Passagens sobre Indulgência

29 resultados
Frases sobre indulgência, poemas sobre indulgência e outras passagens sobre indulgência para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Lidar com Jovens

Os jovens legalmente maiores têm tendência para a rebeldia e a libertinagem. Se os censuras num tom grave e sentencioso, mais não farás do que agravar as suas inclinações. De modo que, em geral, mais vale armar-se de paciência e esperar que se emendem sozinhos ou que se fartem dos seus erros. Mas, se souberes servir-te da tua autoridade tão habilmente que os devolvas ao bom caminho, evita passar bruscamente do rigor à indulgência. Com os temperamentos plácidos, mostra-te directo e, se for preciso, bate com o punho namesa, pois isso impressiona-os. Pelo contrário, com índoles ardentes, mostra-te meigo e delicado.

Censura Amiga

A amizade penetra nos menores detalhes da nossa vida, o que torna frequentes as ocasiões de ofensas e melindres: o sábio deve evitá-las, destruí-las ou suportá-las quando necessário for. A única ocasião em que não devemos deixar de ofender um amigo, é quando se trata de lhe dizer a verdade e de lhe provar assim a nossa fidelidade. Porque não devemos deixar de sobreavisar os nossos amigos, ainda quando se trate de os repreender. E nós mesmos devemos levar isto em boa vontade, quando tais repreensões são ditadas pelo bem querer.
Todavia, sou forçado a confessá-lo, como disse o nosso Terêncio no seu Adriana: «A benevolência gera a amizade; a verdade, o ódio». Sem dúvida a verdade é molesta se produz o ódio, este veneno da amizade. Mas a magnanimidade é-o ainda mais, porque para a indulgência culpável, pelas faltas de um amigo, ela deixa-o precipitar-se nas suas ruínas. Mas a falta mais grave é a que despreza a verdade e se deixa conduzir ao mal pela adulação. Este ponto reclama toda a nossa vigilância e atenção. Afastemos o ácido das nossas advertências, a injúria dos nossos reproches; que a nossa complacência (sirvo-me voluntário da expressão de Terêncio) seja farta de urbanidade;

Continue lendo…

De Que Vale a Sabedoria ?

Os homens que se entregam à sabedoria são de longe os mais infelizes. Duplamente loucos, esquecem que nasceram homens e querem imitar os deuses poderosos, e a exemplo dos Titãs, armados com as ciências e as artes, declaram guerra à Natureza. Ora, os menos infelizes são aqueles que mais se aproximam da animalidade e da estupidez.
Tentarei fazer-vos entender isto, usando, em vez dos argumentos dos estóicos, um exemplo crasso. Haverá, pelos deuses imortais, espécie mais feliz que os homens a quem o vulgo chama loucos, parvos, imbecis, cognomes belíssimos, na minha opinião? Esta afirmação poderá a princípio parecer insensata e absurda e, no entanto, nada há de mais verdadeiro. Tais homens não receiam a morte, e, por Júpiter! isso já não representa pequena vantagem! A sua consciência não os incomoda. As histórias de fantasmas não os aterrorizam, nem os afecta o medo das aparições e espectros, nem os males que os ameaçam ou a esperança dos bens que poderão vir a receber. Nada, em resumo, os atormenta, isentos dos mil cuidadeos de que a vida é feita. Ignoram a vergonha, o medo, a ambição, a inveja e chegam mesmo, se são suficientemente estúpidos, a gozar o privilégio, segundo os teólogos,

