Passagens sobre Mil

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Frases sobre mil, poemas sobre mil e outras passagens sobre mil para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Por Cima Destas Águas, Forte E Firme

Por cima destas águas, forte e firme,
irei por onde as sortes ordenaram,
pois, por cima de quantas me choraram
aqueles claros olhos, pude vir me.

Já chegado era o fim de despedir me,
já mil impedimentos se acabaram,
quando rios de amor se atravessaram
a me impedir o passo de partir me.

Passei os eu com ânimo obstinado,
com que a morte forçada e gloriosa
faz o vencido já desesperado.

Em que figura, ou gesto desusado,
pode já fazer medo a morte irosa,
a quem tem a seus pés rendido e atado?

Cada país tem os heróis que quer. Em Portugal, um indivíduo que ficou em terceiro lugar na Fórmula 1, numa corrida em que só acabaram cinco carros, recebe uma Comenda do Presidente da República. Temos 20 mil heróis nacionais condecorados pelos Presidentes da República, desde o 25 de Abril.

A um Nariz Grande

Hoje espero, nariz, de te assoar,
Se para te chegar a mão me dás,
Ainda que impossível se me faz
Chegar a tanto eu como assoar-te,
Porque é chegar às nuvens o chegar-te.
Das musas a que for mais nariguda
Manda-lhe que me acuda,
Que se a fonte
De Pégaso é verdade está no monte,
O mais alto de todos em ti está
Porque monte tão alto não no há.

Falta o saber, nariz, para o louvor
De que és merecedor.
Que hei-de dizer?
Para espantares tu hão-te de ver,
Porque nunca se pode dizer tanto
Que faça como tu tão grande espanto.
És tão grande, nariz, que há opiniões,
E prova-o com razões
Certo moderno,
Que em comprimento és, nariz, eterno,
Porque ainda que princípio te soubemos,
Notícia de teu fim nunca tivemos.

Cuido que sem narizes, por mostrar
Seu poder em acabar,
Sua grandeza,
Deixou gente sem conto a natureza,
Que assoas, Gabriel, quando te assoas,
Os narizes de mais de mil pessoas.

Aos mais narizes dás o ser que tem,

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Fazer as Pazes

Para fazer as pazes é preciso haver uma guerra. Mas, quando não há uma guerra ou só a suspeita, ou ciúme, de haver uma ameaça, ou uma desatenção, de a paz que encanta e apaixona, se tornar num hábito, as pazes ficam feitas e celebra-se essa felicidade.
O conflito e a diferença de personalidades – a identidade pessoal de cada um e quanto estamos dispostos a sacrificarmo-nos por defendê-la – são grossamente exagerados. É a necessidade de se achar que se é diferente – nos afectos, nas necessidades – que provoca todos os mal-entendidos e a maior parte das infelicidades.
Muito ganharíamos – se perdêssemos só o que temos de perder e amargar -, se partíssemos do princípio que somos todos iguais, homens e mulheres, eu e tu, eles e nós. E que é o pouco que nos diferencia e distancia, por muito caro que nos saia, que consegue o milagre de tornarmo-nos mais atraentes uns aos outros.
As guerras imaginadas são mil vezes melhores do que as verdadeiras. A ilusão da diferença (de personalidades, sexos, sexualidades, culturas – e tudo o mais que arranjamos para chegar à ficção vaidosa que cada um é como é) passou a ser o que apreciamos ser a nossa nociva e dispensável individualidade.

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África

Na partilha das sáfaras conquistas
Desta Líbia de mouros rancorosos,
O Deserto foi dado aos Poderosos
E o Oásis, florido e mínimo, aos Artistas.

E os felizes, quais são? Os mil sofistas
Da Ventura, a pedir, de olhos gulosos,
Terra e mais terra? Ou o que limita os gozos
E em sete palmos acomoda as vistas?

Certo, não sereis vós, ó Donatários
Do alvo Deserto, que velais, em guerra,
A áurea carga dos vossos dromedários.

Mas, tu, ó Poeta, que, por onde fores,
Teus sete palmos hás de achar na terra
Abrindo em trigo, rebentado em flores!

