Creio que o amor por uma paisagem pode ser sensual. Muitas coisas relevam da sexualidade. É um abismo. Mesmo a morte é um ato sexual, o mais virtuoso, o mais belo, o último.
Passagens sobre Belos
926 resultadosPlena Nudez
Eu amo os gregos tipos de escultura:
Pagãs nuas no mármore entalhadas;
Não essas produções que a estufa escura
Das modas cria, tortas e enfezadas.Quero um pleno esplendor, viço e frescura
Os corpos nus; as linhas onduladas
Livres: de carne exuberante e pura
Todas as saliências destacadas…Não quero, a Vênus opulenta e bela
De luxuriantes formas, entrevê-la
De transparente túnica através:Quero vê-la, sem pejo, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, os seios
Nus… toda nua, da cabeça aos pés!
Ardor Em Firme Coração Nascido
Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:Tu, que um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal, em chamas derretido.Se és fogo, como passas brandamente,
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!Pois para temperar a tirania,
Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.
Uma história triste agrada sempre. No seu sentido mais profundo, a vida é bela e alegre. Todos nós tivemos já a experiência disso milhares de vezes. Provas sobre provas de que não há primavera sem flores, nem outono sem frutos. Mas, apegados como estamos à aparência de tudo, esquecemos a voz do profundo, e ouvimos deliciados o som da superfície. Temos o vício da tristeza.
Para Voltar
A ver-te
Um só instante,
A ti,
Que és mais bela que a lua,
Antes que a manhã recolha
As estrelas
Uma a uma
E as guarde
Do outro lado do céu,Vou atravessar
O rio
Coberto de holofotes,
Que transformam o verde claro
Numa fosforescência
De água assustada.Se não me matarem
Nem me apanharem vivo,
Mantém-te alerta
Mantém alerta
O desejo mais antigo
e o mais novo.Vou passar
Do lado de fora
Da parede
Perfurada
Pelas balas:Passa-me um lenço
De seda
Com o teu perfume.Marca-o com o segredo
Dos teus lábios.
Queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre, e o desprezo da mulher.
A Grande Renúncia
Cedo ou tarde, a todo o homem chega a grande renúncia. Para o jovem não existe nada inalcançável. Que algo bom e desejado com toda a força de uma vontade apaixonada seja impossível, não lhe parece crível. Mas, ou por meio da morte ou da doença, da pobreza ou da voz do dever, cada um de nós é forçado a aprender que o mundo não foi feito para nós e que, não importa quão belas as coisas que almejamos, o destino pode, não obstante, proibi-las. É parte da coragem, quando a adversidade vem, suportá-la sem lamentar a derrocada das nossas esperanças, afastando os nossos pensamentos de vãos arrependimentos. Esse grau de submissão (…) não é somente justo e correcto: ele é o portal da sabedoria.
Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta?
O Sexo é um Caso Sério
Pensai no casal mais belo, mais encantador, como ele se atrai e se repele, se deseja e foge um do outro com graça num belo jogo de amor. Chega o instante da volúpia, e toda a brincadeira, toda a alegria graciosa e doce de súbito desapareceram. Porquê? Porque a volúpia é bestial, e a bestialidade não ri. As forças da natureza agem por toda a parte seriamente. A volúpia dos sentidos é o oposto do entusiasmo que nos abre o mundo ideal. O entusiasmo e a volúpia são graves e não comportam a brincadeira.
Mudar para Melhor
Acredito piamente que enquanto tivermos o privilégio de encher o peito de ar e respirar, de pisar o chão quente ou frio de cada estação, de ver as mil cores que temos à nossa frente, de ouvir as mais belas composições que a natureza tem para nos oferecer e de cheirar cada uma das maravilhosas fragrâncias que existem em nosso redor, acredito que enquanto isso nos for possível, enquanto nos for possível sentir desta maneira e com esta intensidade, é nossa obrigação mudar para melhor, abandonar o que trazemos vestido há anos ou desde sempre, revestirmo-nos de uma nova pele e escalar, escalar, escalar até nos aproximarmos do nosso céu, daquele manto estrelado e infinito que é o amor por nós mesmos, a plenitude, lugar onde habita, entre outras coisas, a nossa confiança.
O Meu Carácter
Cumpre-me agora dizer que espécie de homem sou. Não importa o meu nome, nem quaisquer outros pormenores externos que me digam respeito. É acerca do meu carácter que se impõe dizer algo.
