Passagens sobre Vulgar

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Frases sobre vulgar, poemas sobre vulgar e outras passagens sobre vulgar para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

A timidez é o mais vulgar de todos os fenómenos. O que há de mais vulgar em todos nós é termos medo de sermos ridículos…

O Transitório e o Duradouro

Lastimo os que atribuem grande importância ao tema do transitório das coisas e que se perdem em minudências terrenas sem valor. Porque nós existimos precisamente para transformar o transitório em duradouro, e tal só acontece quando somos capazes de apreciar ambas as coisas.

A vida, por mais vulgar que pareça ser, por mais que dê a ideia de se satisfazer com coisas triviais e quotidianas, nunca deixa de se ocupar atentamente, ainda que em silêncio, de certas exigências superiores e de procurar os meios necessários à respectiva satisfação.

Falar Sempre, Pensar Nunca

Desde que, com a ajuda do cinema, das soap operas e do horney, a psicologia profunda penetra nos últimos rincões, a cultura organizada corta aos homens o acesso à derradeira possibilidade da experiência de si mesmo. E esclarecimento já pronto transforma não só a reflexão espontânea, mas o discernimento analítico, cuja força é igual à energia e ao sofrimento com que eles se obtêm, em produtos de massas, e os dolorosos segredos da história individual, que o método ortodoxo se inclina já a reduzir a fórmulas, em vulgares convenções.
Até a própria dissolução das racionalizações se torna racionalização. Em vez de realizar o trabalho de autognose, os endoutrinados adquirem a capacidade de subsumir todos os conflitos em conceitos como complexo de inferioridade, dependência materna, extrovertido e introvertido, que, no fundo, são pouco menos que incompreensíveis. O horror em face ao abismo do eu é eliminado mediante a consciência de que não se trata mais do que uma artrite ou de sinus troubles.
Os conflitos perdem assim o seu aspecto ameaçador. São aceites; não sanados, mas encaixados somente na superfície da vida normalizada como seu ingrediente inevitável. São, ao mesmo tempo, absorvidos como um mal universal pelo mecanismo da imediata identificação do indivíduo com a instância social;

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Desconfia da Ideia de Homem Feliz

Verifica que homem feliz não é aquele que o vulgo entende por tal, ou seja, um homem de grandes recursos monetários; é, sim, aquele para quem todo o bem reside na própria alma, é o homem sereno, magnânimo, que pisa aos pés os interesses vulgares, que só admira no homem aquilo que faz a sua qualidade de homem, que segue as lições da natureza, se conforma com as suas leis, e vive segundo o que ela prescreve; é o homem a quem força alguma despojará dos seus bens próprios, o homem capaz de fazer do próprio mal um bem, seguro do seu pensamento, inabalável, intrépido; é o homem a quem a força pode abalar, mas nunca desviar da sua rota; a quem a fortuna, apontando contra ele as mais duras armas com a maior violência, pode arranhar, mas nunca ferir, e mesmo assim raramente, porquanto os dardos da sorte, que afligem em geral a humanidade, fazem ricochete contra ele à maneira do granizo que, batendo no tecto, salta e se derrete sem causar qualquer dano ao ocupante da casa.

Das Palavras

As palavras mais simples
foram as que te dei;
o amor não sabe outras,
só estas fazem lei.
As palavras de uso
mais comum e vulgar
são as que amor conhece.
Com elas nos pensamos;
é nelas que tememos
desacertos, enganos;
se nelas triunfamos,
já delas nos perdemos.
Com palavras vulgares
se diz o mal de amor,
seu riso, seu espelho,
o que fica da dor.
E todos os mistérios
que se fazem promessa
e se perdem nos versos
e dos corpos nasceram
são aqui cerimónia
evidente e secreta
nas mais simples palavras
que conhece o poeta.

Somos vulgares, incultos e analfabetos; e, em relação a isso, confesso que não faço maiores distinções entre o analfabetismo de meus concidadãos que não aprenderam a ler e o que aprendeu a ler somente aquilo que se destinam às crianças e aos intelectos medíocres.

A maioria pensa com a sensibilidade, eu sinto com o pensamento. Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar.

