Passagens sobre Flores

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Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Por onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, fachada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassado ao pessoal da pantufa e da serenidade.

Quatro Sonetos De Meditação – II

Uma mulher me ama. Se eu me fosse
Talvez ela sentisse o desalento
Da árvore jovem que não ouve o vento
Inconstante e fiel, tardio e doce

Na sua tarde em flor. Uma mulher
Me ama como a chama ama o silĂŞncio
E o seu amor vitorioso vence
O desejo da morte que me quer.

Uma mulher me ama. Quando o escuro
Do crepĂşsculo mĂłrbido e maduro
Me leva a face ao gĂŞnio dos espelhos

E eu, moço, busco em vão meus olhos velhos
Vindos de ver a morte em mim divina:
Uma mulher me ama e me ilumina.

Conto de Fadas

Eu trago-te nas mĂŁos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o unguento
Com que sarei a minha prĂłpria dor.

Os meus gestos sĂŁo ondas de Sorrento…
Trago no nome as letras de uma flor…
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento…

Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepĂşsculos da tarde,
O sol que Ă© d’oiro, a onda que palpita.

Dou-te comigo o mundo que Deus fez!
– Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A Princesa do conto: “Era uma vez…”

Os Artistas Verdadeiros nĂŁo TĂŞm Ideologia

Dia entre pescadores. Eles a pescarem sardinha para a fome orgânica do corpo, e eu a pescar imagens para uma necessidade igual do espírito. Tisnados de saúde, os homens olham-me; e eu, amarelo de doença, olho-os também. Certamente que se julgam mais justificados do que eu, e que o mundo inteiro lhes dá razão. Mas da mesma maneira que eles, sem que ninguém lhes peça sardinha, se metem às ondas, também eu, sem que ninguém me peça poesia, me lanço a este mar da criação. Há uma coisa que nenhuma ideologia pode tirar aos artistas verdadeiros: é a sua consciência de que são tão fundamentais à vida como o pão. Podem acusá-los de servirem esta ou aquela classe. Pura calúnia. É o mesmo que dizer que uma flor serve a princesa que a cheira. O mundo não pode viver sem flores, e por isso elas nascem e desabrocham. Se olhos menos avisados passam por elas e as não podem ver, a traição não é delas, mas dos olhos, ou de quem os mantém cegos e incultos.

RuĂ­nas

Cobrem plantas sem flor crestados muros;
Range a porta anciĂŁ; o chĂŁo de pedra
Gemer parece aos pés do inquieto vate.
RuĂ­na Ă© tudo: a casa, a escada, o horto,
Sítios caros da infância.
Austera moça
Junto ao velho portĂŁo o vate aguarda;
Pendem-lhe as tranças soltas
Por sobre as roxas vestes.
Risos nĂŁo tem, e em seu magoado gesto
Transluz nĂŁo sei que dor oculta aos olhos;
— Dor que à face não vem, — medrosa e casta,
Íntima e funda; — e dos cerrados cílios
Se uma discreta muda
Lágrima cai, não murcha a flor do rosto;
Melancolia tácita e serena,
Que os ecos nĂŁo acorda em seus queixumes,
Respira aquele rosto. A mĂŁo lhe estende
O abatido poeta. Ei-los percorrem
Com tardo passo os relembrados sĂ­tios,
Ermos depois que a mĂŁo da fria morte
Tantas almas colhera. Desmaiavam,
Nos serros do poente,
As rosas do crepĂşsculo.
“Quem és? pergunta o vate; o sol que foge
No teu lânguido olhar um raio deixa;
— Raio quebrado e frio; — o vento agita
Tímido e frouxo as tuas longas tranças.

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Horas Vivas

Noite: abrem-se as flores…
Que esplendores!
CĂ­ntia sonha amores
Pelo céu.
TĂŞnues as neblinas
Ă€s campinas
Descem das colinas,
Como um véu.

MĂŁos em mĂŁos travadas,
Animadas,
VĂŁo aquelas fadas
Pelo ar;
Soltos os cabelos,
Em novelos,
Puros, louros, belos,
A voar.

— “Homem, nos teus dias
Que agonias,
Sonhos, utopias,
Ambições;
Vivas e fagueiras,
As primeiras,
Como as derradeiras
Ilusões!

— Quantas, quantas vidas
VĂŁo perdidas,
Pombas mal feridas
Pelo mal!

Anos apĂłs anos,
TĂŁo insanos,
VĂŞm os desenganos
Afinal.

