Passagens sobre Calma

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Uma vida feliz deve ser em grande parte uma vida tranquila, pois sĂł numa atmosfera calma pode existir o verdadeiro prazer.

Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor… nĂŁo cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, como grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente

E de te amar assim, muito e amiĂşde
É que um dia em teu corpo, de repente
Hei-de morrer de amar mais do que pude.

Este Ă© o PrĂłlogo

Deixaria neste livro
toda minha alma.
Este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.

Que compaixĂŁo dos livros
que nos enchem as mĂŁos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam!

Que tristeza tĂŁo funda
é mirar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta!

Ver passar os espectros
de vidas que se apagam,
ver o homem despido
em Pégaso sem asas.

Ver a vida e a morte,
a sĂ­ntese do mundo,
que em espaços profundos
se miram e se abraçam.

Um livro de poemas
Ă© o outono morto:
os versos sĂŁo as folhas
negras em terras brancas,

e a voz que os lĂŞ
Ă© o sopro do vento
que lhes mete nos peitos
— entranháveis distâncias. —

O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchadas
de chorar o que ama.

O poeta é o médium
da Natureza-mĂŁe
que explica sua grandeza
por meio das palavras.

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Soneto Da Hora Final

Será assim, amiga: um certo dia
Estando nĂłs a contemplar o poente
Sentiremos no rosto, de repente,
O beijo leve de uma aragem fria.

Tu me olharás silenciosamente
E eu te olharei também, com nostalgia
E partiremos, tontos de poesia
Para a porta de trevas, aberta em frente.

Ao transpor as fronteiras do segredo
Eu, calmo, te direi: – NĂŁo tenhas medo
E tu, tranqĂĽila, me dirás: – SĂŞ forte.

E como dois antigos namorados
Noturnamente tristes e enlaçados
NĂłs entraremos nos jardins da morte.

Barrow-On-Furness V

Há quanto tempo, Portugal, há quanto
Vivemos separados! Ah, mas a alma,
Esta alma incerta, nunca forte ou calma,
NĂŁo se distrai de ti, nem bem nem tanto.

Sonho, histĂ©rico oculto, um vĂŁo recanto…
O rio Furness, que Ă© o que aqui banha,
SĂł ironicamente me acompanha,
Que estou parado e ele correndo tanto …

Tanto? Sim, tanto relativamente…
Arre, acabemos com as distinções,
As subtilezas, o interstĂ­cio, o entre,
A metafĂ­sica das sensações –

Acabemos com isto e tudo mais …
Ah, que ânsia humana de ser rio ou cais!

A minha mĂŁe: era o meu melhor amigo no verdadeiro sentido da palavra. NĂŁo era uma pessoa emotiva, era totalmente controlada, calma, em paz consigo e com o mundo.

Picadeiro

Estava sossegado lá no fundo
Do meu eu e de mim sem muita pressa
Nesses momentos calmos que circundo
Roteiro e enredo em ato que começa

Minha descida ao palco do meu mundo
Que venho e represento a farsa dessa
Comédia que é de arte em que aprofundo
A pena desgarrada em vĂŁ promessa

De bem cantar somente o mais fecundo
Sonho sonhado sem a dor expressa
Que a vida vai me dando num segundo

O desempenho em títere da peça
Neste papel de doce vagabundo
Que me faz rir da dor doída à beça.

Simplicidade

Queria, queria
Ter a singeleza
Das vidas sem alma
E a lĂşcida calma
Da matéria presa.

Queria, queria
Ser igual ao peixe
Que livre nas águas
Se mexe;

Ser igual em som,
Ser igual em graça
Ao pássaro leve,
Que esvoaça…

Tudo isso eu queria!
(Ser fraco Ă© ser forte).
Queria viver
E depois morrer
Sem nunca aprender
A gostar da morte.

