Uma vida feliz deve ser em grande parte uma vida tranquila, pois sĂł numa atmosfera calma pode existir o verdadeiro prazer.
Passagens sobre Calma
322 resultadosA calma vence a fĂşria.
Soneto do Amor Total
Amo-te tanto, meu amor… nĂŁo cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, como grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanenteE de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo, de repente
Hei-de morrer de amar mais do que pude.
Este Ă© o PrĂłlogo
Deixaria neste livro
toda minha alma.
Este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.Que compaixĂŁo dos livros
que nos enchem as mĂŁos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam!Que tristeza tĂŁo funda
é mirar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta!Ver passar os espectros
de vidas que se apagam,
ver o homem despido
em Pégaso sem asas.Ver a vida e a morte,
a sĂntese do mundo,
que em espaços profundos
se miram e se abraçam.Um livro de poemas
Ă© o outono morto:
os versos sĂŁo as folhas
negras em terras brancas,e a voz que os lĂŞ
Ă© o sopro do vento
que lhes mete nos peitos
— entranháveis distâncias. —O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchadas
de chorar o que ama.O poeta é o médium
da Natureza-mĂŁe
que explica sua grandeza
por meio das palavras.
Calma, que o Brasil Ă© nosso.
Soneto Da Hora Final
Será assim, amiga: um certo dia
Estando nĂłs a contemplar o poente
Sentiremos no rosto, de repente,
O beijo leve de uma aragem fria.Tu me olharás silenciosamente
E eu te olharei também, com nostalgia
E partiremos, tontos de poesia
Para a porta de trevas, aberta em frente.Ao transpor as fronteiras do segredo
Eu, calmo, te direi: – NĂŁo tenhas medo
E tu, tranqĂĽila, me dirás: – SĂŞ forte.E como dois antigos namorados
Noturnamente tristes e enlaçados
NĂłs entraremos nos jardins da morte.
Calma de Deus Ă© grande e o mundo Ă© pequeno.
Barrow-On-Furness V
Há quanto tempo, Portugal, há quanto
Vivemos separados! Ah, mas a alma,
Esta alma incerta, nunca forte ou calma,
NĂŁo se distrai de ti, nem bem nem tanto.Sonho, histĂ©rico oculto, um vĂŁo recanto…
O rio Furness, que Ă© o que aqui banha,
SĂł ironicamente me acompanha,
Que estou parado e ele correndo tanto …Tanto? Sim, tanto relativamente…
Arre, acabemos com as distinções,
As subtilezas, o interstĂcio, o entre,
A metafĂsica das sensações –Acabemos com isto e tudo mais …
Ah, que ânsia humana de ser rio ou cais!
A minha mĂŁe: era o meu melhor amigo no verdadeiro sentido da palavra. NĂŁo era uma pessoa emotiva, era totalmente controlada, calma, em paz consigo e com o mundo.
Picadeiro
Estava sossegado lá no fundo
Do meu eu e de mim sem muita pressa
Nesses momentos calmos que circundo
Roteiro e enredo em ato que começaMinha descida ao palco do meu mundo
Que venho e represento a farsa dessa
Comédia que é de arte em que aprofundo
A pena desgarrada em vĂŁ promessaDe bem cantar somente o mais fecundo
Sonho sonhado sem a dor expressa
Que a vida vai me dando num segundoO desempenho em tĂtere da peça
Neste papel de doce vagabundo
Que me faz rir da dor doĂda Ă beça.
Simplicidade
Queria, queria
Ter a singeleza
Das vidas sem alma
E a lĂşcida calma
Da matéria presa.Queria, queria
Ser igual ao peixe
Que livre nas águas
Se mexe;Ser igual em som,
Ser igual em graça
Ao pássaro leve,
Que esvoaça…Tudo isso eu queria!
(Ser fraco Ă© ser forte).
Queria viver
E depois morrer
Sem nunca aprender
A gostar da morte.