Há cem mil maneiras de perder o amor de uma mulher, e a única que não se previu é, precisamente, a que se realiza.

Raios não Peço ao Criador do Mundo

LX

Raios não peço ao Criador do Mundo,
Tormentas não suplico ao Rei dos Mares,
Vulcões à terra, furacões aos ares,
Negros monstros ao báratro profundo:

Não rogo ao deus de amor que furibundo
Te arremesse do pé de seus altares;
Ou que a peste mortal voe a teus lares,
E murche o teu semblante rubicundo.

Não imploro em teu dano, ainda que os laços
Urdidos pela fé, com vil mudança
Fizeste, ingrata Nise, em mil pedaços:

Não quero outro despique, outra vingança,
Mais que ver-te em poder de indignos braços,
E dizer quem te perde, e quem te alcança.

Uma enorme massa de gente não está sobre a terra para mais do que dar à luz, após longos e misteriosos cruzamentos de raças, um homem que, entre mil, possua alguma independência.

A Poesia

… Quantas obras de arte… Já não cabem no mundo… Temos de as pendurar fora dos quartos… Quantos livros… Quantos livrecos… Quem será capaz de os ler?… Se fossem comestíveis… Se numa panela de grande calado os fizéssemos em salada, os picássemos, os alinhássemos… Já não se pode mais… Estamos até ao pescoço… O mundo afoga-se na maré… Reverdy dizia-me: «Avisei o correio para que não me trouxesse mais livros… Não poderia abri-los. Não tenho espaço. Trepam pelas paredes, temi uma catástrofe, ruiriam em cima da minha cabeça»… Todos conhecem Eliot… Antes de ser pintor, de dirigir teatros, de escrever luminosas críticas, lia os meus versos… Sentia-me lisonjeado… Ninguém os compreendia melhor… Até que um dia começou a ler-me os seus e eu, egoisticamente, corri a protestar: «Não mos leia, não mos leia»… Fechei-me no quarto de banho, mas Eliot, através da porta, lia-mos… Fiquei muito triste… O poeta Frazer, da Escócia, estava presente… Increpou-me: «Porque tratas assim Eliot?»… Respondi: «Não quero perder o meu leitor. Cultivei-o. Conhece até as rugas da minha poesia… Tem tanto talento… Pode fazer quadros… Pode escrever ensaios… Mas eu quero manter este leitor, conservá-lo, regá-lo como planta exótica… Compreendes-me, Frazer?»… Porque a verdade, se isto continua,

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Nenhum Mortal no Mundo Satisfeito

Nenhum mortal no mundo satisfeito
Com sua Sorte está, nunca é contente,
Pois de mil desatinos enche a mente
Sem que possa gozar um bem perfeito.

O soldado deseja o canto estreito
Da cela do ermitão, com ânsia ardente:
Este, da guerra, o estrépito fremente
Deseja, sem razão, ao ócio afeito.

O rico, redobrados bens deseja;
O pobre, de quimeras se sustenta;
No coração humano reina a Inveja.

Pobre, rico, fidalgo se alimenta
De insaciáveis desejos que lhe peja
Sua Sorte fatal, que os não contenta.

O Preço da Vaidade

Se o que se deseja é apenas dar sustento à natureza, bastam três libras esterlinas por ano, segundo a estimativa de William Petty; mas, como os tempos andam muito alterados, vamos supor seis libras. Essa quantia permitirá encher a pança, obter proteção contra as intempéries do clima, e até mesmo a compra de um casaco resistente, desde que feito de um bom couro de boi. Agora, tudo o que vá além disso é artificial e será desejado com vista a obter um maior grau de respeito dos nossos concidadãos. E, se seiscentas libras por ano proporcionam a um homem mais distinção social e, é claro, mais felicidade do que seis libras por ano, a mesma proporção vai-se manter para seis mil, e assim por diante, até onde se possa levar a opulência. Talvez o dono de uma grande fortuna possa não ser tão feliz como alguém que tem menos; mas isso decorrerá de outras causas que não a posse da grande fortuna.

