Passagens sobre Clarões

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Frases sobre clarões, poemas sobre clarões e outras passagens sobre clarões para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

A Vida

Ă“ grandes olhos outomnaes! mysticas luzes!
Mais tristes do que o amor, solemnes como as cruzes!
Ă“ olhos pretos! olhos pretos! olhos cor
Da capa d’Hamlet, das gangrenas do Senhor!
Ó olhos negros como noites, como poços!
Ă“ fontes de luar, n’um corpo todo ossos!
Ó puros como o céu! ó tristes como levas
De degredados!

Ă“ Quarta-feira de Trevas!

Vossa luz Ă© maior, que a de trez luas-cheias:
Sois vĂłs que allumiaes os prezos, nas cadeias,
Ó velas do perdão! candeias da desgraça!
Ó grandes olhos outomnaes, cheios de Graça!
Olhos accezos como altares de novena!
Olhos de genio, aonde o Bardo molha a penna!
Ó carvões que accendeis o lume das velhinhas,
Lume dos que no mar andam botando as linhas…
Ă“ pharolim da barra a guiar os navegantes!
Ă“ pyrilampos a allumiar os caminhantes,
Mais os que vĂŁo na diligencia pela serra!
Ó Extrema-Uncção final dos que se vão da Terra!
Ă“ janellas de treva, abertas no teu rosto!
Thuribulos de luar! Luas-cheias d’Agosto!
Luas d’Estio! Luas negras de velludo!
Ă“ luas negras,

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O IncĂŞndio De Roma

Raiva o incĂŞndio. A ruir, soltas, desconjuntadas,
As muralhas de pedra, o espaço adormecido
De eco em eco acordando ao medonho estampido,
Como a um sopro fatal, rolam esfaceladas.

E os templos, os museus, o CapitĂłlio erguido
Em mármor frígio, o Foro, as erectas arcadas
Dos aquedutos, tudo as garras inflamadas
Do incĂŞndio cingem, tudo esbroa-se partido.

Longe, reverberando o clarĂŁo purpurino,
Arde em chamas o Tibre e acende-se o horizonte.
Impassível, porém, no alto do Palatino,

Nero, com o manto grego ondeando ao ombro, assoma
Entre os libertos, e Ă©brio, engrinaldada a fronte,
Lira em punho, celebra a destruição de Roma.

Chuva De Ouro

A Rainha desceu do CapitĂłlio
Agora mesmo — vede-lhe o regaço…
Como tem flores, como traz o braço
Farto de jĂłias, como pisa o sĂłlio

Triunfantemente, numa unção, num óleo
Mais santo e doce que essa luz do espaço…
E como desce com bravura de aço…
Pois se a Rainha, como um rico espĂłlio,

O seu brioso coração foi dando
Aos pobrezinhos, que inda estĂŁo gozando
BĂŞnçãos mais puras qu’os clarões diurnos,

Por certo que há de vir descendo a escada
Do CapitĂłlio da virtude — olhada
Pelos Albergues infantis, noturnos!

Ă€ MemĂłria De Uma Ave

Quando morre uma criança,
Diz-se que o pálido anjinho
Voou como uma esperança.
Foi para o céu direitinho.

Mas nossa mente se cansa
A voar de ninho em ninho,
Interrogando a lembrança,
Quando morre um passarinho.

Só eu, se alguém diz que a vida
De uma avesinha querida
Se extingue como um clarĂŁo.

Ponho-me a rir, pois, divina!
Ouço cantar, em surdina,
Tu’alma em meu coração.

A Freira Morta

(Desterro)

Muda, espectral, entrando as arcarias
Da cripta onde ela jaz eternamente
No austero claustro silencioso — a gente
Desce com as impressões das cinzas frias…

Pelas negras abĂłbadas sombrias
Donde pende uma lâmpada fulgente,
Por entre a frouxa luz triste e dormente
Sobem do claustro as sacras sinfonias.

Uma paz de sepulcro apĂłs se estende…
E no luar da lâmpada que pende
Brilham clarões de amores condenados…

Como que vem do tĂşmulo da morta
Um gemido de dor que os ares corta,
Atravessando os mármores sagrados!

Tu, VĂŁ Filosofia

Tu, vĂŁ Filosofia, embora aviltes
Os crentes nas visões do pensamento,
Turvo clarĂŁo de raciocĂ­nios tristes
Por entre sombras nos conduz, e a mente,
Rastejando a verdade, a desencanta;
Nem doloroso espĂ­rito se ilude,
Se o que, dormindo, creu, crĂŞ, despertando.
Até no afortunado a vida é sonho
(Sonho, que lá no fim se verifica),
E ansioso pesadelo em mim, que a choro,
Em mim, que provo o fel da desventura,
Desde que levantei, que abri, carpindo,
Os olhos infantis Ă  luz primeira;
Em mim, que fui, que sou de Amor o escravo,
E a vĂ­tima serei, e o desengano
Da suprema paixĂŁo, por ti cantada
Em versos imortais, como o princĂ­pio
Etéreo, criador, de que emanaram.

