Textos sobre Estúpidos

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Textos de estúpidos escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A Decadência da Ciência

Ouve-se dizer que a ciência está actualmente submetida a imperativos de rentabilidade económica; na verdade sempre foi assim. O que é novo é que a economia venha a fazer abertamente guerra aos humanos; já não somente quanto às possibilidades da sua vida, como também às da sua sobrevivência. Foi então que o pensamento cientifico escolheu, contra uma grande parte do seu próprio passado antiesclavagista, servir a dominação espectacular (da sociedade de consumo). Antes de chegar a este ponto, a ciência possuía uma autonomia relativa. Então sabia pensar a sua parcela da realidade e, assim, tinha podido contribuir imensamente para aumentar os meios da economia. Quando a economia toda-poderosa enlouqueceu, e os tempos espectaculares não são mais do que isto, suprimiu os últimos vestígios da autonomia científica, tanto no campo metodológico como no das condições práticas da actividade dos «investigadores».
Já não se pede à ciência que compreenda o mundo ou o melhore nalguma coisa. Pede-se-lhe que justifique instantaneamente tudo o que faz. Tão estúpida neste terreno como em todos os outros, que explora com a mais ruinosa irreflexão, a dominação espectacular promoveu o abate da árvore gigantesca do conhecimento científico com o único fim de dela talhar uma matraca.

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Os Portugueses e o Amor Livre

Tipicamente, os Portugueses deixaram arrastar não a revolução socialista, não a revolução interior, não a revolução cultural, mas a revolução sexual. Foi como se tivessem pena de se desfazer dela. Em 89, sem ligar nenhuma à libertação feminina e à SIDA, Portugal, sexualmente falando, continua em 69.
Tanto porfiaram os Portugueses e as Portuguesas nas práticas e noções do «amor livre» que se tornaram nos peritos internacionais das «relações modernas». Cada um «sabe de si» e assobia «l am Free». Ninguém «invade o espaço» de ninguém. Hoje é sempre «o primeiro dia do resto da tua vida». As pessoas vivem «para o momento». Isto é, «curtem» umas com as outras. O lema é «Não te prendas», e a filosofia, na sua expressão mais completa, é «Enquanto der, deu — quando já não der, já não dá».

Tudo isto é alegre e tem a sua graça. A conjunção, no português, de um feitio ciumento e possessivo (palavras portuguesas) com uma aparência, «cool» e «non-chalant» (palavras estrangeiras) até tem piada. E atraente. Numa situação de ciúme ou de brusca afirmação de independência do outro, o português (sobretudo o homem, por ser mais estúpido) encolhe os ombros e diz que «OK,

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A Estupidez da Humanidade

Nós passamos as nossas vidas a lutar para conseguir que pessoas ligeiramente mais estúpidas que nós aceitem as verdades que os grandes homens conheceram desde sempre. Já há milhares de anos que eles sabiam que fechar uma pessoa doente num ambiente solitário torna-a ainda pior. Já há milhares de anos que eles sabiam que um homem pobre que é assustado, pelo seu patrão, e pela polícia, é um escravo. Eles sabiam. Nós sabemos. Mas será que a granda massa iluminada dos britânicos o sabem? Não. É o nosso dever, Ella, o teu e o meu, de lhes dizer. Porque os grandes homens são demasiado grandes para serem incomodados. Estão já a descobrir como colonizar Vénus e como irrigar a Lua. Isso é que é o mais importante para o nosso tempo. Tu e eu somos os empurradores da pedra. Todas as nossas vidas, tu e eu, temos que empregar as nossas energias, e todo o nosso talento, a empurrar uma enorme pedra por uma montanha acima. A pedra é a verdade que os grandes homens sabem por instinto, e a montanha é a estupidez da humanidade.

Como a Europa Vê Portugal

O juízo que de Badajoz para cá se faz de Portugal não nos é favorável… Não falo aqui de Portugal, como estado político. Sob esse aspecto, gozamos uma razoável veneração. Com efeito nós não trazemos à Europa complicações importunas; mantemos dentro da fronteira uma ordem suficiente; a nossa administração é correctamente liberal; satisfazemos com honra os nossos compromissos financeiros. Somos o que se pode dizer um «povo de bem»… A Europa reconhece isto; e todavia olha para nós com um desdém manifesto. Porquê? Porque nos considera uma nação de medíocres, digamos francamente a dura palavra, porque nos considera uma «nação de estúpidos».