O Triunfo dos Imbecis

Não nos deve surpreender que, a maior parte das vezes, os imbecis triunfem mais no mundo do que os grandes talentos. Enquanto estes têm por vezes de lutar contra si próprios e, como se isso não bastasse, contra todos os medíocres que detestam toda e qualquer forma de superioridade, o imbecil, onde quer que vá, encontra-se entre os seus pares, entre companheiros e irmãos e é, por espírito de corpo instintivo, ajudado e protegido. O estúpido só profere pensamentos vulgares de forma comum, pelo que é imediatamente entendido e aprovado por todos, ao passo que o génio tem o vício terível de se contrapor às opiniões dominantes e querer subverter, juntamente com o pensamento, a vida da maioria dos outros.
Isto explica por que as obras escritas e realizadas pelos imbecis são tão abundante e solicitamente louvadas – os juízes são, quase na totalidade, do mesmo nível e dos mesmos gostos, pelo que aprovam com entusiasmo as ideias e paixões medíocres, expressas por alguém um pouco menos medíocre do que eles.
Este favor quase universal que acolhe os frutos da imbecilidade instruída e temerária aumenta a sua já copiosa felicidade. A obra do grande, ao invés, só pode ser entendida e admirada pelos seus pares,

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O Objectivo da Arte não é Ser Compreensível

Toda a arte é expressão de qualquer fenómeno psíquico. A arte, portanto, consiste na adequação, tão exacta quanto caiba na competência artística do fautor, da expressão à cousa que quer exprimir. De onde se deduz que todos os estilos são admissíveis, e que não há estilo simples nem complexo, nem estilo estranho nem vulgar.
Há ideias vulgares e ideias elevadas, há sensações simples e sensações complexas; e há criaturas que só têm ideias vulgares, e criaturas que muitas vezes têm ideias elevadas. Conforme a ideia, o estilo, a expressão. Não há para a arte critério exterior. O fim da arte não é ser compreensível, porque a arte não é a propaganda política ou imoral.

Tudo Se Me Evapora

Tudo se me evapora. A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora. Continuamente sinto que fui outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espectáculo com outro cenário. E aquilo a que assisto sou eu.
Encontro às vezes, na confusão vulgar das minhas gavetas literárias, papéis escritos por mim há dez anos, há quinze anos, há mais anos talvez. E muitos deles me parecem de um estranho; desconheço-me deles. Houve quem os escrevesse, e fui eu. Senti-os eu, mas foi como em outra vida, de que houvesse agora despertado como de um sono alheio.

Os ricos pretendem não se admirar com nada, e reconhecem, à primeira vista, numa obra bela o defeito que os dispensará da admiração, um sentimento vulgar.

A Idade só se Aplica às Pessoas Vulgares

A tendência para colocar uma ênfase especial ou organizar a juventude nunca me foi cara; para mim, a noção de pessoa velha ou nova só se aplica às pessoas vulgares. Todos os seres humanos mais dotados e mais diferenciados são ora velhos ora novos, do mesmo modo que ora são tristes ora alegres. É coisa dos mais velhos lidar mais livre, mais jovialmente, com maior experiência e benevolência com a própria capacidade de amar do que os jovens. Os mais idosos apressam-se sempre a achar os jovens precoces demasiado velhos para a idade, mas são eles próprios que gostam de imitar os comportamentos e maneiras da juventude, eles próprios são fanáticos, injustos, julgam-se detentores de toda a verdade e sentem-se facilmente ofendidos. A idade não é pior que a juventude, do mesmo modo que Lao-Tsé não é pior que Buda e o azul não é pior que o vermelho. A idade só perde valor quando quer fingir ser juventude.

Não: Devagar

Não: devagar.
Devagar, porque não sei
Onde quero ir.
Há entre mim e os meus passos
Uma divergência instintiva.
Há entre quem sou e estou
Uma diferença de verbo
Que corresponde à realidade.

Devagar…
Sim, devagar…
Quero pensar no que quer dizer
Este devagar…
Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
Talvez a impressão dos momentos seja muito próxima…

Talvez isso tudo…
Mas o que me preocupa é esta palavra devagar…
O que é que tem que ser devagar?
Se calhar é o universo…
A verdade manda Deus que se diga.
Mas ouviu alguém isso a Deus?

Abraça o Conteúdo e Não a Forma

Às vezes o homem repudia a mulher, ou a mulher muda de amante, por se ter desiludido. Consequências do comportamento leviano quer de um quer do outro. Porque só é possível amar através da mulher e não a mulher. Através do poema e não o poema. Através da paisagem entrevista do alto das montanhas. E a licenciosidade nasce da angústia de não se conseguir ser. Quando uma pessoa anda com insónias, volta-se e torna-se a voltar na cama, à procura do fresco ombro do leito. Mas basta tocá-lo, para ele se tornar tépido e recusar-se. E ele procura noutro sítio uma fonte durável de frescura. Mas não consegue dar com ela, porque mal lhe toca a provisão esvai-se.
O mesmo se passa com aquele ou com aquela que se fica no vazio dos seres. Não passam de vazios os seres que não são janelas ou frestas para Deus. É por isso que, no amor vulgar, só amas o que te foge. De outra maneira, vês-te saciado e descoroçoado com a tua satisfação.

