Olhem o cĂ©u. Perguntem a si mesmos: O carneiro terĂĄ ou nĂŁo comido a flor? E verĂŁo como tudo fica diferente… E nenhuma pessoa grande jamais entenderĂĄ que isso possa ter tanta importĂąncia!
Passagens sobre Céu
1151 resultadosO dinheiro compra um mausoléu, mas não um lugar no céu.
Flores Velhas
Fui ontem visitar o jardinzinho agreste,
Aonde tanta vez a lua nos beijou,
E em tudo vi sorrir o amor que tu me deste,
Soberba como um sol, serena como um vĂŽo.Em tudo cintilava o lĂmpido poema
Com Ăłsculos rimado Ă s luzes dos planetas:
A abelha inda zumbia em torno da alfazema;
E ondulava o matiz das leves borboletas.Em tudo eu pude ver ainda a tua imagem,
A imagem que inspirava os castos madrigais;
E as vibraçÔes, o rio, os astros, a paisagem,
Traziam-me Ă memĂłria idĂlios imortais.E nosso bom romance escrito num desterro,
Com beijos sem ruĂdo em noites sem luar,
Fizeram-mo reler, mais tristes que um enterro,
Os goivos, a baunilha e as rosas-de-toucar.Mas tu agora nunca, ah! Nunca mais te sentas
Nos bancos de tijolo em musgo atapetados,
E eu nĂŁo te beijarei, Ă s horas sonolentas,
Os dedos de marfim, polidos e delgados…Eu, por nĂŁo ter sabido amar os movimentos
Da estrofe mais ideal das harmonias mudas,
Eu sinto as decepçÔes e os grandes desalentos
E tenho um riso meu como o sorrir de Judas.
Intimidade
Meu coração tem quantos versos quer;
Ă sĂł pulsĂĄ-los com medida e rumo.
à só erguer-se a pino a um céu qualquer,
E desse alado azul cair a prumo.Logo se desvanece o negro encanto
Que os tinha ocultos no condĂŁo da bruma;
Logo o seu corpo esguio rasga o manto,
E mostra a humanidade que ressuma.Mas quanto ele sangra para os orvalhar
De ternura, de sonho e de ilusĂŁo,
SĂŁo outros versos. . . para segredar
A quem Ă© seu irmĂŁo.
Agarrei no ar…
Agarrei no ar um véu
esmaecido de azul,
igual ao azul do céu
iluminado pela lua.Eu passo a vida a sonhar
iluminado pela lua.
Canto dos EspĂritos sobre as Ăguas
A alma do homem
Ă como a ĂĄgua:
Do céu vem,
Ao céu sobe,
E de novo tem
Que descer Ă terra,
Em mudança eterna.Corre do alto
Rochedo a pino
O veio puro,
EntĂŁo em belo
Pó de ondas de névoa
Desce Ă rocha liza,
E acolhido de manso
Vai, tudo velando,
Em baixo murmĂșrio,
LĂĄ para as profundas.Erguem-se penhascos
De encontro Ă queda,
â Vai, ‘spĂșmando em raiva,
Degrau em degrau
Para o abismo.No leito baixo
Desliza ao longo do vale relvado,
E no lago manso
Pascem seu rosto
Os astros todos.Vento Ă© da vaga
O belo amante;
Vento mistura do fundo ao cimo
Ondas ‘spumantes.Alma do Homem,
Ăs bem como a ĂĄgua!
Destino do homem,
Ăs bem como o vento!Tradução de Paulo Quintela
Céu de primavera. Nas açucenas floridas dura mais o orvalho.
Ao PĂ© Do TĂșmulo
Aos meus
Eis o descanso eterno, o doce abrigo
Das almas tristes e despedaçadas;
Eis o repouso, enfim; e o sono amigo
JĂĄ vem cerrar-me as pĂĄlpebras cansadas.Amarguras da terra! eu me desligo
Para sempre de vĂłs… Almas amadas
Que soluças por mim, eu vos bendigo,
Ă almas de minh’alma abençoadas.Quando eu d’aqui me for, anjos da guarda,
Quando vier a morte que nĂŁo tarda
Roubar-me a vida para nunca mais…Em pranto escrevam sobre a minha lousa:
“Longe da mĂĄgoa, enfim, no cĂ©u repousa
Quem sofreu muito e quem amou demais”.