Continue lendo…

Coerção e Autocoerção

Os casos e acontecimentos que nos dizem respeito aparecem e entrecruzam-se isoladamente, sem ordem nem relação uns com os outros, no mais vivo contraste e sem nada em comum, a não ser justamente o facto de se relacionarem connosco. Dessa maneira, para corresponder a esses casos e acontecimentos, os nossos pensamentos e cuidados têm igualmente de estar desligados uns dos outros. Como consequência, quando empreendemos algo, temos de nos abstrair de tudo o resto, para então tratar cada coisa a seu tempo, fruí-la e senti-la, sem demais preocupações. Precisamos ter, por assim dizer, compartimentos para os nossos pensamentos e abrir apenas um deles, enquanto os outros permanecem fechados. Desse modo, conseguimos impedir que uma preocupação muito grave roube cada pequeno prazer do presente, despojando-nos de toda a tranquilidade.
Conseguimos ainda fazer com que uma ponderação não reprima a outra, que a preocupação com um caso importante não produza a negligência de muitos de menor relevância, e assim por diante. Mas sobretudo o homem capaz de considerações elevadas e nobres nunca pode deixar o seu espírito ser totalmente possuído e absorvido por casos pessoais e preocupações triviais, a ponto de impedir o acesso às altas considerações, pois isso, de facto,

Continue lendo…

A Lamentação é Completamente Inútil

Não há dúvida de que é inútil e prejudicial lamentarmo-nos perante o mundo. Resta saber se não é igualmente inútil e prejudicial lamentarmo-nos perante nós próprios. Evidentemente. De facto, ninguém se lamentará perante si próprio, a fim de se incitar à piedade, o que nada significaria, dado que a piedade é, por definição, o voluptuso encontro de dois espíritos. Para quê, então? Não para obter favores, porque o único favor que um espírito pode fazer a si próprio é conceder-se indulgência, e toda a gente percebe quanto é prejudicial que a vontade seja indulgente para com a sua própria e lamentável fraqueza.
Resta a hipótese de o fazermos para extrair verdades do nosso coração amolecido pela ternura. Mas a experiência ensina que as verdades surgem apenas em virtude de uma pacata e severa busca, que surpreende a consciência numa atitude inesperada e a vê, como de um filme que parasse de repente, estupefacta, mas não emocionada.
Basta, portanto.

Por Entre O Beberibe, E O Oceano

Por entre o Beberibe, e o Oceano
Em uma areia sáfia, e lagadiça
Jaz o Recife povoação mestiça,
Que o Belga edificou ímpio tirano.

O Povo é pouco, e muito pouco urbano,
Que vive à mercê de uma lingüiça,
Unha de velha insípida enfermiça,
E camarões de charco em todo o ano.

As damas cortesãs, e por rasgadas
Olhas podridas, são, e pestilências,
Elas com purgações, nunca purgadas.

Mas a culpa têm vossas reverências,
Pois as trazem rompidas, e escaladas
Com cordões, com bentinhos, e indulgências.

A indulgência por aqueles que conhecemos, é mais rara do que a comiseração por aqueles que desconhecemos.

Dizer Mal dos Outros, Ouvir Falar Mal de Nós

Uma das formas mais universais de irracionalidade é a atitude tomada por quase toda a gente em relação às conversas maldizentes. Muito poucas pessoas sabem resistir à tentação de dizer mal dos seus conhecimentos e mesmo, se a ocasião se proporciona, dos seus amigos; no entanto, quando sabem que alguma coisa foi dita em seu desabono, enchem-se de espanto e indignação. Certamente nunca lhes ocorreu ao espírito que da mesma forma que dizem mal de não importa quem, alguém possa dizer mal deles. Esta é uma forma atenuada da atitude que, quando exagerada, conduz à mania da perseguição.
Exigimos de toda a gente o mesmo sentimento de amor e de profundo respeito que sentimos por nós próprios. Nunca nos ocorre que não devemos exigir que os outros pensem melhor de nós do que nós pensamos a respeito deles e não nos ocorre porque aos nossos olhos os méritos são grandes e evidentes ao passo que os dos outros, se na realidade existem, só são reconhecidos com certa benevolência. Quando o leitor ouve dizer que alguém disse qualquer coisa desprimorosa a seu respeito, lembra-se logo das noventa e nove vezes que reprimiu o desejo de exprimir, sobre esse alguém, a crítica que considerava justa e merecida,