— “Dorme: se os pesares
Repousares,
Vês? – por estes ares
Vamos rir;
Mortas, nĂŁo; festivas,
E lascivas,
Somos – horas vivas
De dormir!” –

Entrei no café com um rio na algibeira

Entrei no café com um rio na algibeira
e pu-lo no chĂŁo,
a vĂŞ-lo correr
da imaginação…

A seguir, tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
a concebĂŞ-las.

Depois, encostado Ă  mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.

E agora aqui estou a ouvir
A melodia sem contorno
Deste acaso de existir
-onde sĂł procuro a Beleza
para me iludir
dum destino.

Quem não conhece a mulher amiga, põe a mão sobre o coração e não encontra aí a flor, que se rega nas lágrimas, quer de alegria quer de recíproca tristeza.

A Ultima Serenada do Diabo

No tempo em que elle, nas lendas,
Era amante e cortezĂŁo,
Jogava, e tinha contendas,
Cantava assim em MilĂŁo:

……………………………………
……………………………………
……………………………………

Ă“ flores meigas, Ăł Bellas!
Para prender os toucados,
Eu dar-vos-hia as estrellas:
– Os alfinetes dourados!

SĂł pelo amor quebro lanças! –
A Rainha de Navarra
Enleou um dia as tranças
No braço d’esta guitarra!

Sou um heroe perseguido!…
Mas inda ha luz nos meus rastros;
A lança que me ha ferido
Foi feita do ouro dos astros!

Mas um dia, Ăł bem amadas!
Eu tornaria ás alturas…
Subindo pelas escadas
Das vossas tranças escuras!

O amor que em meu peito cabe
NĂŁo conta diques, Ăł bellas!
SĂł minha guitarra o sabe,
E aquellas velhas estrellas!

Ă“ batalhas amorosas!
– Era d’aventuras cheia!
Ă“ brancas noutes saudosas
Que eu andei pela Judea!

Ă“ flores apetecidas!
Livros escriptos com beijos!
Ă“ brancas aves fugidas
Dos jardins dos meus desejos!

NĂŁo me deixeis no abandono
Ă“ tristes olhos leaes!

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Eu Planto no Teu Corpo

Como se arrasta no sol morno um verme
Por sobre a polpa de uma fruta, eu durmo
A tua carne e sinto o teu contorno
Entre os meus braços como um fruto morno.

E a minha boca sobre a pele, um verme,
Vai percorrendo o teu sorriso, e torno
Ao longo do nariz, depois contorno
Os teus olhos fechados por querer-me.

E desço o teu pescoço, feito um mono,
Para os teus seios mornos, como um verme
Por sobre os frutos prontos para o tombo.

Vertendo a unção da morte nos teus membros,
E estremecendo numa cruz de febre,
Eu planto no teu corpo a flor de um pombo.

A um Amigo

Fiel ao costume antigo,
Trago ao meu jovem amigo
Versos prĂłprios deste dia.
E que de os ver tĂŁo singelos,
TĂŁo simples como eu, nĂŁo ria:
Qualquer os fará mais belos,
Ninguém tão d’alma os faria.

Que sobre a flor de seus anos
Soprem tarde os desenganos;
Que em torno os bafeje amor,
Amor da esposa querida,
Prolongando a doce vida
Fruto que suceda Ă  flor.

Recebe este voto, amigo,
Que eu, fiel ao uso antigo,
Quis trazer-te neste dia
Em poucos versos singelos.
Qualquer os fará mais belos,
Ninguém tão d’alma os faria.

Morena

NĂŁo negues, confessa
Que tens certa pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena.

Pois eu nĂŁo gostava,
Parece-me a mim,
De ver o teu rosto
Da cor do jasmim.

Eu nĂŁo… mas enfim
É fraca a razão,
Pois pouco te importa
Que eu goste ou que nĂŁo.

Mas olha as violetas
Que, sendo umas pretas,
O cheiro que tĂŞm!
Vê lá que seria,
Se Deus as fizesse
Morenas também!

Tu és a mais rara
De todas as rosas;
E as coisas mais raras
SĂŁo mais preciosas.

Há rosas dobradas
E há-as singelas;
Mas sĂŁo todas elas
Azuis, amarelas,
De cor de açucenas,
De muita outra cor;
Mas rosas morenas,
SĂł tu, linda flor.

E olha que foram
Morenas e bem
As moças mais lindas
De Jerusalém.
E a Virgem Maria
NĂŁo sei… mas seria
Morena também.

Moreno era Cristo.
Vê lá depois disto
Se ainda tens pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena!

