A estrada mais segura para o Inferno é a gradual – a ladeira suave, com chão suave, sem curvas acentuadas, sem avisos de quilometragem e sem placas indicativas de sinalização.
Passagens sobre Inferno
250 resultadosA Negra Fúria Ciúme
Morre a luz, abafa os ares
Horrendo, espesso negrume,
Apenas surge do Averno
A negra fúria Ciúme.Sobre um sólio cor da noite
Jaz dos Infernos o Nurne,
E a seus pés tragando brasas
A negra fúria Ciúme.Crespas víboras penteia,
Dos olhos dardeja lume,
Respira veneno e peste
A negra fúria Ciúme.Arrancando à Morte a fouce
De buído, ervado gume,
Vem retalhar corações
A negra fúria Ciúme.Ao cruel sócio de Amor
Escapar ninguém presume,
Porque a tudo as garras lança
A negra fúria Ciúme.Todos os males do Inferno
Em si guarda, em si resume
O mais horrível dos monstros,
A negra fúria Ciúme.Amor inda é mais suave,
Que das rosas o perfume,
Mas envenena-lhe as graças
A negra fúria Ciúme.Nas asas de Amor voamos
Do prazer ao áureo cume,
Porém de lá nos arroja
A negra fúria Ciúme.Do férreo cálix da Morte
Prova o funesto azedume
Aquele a quem ferve n’alma
A negra fúria Ciúme.
Quem dá e torna a pedir, ao inferno vai cair.
Que vida de inferno é a vida do ciumento! Antes não amar, do que amar desse modo.
Perante A Morte
Perante a Morte empalidece e treme,
Treme perante a Morte, empalidece.
Coroa-te de lágrimas, esquece
O Mal cruel que nos abismos geme.Ah! longe o Inferno que flameja e freme,
Longe a Paizão que só no horror floresce…
A alma precisa de silêncio e prece,
Pois na prece e silêncio nada teme.Silêncio e prece no fatal segredo,
Perante o pasmo do sombrio medo
Da morte e os seus aspectos reverentes…Silêncio para o desespero insano,
O furor gigantesco e sobre-humano,
A dor sinistra de ranger os dentes!
O paraíso do tolo é o inferno do sensato.
O Inferno de Ser Eu
Ficarei o Inferno de ser Eu, a Limitação Absoluta, Expulsão-Ser do Universo longínquo! Ficarei nem Deus, nem homem, nem mundo, mero vácuo-pessoa, infinito de Nada consciente, pavor sem nome, exilado do próprio mistério, da própria Vida. Habitarei eternamente o deserto morto de mim, erro abstracto da criação que me deixou atrás. Arderá em mim eternamente, inutilmente, a ânsia (estéril) do regresso a ser.
Não poderei sentir porque não terei matéria com que sinta, não poderei respirar alegria, ou ódio, ou horror, porque não tenho nem a faculdade com que o sinta, consciência abstracta no inferno do não conter nada, não-Conteúdo Absoluto, [Sufocação] absoluta e eterna! Oco de Deus, sem universo, (…).
Não acredito em vida após a morte, por isso não preciso passar toda minha vida temendo o inferno, ou temendo o céu mais ainda. Quaisquer que sejam as torturas do inferno, penso que a chatice do céu seria ainda pior.
Todo o inferno está contido nesta única palavra: solidão.
A Moral Pura é Impossível
A nossa moral é a cristalização de um movimento interior completamente diferente dela! Nada do que dizemos faz sentido. Pensa numa frase qualquer, ocorre-me, por exemplo, esta: «Numa prisão deve imperar o arrependimento!» É uma frase que se pode pronunciar com a melhor das consciências, mas ninguém a toma à letra, senão estávamos a pedir o fogo do inferno para os encarcerados! Como é que a entendemos então? Há com certeza muito poucos que saibam o que é o arrependimento, mas todos dizem onde ele deve imperar. Ou então pensa em algo de exaltante: como é que isso se mistura com a moral? Quando é que estivemos com o rosto tão mergulhado no pó que isso nos faça sentir a bem-aventurança do arrebatamento? Ou então toma à letra uma expressão como «ser assaltado por um pensamento»: no momento em que sentisses no corpo um tal contacto já estarias no limiar da loucura! Cada palavra quer então ser lida na sua literalidade para não degenerar em mentira, mas não podemos tomar nenhuma à letra, sob pena de o mundo se transformar num manicómio! Há uma qualquer grande embriaguez que se eleva daí sob a forma de uma obscura recordação, e de vez em quando imaginamos que todas as nossas experiências são partes soltas e destruídas de uma antiga totalidade que um dia se foi completando de maneira errada.
