Passagens sobre Dois

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Regras Básicas de Avaliação do Amante

Para avaliar o amor da vossa amante, lembrai-vos:
1º – De que, quanto mais prazer físico entrou na base do vosso amor, no que noutros tempos determinou a intimidade, tanto mais ele está sujeito à infidelidade. Isto aplica-se sobretudo aos amores cuja cristalização foi favorecida pelo fogo da juventude, aos dezasseis anos.
2º – De que o amor de duas pessoas que amam não é quase nunca o mesmo. O amor-paixão tem as suas fases durante as quais, e sucessivamente, um dos dois ama mais que o outro. Muitas vezes a simples galanteria ou o amor de vaidade responde ao amor-paixão, e é sobretudo a mulher que ama com exaltação. Qualquer que seja o amor sentido por um dos dois amantes, a partir do momento em que sente cíumes, exige do outro que preencha as condições do amor-paixão; a vaidade simula nele todas as necessidades de um coração terno.
Finalmente, nada aborrece tanto o amor-gosto como a existência do amor-paixão no outro ou outra.
Muitas vezes um homem de espírito, ao fazer a corte a uma mulher, não consegue senão fazê-la pensar no amor e enternecer-lhe a alma. Ela recebe bem este homem que lhe dá um tal prazer.

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Indiferença

Hoje, voltas-me o rosto, se ao teu lado
passo. E eu, baixo os meus olhos se te avisto.
E assim fazemos, como se com isto,
pudéssemos varrer nosso passado.

Passo esquecido de te olhar, coitado!
Vais, coitada, esquecida de que existo.
Como se nunca me tivesses visto,
como se eu sempre não te houvesse amado

Mas, se às vezes, sem querer nos entrevemos,
se quando passo, teu olhar me alcança
se meus olhos te alcançam quando vais.

Ah! Só Deus sabe! Só nós dois sabemos.
Volta-nos sempre a pálida lembrança.
Daqueles tempos que não voltam mais!

Na vida de um homem não há dois momentos de prazer parecidos, tal como não há duas folhas na mesma árvore exactamente iguais.

O Segredo das Mulheres

Como os homens andam sempre atrasados em relação às mulheres (porque só pensam numa coisa de cada vez e acham que falar acerca das coisas é pior do que fazê-las), quem sabe se não é estudando o comportamento feminino de hoje que poderemos vislumbrar o nosso macaquismo masculino de amanhã?
As mulheres de hoje sabem quem lhes pode fazer mal: são as outras mulheres. Os homens, por muito amados e queridos, nem sequer são considerados competidores. São como são, têm a inteligência e o material que têm – e que Deus os abençoe por ser assim, como os pêssegos-rosa e os arcos-íris e todos os outros fenómenos naturais que são difíceis de prever e de controlar.

O segredo das mulheres, que nenhum homem pode perceber, a não ser que seja amado por alguma que se sinta suficientemente amada por um para lhe contar mais do que o suficiente para ele continuar a existir tal como é (que mais não se lhe pede) é: os homens não entram na equação. É tudo uma questão entre elas.
Elas são espertas. É por isso que morrem de medo umas das outras. Conhecem o perigo e sabem quem pode emperigá-las.

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Nunca Falar de Si Mesmo

Nunca falar de si mesmo. Quem fala de si ou se há-de gabar, o que é vaidade, ou se há-de vituperar, o que é pouquidade, e sendo culpado de falta de cordura quem fala, a pena é de quem ouve. Se isso é de se evitar entre próximos, muito mais em postos sublimes, onde se fala em público, e passa por nescidade tudo o que se pareça com ela. A mesma falta de cordura está em falar dos presentes, pelo perigo de dar em um dos dois escolhos: lisonja ou vitupério.

Quem Diz que Amor é um Crime

Quem diz que amor é um crime
Calunia a natureza,
Faz da causa organizante
Criminosa a singeleza.

Que vejo, céus! Que não seja
De uma atracção resultado?
Atracção e amor é o mesmo;
Logo amor não é pecado.

Se respiro, a atmosfera,
Com um fluido combinado,
É quem me sustenta a vida
Dentro do peito agitado.

Se vejo mares, se fontes,
Rio, cristalino lago,
Dois gases se unem, formando
Aguas com que a sede apago.

Uma lei de afinidade
Se acha nos corpos terrenos;
Ácidos, metais, alcalis,
Tudo se une mais ou menos.

De que sou feita? – De terra;
Nela me hei de converter:
Se amor arder em meu peito
É da essencia do meu ser.

Sem que te ofenda razão,
Quero defender o amor;
Se contigo não concorda
Não é virtude, é furor.

Espírito Aniquilado pelo Corpo

O corpo encerra o espírito numa fortaleza; depressa a fortaleza é cercada por todos os lados, e por fim o espírito tem de se render. Mas, limitando-me a distinguir as duas espécies de perigos que ameaçam o espírito, e começando pelo exterior, lembrava-me de que já muitas vezes na vida me acontecera, em momentos de excitação intelectual em que uma circunstãncia qualquer suspendera em mim toda a actividade física (por exemplo, ao deixar de carruagem, meio embriagado, o restaurante de Rivebelle a caminho de um casino qualquer nas proximidades), sentir muito nitidamente dentro de mim o objecto actual do meu pensamento e compreender até que ponto dependia de um acaso, não apenas que tal objecto não entrasse ainda nos meus pensamentos, mas que fosse aniquilado com o meu próprio corpo.

Como num encontro puro, a curiosidade de conhecer melhor outra pessoa sente-se como uma espécie de alegria. As perguntas, só de serem feitas, já fazem bem. Quando dois amantes passam horas numa conversa de chacha, o que interessa foram as horas a passar.

Recebemos três educações diferentes: a dos nossos pais, a dos nossos mestres e a do mundo. O que aprendemos nesta última, destrói todas as ideias das duas primeiras.

Maravilhava-me, mais do que o belo em si, o que as pessoas tinham por belo. O seu belo. As suas coisas. As suas coisinhas. As que encaixavam com demasiada perfeição na decoração geral, tudo combinado, equilibrado, concluído – e mais ainda as que não encaixavam em nada, em que ela insistia apesar dos protestos do marido, em que ele fazia finca-pé apesar do desdém da mulher, de que nenhum dos dois gostava mas também não tinha coragem para deitar fora.

Durante o vosso casamento finjam que ainda não são casados e tudo irá bem. Que haja sempre algo de não atingido e de inacessível entre os dois.

Protágoras diz que todo o argumento permite sempre a discussão de duas teses contrárias, inclusive este de que a tese favorável e contrária são igualmente defensáveis.

O Corpo Os Corpos

O teu corpo O meu corpo E em vez dos corpos
que somados seriam nossos corpos
implantam-se no espaço novos corpos
ora mais ora menos que dois corpos

Que escorpião de súbito estes corpos
quando um espelho reflecte os nossos corpos
e num só corpo feitos os dois corpos
ao mesmo tempo somos quatro corpos

Não indagues agora se o meu corpo
se contenta só corpo no teu corpo
ou se busca atingir todos os corpos

que no fundo residem num só corpo
Mas indaga sem pausa além do corpo
o finito infinito destes corpos