Passagens sobre Génios

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A Minha Lista dos Grandes Autores

Uma revista espanhola teve a ideia de pedir a uns quantos escritores que elaborassem a sua árvore genealógica literária, isto é, a que outros autores consideravam eles como avoengos seus, directos ou indirectos, excluindo-se do inventado parentesco, obviamente, qualquer presunção de relações ou equivalências de mérito que a realidade, pelo menos no meu caso, logo se encarregaria de desmentir. Também se pedia que, em brevíssimas palavras, fosse dada a justificação dessa espécie de adopção ao contrário, em que era o «descendente» a escolher o «ascendente». A cada escritor consultado foi entregue o desenho de uma árvore com onze molduras dispersas pelos diferentes ramos, onde suponho que hão-de vir a aparecer os retratos dos autores escolhidos. A minha lista, com a respectiva fundamentação, foi esta: Luís de Camões, porque, como escrevi no «Ano da Morte de Ricardo Reis», todos os caminhos portugueses a ele vão dar; Padre António Vieira, porque a língua portuguesa nunca foi mais bela que quando ele a escreveu; Cervantes, porque sem ele a Península Ibérica seria uma casa sem telhado; Montaigne, porque não precisou de Freud para saber quem era; Voltaire, porque perdeu as ilusões sobre a humanidade e sobreviveu a isso; Raul Brandão, porque demonstrou que não é preciso ser-se génio para escrever um livro genial,

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Liberdade, Onde estás? Quem Te Demora?

Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não caia?
Porque (triste de mim!) porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?

Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo, que desmaia.
Oh!, venha . . . Oh!, venha, e trêmulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!

Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a vontade
E em fingir, por temor, empenha estudo.

Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do gênio e prazer, ó Liberdade!

A Diferença Entre o Génio e a Inteligência Normal

A diferença entre o génio e a inteligência normal é, na verdade, apenas quantitativa, na medida em que é apenas uma diferença de grau: no entanto, as pessoas têm tendência para a considerar qualitativa, quando se observa como os homens normais, apesar da sua diversidade individual, pensam todos segundo certas linhas comuns, de modo que estão frequentemente em acordo unânime acerca de julgamentos que, na realidade, são falsos. Isto chega ao ponto de terem certas opiniões básicas que são mantidas em todas as eras e continuamente reiteradas, embora as grandes mentes de todas as eras tenham, aberta ou secretamente, oposto a essas opiniões.

Os dados reais da vida não têm valor para o artista, são unicamente um ensejo para manifestar o seu génio.

Soneto 278 A Salvador Dali

Pra mim, Picasso perto dele é pinto.
Qual cubo nem Guernica! O catalão
pôs fogo na girafa, e dá lição
de como você pinta como eu pinto.

Relógios derreteu, deu ao recinto
bagunça formidável de ilusão.
Bigodes retorceu, e a posição
do Cristo subverteu: estilo extinto.

Talvez fez na pintura o que Gaudí
ergueu, fenomenal, na arquitetura:
delírio, porém nítido. Não vi

no século atual maior textura
que o fruto da estranheza de Dali,
o gênio do ocular na cor. Loucura!

Quando um verdadeiro génio se mostra ao mundo reconhece-se logo da seguinte maneira: todos os idiotas se juntam e conspiram contra ele.

A Variedade é a Única Desculpa da Abundância

A variedade é a única desculpa da abundância. Ninguém deveria deixar vinte livros diferentes, a menos que seja capaz de escrever como vinte homens diferentes. As obras de Victor Hugo enchem cinquenta grossos volumes, mas cada volume, cada página quase, contém todo o Victor Hugo. As outras páginas somam-se como páginas, não como génio. Nele não existia produtividade, mas prolixidade. Desperdiçou o seu tempo como génio, por pouco que o tivesse desperdiçado como escritor. A opinião de Goethe a seu respeito continua a ser suprema, apesar de ter sido precocmente emitida, e uma grande lição para todos os artistas: «Deveria escrever menos e trabalhar mais», disse ele. Este parecer, na sua distinção entre o trabalho a sério, que não se espraia, e o trabalho fictício, que ocupa espaço (pois as páginas nada mais são do que espaço), é uma das grandes opiniões críticas do mundo.
Se conseguir escrever como vinte homens diferentes, é vinte homens diferentes, seja lá como for, e os seus vinte livros têm justificação.

Quando um gênio verdadeiro aparece neste mundo você pode conhecê-lo pelo seguinte sinal, os ignorantes estão todos unidos contra ele.