A vida é muito rápida; faz a gente ir do céu para o inferno em questão de segundos.
Ai, Helena!
Ai, Helena!, de amante e de esposo
Já o nome te faz suspirar,
Já tua alma singela pressente
Esse fogo de amor delicioso
Que primeiro nos faz palpitar! …
Oh!, não vás, donzelinha inocente,
Não te vás a esse engano entregar:
E amor que te ilude e te mente,
É amor que te há-de matar!
Quando o Sol nestes montes desertos
Deixa a luz derradeira apagar,
Com as trevas da noite que espanta
Vêm os anjos do Inferno encobertos
A sua vítima incauta afagar.
Doce é a voz que adormece e quebranta,
Mas a mão do traidor …faz gelar.
Treme, foge do amor que te encanta,
É amor que te há-de matar.
Dá mais trabalho ir para o Inferno do que para o Céu.
A Verdadeira Virtude
Não se pode pensar em virtude sem se pensar num estado e num impulso contrários aos de virtude e num persistente esforço da vontade. Para me desenhar um homem virtuoso tenho que dar relevo principal ao que nele é voluntário; tenho de, talvez em esquema exagerado, lhe pôr acima de tudo o que é modelar e conter. Pela origem e pelo significado não posso deixar de a ligar às fortes resoluções e à coragem civil. E um contínuo querer e uma contínua vigilância, uma batalha perpétua dada aos elementos que, entendendo, classifiquei como maus; requer as nítidas visões e as almas destemidas.
Por isso não me prende o menino virtuoso; a bondade só é nele o estado natural; antes o quero bravio e combativo e com sua ponta de maldade; assim me dá a certeza de que o terei mais tarde, quando a vontade se afirmar e a reflexão distinguir os caminhos, com material a destruir na luta heróica e a energia suficiente para nela se empenhar. O que não chora, nem parte, nem esbraveja, nem resiste aos conselhos há-de formar depois nas massas submissas; muitas vezes me há-de parecer que a sua virtude consiste numa falta de habilidade para urdir o mal,
Da raivosa paixão que resulta do ciúme, só os ciumentos podem falar adequadamente. E será que mesmo os que a padecem são capazes de explicá-la? Como a devem rotular: Loucura furiosa? Inferno confuso? Verdugo do coração?
Viver num mundo onde nada é perdoado, onde tudo é irremediável, é a mesma coisa que viver no Inferno.
Véspera
Amor: em teu regaço as formas sonham
o instante de existir: ainda é bem cedo
para acordar, sofrer. Nem se conhecem
os que se destruirão em teu bruxedo.Nem tu sabes, amor, que te aproximas
a passo de veludo. És tão secreto,
reticente e ardiloso, que semelhas
uma casa fugindo ao arquitecto.Que presságios circulam pelo éter,
que signos de paixão, que suspirália
hesita em consumar-se, como flúor,
se não a roça enfim tua sandália?Não queres morder célere nem forte.
Evitas o clarão aberto em susto.
Examinas cada alma. É fogo inerte?
O sacrifício há de ser lento e augusto.Então, amor, escolhes o disfarce.
Como brincas (e és sério) em cabriolas,
em risadas sem modo, pés descalços,
no círculo de luz que desenrolas!Contempla este jardim: os namorados,
dois a dois, lábio a lábio, vão seguindo
de teu capricho o hermético astrolábio,
e perseguem o sol no dia findo.E se deitam na relva; e se enlaçando
num desejo menor, ou na indecisa
procura de si mesmos,
Uma mulher bonita é o paraíso dos olhos, o inferno da alma e o purgatório da bolsa.
Eu não sou um exemplo do que é viver neste mundo. Sou um privilegiado. Mas não posso estar contente. O mundo é o inferno. Não vale a pena ameaçarem-nos com outro inferno porque já estamos nele. A questão é saber como é que saímos dele.
Se Hitler invadisse o Inferno, eu cogitaria de uma aliança com o Demônio.