A Moralidade dos Homens Exaustos

Parte do conservantismo da idade madura decorre da inteligĂŞncia, que afinal percebe a complexidade das instituições e as imperfeições do desejo; e parte vem do enfraquecimento das energias, o que explica a imaculada moralidade dos homens exaustos. A princĂ­pio com incredulidade, depois com desepero, vamos percebendo que o nosso reservatĂłrio de energia já nĂŁo se enche com a facilidade antiga; ou, como disse Schopenhauer, começamos a consumir o capital em vez da renda do capital. Essa descoberta anuvia por alguns anos o homem maduro e indu-lo a deblaterar contra a brevidade da vida e a impossibilidade de realização de grandes obras. Está ele já no alto da colina, de onde vĂŞ, lá no fundo, o fim inevitável – a morte. AtĂ© aquele momento nĂŁo admitia a morte, sĂł pensando nela como um tema acadĂ©mico, de desinteresse para os cofres. Subitamente tudo muda e começa a vĂŞ-la de perto, e por mais que se esforce para nĂŁo descer a colina, há que descĂŞ-la. Os seus olhos voltam-se para o passado, para os dias em que tudo era ascensĂŁo descuidosa; e compraz-se na companhia dos moços e crianças porque deles haure, passageira e incompletamente embora, um pouco do divino esquecimento da morte.

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Minha Finalidade

TurbilhĂŁo teleolĂłgico incoercĂ­vel,
Que força alguma inibitória acalma,
Levou-me o crânio e pôs-lhe dentro a palma
Dos que amam apreender o InapreensĂ­vel!

Predeterminação imprescriptível
Oriunda da infra-astral Substância calma
Plasmou, aparelhou, talhou minha alma
Para cantar de preferĂŞncia o HorrĂ­vel!

Na canonização emocionante,
Da dor humana, sou maior que Dante,
– A águia dos latifĂşndios florentinos!

Sistematizo, soluçando, o Inferno…
E trago em mim, num sincronismo eterno
A fĂłrmula de todos os destinos!

Leio, e sou límpido nas minhas intenções; o que há de febre na simples vida abandona-me; uma calma completa me invade. Todo o repouso da natureza está comigo.

Soneto a Vera

Estavas sempre aqui, nesta paisagem.
E nela permaneces, neste assombro
do tempo que só é o que já fomos,
um céu parado sobre o mar do instante.

Vives subitamente em despedida,
calma de sonhos, simples visitante
daquilo que te cerca e do que fica
imĂłvel no que Ă© breve, pouco e humano.

As regatas ao sol vĂŞm da penumbra
onde abria as janelas. E de entĂŁo,
vou ao campo de trevo, Ă  tua espera.

O que passa persiste no que tenho:
a roupa no estendal, o muro, os pombos,
tudo Ă© eterno quando nĂłs o vemos.

Meu Amor Estou Bem (Carta)

Lanço as palavras ao papel
como pescador calmo
lança os barcos ao rio.
SĂł no fundo, no fundo inviolado,
contraio e espalmo
as minhas mĂŁos, mĂŁos de afogado
morrendo Ă  sede.

– Meu amor estou bem –

Quanto te escrevo,
ponho os olhos no teu retrato
pendurado nos ferros da minha cama

para que as palavras tenham o sabor exacto
de quem me ouve,
de quem me fala,
de quem me chama.

– Meu amor estou bem –

Ontem vi a Primavera
numa flor cortada dos jardins.
Hoje, tenho nos ombros uma pedra
e um punhal nos rins.

– Meu amor estou bem –

Se a morte vier, querida amiga,
à minha beira, sem ninguém,
hei-de pedir-lhe que te diga:

– Meu amor estou bem –

Toda a Comunidade nos Torna Vulgares

Viver com uma imensa e orgulhosa calma; sempre para alĂ©m. – Ter e nĂŁo ter, arbitrariamente, os seus afectos, o seu prĂł e contra, condescender com eles por umas horas; montar sobre eles como em cavalos, frequentemente como em burros; – Ă© que se deve saber aproveitar a sua estupidez tal como a sua fogosidade. Conservar os seus trezentos primeiros planos; tambĂ©m os Ăłculos escuros; pois há casos em que ninguĂ©m nos deve olhar nos olhos e muito menos ainda nas nossas «razões». E escolher, para companhia, aquele vĂ­cio matreiro e sereno, a cortesia. E ficar senhor das suas quatro virtudes, a coragem, a perspicácia, a simpatia, a solidĂŁo. Pois a solidĂŁo Ă© entre nĂłs uma virtude, como tendĂŞncia e impulso sublimes do asseio que adivinha como, no contacto de homem para homem – «em sociedade» – tudo Ă©, inevitavelmente, sujo, Toda a comunidade nos torna de qualquer modo, em qualquer parte, em qualquer altura – «vulgares».

Sem um pensamento: apenas corpo se movimentando calmo, rosto pleno de uma suave esperança que ninguém dá e ninguém tira.