Continue lendo…

Mais Vale ser Estimado que Amado

Rochefoucauld observou de maneira pertinente que é difícil, ao mesmo tempo, ter em alta estima e amar muito a mesma pessoa. Teríamos, então, de escolher entre querer ganhar o amor ou a estima dos homens. O seu amor é sempre interesseiro, embora de maneiras bem diversas. Além do mais, a condição que nos permite conquistá-lo nem sempre é apropriada para nos orgulharmos. Antes de mais nada, uma pessoa é tanto mais amada quanto mais moderar as suas expectativas em relação ao espírito e ao coração dos outros; e tudo isso a sério, sem fingimento, e não apenas devido à indulgência enraizada no desprezo. Recordemos aqui o dito verdadeiro de Helvécio: «O grau de espírito necessário para nos agradar é uma medida bastante exacta do grau de espírito que possuímos». E assim chegamos à conclusão iniciada pelas premissas. Por outro lado, quando se trata da estima dos homens, dá-se o contrário: esta só lhes é arrancada contra a vontade; por isso, na maioria das vezes é ocultada. Desse modo, ela proporciona-nos uma satisfação interior bem maior, pois está relacionada ao nosso valor, o que não vale imediatamente para o amor dos homens, já que este é subjectivo, enquanto a estima é objectiva.

Continue lendo…

Amo os Teus Defeitos

Amo os teus defeitos, e tantos
eram, as tuas faltas para comigo
e as minhas; essa ênfase
de rechaçar por timidez; solidão
de fazer trepadeiras, agasalhos
para velhos, depois para netos;
indulgência de plantar e ver
o crescimento da oliveira do paraíso,
carregada de flores persistentemente
caducas; essa autoridade, irremediável
desafio; e a astúcia
de termos ambos quase a mesma cara.

Indulgência com os Outros

Para sobreviver por este mundo afora, é conveniente levar consigo uma grande provisão de precaução e indulgência. Pela primeira seremos protegidos de danos e perdas, pela segunda, de disputas e querelas. Quem tem de viver entre os homens não deve condenar, de maneira incondicionada, individualidade alguma, nem mesmo a pior, a mais mesquinha ou a mais ridícula, pois ela foi definitivamente estabelecida e ofertada pela natureza. Deve-se, antes, tomá-la como algo imutável que, em virtude de um princípio eterno e metafísico, tem de ser como é. Quanto aos casos mais lamentáveis, deve-se pensar: «É preciso que haja também tais tipos no mundo.» Do contrário, comete-se uma injustiça e desafia-se o outro a uma guerra de vida ou morte, já que ninguém pode mudar a sua própria individualidade, isto é, o seu carácter moral, as suas faculdades de conhecimento, o seu temperamento, a sua fisionomia, etc. Ora, se condenarmos o outro em toda a sua essência, então nada lhe restará a não ser combater em nós um inimigo mortal, pois só lhe reconhecemos o direito de existir sob a condição de tornar-se uma pessoa diferente da que invariavelmente é.
Portanto, para vivermos entre os homens, temos de deixar cada um existir como é,

Continue lendo…

Sorrio

Ah! vieste me falar de antigamente
desse tempo em que fui sentimental,
quando o amor era um sonho puro e ardente
vestido em véu de espumas, nupcial…

Quando me dava, perdulariamente,
vivendo o mal sem conhecer o mal,
a levar a alma inquieta de quem sente
e de quem busca uma conquista ideal…

Era sestro da idade essa existência…
Sinal de pouca vida e muito sonho,
de muito sonho… e pouca experiência…

Hoje, no entanto, se a pensar me ponho:
– sorrio… Um vão sorriso de indulgência…
…Sinal de muita vida… e pouco sonho…

Uma pessoa é tanto mais amada quanto mais moderar as suas expectativas em relação ao espírito e ao coração dos outros; e tudo isso a sério, sem fingimento, e não apenas devido à indulgência enraizada no desprezo.