Passagens sobre Entendimento

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Temos de Ser Mais Humanos

Abram os olhos. Somos umas bestas. No mau sentido. Somos primitivos. Somos primários. Por nossa causa corre um oceano de sangue todos os dias. Não é auscultando todos os nossos instintos ou encorajando a nossa natureza biológica a manifestar-se que conseguiremos afastar-nos da crueza da nossa condição. É lendo Platão. E construindo pontes suspensas. É tendo insónias. É desenvolvendo paranóias, conceitos filosóficos, poemas, desequilíbrios neuroquímicos insanáveis, frisos de portas, birras de amor, grafismos, sistemas políticos, receitas de bacalhau, pormenores.

É engraçado como cada época se foi considerando «de charneira» ao longo da história. A pretensão de se ser definitivo, a arrogância de ser «o último», a vaidade de se ser futuro é, há milénios, a mesmíssima cantiga.
Temos de ser mais humanos. Reconhecer que somos as bestas que somos e arrependermo-nos disso. Temos de nos reduzir à nossa miserável insensibilidade, à pobreza dos nossos meios de entendimento e explicação, à brutalidade imperdoável dos nossos actos. O nosso pé foge-nos para o chinelo porque ainda não se acostumou a prender-se aos troncos das árvores, quanto mais habituar-se a usar sapato.

A única atitude verdadeiramente civilizada é a fraqueza, a curiosidade, o desespero, a experiência, o amor desinteressado,

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O Último Número

Hora da minha morte. Hirta, ao meu lado,
A idéia estertorava-se… No fundo
Do meu entendimento moribundo
jazia o último número cansado.

Era de vê-lo, imóvel, resignado,
Tragicamente de si mesmo oriundo,
Fora da sucessão, estranho ao mundo,
Com o reflexo fúnebre do Increado:

Bradei: – Que fazes ainda no meu crânio?
E o último número, atro e subterrâneo,
Parecia dizer-me: “É tarde, amigo!

Pois que a minha ontogênica Grandeza
Nunca vibrou em tua língua presa,
Não te abandono mais! Morro contigo!”

Prudência é o Saber Acomodar

Espaçosa esfera é a do entendimento para discorrer por todos os objectos, e contudo tem seus intervalos em que acha comodidades o corpo: não descansa este no silêncio da noite, sem que aquele se esconda no mais interior da alma. Ainda o discorrer demasiado, dando voltas ao entendimento, é arriscar a que dê o entendimento uma volta; e como é arriscado o discorrer sem termo, não é o menos perigoso o luzir sem pausa. Seus intervalos hão-de ter os luzimentos grandes, e nem por isso deixarão de ser lúcidos intervalos, quando o saber acomodar é para melhor luzir; por isso o Sol é o melhor dos planetas, porque sabe acomodar suas luzes à dureza do diamante, como à brandura da cera; e os mesmos raios que infundem a dureza no bronze, se acomodam aos melindres de uma flor. Prudência é o saber acomodar, para melhor luzir e viver.
Brilhar com demasiado luzimento nas acções, mais estorva os aplausos do que os granjeia; porque, na opinião de Séneca, não sabem os homens aplaudir senão aquilo que só podem imitar. Com ser a luz do Sol o mais agradável objecto à vista, contudo, se é grande o excesso de seus ardores,

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O Limite da Lógica

O critério simplesmente lógico da verdade, isto é, o acordo de um conhecimento com as leis gerais e formais do entendimento e da razão, é, decerto, a condition sine qua non e, portanto, a condição negativa de qualquer verdade; mas a lógica não pode ir mais além; nenhuma pedra de toque lhe permite descobrir o erro que atinge não a forma, mas o conteúdo.

A sincronicidade não é mais enigmática nem mais misteriosa do que as descontinuidades da Física. É apenas nossa convicção arraigada do poder absoluto da casualidade que cria as dificuldades ao nosso entendimento e nos faz parecer que não existem nem podem existir acontecimentos acausais.

O Tempo Vivido

Para mim, filosoficamente (se posso ter a pretensão de usar tal palavra), o presente não existe. Só o tempo passado é que é tempo «reconhecível» — o tempo que «vem», porque «vai», não se detém, não fica presente. Portanto, para o escritor que eu sou, não se trata de «recuperar» o passado, e muito menos de querer fazer dele lição do presente. O tempo vivido (e apenas ele, do ponto de vista humano, é tempo «de facto») apresenta-se unificado ao nosso entendimento, simultaneamente completo e em crescimento contínuo. Desse tempo que assim se vai acumulando é que somos o produto infalível, não de um inapreensível presente.

Os brutos distinguem-se dos homens, em que os homens se governam pelo entendimento, e os brutos pelos sentidos.

O erro, por brilhante que pareça, é uma ilusão que se desvanece à medida que o entendimento se aproxima.

