A Seriedade é uma Doença
A seriedade Ă© uma doença, e o mais sĂ©rio dos animais Ă© o burro. NinguĂ©m lhe tira, nem com afagos nem com a chibata aquele semblante cabido de mágoas recĂ´nditas que o ralam no seu peito. Há nele a linha, o perfil do sábio refugado no concurso ao magistĂ©rio, do candidato á camara baixa bigodeado pela perfĂdia de eleitores que, saturados de genebra e Carta constitucional, desde a taberna atĂ© Ă urna, fermentaram a crisálida de consciĂŞncias novas. O burro Ă© assim triste por fora; mas Ă© feliz por dentro, e riria dos seus homĂłnimos, se pudesse igualá-os na faculdade de rir, que Ă© exclusiva do homem e da hiena, a qual ri com umas exultações ferozes tĂŁo autĂŞnticas como as lágrimas insidiosas do crocodilo.
Passagens sobre Doença
314 resultadosO tédio é a doença dos corações sem sentimentos e das almas pobres.
É uma doença natural no homem acreditar que possui a verdade.
Desde a forma dos dentes Ă capacidade do estĂ´mago e Ă s dimensões do intestino, como dados anatĂłmicos em referĂŞncia Ă comparação da sĂ©rie animal de que o homem Ă© primaz – tudo demonstra que o gĂ©nero humano nĂŁo Ă© omnĂvoro. A dentadura Ă© semelhante Ă dos sĂmios antropĂłides que se alimentam de frutos; e se os obrigarmos a serem carnĂvoros, imediatamente estigmas de degenerescĂŞncia se notam, doenças de pele, a queda dos pelos, o reumático e outras manifestações de artritismo.
Praticamente todas as doenças decorrem da irregularidade do metabolismo. Mas o metabolismo pode ser regularizado facilmente pela ação da mente.
Doente
Que negro mal o meu! estou cada vez mais rouco!
Fogem de mim com asco as virgens d’olhar cálido…
E os velhos, quando passo, vendo-me tão pálido,
Comentam entre si: – coitado, está por pouco!…Por isso tenho Ăłdio a quem tiver saĂşde,
Por isso tenho raiva a quem viver ditoso,
E, odiando toda a gente, eu amo o tuberculoso.
E sĂł estou contente ouvindo um alaĂşde.Cada vez que me estudo encontro-me diferente,
Quando olham para mim é certo que estremeço;
E vai, pensando bem, sou, como toda a gente,
O contrário talvez daquilo que pareço…EspĂrito irrequieto, fantasia ardente,
Adoro como Poe as doidas criações,
E se nĂŁo bebo absinto Ă© porque estou doente,
Que eu tenho como ele horror às multidões.E amando doudamente as formas incompletas
Que Ă s vezes nĂŁo consigo, enfim, realizar,
Eu sinto-me banal ao pé dos mais poetas,
E, achando-me incapaz, deixo de trabalhar…SĂŁo filhos do meu tĂ©dio e duma dor qualquer
Meus sonhos de neurose horrivelmente histéricos
Como as larvas ruins dos corpos cadavéricos,
A doença bem tratada, poucas vezes é demorada.
A boa saúde é mais agradável àqueles que retornaram de grave doença do que àqueles que nunca tiveram o corpo doente.
Quase todos os homens morrem de seus remédios, não de suas doenças.
Aquele que tem o rosto marcado por cicatrizes ou doença nĂŁo precisa se olhar no espelho para treinar o sorriso. Basta olhar para a parte mais positiva que possui. Quem tem o corpo todo coberto de marcas ou cicatrizes, deve fechar os olhos para esses defeitos, parar de pensar no seu corpo, e passar a visualizar nĂtida e realisticamente o resplendor de sua Imagem Verdadeira (o corpo carnal Ă© imagem transitĂłria e a Vida Ă© a Imagem Verdadeira).