Natal
1
A voz clamava no Deserto.
E outra Voz mais suave,
LĂrio a abrir, esvoaçar incerto,
TĂmido e alvente, de ave
Que larga o ninho, melodia
Nascente, docemente,
Uma outra Voz se erguia…A voz clamava no Deserto…
Anunciando
A outra Voz que vinha:
Balbuciar de fonte pequenina,
Dando
Ă luz da Terra o seu primeiro beijo…
InefĂĄvel anĂșncio, dealbando
Entre as estrelas moribundas.2
Das entranhas profundas
Do Mundo, eco do Verbo, a profecia,
– Ă distĂąncia de SĂ©culos, – dizia,
Pressentia
Fragor de sismos, o dum mundo ruindo,
Redimindo
Os cĂĄrceres do mundo…A voz dura e ardente
Clamava no Deserto…Natal de Primavera,
A nova Luz nascera.
Voz do céu, Luz radiante,
Mais humana e mais doce
E irmĂŁ dos Poetas
Que a voz trovejante
Dos profetas
SolitĂĄrios.3
A divina alvorada
Trazia
LĂrios no regaço
E rosas.
Natal. Primeiro passo
Da secular Jornada,
Era um canto de Amor
A anunciar CalvĂĄrios,
Ninguém tem direito à felicidade, apenas o dever de ser digno dela através do amor. Por entre mil sofrimentos, amar é sentir o céu no coração. Sempre que alguém leva aos outros motivo de alegria verdadeira a sua ação é virtuosa e, portanto, feliz.
Teus Olhos
Olhos do meu Amor! Infantes loiros
Que trazem os meus presos, endoidados!
Neles deixei, um dia, os meus tesoiros:
Meus anéis, minhas rendas, meus brocados.Neles ficaram meus palåcios moiros,
Meus carros de combate, destroçados,
Os meus diamantes, todos os meus oiros
Que trouxe d’AlĂ©m-Mundos ignorados!Olhos do meu Amor! Fontes… cisternas..
EnigmĂĄticas campas medievais…
Jardins de Espanha… catedrais eternas…Berço vinde do cĂ©u Ă minha porta…
Ă meu leite de nĂșpcias irreais!…
Meu sumptuoso tĂșmulo de morta!…
NĂłs nunca nos realizamos. Somos dois abismos – um poço fitando o cĂ©u.
A Tempestade
Cobre-se ó céu de grossas negras nuvens,
Os ventos mais e mais cada hora crescem,
Jå se escurece o céu, jå. com soberba
Inchadas grossas ondas se levantam.
A nau começa jå passar trabalho,
Jå começa gemer, e em tal afronta
O apito soa, brada o mestre, acodem
Com presteza varÔes no mar expertos.
PÔe-se o fero Vulturno junto ao cabo,
Levanta lå no céu furiosas ondas;
Austro bramando corre ali com fĂșria,
Dando um balanço à nau que quase a rende,
Vem com grande furor BĂłreas raivoso,
Comete por davante, o passo impide,
Encontra as grandes velas, e, por força,
Ao mastro as pega e a nau atrĂĄs empuxa:
Rompe-se por mil partes o céu, e arde
Em ligeiro, apressado, vivo fogo.
Um rugido espantoso vai correndo
Desde o AntĂĄrctico PĂłlo ao seu oposto.
Arremessam-se lanças pelos ares
De congelada pedra em ĂĄgua envolta;
Com espantoso Ămpeto, e rasgadas
As densas negras nuvens raios cospem:
De um golpe as velas vĂȘm todas abaixo.
O cĂ©u nĂŁo Ă© aqui, mas começamos a vivĂȘ-lo aqui, aqui seria como uma ante-sala, logo sairemos dela e experimentaremos de fato o que realmente nos espera.