Toda a constituição do meu espírito é de hesitação e dúvida. Para mim, nada é nem pode ser positivo; todas as coisas oscilam em torno de mim, e eu com elas, incerto para mim próprio. Tudo para mim é incoerência e mutação. Tudo é mistério, e tudo é prenhe de significado. Todas as coisas são «desconhecidas», símbolos do Desconhecido. O resultado é horror, mistério, um medo por de mais inteligente.
Pelas minhas tendências naturais, pelas circunstâncias que rodearam o alvor da minha vida, pela influência dos estudos feitos sob o seu impulso (estas mesmas tendências) – por tudo isto o meu carácter é do género interior, autocêntrico, mudo, não auto-suficiente mas perdido em si próprio. Toda a minha vida tem sido de passividade e sonho. Todo o meu carácter consiste no ódio, no horror e na incapacidade que impregna tudo aquilo que sou, física e mentalmente, para actos decisivos, para pensamentos definidos. Jamais tive uma decisão nascida do autodomínio, jamais traí externamente uma vontade consciente. Os meus escritos,
A verdade será um dia a força. «Saber é poder» é a mais bela divisa que alguma vez se disse.
A paciência é uma bela virtude muito da minha simpatia, se bem que pouco das minhas relações… Às vezes em 15 dias perde-se para sempre a felicidade ou pelo menos a ocasião dela.
O belo é o esplendor da ordem.
Poeminha de Insatisfação Absoluta
O que me dói
É que quando está tudo acabado
Pronto pronto
Não há nada acabado
Nem pronto pronto
Pintou-me a casa toda
Está tudo limpado
O armário fechado
A roupa arrumada
Tudo belo, perfeito.
E no mesmo instante
Em que aperfeiçoamos a perfeição
Uma lasca diminuta, ténue, microscópica,
Não sei onde,
Está começando
Na pintura da casa
E as traças, não sei onde,
Estão batendo asas
E a poeira, em geral, está caindo invisível,
E a ferrugem está comendo não sei quê
E não há jeito de parar.
Em todos os seus sonhos mais belos o homem nunca soube inventar coisa mais bela do que a natureza.
O homem tem o amor por asa, e por jugo o desejo. O homem não é um círculo concêntrico; é uma elipse de dois focos. Um, está representado pelos actos; o outro, pelas ideias. A humanidade tem dois pólos, o verdadeiro e o belo.
Arvore, Cujo Pomo, Belo E Brando
Arvore, cujo pomo, belo e brando,
natureza de leite e sangue pinta,
onde a pureza, de vergonha tinta,
está virgíneas faces imitando;nunca da ira e do vento, que arrancando
os troncos vão, o teu injúria sinta;
nem por malícia de ar te seja extinta
a cor, que está teu fruto debuxando;que, pois me emprestas doce e idóneo abrigo
a meu contentamento, e favoreces
com teu suave cheiro minha glória,se não te celebrar como mereces,
cantando te, sequer farei contigo
doce, nos casos tristes, a memória.
O crítico é aquele que é capaz de traduzir de uma outra maneira ou com novos materiais a sua emoção perante as coisas belas.
Aos Amores!
A vida que tudo arrasta os amores também
uns dão à costa, exaustos, outros vao mais além
navegadores só solitários dois a dois
heróis sem nome e até por isso heróisDesde que o John partiu a Rosinha passa mal
vive na Loneley Street, Heartbreak Hotel, Portugal
ainda em si mora a doce mentira do amor
tomou-lhe o gosto ao provar-lhe o saborOs amores são facas de dois gumes
têem de um lado a paixão, do outro os ciúmes
são desencantos que vivem encantados
como velas que ardem por dois ladosAos amores!
No convento as noviças cantam as madrugadas
e a bela monja escreve cartas arrebatadas
“é por virtude tua que tu és o meu vício
por ti eu lanço os ventos ao precipício”O Rui da Casa Pia sabe que sabe amar
sopra na franja, maneira de se pentear
vai à posta restante para ver quem lhe escreveu
foi uma bela monja que nunca conheceuAos amores!
(desordeiros irresistíveis deleituosos entranhantes
verdadeiros evitáveis buliçosos como dantes
bicolores transgressores impostores cantadores)A Marta,