Não há nada pior que recordar a felicidade em tempos de dor. (Inferno)
Passagens sobre Inferno
250 resultadosEste Inferno de Amar
Este inferno de amar – como eu amo! –
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida – e que a vida destrói –
Como é que se veio a atear,
Quando – ai quando se há-de ela apagar?Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… – foi um sonho –
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim! despertar?Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? – Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei…
brincávamos a cair nos braços um do outro
brincávamos a cair nos
braços um do outro, como faziam
as actrizes nos filmes com o marlon
brando, e depois suspirávamos e ríamos
sem saber que habituávamos o coração à
dor. queríamos o amor um pelo outro
sem hesitações, como se a desgraça nos
servisse bem e, a ver filmes, achávamos que
o peito era todo em movimento e não
sabíamos que a vida podia parar um
dia. eu ainda te disse que me doíam os
braços e que, mesmo sendo o rapaz, o
cansaço chegava e instalava-se no meu
poço de medo. tu rias e caías uma e outra
vez à espera de acreditares apenas no que
fosse mais imediato, quando os filmes acabavam,
quando percebíamos que o mundo era
feito de distância e tanto tempo vazio, tu
ficavas muito feminina e abandonada e eu
sofria mais ainda com isso. estavas tão
diferente de mim como se já tivesses
partido e eu fosse apenas um local esquecido
sem significado maior no teu caminho. tu
dizias que se morrêssemos juntos
entraríamos juntos no paraíso e querias
culpar-me por ser triste de outro modo,
E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração.
O amor não busca agradar a si mesmo
Nem destina qualquer cuidado a si próprio
Mas se dá facilmente ao outro,
E constrói um Paraíso no desespero do Inferno.
De boas intenções está o Inferno cheio.
O inferno das mulheres é a velhice.
O Esplendor da Heterossexualidade, pelo Desejo
Somos um objecto, na paixão, totalmente submissos, sem poder prever os golpes que sofremos; aí reside a grandeza, a loucura, o assombro da paixão.
Para mim, o desejo só pode ter lugar entre o masculino e o feminino, entre sexos diferentes.
O outro desejo é um autodesejo, é, para mim, como que o prolongamento da prática masturbatória do homem ou da mulher. O esplendor da paixão, a sua imensidade, o seu sofrimento, o seu inferno, reside no facto de só poder verificar-se entre géneros irreconciliáveis, o masculino e o feminino. Tanto a paixão como o desejo.Os casais homossexuais são muito mais estáveis do que os casais heterossexuais, porque na homosexualidade há uma prática simples e cómoda do desejo. A prática heterossexual é ainda selvagem, é ainda a floresta do desejo.
Na prática homossexual não creio que exista esse fenómeno de posse que existe na heterossexual. Na prática homossexual existe uma espécie de intermutabilidade do prazer, as pessoas nunca pertencem na homossexualidade como pertencem na heterossexualidade.
É um inferno não se poder escapar ao desejo de uma pessoa, é a isso que eu chamo, quando a mim, o esplendor da heterossexualidade.
E se este mundo for o inferno de outro planeta?
Deus com Sua infinita Sabedoria, escondeu o Inferno no meio do Paraíso para que nós sempre estivéssemos atentos.
É mais fácil para a imaginação compor um inferno com a dor, que um paraíso com o prazer.
História Antiga
Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Pacto Das Almas (I) Para Sempre!
Ah! para sempre! para sempre! Agora
Não nos separaremos nem um dia…
Nunca mais, nunca mais, nesta harmoia
Das nossas almas de divina aurora.A voz do céu pode vibrar sonora
Ou do Inferno a sinistra sinfonia,
Que num fundo de astral melancolia
Minh’alma com a tu’alma goza e chora.Para sempre está feito o augusto pacto!
Cegos serenos do celeste tacto,
Do Sonho envoltas na estrelada rede.E perdidas, perdidas no Infinito
As nossas almas, no Clarão bendito,
Hão de enfim saciar toda esta sede…
Formou Deus o homem, e o pôs num paraíso de delícias; tornou a formá-lo a sociedade, e o pôs num inferno de tolices. O homem – não o homem que Deus fez, mas o que a sociedade tem contrafeito, apertando e forçando em seus moldes de ferro aquela pasta de limo que no paraíso terreal afeiçoará à imagem da divindade -, o homem assim aleijado como nós o conhecemos, é o animal mais absurdo, o mais disparatado e incongruente que habita na terra.
Família, tu és a morada de todos os vícios da sociedade; tu és a casa de repouso das mulheres que amam as suas asas, a prisão do pai de família e o inferno das crianças.
Não há outro inferno para o homem além da estupidez ou da maldade dos seus semelhantes.
Esquecimento Esvaziante
A variedade das nossas emoções torna claro que cada homem guarda dentro de si os celeiros do contentamento e do descontentamento: os jarros das coisas boas e más não estão depositados «na soleira de Zeus», mas na alma. O néscio negligencia e desdenha as coisas boas que lá estão porque a sua imaginação acha-se sempre voltada para o futuro; o sensato, porém, torna os factos pregressos vividamente presentes com recordá-los. O presente oferece-se ao toque da nossa mão apenas por um instante e logo nos ilude os sentidos; os tolos julgam que ele não é mais nosso, que não mais nos pertence.
Há a pintura de um cordoeiro no inferno, com um asno a engolir toda a corda feita por ele, à medida que ele a entretece; assim é a multidão acometida e dominada pelo esquecimento insensato e ingrato, que apaga cada acto, cada sucesso, cada experiência aprazível de bem-estar, de camaradagem e de deleite.
O esquecimento não consente à vida desenvolver-se unitariamente, o passado entretecido com o presente, mas separa o ontem do hoje, como se fossem de diferente substância, e o hoje do amanhã, como se não fossem o mesmo; transforma toda a ocorrência em não-ocorrência.
O caminho do inferno está pavimentado de boas intenções.
Se Hitler invadisse o inferno eu faria ao menos um comentário favorável ao diabo na Casa dos Comuns.
Deus, o que nos prometei em troca de morrer? Pois o céu e o inferno nós já os conhecemos – cada um de nós em segredo quase de sonho já viveu um pouco do próprio apocalipse. E a própria morte.