Bilhete

O teu vulto ficou na lembrança guardado,
vivo, por muitas horas!… e em meus olhos baços
Fitei-te – como alguĂ©m que ansioso e torturado
Tentasse inutilmente reavivar teus traços…

Num relance te vi – depois, quase irritado
Fugi, – e reparei que ao marcar os meus passos
ia a dizer teu nome e a ver por todo lado
o teu vulto… o teu rosto… e o clarĂŁo dos teus braços!

Talvez eu faça mal em querer ser sincero,
censurarás – quem sabe? Essa minha ousadia,
e pensarás atĂ© que minto, e que exagero…

Ou dirás, que eu falar-te nesse tom, não devo,
que o que escrevo Ă© infantil e absurdo, Ă© fantasia,
e afinal tens razĂŁo… nem sei por que te escrevo!

Partida

Ao ver escoar-se a vida humanamente
Em suas águas certas, eu hesito,
E detenho-me Ă s vezes na torrente
Das coisas geniais em que medito.

Afronta-me um desejo de fugir
Ao mistério que é meu e me seduz.
Mas logo me triunfo. A sua luz
Não há muitos que a saibam reflectir.

A minh’alma nostálgica de alĂ©m,
Cheia de orgulho, ensombra-se entretanto,
Aos meus olhos ungidos sobe um pranto
Que tenho a fôrça de sumir também.

Porque eu reajo. A vida, a natureza,
Que sĂŁo para o artista? Coisa alguma.
O que devemos Ă© saltar na bruma,
Correr no azul á busca da beleza.

É subir, é subir àlem dos céus
Que as nossas almas sĂł acumularam,
E prostrados resar, em sonho, ao Deus
Que as nossas mãos de auréola lá douraram.

É partir sem temor contra a montanha
Cingidos de quimera e d’irreal;
Brandir a espada fulva e medieval,
A cada hora acastelando em Espanha.

É suscitar côres endoidecidas,
Ser garra imperial enclavinhada,
E numa extrema-unção d’alma ampliada,

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Ode à Esperança

1

Vem, vem, doce Esperança, único alívio
Desta alma lastimada;
Mostra, na c’roa, a flor da Amendoeira,
Que ao Lavrador previsto,
Da Primavera próxima dá novas.

2

Vem, vem, doce Esperança, tu que animas
Na escravidĂŁo pesada
O aflito prisioneiro: por ti canta,
Condenado ao trabalho,
Ao som da braga, que nos pés lhe soa,

3

Por ti veleja o pano da tormenta
O marcante afouto:
No mar largo, ao saudoso passageiro,
(Da sposa e dos filhinhos)
Tu lhe pintas a terra pelas nuvens.

4

Tu consolas no leito o lasso enfermo,
C’os ares da melhora,
Tu dás vivos clarões ao moribundo,
Nos já vidrados olhos,
Dos horizontes da Celeste Pátria.

5

Eu já fui de teus dons também mimoso;
A vida largos anos
Rebatida entre acerbos infortĂşnios
A sustentei robusta
Com os pomos de teus vergéis viçosos.

6

Mas agora, que Márcia vive ausente;
Que nĂŁo me alenta esquiva
C’o brando mimo dum de seus agrados,

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Olavo Bilac

Vim afinal para o solar dos astros,
De irradiações puríssimas e belas,
Numa viagem de alterosos mastros,
Numa viagem de saudosas velas…

Das alegrias nos febris enastros
Que as almas prendem para percebĂŞ-las,
Vim cantando e feliz, fugindo aos rastros
Da terra de onde vi e ouvi estrelas.

E por aqui, nas lĂşcidas paisagens,
Vestido das mais fluĂ­dicas roupagens
Tecido de ouro, nos clarões imersos…

Ando a gozar, entre lauréis e palmas,
O que cantei na terra, junto Ă s almas,
Na eterna florescĂŞncia dos meus versos.

Mensagem – Mar PortuguĂŞs

MAR PORTUGUĂŠS

Possessio Maris

I. O Infante

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te portuguĂŞs.
Do mar e nĂłs em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

II. Horizonte

Ă“ mar anterior a nĂłs, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
’Splendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa —
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves,

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O Verdadeiro Rosto da HistĂłria

O verdadeiro rosto da histĂłria afasta-se veloz. SĂł podemos reter o passado como uma imagem que no instante em que se deixa reconhecer lança um clarĂŁo que nĂŁo voltará a ver-se. «A verdade nĂŁo nos escapará» – esta palavra de Gottfried Keller caracteriza com exactidĂŁo, na concepção da histĂłria que tĂŞm os historicistas, o ponto em que o materialismo histĂłrico realiza o seu avanço atravĂ©s dessa imagem. Irrecuperável Ă©, com efeito, toda a imagem do passado que corre o risco de desaparecer com cada instante presente que nela nĂŁo se reconheceu. (A feliz notĂ­cia trazida pelo ofegante historiĂłgrafo do passado sai de uma boca que, talvez no prĂłprio instante em que se abre, fala já no vazio.)

