O amor é como os fantasmas de que todos falam, mas que ninguém viu.
Passagens sobre Ninguém
1737 resultadosA Minha FamĂlia Ă© a Minha Casa
A solidĂŁo absoluta Ă© nĂŁo ter ninguĂ©m a quem dizer um simples: “tenho vontade de chorar”. NĂŁo precisamos de muito para viver bem – para ser feliz basta uma famĂlia e pouco mais.
A famĂlia Ă© a casa e a paz. O refĂşgio onde uma vontade de chorar nĂŁo Ă© motivo de julgamento, apenas e sĂł uma necessidade sĂşbita de… famĂlia. De um equilĂbrio para o qual o outro Ă© essencial… assim tambĂ©m se passa com a vontade de sorrir que, em famĂlia, se contagia apenas pelo olhar.
Nos dias de hoje vai sendo cada vez mais difĂcil encontrar gente capaz de ser famĂlia. Os egoĂsmos abundam e cultiva-se, sozinho, o individual. Como se nĂŁo houvesse espaço para o amor. Dizem que amar Ă© arriscado, que Ă© coisa de loucos…
Todos temos sentimentos mais profundos. Cada um de nĂłs Ă© uma unidade, mas o que somos passa por sermos mais do que um. Parte de unidades maiores. Estamos com quem amamos e quem amamos tambĂ©m está, de alguma forma, connosco. O amor Ă© o que existe entre nĂłs e nos enlaça os sentimentos mais profundos. Onde uma vontade de chorar Ă© um sinal de que há algo em mim que Ă© maior do que eu…
És como o Ar que Respiro
Qual Ă© a força extraordinária que possuis? — pergunto muitas vezes a mim mesmo. Dois ou trĂŞs princĂpios cristĂŁos inabaláveis — e por trás milhares de seres que desapareceram ignorados, cumprindo a vida ignorada. Nem sequer se debateram. Entregaram-se. Confiaram. A mulher portuguesa comunica ao lar a ternura com que os pássaros aquecem o ninho. Sua vida dá luz, para alumiar os outros. Foi assim com tĂŁo pequenos meios, que me ensinaste. Com uma palavra e mais nada, com um simples olhar, com silĂŞncio e mais nada. Uma atitude fazia-me pensar. E mal sabes tu quando Os teus dedos ágeis trabalhavam a meu lado, teciam ao mesmo tempo o pano grosso de casa e a nossa vida espiritual.
E como tu milhares de seres tĂŞem cumprido a vida em silĂŞncio, aceitando-a sem exageros. Nas mĂŁos das mulheres atĂ© as coisas vulgares que se fazem na aldeia, cozer o pĂŁo, lançar a teia — assumem um carácter sagrado. Elas passam desconhecidas e dispõem dum poder extraordinário. MantĂŞem a vida ordenada com um sorriso tĂmido. A mulher está mais perto que nĂłs da natureza e de Deus.
Cada vez me aproximo mais de ti. O que há de puro em mim a ti o devo.
O Mal-Entendido Universal
O mundo só caminha através do mal-entendido. É através do mal-entendido universal que toda a gente se põe de acordo. Porque se, por infelicidade, as pessoas se compreendessem, nunca poderiam pôr-se de acordo.
O homem de espĂrito, aquele que nunca se porá de acordo com ninguĂ©m, deve aplicar-se a amar a conversa dos imbecis e a leitura dos maus livros. Extrairá funções amargas que lhe compensarĂŁo largamente a fadiga.
Aprendi a conhecer-me a mim próprio, e certamente desde então nunca mais ri ou escarneci de ninguém que não fosse eu próprio.
A vingança Ă© sempre o prazer de um espĂrito mesquinho,
de um espĂrito amedrontado e avaro. Podes ter a certeza disso agora mesmo:
ninguém se deleita tanto com a vingança como a mulher.
O que sou toda a gente é capaz de ver; Mas o que ninguém é capaz de imaginar é até onde sou e como.
NĂŁo há absolutamente ninguĂ©m que faça um sacrifĂcio sem esperar uma compensação. É tudo uma questĂŁo de mercado.
O Preço do Amor
NĂŁo Ă© fácil estar apaixonado por uma mulher e fazer alguma coisa de jeito. És devorado pela ansiedade. NĂŁo convĂ©m deixares-te embeiçar por uma mulher que se mostre difĂcil de conquistar, isso e como passar o resto da vida a tentar escalar o Everest. Escolhe uma mulher que possas conservar sem muito esforço. Quanto a mulheres boas, podemos comprá-las. Por meia dĂşzia de euros, arranjas uma russa de dezoito anos, dessas que nem nos filmes se veem. Fodes, pagas e regressas a casa para jantar com a famĂlia, com a tua mulher, que cozinha bem e fode mal, mas que nĂŁo lhe passa pela cabeça separar-se de ti, entre outras coisas porque ninguĂ©m a olha com particular interesse. Ela vai Ă s reuniões de pais na escola, controla as AMPAS, as APLAS, todas essas associações que nem sei como se chamam, esses serviços, esse jargĂŁo, esse lixo social-democrata que os do PP copiam com entusiasmo porque soa a famĂlia moderna e feliz, e tambĂ©m um pouco a Opus Dei, e mete os miĂşdos na ordem e sabe escolher o detergente mais eficaz no Mercadona e o melhor queijo e o melhor foie gras de fabrico prĂłprio da charcutaria. Passa-te as camisas a ferro e cose-te os botões.