Aptidão, Vontade, e Acção

No reino da Natureza dominam o movimento e o agir. No reino da liberdade dominam a aptidão e o querer. O movimento é perpétuo e, sendo favoráveis as circunstâncias, manifesta-se necessariamente nos fenómenos. As aptidões, desenvolvendo-se embora em correspondência com a Natureza, têm contudo que ser postas em exercício por parte da vontade para poderem elevar-se gradualmente. É por isso que nunca temos no exercício livre da vontade a mesma certeza que temos na autonomia do agir natural; este último é qualquer coisa que se produz a si mesma enquanto que o primeiro é produzido.
O exercício da vontade, para ser perfeito e eficaz, tem que se adequar: no plano moral, à consciência – a uma consciência sem erro -, e, no domínio das artes, à regra – a uma regra que em nenhum lado está enunciada. A consciência não precisa de nenhum patrocínio, porque tem tudo o que lhe é necessário e porque só tem que ver com o mundo pessoal interior. O génio também não precisaria de nenhuma regra, mas, uma vez que a sua eficácia se dirige para o exterior, está na dependência de múltiplas contingências materiais e temporais, não lhe sendo possível escapar a erros que daí decorrem.

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Confiança Audaz

Há um momento na aprendizagem de cada homem em que este chega à convicção de que a inveja é ignorância; que a imitação é suicídio; que ele tem que se tomar a ele próprio tanto para melhor, tanto para pior, como a sua parcela; que embora o universo esteja cheio de coisas boas, nenhuma semente de milho nutritiva chegará a ele senão através da labuta que ele ofereça nesse lote de terreno que lhe foi dado para cultivar. O poder que reside nele é novo na natureza, e nenhum outro senão ele sabe o que é que pode fazer, e não o saberá até que o tente. Não é por nada que uma cara, um carácter, um facto, causa muito impressão nele, e outros não têm qualquer efeito. Esta escultura na memória não existe sem uma harmonia pré-estabelecida. O olho foi colocado onde um raio deve cair, de forma a testemunhar esse raio em particular. Nós apenas nos exprimimos pela metade, e temos vergonha da ideia divina que cada um de nós representa. Podemos ser de confiança e de motivações boas e proporcionais, e darmo-nos fielmente, mas Deus não terá o seu trabalho mais manifesto feito por cobardes. Um homem está seguro e tranquilo quando coloca todo o coração no seu trabalho ou outra actividade e faz o seu melhor de acordo consigo próprio;

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Um homem de génio é produzido por um conjunto complexo de circunstâncias, começando pelas hereditárias, passando pelas do ambiente e acabando em episódios mínimos de sorte.

Sabe-se que o verdadeiro génio consiste em fornecer, uma vintena de anos mais tarde, ideias aos cretinos.

Com uma tal falta de literatura, como há hoje, que pode um homem de génio fazer senão converter-se, ele só, em uma literatura?

Criar Banalidades, até Chegar ao Génio

Um pouco de trabalho, repetido trezentas e sessenta e cinco vezes, dá trezentas e sessenta e cinco vezes um pouco de dinheiro, isto é, uma soma enorme. Ao mesmo tempo, a glória está feita.
Do mesmo modo, uma porção de pequenos gozos compõem a felicidade. Criar uma banalidade, é o génio. Devo criar uma banalidade.

Quanto mais universal o génio, tanto mais facilmente será aceite pela época imediatamente seguinte porque mais profunda será a sua crítica implícita da sua própria época.

Proémio

Em nome daquele que a Si mesmo se criou!
De toda eternidade em ofício criador;
Em nome daquele que toda a fé formou,
Confiança, actividade, amor, vigor;
Em nome daquele que, tantas vezes nomeado,
Ficou sempre em essência imperscrutado:

Até onde o ouvido e o olhar alcançam,
A Ele se assemelha tudo o que conheces,
E ao mais alto e ardente voo do teu ‘spírito
Já basta esta parábola, esta imagem;
Sentes-te atraído, arrastado alegremente,
E, onde quer que vás, tudo se enfeita em flor;
Já nada contas, nem calculas já o tempo,
E cada passo teu é já imensidade.

*

Que Deus seria esse então que só de fora impelisse,
E o mundo preso ao dedo em volta conduzisse!
Que Ele, dentro do mundo, faça o mundo mover-se,
Manter Natureza em Si, e em Natureza manter-Se,
De modo que ao que nele viva e teça e exista
A Sua força e o Seu génio assista.

*

Dentro de nós há também um Universo;
Daqui nasceu nos povos o louvável costume
De cada qual chamar Deus,

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