Ser Surpreendido Por Tudo ou por Nada

Ser surpreendido por tudo é claro que é estupido, e não ser supreendido por nada é algo que é considerado muito melhor. Mas isso não é realmente verdade. A minha mente não ser surpreendida por nada é muito mais estúpido do que ser surpreendido por tudo. Além disso, não ser surpreendido por nada é quase igual a não se sentir respeito por nada. E é realmente um homem estúpido aquele que é incapaz de sentir respeito.

A Luta de Classes Acabou

A luta de classes esfumou-se, dissolveu-se, a democracia tem funcionado como um diluente social: toda a gente vive, compra e acorre ao hipermercado, ao balcão do bar e aos concertos pagos pelo município na praça central, e todos falam ao mesmo tempo, vozes que se misturam como nas tumultuosas reuniões no cine Tivoli evocadas pelo meu pai, já não se distingue o que está em cima do que está em baixo, está tudo enredado, confuso, e, porém, reina uma misteriosa ordem, eis a democracia. Mas, de súbito, desde há um par de anos, parece desenhar-se uma ordem mais explícita, menos insidiosa. A nova ordem é bem visível, com os níveis superior e inferior bem definidos: alguns transportam com orgulho sacos repletos de compras e cumprimentam sorridentes os vizinhos à porta do centro comercial, outros remexem nos contentores onde os empregados do hipermercado lançaram as embalagens de carne fora de prazo, a fruta e as verduras pisadas, os pastéis industriais caducados. Lutam entre si por esses alimentos.

(…) Trivial, a luta de classes? Então não era isso que determinava, que impregnava e condicionava tudo? O grande motor da história universal? Não era nisso que acreditavam o meu pai e os seus camaradas,

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Aproveita a Alegria

Sempre achei mais trágico e inteligente o oportunista que aconselha “aproveita que esta alegria não vai continuar, quanto mais repetir-se” do que o realista que despreza a alegria por ser temporária e logo, por atacado, estúpida e falsa.

É tudo mentira. Os momentos são tão diferentes uns dos outros como as pessoas que os vivem. Cada um de nós é uma multidão que varia, conforme a ocasião, no pouco tempo de vida, disfarçado para parecer de mais, que nos é concedido. Sem termos pedido.

A atitude de cada um é que manda: vamos aproveitar ou vamos ser verdadeiros? Vamos trair a nossa falsa obrigação para com a verdade que nunca existiu ou oferecermo-nos como vítimas da ilusão que sempre funcionou para nos pôr mais bem dispostos, não só à maneira do cinema como à luz do que vimos no cinema, incluindo o que não estava (milagrosamente) lá?

Cabe a cada um escolher o momento do dia e a diferença de cada dia, conforme o mundo e a maré com que vamos ter.

Como Ser Autónomo?

As pessoas vivem toda a sua vida a acreditar no que os outros dizem, dependentes dos outros. É por isso que têm tanto medo da opinião dos outros. Se eles pensam que você é mau, torna-se mau. Se o condenam, começa a condenar-se. Se dizem que é pecador, começa a sentir-se culpado. E, como depende da opinião deles, é obrigado a conformar-se constantemente com as suas opiniões; senão eles mudarão de opinião. Ora isso cria uma escravidão, uma escravidão muito subtil. Se quiser ser considerado bom, digno, belo, inteligente, tem de fazer concessões, tem de se comprometer continuamente com as pessoas de quem depende.

E levanta-se um outro problema. Como há muitas pessoas, elas estão sempre a alimentar a sua mente com diferentes tipos de opiniões — opiniões conflituosas, ainda por cima. Uma opinião a contradizer outra opinião — daí que exista uma grande confusão dentro de si. Uma pessoa diz que você é muito inteligente, outra pessoa diz-lhe que é estúpido. Como decidir? Então fica dividido. Fica com dúvidas sobre si próprio, sobre quem é… uma ondulação. E a complexidade é muito grande, porque há milhares de pessoas à sua volta.
Você está em contacto com muitas pessoas e cada uma delas mete a sua ideia na sua mente.