Ninguém é tão ignorante que não tenha algo a ensinar. Ninguém é tão sábio que não tenha algo a aprender.
Cada um de nós é uma lua e tem um lado escuro que nunca mostra a ninguém.
Existem duas maneiras de lidar com uma mulher, e ninguém as conhece.
A imaginação e o recolhimento são duas doenças de que ninguém tem piedade.
Ninguém pode alterar a Natureza, mas todos podem melhorá-la.
Do Outro Lado
Também eu já me sentei algumas vezes às portas do crepúsculo, mas quero dizer-te que o meu comércio não é o da alma, há igrejas de sobra e ninguém te impede de entrar. Morre se quiseres por um deus ou pela pátria, isso é contigo; pode até acontecer que morras por qualquer coisa que te pertença, pois sempre pátrias e deuses foram propriedade apenas de alguns, mas não me peças a mim, que só conheço os caminhos da sede, que te mostre a direcção das nascentes.
Ninguém pode prever as reações de um ser humano, e tolo é aquele que julga saber de que um homem é capaz.
Ladainha dos PĂłstumos Natais
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazioHá-de vir um Natal e será o primeiro
em que hĂŁo-de me lembrar de modo menos nĂtidoHá-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigoHá-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecidoHá-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livroHá-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigoHá-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentidoHá-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito
A lealdade Ă© hoje uma virtude qye ninguĂ©m respeita profundamente. É demasiado irracional para se poder louvar. Ser leal Ă© ser incondicional. É ir contra a razĂŁo, contra a justiça, contra a utilidade, das pessoas e das coisas. A lealdade Ă© insensĂvel. Ser leal Ă© ajudar o amigo milionário a roubar uma moeda de 10 escudos do bolso de um pobre. A lealdade pode ser muito feia. É por isso que Ă© tĂŁo bonita. É muito simples. A lealdade Ă© uma decisĂŁo que a alma já tomou.
A Maior Necessidade do Homem
A maior necessidade do homem Ă© sentir que Ă© necessário. Se no mundo nĂŁo existir ninguĂ©m que precise de nĂłs, cometeremos suicĂdio, nĂŁo conseguiremos viver. É estranho – talvez nunca tenham pensado nisto, que estamos continuamente Ă procura de quem precise de nĂłs. Isto faz de nĂłs seres preciosos, dá-nos valor, um certo significado. Talvez as mulheres se casem com os homens apenas para preencher a necessidade de se sentir necessária. E a razĂŁo poderá ser igualmente válida para os homens, talvez desejem sentir que uma determinada mulher precisa deles.
Os homens tentaram impedir as mulheres de ganharem dinheiro, de trabalharem, de se instruĂrem e educarem. As explicações para isso sĂŁo de ordem polĂtica, econĂłmica, entre outras, mas a razĂŁo psicolĂłgica reside no facto de os homens desejarem a dependĂŞncia das mulheres para que elas nunca deixem de precisar deles e os façam sentirem-se bem por haver alguĂ©m que precisa deles. Juntos terĂŁo filhos e ambos se sentirĂŁo bem pelo facto de essas crianças precisarem deles: Ă© um motivo para viver. Temos de viver pelo bem dessas crianças, temos de viver pelo bem da nossa mulher, temos de viver pelo bem do nosso marido: a vida deixa de ser algo desprovido de sentido.
Nada Ă© Verdadeiramente SatisfatĂłrio
Nada Ă© verdadeiramente satisfatĂłrio. Mesmo a arte a que um artista Ă© vocacionado, e sobre a qual e para a qual vive, está sempre aquĂ©m do seu desejo. Nunca atinge aquele nĂvel, aquele andar que desejaria. Está sempre a tentar, a aproximar-se do limite das possibilidades. No fundo, do absoluto. Um absoluto que se nĂŁo atinge, [que se] ignora mesmo. A Ăşnica coisa que sabemos ao certo Ă©: ninguĂ©m nasce senĂŁo para morrer. Morrer mais cedo ou morrer mais tarde. Tem esse privilĂ©gio: acabar com a vida antes do fim natural dela. Se estiver desesperado, acontece. Justamente quando perde a esperança. Quando perde a esperança, perdeu tudo, e entĂŁo liquida-se.
[Pensou alguma vez? Houve algum momento na sua vida tĂŁo desesperançado? Teve tantos reveses…]
Não. Suponho que ninguém deixa de pensar na morte. E quando se chega à minha idade, está-se mais consciente de que se aproxima o fim. Portanto, ele tem que se preparar para esse final. Há muita gente que conheci que se suicidou por isto ou por aquilo. E há o problema da eutanásia, quando o sofrimento é muito grande, a experiência é nula e as pessoas não podem sequer matar-se, têm que pedir que alguém as mate.