendem as pernas e o tronco, podendo tĂŁo-sĂł ver aquilo que se encontra diante deles. Nas suas costas, a certa distância e a certa altura, existe um fogo cujo fulgor os ilumina, e entre esse fogo e os prisioneiros depara-se um caminho dificilmente acessĂ­vel. Ao lado desse caminho, imagina uma parede semelhante a esses tapumes que os charlatĂŁes de feita colocam entre si e os espectadores para esconder destes o jogo e os truques secretos das maravilhas que exibem.
– Estou a imaginar tudo isso.
– Imagina homens que passem para alĂ©m da parede, carregando objectos de todas as espĂ©cies ou pedra, figuras de homens e animais de madeira ou de pedra, de tal modo que tudo isso apareça por cima do muro. Os que tal transportam, ou falam uns com os outros,

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Pode-se usar qualquer teoria para explicar o mundo e a natureza – do big-bang à teoria da evolução biológica -, mas nenhuma delas pode incluir o “nada” ou o “vácuo existencial” na origem. Em algum momento da cadeia de indagações, Deus – ou o nome que se queira dar a ele – tem de aparecer. Só não aparecerá se a sequência de perguntas for interrompida, seja pelo ateísmo, pelo preconceito, seja, principalmente, pela dificuldade de expandir a arte da dúvida e o mundo das ideias.

É Impossível Criar um Ser Livre

É impossível compreender a produção de um ser dotado de liberdade por uma operação física. Não se pode nem mesmo compreender como é possível Deus criar seres livres; de facto, parece que todas as suas acções futuras deveriam ser predeterminadas por esse primeiro acto e compreendidas na cadeia da necessidade natural e, consequentemente, elas não seriam livres.

O Valor Natural do EgoĂ­smo

O egoĂ­smo vale o que valer fisiologicamente quem o pratica: pode ser muito valioso, e pode carecer de valor e ser desprezĂ­vel. E lĂ­cito submeter a exame todo o indivĂ­duo para se determinar se representa a linha ascendente ou a linha descendente da vida. Quando se conclui a apreciação sobre este ponto possui-se tambĂ©m um cânone para medir o valor que tem o seu egoĂ­smo. Se se encontra na linha ascendente, entĂŁo o valor do seu egoĂ­smo Ă© efectivamente extraordinário, — e por amor Ă  vida no seu conjunto, que com ele progride, Ă© lĂ­cito que seja mesmo levada ao extremo a preocupação por conservar, por criar o seu optimum de condições vitais. O homem isolado, o «indivĂ­duo», tal como o conceberam atĂ© hoje o povo e o filĂłsofo, Ă©, com efeito, um erro: nenhuma coisa existe por si, nĂŁo Ă© um átomo, um «elo da cadeia», nĂŁo Ă© algo simplesmente herdado do passado, — Ă© sim a inteira e Ăşnica linhagem do homem atĂ© chegar a ele mesmo… Se representa a evolução descendente, a decadĂŞncia, a degeneração crĂłnica, a doença (— as doenças sĂŁo já, de um modo geral, sintoma da decadĂŞncia, nĂŁo causas desta), entĂŁo o seu valor Ă© fraco,

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