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Inspiração e Perseverança no Homem que Pensa

Não há nada de mais difícil em literatura do que descrever um homem a pensar. Um grande inventor respondeu um dia a quem lhe perguntava como fazia para ter tantas ideias novas: «pensando ininterruptamente nelas». E de facto bem pode dizer-se que as ideias inesperadas nos vêm porque estávamos à espera delas. São, em grande parte, o resultado conseguido de um carácter, de certas inclinações constantes, de uma ambição tenaz, de uma incessante ocupação com elas. Que tédio, uma perseverança assim! Mas, vista de outro ângulo, a solução de um problema intelectual não acontece de modo muito diferente, como um cão que traz um pau na boca e quer passar por uma porta estreita; vira a cabeça para a esquerda e para a direita tantas vezes até que consegue passar com o pau; o mesmo acontece connosco, apenas com a diferença de que não fazemos tantas tentativas ao acaso, mas sabemos já, por experiência, mais ou menos como fazer as coisas. E se uma cabeça inteligente, como é óbvio, revela muito mais habilidade e experiência nas voltas que dá do que uma cabeça estúpida, o momento em que consegue passar não é para ela menos surpreendente; de repente estamos do outro lado,

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O Medo como Orientador da Nossa Vida

Uma vez que estamos sós no mundo, ou pelo menos não tão sós como gostaríamos de estar, temos o dever de dominar as nossas explosões, de fazer com que as explosões inevitáveis da nossa maldade ou da nossa bondade paradoxais vão aproximativamente no sentido do fim aproximativo. Quanto ao fim, talvez não seja lá muito importante determiná-lo com a precisão sádica que encontramos no sistema do mundo e no destino quando ambos se associam para determinar a posição do homem no espaço e no tempo.
Devemos evidentemente batermo-nos contra os dois, e como o mais importante é manter a direcção justa do fim talvez errado, é-nos necessário aguçar a nossa lucidez a fim de a tornarmos cortante como uma lâmina, acerada como uma seta, percuciente como uma punção. É graças a essa lucidez que funciona a nossa consciência, que não passa afinal de uma transcrição idílica do nosso medo, porque o medo lembra-nos infatigavelmente a direcção justa, e se sufocarmos o nosso medo, perderemos a possibilidade de nos orientarmos numa direcção determinada e daremos aqui e ali lugar a uma série de estúpidas explosões privadas, causando os piores estragos para um mínimo de resultados. É por isso que devemos conservar dentro de nós o nosso medo como um porto sempre livre de gelos que nos ajude a passar o Inverno,

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Se Pudesses Estar Comigo Vinte e Quatro horas do Dia

Se pudesses estar comigo durante as vinte e quatro horas do dia, observar cada gesto meu, dormir comigo, comer comigo, trabalhar comigo, tudo isto não poderia ter lugar. Quando me vejo afastado de ti, penso em ti constantemente e isso dá cor a tudo o que eu diga ou faça. Se soubesses o quão fiel te sou! Não apenas fisicamente, mas mentalmente, moralmente, espiritualmente. Aqui não há qualquer tentação para mim, absolutamente nenhuma. Estou imune a Nova Iorque, aos meus velhos amigos, ao passado, a tudo. Pela primeira vez na minha vida, estou completamente centrado em outro ser… Em ti. Sinto-me capaz de dar tudo, sem ter medo de ficar exaurido ou de me ver perdido. Quando ontem escrevi no meu artigo que «se eu nunca tivesse ido para a Europa…», não era a Europa que tinha em mente, mas sim tu.

Mas não posso dizer isso ao mundo num artigo. Tu és a Europa. Pegaste em mim, um homem despedaçado, e tornaste-me completo. E não hei-de desintegrar-me — não existe o menor perigo disso. Mas agora vejo-me mais sensível, mais receptivo a qualquer sinal de perigo. Se te persigo loucamente, se te imploro para ouvires, se fico à tua porta e espero por ti,

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