A Esterilidade do Quotidiano
Rara será a existĂŞncia que actualmente se nĂŁo deixe balouçar ao sabor das correntes, cada hora impelida a um rumo diferente pela Ăşltima notĂcia que se leu ou pela Ăşltima conversa que se teve. Sem fim a que aponte, a alma da maioria dos homens flutua na vida com a fraca vontade e a gelatinosa consistĂŞncia das medusas; um dia se sucede a outro dia sem que o viver represente uma conquista, sem que a manhĂŁ que renasce seja uma criação do nosso prĂłprio espĂrito e nĂŁo o fenĂłmeno exterior que passivamente se aceita e que por hábito nos impele a um determinado nĂşmero de acções; desfez-se a crença em que o mundo Ă© formado pelo homem, em que o reino de Deus terá de ser obtido, nĂŁo como uma dádiva dependente do arbĂtrio de um ente superior, mas como a paciente, firme, contĂnua construção dos seus futuros habitantes. DaĂ a facilidade das entregas aos que ainda aparecem com dedos de escultor, daĂ os desânimos e as indiferenças, daĂ o supor-se que apenas surgimos no mundo para nos garantirmos, diariamente, um almoço, um jantar e uma casa; perdem-se as almas nas tarefas inferiores do existir, nenhuma grande aspiração de beleza,
A Moralidade dos Homens Exaustos
Parte do conservantismo da idade madura decorre da inteligĂŞncia, que afinal percebe a complexidade das instituições e as imperfeições do desejo; e parte vem do enfraquecimento das energias, o que explica a imaculada moralidade dos homens exaustos. A princĂpio com incredulidade, depois com desepero, vamos percebendo que o nosso reservatĂłrio de energia já nĂŁo se enche com a facilidade antiga; ou, como disse Schopenhauer, começamos a consumir o capital em vez da renda do capital. Essa descoberta anuvia por alguns anos o homem maduro e indu-lo a deblaterar contra a brevidade da vida e a impossibilidade de realização de grandes obras. Está ele já no alto da colina, de onde vĂŞ, lá no fundo, o fim inevitável – a morte. AtĂ© aquele momento nĂŁo admitia a morte, sĂł pensando nela como um tema acadĂ©mico, de desinteresse para os cofres. Subitamente tudo muda e começa a vĂŞ-la de perto, e por mais que se esforce para nĂŁo descer a colina, há que descĂŞ-la. Os seus olhos voltam-se para o passado, para os dias em que tudo era ascensĂŁo descuidosa; e compraz-se na companhia dos moços e crianças porque deles haure, passageira e incompletamente embora, um pouco do divino esquecimento da morte.
Quando o mar está calmo, qualquer um pode ser timoneiro.
Minha Finalidade
TurbilhĂŁo teleolĂłgico incoercĂvel,
Que força alguma inibitória acalma,
Levou-me o crânio e pôs-lhe dentro a palma
Dos que amam apreender o InapreensĂvel!Predeterminação imprescriptĂvel
Oriunda da infra-astral Substância calma
Plasmou, aparelhou, talhou minha alma
Para cantar de preferĂŞncia o HorrĂvel!Na canonização emocionante,
Da dor humana, sou maior que Dante,
– A águia dos latifĂşndios florentinos!Sistematizo, soluçando, o Inferno…
E trago em mim, num sincronismo eterno
A fĂłrmula de todos os destinos!
Leio, e sou lĂmpido nas minhas intenções; o que há de febre na simples vida abandona-me; uma calma completa me invade. Todo o repouso da natureza está comigo.
Soneto a Vera
Estavas sempre aqui, nesta paisagem.
E nela permaneces, neste assombro
do tempo que só é o que já fomos,
um céu parado sobre o mar do instante.Vives subitamente em despedida,
calma de sonhos, simples visitante
daquilo que te cerca e do que fica
imĂłvel no que Ă© breve, pouco e humano.As regatas ao sol vĂŞm da penumbra
onde abria as janelas. E de entĂŁo,
vou ao campo de trevo, Ă tua espera.O que passa persiste no que tenho:
a roupa no estendal, o muro, os pombos,
tudo Ă© eterno quando nĂłs o vemos.
Meu Amor Estou Bem (Carta)
Lanço as palavras ao papel
como pescador calmo
lança os barcos ao rio.
SĂł no fundo, no fundo inviolado,
contraio e espalmo
as minhas mĂŁos, mĂŁos de afogado
morrendo à sede.– Meu amor estou bem –
Quanto te escrevo,
ponho os olhos no teu retrato
pendurado nos ferros da minha camapara que as palavras tenham o sabor exacto
de quem me ouve,
de quem me fala,
de quem me chama.– Meu amor estou bem –
Ontem vi a Primavera
numa flor cortada dos jardins.
Hoje, tenho nos ombros uma pedra
e um punhal nos rins.– Meu amor estou bem –
Se a morte vier, querida amiga,
à minha beira, sem ninguém,
hei-de pedir-lhe que te diga:– Meu amor estou bem –
Toda a Comunidade nos Torna Vulgares
Viver com uma imensa e orgulhosa calma; sempre para alĂ©m. – Ter e nĂŁo ter, arbitrariamente, os seus afectos, o seu prĂł e contra, condescender com eles por umas horas; montar sobre eles como em cavalos, frequentemente como em burros; – Ă© que se deve saber aproveitar a sua estupidez tal como a sua fogosidade. Conservar os seus trezentos primeiros planos; tambĂ©m os Ăłculos escuros; pois há casos em que ninguĂ©m nos deve olhar nos olhos e muito menos ainda nas nossas «razões». E escolher, para companhia, aquele vĂcio matreiro e sereno, a cortesia. E ficar senhor das suas quatro virtudes, a coragem, a perspicácia, a simpatia, a solidĂŁo. Pois a solidĂŁo Ă© entre nĂłs uma virtude, como tendĂŞncia e impulso sublimes do asseio que adivinha como, no contacto de homem para homem – «em sociedade» – tudo Ă©, inevitavelmente, sujo, Toda a comunidade nos torna de qualquer modo, em qualquer parte, em qualquer altura – «vulgares».
Sem um pensamento: apenas corpo se movimentando calmo, rosto pleno de uma suave esperança que ninguém dá e ninguém tira.