O Valor Natural do EgoĂsmo
O egoĂsmo vale o que valer fisiologicamente quem o pratica: pode ser muito valioso, e pode carecer de valor e ser desprezĂvel. E lĂcito submeter a exame todo o indivĂduo para se determinar se representa a linha ascendente ou a linha descendente da vida. Quando se conclui a apreciação sobre este ponto possui-se tambĂ©m um cânone para medir o valor que tem o seu egoĂsmo. Se se encontra na linha ascendente, entĂŁo o valor do seu egoĂsmo Ă© efectivamente extraordinário, — e por amor Ă vida no seu conjunto, que com ele progride, Ă© lĂcito que seja mesmo levada ao extremo a preocupação por conservar, por criar o seu optimum de condições vitais. O homem isolado, o «indivĂduo», tal como o conceberam atĂ© hoje o povo e o filĂłsofo, Ă©, com efeito, um erro: nenhuma coisa existe por si, nĂŁo Ă© um átomo, um «elo da cadeia», nĂŁo Ă© algo simplesmente herdado do passado, — Ă© sim a inteira e Ăşnica linhagem do homem atĂ© chegar a ele mesmo… Se representa a evolução descendente, a decadĂŞncia, a degeneração crĂłnica, a doença (— as doenças sĂŁo já, de um modo geral, sintoma da decadĂŞncia, nĂŁo causas desta), entĂŁo o seu valor Ă© fraco,
Males de Anto
A Ares n’uma aldeia
Quando cheguei, aqui, Santo Deus! como eu vinha!
Nem mesmo sei dizer que doença era a minha,
Porque eram todas, eu sei lá! desde o odio ao tedio.
Molestias d’alma para as quaes nĂŁo ha remedio.
Nada compunha! Nada, nada. Que tormento!
Dir-se-ia accaso que perdera o meu talento:
No entanto, ás vezes, os meus nervos gastos, velhos,
Convulsionavam-nos relampagos vermelhos,
Que eram, bem o sentia, instantes de Camões!
Sei de cór e salteado as minhas afflicções:
Quiz partir, professar n’um convento de Italia,
Ir pelo Mundo, com os pĂ©s n’uma sandalia…
Comia terra, embebedava-me com luz!
Extasis, spasmos da Thereza de Jezus!
Contei n’aquelle dia um cento de desgraças.
Andava, á noite, só, bebia a noite ás taças.
O meu cavaco era o dos mortos, o das loizas.
Odiava os homens ainda mais, odiava as Coizas.
Nojo de tudo, horror! Trazia sempre luvas
(Na aldeia, sim!) para pegar n’um cacho d’uvas,
Ou n’uma flor. Por cauza d’essas mĂŁos… Perdoae-me,
Aldeões! eu sei que vós sois puros. Desculpae-me.Mas, atravez da minha dor,
Tu És Deus
Tu, sim, és o Deus que vale a pena: o Deus que quer e consegue ser luz mesmo quando só parecia que conseguiria ser escuridão; o Deus que ama, que atrai, que exalta, que rompe, que geme. O Deus que faz milagres com um sorriso, que cura doenças com um abraço, que ergue pontes com um afago. O Deus que faz da ternura uma prece, da partilha um santuário. É isso, um Deus que faz milagres desde que queira, de verdade, fazer milagres, o que tu és. Oremos, irmão.
Chegou a hora de seres a-teu. A teu. É a teu cargo que está criar o mundo. Todos os dias tens essa possibilidade, todos os dias nasces com essa força dentro de ti. Todos os dias és omnipotente: podes criar o teu mundo. E podes criá-lo exactamente igual ao que era antes e podes criá-lo completamente diferente do que era antes. Todos os dias crias um mundo, todos os dias tens o maior dos poderes nas tuas mãos. Como é que raios ainda não tinhas percebido que eras Deus? A teu. Ouve, recolhe, assimila: a teu. É tudo teu. Tudo o que és é teu. A teu. Sê a-teu.
A Grande Vantagem da Vida
– A grande vantagem da vida Ă© ensinar-nos outra vez a chorar. A vida infantiliza. Fica-se maior no que nos faz ser mais pequenos. Cresce-se fora o que se vai perdendo por dentro. Passamos a infância a querer crescer, a adolescĂŞncia a querer crescer. E depois percebemos que sĂł quer crescer quem ainda se sente pequeno. Um adulto sente-se pequeno mas pensa ao contrário. Sente-se pequeno e quer ficar mais pequeno. Voltar ao tempo em que havia sonhos.
– Onde se perdem os sonhos?
– Todos os sonhos se perdem. Mesmo aqueles que vais ganhar, e vais ganhar muitos, se vão perder. Porque já deixaram de ser sonhos. Sonhaste aquilo, tiveste aquilo. E acabou. Lá se foi o sonho. O segredo é conseguir gerar novos sonhos. Sonhos que consigam ocupar o espaço em branco deixado pelo sonho perdido.
– Mesmo que tenha sido ganho.
– Mesmo que tenha sido ganho.
– Queria ser como tu.
– E eu queria ser como tu. Queria olhar para a frente e ver que o caminho não acaba, o caminho a perder de vista.
– O teu não se perde de vista?
– O meu faz-me perder a vista.