O maravilhoso da guerra é que cada chefe de assassinos faz abençoar suas bandeiras e invoca solenemente a Deus antes de lançar-se a exterminar a seu próximo.
Passagens sobre Guerra
633 resultadosEstar no Mundo
Ao corpo colados a silenciosas
colunas de sal pavimentados eis os muros
paralelos eis as rápidas deformações da
linguagem (cálido ascetismo)
de quem arde por dentro — estar no mundo
Ă© teu caminho estar na cĂłlera
lavrada
e sobre si mesma dobrada e a guerra
mastigar a morte seca a subalimentada
explosĂŁo do corpo deformações suicĂdio
quotidiano — tal a poesia
se reflecte na luz a erosĂŁo do poema
o apodrece e movimenta— cinza mineral
entre restos de música e pão —
Para se pĂ´r fim a uma guerra, como a um amor, Ă© preciso ver-se de perto.
Apenas uma guerra é permitida à espécie humana: a guerra contra a extinção.
Essa Chuva de Inverno
Essa chuva de inverno, que fluĂa
por entre a verde várzea derramada,
já não flui sua linfa em terra fria,
que quente está do sal de que é salgada.
Aqui eterna Ă© a chuva, e nĂŁo se adia,
e a mudança das coisas proclamada:
só a terra de fértil não vê dia,
que só a água em mágoa vê mudada.
Aqui, de malogradas esperanças,
vive o povo sem crença em tais mudanças,
no fecundo milagre dessa guerra
— que, estando a Natureza em guerra tanta,
nĂŁo nos transforma a chuva o pranto em planta,
e mais se chore, Ă© mais salgada a terra!
Sou a favor do canibalismo compulsĂłrio. Se as pessoas fossem obrigadas a comer o que matam, nĂŁo haveria mais guerras.
Se ouvĂssemos Nixon, terĂamos uma guerra nuclear por semana.
Conhecer o paĂs onde se fará a guerra Ă© a base de toda a estratĂ©gia.
NĂŁo se Pode Viver Assim!
Temos na natureza muitas coisas contra as quais lutar, mas há um inimigo pior que todos os furacões e terramotos, o próprio ser humano. A natureza com todos os seus vulcões, terramotos, furacões e inundações não causou tantos mortos como a humanidade causou a si própria. Lutas de toda a ordem: guerras religiosas, guerras de interesses materiais, guerras absolutamente absurdas e estúpidas, como as dinásticas.
Soneto de Natal
«E o terceiro Anjo derramou a sua taça nos rios
e nas fontes, ficando a água da cor do sangue.»
Apocalipse, 16:4NĂŁo anuncio a paz, mas sim a guerra.
Um. Anjo vingador comigo vem.
Há dois milénios que percorro a Terra
repetindo a mensagem de Belém.O coração humano endureceu
à força de sentir a Fé perdida.
E o espĂrito do Bem? Ensurdeceu
no furacão das ambições da vida.Por isso trago um Anjo vingador
para ferir de morte a semelhança
do lobo disfarçado de cordeiro:— Que se cuide quem não sentir Amor
pois matará em si essa criança
inocente que um dia foi primeiro.
O objetivo da guerra Ă© a Paz.
A guerra é o maior dos crimes, mas não existe agressor que não disfarce seu crime com pretexto de justiça.
Na escola de guerra da vida, o que nĂŁo me mata me faz forte.
NĂŁo pode existir guerra santa, isso Ă© uma contradição em termos…
Tu, de quantos dragões o Inferno encerra,
És o pior, Inveja pestilente!
Morde a virtude, ao mérito faz guerra
Teu detestável, teu maligno dente.
Vi Jesus Cristo Descer Ă Terra
Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer Ă terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda Ă roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mĂŁe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que nĂŁo era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estĂşpida,
Se a guerra Ă© uma coisa horrĂvel, nĂŁo seria o patriotismo a ideia-mĂŁe que a nutre?
A Glória em Função dos Feitos e das Obras
Enquanto a nossa honra vai atĂ© onde somos pessoalmente conhecidos, a glĂłria, pelo contrário, precede o nosso conhecimento e leva-o atĂ© onde ela mesmo consegue ir. Todo o indivĂduo tem direito Ă honra; Ă glĂłria, apenas as excepções, pois apenas mediante realizações excepcionais Ă© possĂvel atingi-la. Tais realizações, por sua vez, sĂŁo feitos ou obras. A partir deles, abrem-se dois caminhos para a glĂłria. Antes de mais nada, Ă© o grande coração que capacita para os feitos; para as obras, a grande cabeça. Ambas possuem as suas prĂłprias vantagens e desvantagens. A diferença principal Ă© que os feitos passam, e as obras permanecem.
Dos feitos, permanece apenas a lembrança, que se torna cada vez mais fraca, desfigurada e indiferente, e que está até mesmo fadada a extinguir-se gradualmente, caso a história não a recolha e a transmita para a posteridade em estado petrificado. As obras, pelo contrário, são imortais e podem, pelo menos as escritas, sobreviver em todos os tempos. O mais nobre dos feitos tem apenas uma influência temporária; a obra genial, pelo contrário, vive e faz efeito, de modo benéfico e sublime, por todos os tempos. De Alexandre, o Grande, vivem nome e memória, mas Platão e Aristóteles,
Os Amantes
Amor, Ă© falso o que dizes;
Teu bom rosto Ă© contrafeito;
Busca novos infelizes
Que eu inda trago no peito
Mui frescas as cicatrizes;O teu meu Ă© mel azedo,
NĂŁo creio em teu gasalhado,
Mostras-me em vĂŁo rosto ledo;
Já estou muito escaldado,
Já d’águas frias hei medo.Teus prĂ©mios sĂŁo pranto e dor;
Choro os mal gastados anos
Em que servi tal senhor,
Mas tirei dos teus enganos
O sair bom pregador.Fartei-te assaz a vontade;
Em vĂŁos suspiros e queixas
Me levaste a mocidade,
E nem ao menos me deixas
Os restos da curta idade?És como os cães esfaimados
Que, comendo os troncos quentes
Por destro negro esfolados,
Levam nos ávidos dentes
Os ossos ensanguentados.Bem vejo a aljava dourada
Os ombros nus adornar-te;
Amigo, muda de estrada,
Põe a mira em outra parte
Que daqui nĂŁo tiras nada.Busca algum fofo morgado
Que, solto já dos tutores,
Ao domingo penteado,
Vá dizendo à toa amores
Pelas pias encostado;
Que Encanto Ă© o Teu?
Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. NĂŁo finda
com o prĂłprio amor o amor do teu encanto.Que encanto Ă© o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo,tĂŁo quase Ă© coisa ou sucessĂŁo que passa…
Que encanto Ă© o teu? Deitado Ă tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.