A Tempo
A tempo entrei no tempo,
Sem tempo dele sairei:
Homem moderno,
Antigo serei.
Evito o inferno
Contra tempo, eterno
Ă paz que visei.
Com mais tempo
Terei tempo:
No fim dos tempos serei
Como quem se salva a tempo.
E, entretanto, durei.
Passagens sobre Inferno
250 resultadosQuero ir para o inferno, nĂŁo para o cĂ©u. No inferno, gozarei da companhia de papas, reis e prĂncipes. No cĂ©u, sĂł terei por companhia mendigos, monges, eremitas e apĂłstolos.
Tudo o que Somos é Ficção
Hå que entender que tudo o que somos é ficção.
Pessoas atrĂĄs de pessoas pedem-me conselhos. Acreditam que o que escrevo me torna em alguĂ©m especial, capaz de lhes entender o que fazem, o que sentem, atĂ© o que escrevem. Fico perdido, sem saber o que fazer, sem saber o que dizer. E Ă© por isso que escrevo. Escrever Ă© estar perdido e procurar, a cada frase, um caminho. Ou um simples sinal de que pode haver um caminho, de que pode haver uma esperança. Escrever Ă© procurar a esperança, todos os dias, no que nĂŁo existe, no que se escreve para ver se existe. NĂŁo sou escritor, nunca fui escritor, nĂŁo quero ser escritor. Sou apenas o gajo que escreve porque tem de escrever, porque os dias exigem que escreva, porque uma urgĂȘncia qualquer o obriga a escrever. Escrevo como necessidade biolĂłgica, e Ă s vezes custa tanto ter de escrever. NĂŁo dĂłi mas custa, Ă© uma dor de fora para dentro, como se as letras saĂssem da pele, do por dentro dos ossos. E a literatura. O que raios Ă© a literatura? Estou-me nas tintas para a literatura. NĂŁo quero escrever literatura, nĂŁo quero os intelectuais do meu lado.
O inferno Ă© jĂĄ nĂŁo amarmos.
VisĂŁo Realizada
Sonhei que a mim correndo o gnĂdeo nume
Vinha coa Morte, co CiĂșme ao lado,
E me bradava: “Escolhe, desgraçado,
Queres a Morte, ou queres o CiĂșme?”“NĂŁo Ă© pior daquela fouce o gume
Que a ponta dos farpÔes que tens provado;
Mas o monstro voraz, por mim criado,
Quanto horror hĂĄ no Inferno em si resume.”Disse; e eu dando um suspiro: “Ah, nĂŁo m’espantes
Coa a vista dessa fĂșria!… Amor, clemĂȘncia!
Antes mil mortes, mil infernos antes!”Nisto acordei com dor, com impaciĂȘncia;
E nĂŁo vos encontrando, olhos brilhantes,
Vi que era a minha morte a vossa ausĂȘncia!
Fuga do Ădio
Queres amar a vida e nĂŁo te deixam. Tens de respirar o Ăłdio, o insulto, o bafo azedo do vexame e isso faz-te mal. EmanaçÔes de um pĂąntano de febres, de esgotos a cĂ©u aberto com o seu fedor de vĂłmito. Um dos tormentos do inferno medievo era esse, o fedor – a essĂȘncia da podridĂŁo. E o que te fazem respirar de uma flor, do aroma de existires? Porque Ă© que o Ăłdio Ă© assim fundamental para os teus parceiros em humanidade existirem? TĂȘm uma estrutura diferente de serem, Deus fabricou-os num momento de mau gĂ©nio.
O Inferno existe na medida em que somos capazes de figurĂĄ-lo.
Ănico RemĂ©dio
Como a chama que sobe e que se apaga
Sobem as vidas a espiral de Inferno.
O desespero Ă© como o fogo eterno
Que o campo quieo em convulçÔes alaga…Tudo Ă© veneno, tudo cardo e praga!
E al almas que tĂȘm sede de falerno
Bebem apenas o licor moderno
Do tédio pessimista que as esmaga.Mas a Caveira vem se aproximando,
Vem exótica e nua, vem dançando,
No estrambotismo lĂșgubre vem vindo.E tudo acaba entĂŁo no horror insano –
– Desespero do Inferno e tĂ©dio humano –
Quando, d’esguelha, a Morte surge, rindo…
Brilhar para sempre, brilhar como um farol, brilhar com brilho eterno, gente Ă© para brilhar, que tudo mais vĂĄ para o inferno, este Ă© o meu slogan e o do sol.
To Sleep, To Dream
Dormir, sonhar — o poeta inglĂȘs o disse…
Ah! Mas se a gente nunca mais sonhasse
Ah! Mas se a gente nunca mais dormisse
E a ilusÔes não mais acalentasse?E o que importava que o futuro risse
De um visionĂĄrio que tal cousa ideasse;
Se nĂŁo seria o Ășnico que abrisse
Uma exceção da vida humana Ă face?…Se os imortais filĂłsofos modernos
Que derrubaram todos os infernos,
Que destruĂram toda a teogonia.Orientando a triste humanidade,
Deixaram, mais e mais, a piedade
Inteiramente desolada e fria?