O Céu, A Terra, O Vento Sossegado
O cĂ©u, a terra, o vento sossegado…
As ondas, que se estendem pela areia…
Os peixes, que no mar o sono enfreia…
O nocturno silĂȘncio repousado…O pescador AĂłnio, que, deitado
onde co vento a ĂĄgua se meneia,
chorando, o nome amado em vĂŁo nomeia,
que nĂŁo pode ser mais que nomeado:Ondas (dezia), antes que Amor me mate,
torna-me a minha Ninfa, que tĂŁo cedo
me fizestes à morte estar sujeita.Ninguém lhe fala; o mar de longe bate;
move-se brandamente o arvoredo;
leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.
Ărvores sĂŁo poemas que a terra escreve para o cĂ©u. NĂłs as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo nosso vazio.
As Minhas MĂŁos
As minhas mĂŁos magritas, afiladas,
TĂŁo brancas como a ĂĄgua da nascente,
Lembram pĂĄlidas rosas entornadas
Dum regaço de Infanta do Oriente.Mãos de ninfa, de fada, de vidente,
Pobrezinhas em sedas enroladas,
Virgens mortas em luz amortalhadas
Pelas prĂłprias mĂŁos de oiro do sol-poente.Magras e brancas… Foram assim feitas…
MĂŁos de enjeitada porque tu me enjeitas…
TĂŁo doces que elas sĂŁo! TĂŁo a meu gosto!Pra que as quero eu – Deus! – Pra que as quero eu?!
à minhas mãos, aonde estå o céu?
…Aonde estĂŁo as linhas do teu rosto?
Retrato de D. Leonor de SĂĄ
Criava-se Leonor, crescendo sempre
Em suma perfeição, suma beleza,
E crescendo só nela as outras graças
Por grandes fermosuras repartidas,
Produziam-se dos seus fermosos olhos
Efeitos mil, e extremos diferentes,
Que olhando davam vida, e outras vezes
Olhando cem mil vidas destruĂam.
A branca cor do rosto acompanhada
De uma cor natural honesta e pura,
E a cabeça de crespo ouro coberta,
Lembrança do mais alto céu faziam.
PraxĂteles nem FĂdias nĂŁo lavraram
De branquĂssimo mĂĄrmore igual corpo;
Nem aquele, que Zuxis entre tantas
Fermosuras deixou por mais perfeito,
NĂŁo se igualava a este, antes ficava
Abatido, e julgado em pouco preço;
Que mal pode igualar-se humano engenho
Co’aquilo, em que Deus tal saber nos mostra.
Da boca o suave riso alegra os ares,
Mostrando entre rubis orientais perlas
E sobre tudo, quanto a natureza
Lhe deu perfeito, a graça se avantaja.
No peito ebĂșrneo as pomas, que em brancura
Levam da neve o justo preço e a palma,
Apartando-se, deixam de açucena
AlvĂssima um florido e fresco vale.
Quem pode (sem perder-se) louvar cousa
Onde nĂŁo chega humano entendimento?
à melhor reinar no inferno do que servir no céu.
Saudade Extrema
1
Gentil Rola, que sobre o ramo seco,
Desse viĂșvo freixo, brandas queixas
Espalhas toda a noite, e escutas o eco
Repetir-te mavioso iguais endechas:2
NĂŁo chores. Ouve a meu saudoso canto,
Que excede quanta mĂĄgoa arroja a sorte:
Ninguém, como eu padece extremo tanto,
Que a ninguém roubou tanto a crua Morte,3
Tu viste MĂĄrcia: a MĂĄrcia, oh Rola, ouviste,
Quanta beleza, oh Céus! quanta doçura!
Tem coração de bronze quem resiste
Ă dor de a ver no horror da sepultura.4
Tu podes ter formosa companhia
Terna e fiel. Filinto desgraçado
Te perdeu a sperança lisonjeira
De achar MĂĄrcia em transunto inanimado.