Balada do Amor através das Idades

Eu te gosto, você me gosta
desde tempos imemoriais.
Eu era grego, você troiana,
troiana mas não Helena.
Saí do cavalo de pau
para matar seu irmão.
Matei, brigámos, morremos.

Virei soldado romano,
perseguidor de cristãos.
Na porta da catacumba
encontrei-te novamente.
Mas quando vi você nua
caída na areia do circo
e o leão que vinha vindo,
dei um pulo desesperado
e o leão comeu nós dois.

Depois fui pirata mouro,
flagelo da Tripolitânia.
Toquei fogo na fragata
onde você se escondia
da fúria de meu bergantim.
Mas quando ia te pegar
e te fazer minha escrava,
você fez o sinal-da-cruz
e rasgou o peito a punhal…
Me suicidei também.

Depois (tempos mais amenos)
fui cortesão de Versailles,
espirituoso e devasso.
Você cismou de ser freira…
Pulei muro de convento
mas complicações políticas
nos levaram à guilhotina.

Hoje sou moço moderno,
remo, pulo, danço, boxo,
tenho dinheiro no banco.
Você é uma loura notável,
boxa, dança, pula, rema.

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Marília De Dirceu

Soneto 7

O nume tutelar da Monarquia,
Que fez do grande Henrique a invicta espada,
Procurou dos Destinos a morada,
Por consultar a idade que viria.

A mil e mil heróis descrito via,
Que exaltam de furtado a estirpe honrada,
E na série, que adora, dilatada,
O nome de Francisco descobria.

Contempla uma por uma as letras d’ouro;
Este penhor, que o tempo não consome,
Promete ao reino seu maior tesouro.

Prostra-se o gênio; e sem que a empresa tome
De lhe buscar sequer mais outro agouro,
O sítio beija, e lhe mostra o nome.

Casou-Se Nesta Terra Esta E Aquele

Casou-se nesta terra esta e aquele.
Aquele um gozo filho de cadela,
Esta uma donzelíssima donzela,
Que muito antes do parto o sabia ele.

Casaram por unir pele com pele;
E tanto se uniram, que ele com ela
Com seu mau parecer ganha para ela,
com seu bom parecer ganha para ele.

Deram-lhe em dote muitos mil cruzados,
Excelentes alfaias, bons adornos,
De que estão os seus quartos bem ornados:

Por sinal que na porta e seus contornos
Um dia amanheceram, bem contados,
Três bacias de trampa e doze cornos.

Sonho

Perdoa, Amor, se não quero
Aceitar novo grilhão;
Quando quebraste o primeiro,
Quebraste-me o coração.

Olha, Amor, tem dó de mim!
Repara nos teus estragos,
E desvia por piedade
Teus sedutores afagos!

Tu de dia não me assustas;
Os meus sentidos atentos
Opõem aos teus artifícios
Mil pesares, mil tormentos.

Mas, cruel, porque me assaltas,
De mil sonhos rodeado?
Porque acometes no sono
Meu coração descuidado?…

Eu, quando acaso adormeço,
Adormeço de cansada,
E o crepúsculo do dia
Me acorda sobressaltada.

Arguo então a minha alma,
Repreendo a natureza
De ter cedido ao descanso
Tempo que devo à tristeza.

Que te importa um ser tão triste?…
Cobre de jasmins e rosas
Outras amantes felizes!
Deixa gemer as saudosas!

Qual tem a borboleta por costume

Qual tem a borboleta por costume,
Que, enlevada na luz da acesa vela,
Dando vai voltas mil, até que nela
Se queima agora, agore se consume,

Tal eu correndo vou ao vivo lume
Desses olhos gentis, Aónia bela;
E abraso-me por mais que com cautela
Livrar-me a parte racional presume.

Conheço o muito a que se atreve a vista,
O quanto se levanta o pensamento,
O como vou morrendo claramente;

Porém, não quer Amor que lhe resista,
Nem a minha alma o quer; que em tal tormento,
Qual em glória maior, está contente.