Olhos de Lobas

Teus olhos lembram cĂ­rios
Acesos n’um cemitĂ©rio…

TĂŞm um fulgor estranho singular
Os teus olhos febris… Incendiados!…

Como os Clarões Finais… – Exaustinados
Dos restos dos archotes, desdeixados…
— Nas criptas d’um Jazigo Tumular!…

— Como a Luz que na Noute Misteriosa
— Fantástica – Fulgisse nas Ogivas
Das Janelas de Estranho MausolĂ©u!…

— MausolĂ©u, das Saudades do Ideal!…
— Oh Saudades… Oh Luz Transcendental!
— Oh memĂłrias saudosas do Ido ao CĂ©u!…

— Oh PĂ©rpetuas Febris!… – Oh Sempre Vivas!…
— Oh Luz do Olhar das Lobas Amorosas!…

No Corpo

De que vale tentar reconstruir com palavras
O que o verĂŁo levou
Entre nuvens e risos
Junto com o jornal velho pelos ares

O sonho na boca, o incĂŞndio na cama,
o apelo da noite
Agora sĂŁo apenas esta
contração (este clarão)
do maxilar dentro do rosto.

A poesia Ă© o presente.

Stella

Já raro e mais escasso
A noite arrasta o manto,
E verte o Ăşltimo pranto
Por todo o vasto espaço.

Tíbio clarão já cora
A tela do horizonte,
E já de sobre o monte
Vem debruçar-se a aurora.

Ă€ muda e torva irmĂŁ,
Dormida de cansaço,
Lá vem tomar o espaço
A virgem da manhĂŁ.

Uma por uma, vĂŁo
As pálidas estrelas,
E vĂŁo, e vĂŁo com elas
Teus sonhos, coração.

Mas tu, que o devaneio
Inspiras do poeta,
NĂŁo vĂŞs que a vaga inquieta
Abre-te o Ăşmido seio?

Vai. Radioso e ardente,
Em breve o astro do dia,
Rompendo a névoa fria,
Virá do roxo oriente.

Dos Ă­ntimos sonhares
Que a noite protegera,
De tanto que eu vertera
Em lágrimas a pares,

Do amor silencioso,
MĂ­stico, doce, puro,
Dos sonhos de futuro,
Da paz, do etéreo gozo,

De tudo nos desperta
Luz de importuno dia;
Do amor que tanto a enchia
Minha alma está deserta.

A virgem da manhĂŁ
Já todo o cĂ©u domina…

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Supremo Anseio

Esta profunda e intérmina esperança
Na qual eu tenho o espĂ­rito seguro,
A tão profunda imensidade avança
Como é profunda a idéia do futuro.

Abre-se em mim esse clarĂŁo, mais puro
Que o céu preclaro em matinal bonança:
Esse clarĂŁo, em que eu melhor fulguro,
Em que esta vida uma outra vida alcança.

Sim! Inda espero que no fim da estrada
Desta existência de ilusões cravada
Eu veja sempre refulgir bem perto

Esse clarĂŁo esplendoroso e louro
Do amor de mĂŁe — que Ă© como um fruto de ouro,
Da alma de um filho no eternal deserto.

Metamorfose

A Carlos Ferreira

O sol em fogo pelo ocaso explode
Nesse estertor, que os crânios assoberba.
Vivo, o clarĂŁo, nuns frocos exacerba
Dos ideais a original nevrose.

Da natureza os anafis mouriscos
Ante o cariz da atmosfera muda,
Soam queixosos, numa nota aguda,
Da luz que esvai-se aos derradeiros discos.

O pensamento que flameja e luta
Nos ares rasga aprofundado sulco…
A sombra desce nos lisins da gruta;

E a lua nova — a peregrina Onfale,
Como em um plaustro luminoso, hiulco,
Surge através dos pinheirais do vale.

Esperança! Doce palavra feita de bruma efêmera que o clarão do ideal enche de íris maravilhosos.

O Sol Da Tarde

Aquela tarde em que eu estava em Roma,
aquela tarde com sol da manhĂŁ,
como ser sĂł a tarde, se era a soma
do sol filtrado pela telha vĂŁ?

Assim sĂŁo sob o sol todas as tardes:
são clarões e janelas, são aromas,
e o silĂŞncio que cala o vĂŁo alarde
da tarde que se estende sobre Roma.

Sob o sol que declina, aqui estou
esperando que a noite caia em Roma
como um pálio que oculta o nada e a morte.

Roma dos obeliscos e sarcĂłfagos!
Depois de tanto sol e tanto vento
a noite desce e eu sou a noite e pĂł.