Não Amar nem Odiar

Se possível, não devemos alimentar animosidade contra ninguém, mas observar bem e guardar na memória os procedimentos de cada pessoa, para então fixarmos o seu valor, pelo menos naquilo que nos concerne, regulando, assim, a nossa conduta e atitude em relação a ela, sempre convencidos da imutabilidade do carácter. Esquecer qualquer traço ruim de uma pessoa é como jogar fora dinheiro custosamente adquirido. No entanto, se seguirmos o presente conselho, estaremos a proteger-nos da confiabilidade e da amizade tolas.
«Não amar, nem odiar», eis uma sentença que contém a metade da prudência do mundo; «nada dizer e em nada acreditar» contém a outra metade. Decerto, daremos de bom grado as costas a um mundo que torna necessárias regras como estas e como as seguintes.
Mostrar cólera e ódio nas palavras ou no semblante é inútil, perigoso, imprudente, ridículo e comum. Nunca se deve revelar cólera ou ódio a não ser por actos; e estes podem ser praticados tanto mais perfeitamente quanto mais perfeitamente tivermos evitado os primeiros. Apenas animais de sangue frio são venenosos.
Falar sem elevar a voz: essa antiga regra das gentes do mundo tem por alvo deixar ao entendimento dos outros a tarefa de descobrir o que dissemos.

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Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

Uma das potências da alma é o entendimento, o qual nunca aumenta e cresce, senão quando já desfalece o corpo; amostra desta verdade é a experiência, pois nunca os homens se vêem mais avultados no entendimento, senão quando muito crescidos nos anos, e para se aumentar aquela potência da alma, parece que com os muitos anos necessariamente se hão-de desfazer as forças do corpo.

Entendimento Apaixonado

Mau grado o que dizem os moralistas, o entendimento humano deve muito às paixões, que, de comum acordo, também lhe devem muito: é pela sua actividade que a nossa razão se aperfeiçoa; só procuramos conhecer porque desejamos gozar; e não é possível conceber porque aquele que não tivesse desejos nem temores se desse ao trabalho de raciocinar. As paixões, por sua vez, originam-se a partir das nossas necessidades, e o seu progresso dos nossos conhecimentos; porque só podemos desejar ou temer coisas segundo as ideias que temos delas, ou pelo simples impulso da natureza; e o homem selvagem, privado de toda a sorte de luzes, só experimenta as paixões dessa última espécie; os únicos bens que conhece no universo são a sua nutrição, uma fêmea e o repouso; os únicos males que teme são a dor e a fome. Digo a dor, e não a morte; porque jamais o animal saberá o que é morrer; e o conhecimento da morte e dos seus terrores foi uma das primeiras aquisições que o homem fez afastando-se da condição animal.

Retrato de um Bêbado

Perdi-me vendo a pipa, o torno aberto;
Minha alma está metida em vinho tinto;
Tão bêbado estou que já não sinto
Ser bêbado coberto ou encoberto.

Tenho a cama longe, o sono perto,
No chão estou e erguer-me não consinto,
A barriga de inchada aperta o cinto,
Falando estou dormindo qual desperto.

Venha mais vinho e dêem-mo vezes cento,
Que alegra o coração, sustenta a vida,
E pouco vai que engrosse o entendimento.

Vingar-me quero, que é grande a bebida;
Tudo o que não é beber é lixo e vento,
Que para tão grande gosto é curta a vida.

A Razão e o Entendimento

Houve muita gente que se ocupou da crítica da razão. Por mim, gostaria que dispuséssemos de uma crítica do entendimento humano. Seria por certo um benefício para a nossa espécie poder-se demonstrar de modo convincente ao entendimento comum até onde pode ele chegar, limite este que coincide exactamente com aquilo de que esse mesmo entendimento necessita para a plenitude da sua vida terrena.
O entendimento ilimitado, ao qual se rende o entendimento de cada indivíduo, e contra o qual a razão nada pode, ainda que nem sempre a nossa experiência sensível se conforme.

A experiência é sem qualquer dúvida o primeiro produto que o nosso entendimento obtém ao elaborar a matéria bruta das sensações.

A Verdadeira Oportunidade

Uma das palavras que mais maltratadas têm sido, no entendimento que há delas, é a palavra oportunidade. Julgam muitos que por oportunidade se entende um presente ou favor do Destino, análogo a oferecerem-nos o bilhete que há-de ter a sorte grande. Algumas vezes assim é. Na realidade quotidiana, porém, oportunidade não quer dizer isto, nem o aproveitar-se dela significa o simplesmente aceitá-la. Oportunidade, para o homem consciente e prático, é aquele fenómeno exterior que pode ser transformado em consequências vantajosas por meio de um isolamento nele, pela inteligência, de certo elemento ou elementos, e a coordenação, pela vontade, da utilização desse ou desses. Tudo mais é herdar do tio brasileiro ou não estar onde caiu a granada.

Ó Meus Castelos de Vento

Ó meus castelos de vento
que em tal cuita me pusestes,
como me vos desfizestes!

Armei castelos erguidos,
esteve a fortuna queda,
e disse:– Gostos perdidos,
como is a dar tão grã queda!
Mas, oh! fraco entendimento!
em que parte vos pusestes
que então me não socorrestes?

Caístes-me tão asinha
caíram as esperanças;
isto não foram mudanças,
mas foram a morte minha.
Castelos sem fundamento,
quanto que me prometestes.
quanto que me falecestes!