Escravo de Si Mesmo

A suposição de que a identidade de uma pessoa transcende, em grandeza e importância, tudo o que ela possa fazer ou produzir é um elemento indispensável da dignidade humana. (…) Só os vulgares consentirão em atribuir a sua dignidade ao que fizeram; em virtude dessa condescendência serão «escravos e prisioneiros» das suas próprias faculdades e descobrirão, caso lhes reste algo mais que mera vaidade estulta, que ser escravo e prisioneiro de si mesmo é tão ou mais amargo e humilhante que ser escravo de outrem.

As Realidades do Sonho

O sonho é a explosão dos súbditos na ausência do rei. Se o homem fosse um ser único, não sonharia. Mas cada um de nós é uma tribo em que somente um chefe tem os privilégios da vida iluminada. O chefe é a pessoa reconhecida pelos semelhantes, o «mim» legal da sociedade e da razão, obrigado a uma concordância fixa consigo mesmo. Só ele tem relações expressas com o mundo exterior e o único a reinar nas horas de vigília. Mas abaixo dele há um pequeno povo de cadetes expulsos, de insurrectos punidos, de hóspedes indesejáveis – exilados da zona da consciência, mas donos do subconsciente, encerrados no subterrãneo, mas prontos para a evasão, vencidos mas não mortos. Há a criança que foi renegada pelo jovem, o delinquente imobilizado pela moral e a lei, o louco que todos os dias estende armadilhas à razão raciocinadora, o poeta que a prática condenou ao silêncio, o bobo dominado pelas amarguras, o antepassado bárbaro que ainda se recorda do machado de pedra e dos festins de Tiestes.
O eu quotidiano e vulgar, o respeitável, o vigilante, o vitorioso, dominou essa tribo de larvas inimigas, de irmãos renegados e moribundos. E como a alma tem o seu subsolo,

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Existem Três Tipos de Escritores

Pode-se dizer que existem três tipos de autores. Em primeiro lugar, temos aqueles que escrevem sem pensar. Escrevem a partir da memória, das reminiscências, ou mesmo directamente dos livros dos outros. Esta classe é a mais numerosa. Em segundo lugar, há aqueles que pensam enquanto escrevem. Pensam para escrever. Muito vulgares. Em terceiro lugar, temos aqueles que pensaram antes de começar a escrever. Escrevem simplesmente porque pensaram. Muito raros.

Mesmo entre o pequeno número de escritores que pensam seriamente antes de começar a escrever, há extremamente poucos que pensam acerca do tema propriamente dito: os restantes pensam simplesmente em livros, naquilo que os outros disseram acerca do assunto. Necessitam, quer isso dizer, do estímulo próximo e poderoso das ideias produzidas por outras pessoas para conseguirem pensar. Essas ideias são, pois, o seu tema imediato, de modo que ficam constantemente sob a sua influência e, consequentemente, nunca alcançam a verdadeira originalidade. A minoria acima referida, por outro lado, é estimulada a pensar pelo tema em si, de modo que os seus pensamentos são dirigidos imediatamente para ele. Só entre esses se descobrem os escritores que perduram e se tornam imortais.
Só vale a pena ler a obra daquele que escreve directamente a partir da sua própria cabeça.

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O Homem não Deseja a Paz

Que estranho bicho o homem. O que ele mais deseja no convívio inter-humano não é afinal a paz, a concórdia, o sossego colectivo. O que ele deseja realmente é a guerra, o risco ao menos disso, e no fundo o desastre, o infortúnio. Ele não foi feito para a conquista de seja o que for, mas só para o conquistar seja o que for. Poucos homens afirmaram que a guerra é um bem (Hegel, por exemplo), mas é isso que no fundo desejam. A guerra é o perigo, o desafio ao destino, a possibilidade de triunfo, mas sobretudo a inquietação em acção. Da paz se diz que é «podre», porque é o estarmos recaídos sobre nós, a inactividade, a derrota que sobrevém não apenas ao que ficou derrotado, mas ainda ou sobretudo ao que venceu. O que ficou derrotado é o mais feliz pela necessidade iniludível de tentar de novo a sorte. Mas o que venceu não tem paz senão por algum tempo no seu coração alvoroçado. A guerra é o estado natural do bicho humano, ele não pode suportar a felicidade a que aspirou. Como o grupo de futebol, qualquer vitória alcançada é o estímulo insuportável para vencer outra vez.

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