Moderar as Expectativas
Ordinário desaire de tudo o que é muito celebrado antes é não chegar depois ao excesso do que foi concebido. Nunca o verdadeiro pôde alcançar o imaginado, porque fingir perfeições é fácil; difícil é consegui-las. Casa-se a imaginação com o desejo e concebe sempre muito mais do que as coisas são. Por maiores que sejam as excelências, não bastam para satisfazer o conceito, e, se o enganam com exorbitante expectação, é mais rápido o desengano que a admiração. A esperança é grande falsificadora da verdade: que a cordura a corrija, fazendo que a fruição seja superior ao desejo. Princípios de crédito servem para despertar a curiosidade, não para empenhar o objecto. Melhor resulta quando a realidade excede o conceito e é mais do que se acreditou. Essa regra faltará no que é mau, pois ajuda-o a própria exageração; desmente-a o aplauso, chegando a parecer tolerável o que se temeu ser ruim ao extremo.
Passagens sobre Curiosidade
94 resultadosA curiosidade de um homem se mede da cabeça para cima.
O primeiro amor é uma pequena loucura e uma grande curiosidade.
Besta Célere
Há quem lhe chame, por brincadeira, besta célere para caracterizar a qualidade mediana (tomada por média) desse produto cultural (agora é tudo cultural!) e, ao mesmo tempo, a rapidez com que ele se esgota em sucessivas edições. O best-seller é um produto perfeita (ou eficazmente) projectado em termos de «marketing» editorial e livreiro. É para se vender – muito e depressa – que o best-seller é construído com os olhos postos num leitor-tipo que vai encontrar nele aquilo que exactamente esperava. Nem mais, nem menos. Os exemplos, abundantíssimos, nem vale a pena enumerá-los. Convém não confundir, pelo menos em todos os casos, best-seller com «topes» de venda. Embora seja cabeça de lista, o best-seller tem, em relação aos livros «normais», uma característica que logo o diferencia: foi feito propositadamente para ser um campeão de vendas. A sua razão de ser é essa e só essa. E aqui poderia dizer-se, recuperando o lugar-comum para um sentido sério, que «o resto é literatura».
Estou a pensar em bestas céleres como Love Story ou O Aeroporto. Não estou a pensar em «topes» de venda como O Nome da Rosa ou Memórias de Adriano. estes últimos são boa, excelente literatura que, por razões pontuais e,
A curiosidade é mesmo feita do que já se conhece com a imaginação.
Curiosidade é o pavio na vela da aprendizagem.
As Artes e as Ciências Nasceram dos Vícios
A astronomia nasceu da superstição; a retórica, da ambição, do ódio, da adulação, da mentira; a geometria, da ganância; a física, da curiosidade vã; e todas elas, mesmo a ética, do orgulho humano. As artes e as ciências devem portanto o seu nascimento aos nossos vícios, e nós deveríamos duvidar menos das suas vantagens se elas tivessem tido origem nas nossas virtudes. (…) Quantos perigos! Quantos caminhos equivocados na investigação das ciências? Por meio de quantos erros, milhares de vezes mais perigosos do que a verdade é útil, não é preciso abrir caminho a fim de alcançá-la? O problema é patente; pois a falsidade admite um número infinito de combinações; mas a verdade possui apenas um modo de ser.
Cada Vez Nos Casamos Mais
Ao fim de 14 anos, cada vez que eu olho para a minha mulher, cada dia que acordo ao lado dela, o que mais me comove e impressiona é precisamente a novidade de vê-la, poder amá-la, ter a sorte de ser amado por ela.
Cada coisa que fazemos é ao mesmo tempo antiquíssima – como uma cerimónia que construímos juntos só para nós os dois – e novíssima, pelo desejo e pelo entusiasmo de lá estar, naquele lugar que ela abriu para mim e ela no lugar que só é dela, que sou eu.O casamento é só uma palavra: é verdade. Mas também pode ser a vontade de casarmos e ficarmos casados, todos os dias, com a mesma pessoa que amamos.
Cada vez nos casamos mais. As diferenças dela vão cabendo cada vez melhor nas minhas. Cada vez somos, a Maria João e eu, mais livres de sermos como somos, cada um de nós, e de sermos como somos, nós os dois.
Ela torna-se mais ela; eu torno-me mais eu, ela e eu com menos medo que o outro fuja por causa disso. Mas com medo à mesma. E ganância de viver e curiosidade em saber como é que o décimo quinto ano vai ser melhor do que este.
Haverá ocupação pior do que a ocisidade? Sim, a curiosidade inútil.
Um Homem Realizado
Ao indivíduo acostumado ao íntimo das profundidades, o «mistério» não intimida; não fala dele e não sabe o que seja: vive-o… A realidade em que se move não comporta outra: não tem uma zona inferior nem um além: está abaixo de tudo e para além de tudo. Farto de transcendência, superior às operações do espírito e às servidões que se lhe associam, repousa na sua curiosidade inexaurível… Nem a religião nem a metafísica o intrigam: o que poderia sondar ele que se encontra já em pleno insondável? Cumulado, está-o sem dúvida; mas ignora se continua a existir.
Afirmamo-nos na medida em que, por trás de uma realidade dada, perseguimos uma outra e em que, para além do próprio absoluto, continuamos à procura. A teologia detém-se em Deus? De maneira nenhuma. Quer remontar mais alto, tal como a metafísica que, ao mesmo tempo que investiga a essência, não se digna fixar-se nela. Uma e outra temem ancorar num princípio último; passam de segredo em segredo; incensam o inexplicável e abusam dele sem pudor. O mistério, que oferenda! Mas que maldição pensar tê-lo atingido, imaginar que o conhecemos e que poderemos residir nele! Já não há que procurar: aí está ele,
Uma das principais doenças do homem é sua inquieta curiosidade por conhecer o que não pode chegar a saber.
Trazemos connosco isto de que ser português é ser mesquinho, pobre de espírito, egoísta – e, quando se trata de falar dos “portugueses em geral”, nunca somos um deles. Curiosidade: o hábito não é especialmente lusitano.
O adultério é a curiosidade do amor e dos prazeres ilícitos.
O Desejo é Fruto de um Conhecimento Insuficiente
Não existe nada mais estranho e espinhoso do que a relação entre pessoas que só se conhecem de vista – que diariamente, mesmo hora a hora, se encontram, se observam e que têm assim de manter, sem cumprimenros e sem palavras, a aparência de desconhecimento indiferente, devido ao rigor dos costumes ou a caprichos pessoais. Entre elas existe inquietação e curiosidade exacerbada, a histeria da necessidade insatisfeita, anormalmente recalcada, de conhecimento e comunicação e sobretudo também uma forma de consideração tensa. Pois o ser humano ama e respeita o outro ser humano enquanto não está em posição de o julgar e o desejo é produto de um conhecimento insuficiente.