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Assim

Assim foi nosso amor… um sonho que viveu
de um sonho, e despertou na realidade um dia…
Um pouco de quimera ao lĂ©u da fantasia…
Um flor que brotou e num botĂŁo morreu…

Embora sendo nosso, este amor foi sĂł meu,
porque o teu, nĂŁo foi mais que pura hipocrisia,
– no fundo, há muito tempo, a minha alma sentia
este fim que o destino afinal já lhe deu…

NĂŁo podes, bem o sei – sendo mulher como Ă©s,
saber quanto sofri, vendo esta flor desfeita
e as pĂ©talas no chĂŁo, pisadas por teus pĂ©s…

Que importa ? Hás de sofrer mais tarde – a vida Ă© assim…
Esse mesmo sorrir que agora te deleita
Ă© o mesmo que depois há de amargar teu fim!…

Solemnia Verba

Disse ao meu coração: Olha por quantos
Caminhos vãos andámos! Considera
Agora, desta altura, fria e austera,
Os ermos que regaram nossos prantos…

PĂł e cinzas, onde houve flor e encantos!
E a noite, onde foi luz a Primavera!
Olha a teus pés o mundo e desespera,
Semeador de sombras e quebrantos!

Porém o coração, feito valente
Na escola da tortura repetida,
E no uso do pensar tornado crente,

Respondeu: Desta altura vejo o Amor!
Viver nĂŁo foi em vĂŁo, se isto Ă© vida,
Nem foi demais o desengano e a dor.

Tentei fugir da mancha mais escura

Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de nĂŁo poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridĂŁo…

SĂł por dentro de ti rebentam flores.
SĂł por dentro de ti a noite escuta
o que me sai, sem voz, do coração.

Carta (a um Amigo que me Pediu Versos)

Como hei-de ser um Petrarca,
Cantar como um rouxinol,
Se o meu termĂłmetro marca
Quarenta e dois graus ao sol!

Da lira bárbara e tosca
Nem saem trovas d’Alfama.
Enxota o Pégaso a mosca,
E eu durmo a sesta na cama.

A hipocondria maciça
Conduzo-a, não há remédio,
Na jumenta da preguiça
Pelas charnecas do tédio.

Eu trago a inspiração oca,
Ando abatido, ando mono;
Meus versos abrem a boca,
Como os porteiros com sono.

NĂŁo tenho a rima imprevista,
Os guizos d’oiro ou de opala,
Que Ă  asa da estrofe o artista
Sublime prende ao largá-la.

P’ra lapidar Ă  vontade
Um belo verso radiante,
Falta-me a tenacidade,
Que Ă© como o pĂł do diamante.

A musa foi-se-me embora;
Para onde foi nem me lembro;
SĂł a torno a ver agora
Lá para os fins de Setembro.

Anda talvez nas florestas
Fazendo orgias pagĂŁs,
Entre os aromas das giestas
E os braços dos Egipãs.

Deixá-la andar lá dois meses
Colhendo imagens e flores,

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A lamentável catástrofe de D. Inês de Castro

Da triste, bela InĂŞs, inda os clamores
Andas, Eco chorosa, repetindo;
Inda aos piedosos Céus andas pedindo
Justiça contra os ímpios matadores;

Ouvem-se inda na Fonte dos Amores
De quando em quando as náiades carpindo;
E o Mondego, no caso reflectindo,
Rompe irado a barreira, alaga as flores:

Inda altos hinos o universo entoa
A Pedro, que da morte formosura
Convosco, Amores, ao sepulcro voa:

Milagre da beleza e da ternura!
Abre, desce, olha, geme, abraça e c’roa
A malfadada InĂŞs na sepultura.

Olhem o cĂ©u. Perguntem a si mesmos: O carneiro terá ou nĂŁo comido a flor? E verĂŁo como tudo fica diferente… E nenhuma pessoa grande jamais entenderá que isso possa ter tanta importância!

A Voz do Amor

Nessa pupila rĂştila e molhada,
RefĂşgio arcano e sacro da Ternura,
A ampla noite do gozo e da loucura
Se desenrola, quente e embalsamada.

E quando a ansiosa vista desvairada
Embebo Ă s vezes nessa noite escura,
Dela rompe uma voz, que, entrecortada
De soluços e cânticos, murmura…

É a voz do Amor, que, em teu olhar falando,
Num concerto de sĂşplicas e gritos
Conta a histĂłria de todos os amores;

E vĂŞm por ela, rindo e blasfemando,
Almas serenas, corações aflitos,
Tempestades de lágrimas e flores…