Sonetos Exclamativos

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Sonetos exclamativos sobre diversos assuntos para ler e compartilhar. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Paisagem Única

Olhas-me tu: e nos teus olhos vejo
Que eu sou apenas quem se vĂȘ: assim
Tu tanto me entregaste ao teu desejo
Que Ă© nos teus olhos que eu me vejo a mim.

Em ti, que bem meu corpo se acomoda!
Ah! quanto amor por os teus olhos arde!
Contigo sou? — perco a paisagem toda…
Longe de ti? — sou como um dobre Ă  tarde…

Adeuses aos casais dessas Marias
Em cuja graça o meu olhar flutua,
Tudo o que amei ao teu amor o entrego.

Choupos com ar de velhas Senhorias,
Castelo moiro donde nasce a Lua,
E apenas tu, a tudo o mais sou cego.

Infeliz

Alma viĂșva das paixĂ”es da vida,
Tu que, na estrada da existĂȘncia em fora,
Cantaste e riste, e na existĂȘncia agora
Triste soluças a ilusão peerdida;

Oh! Tu, que na grinalda emurchecida
De teu passado de felicidade
Foste juntar os goivos da Saudade
Às flores da Esperança enlanguescida;

Se nada te aniquila o desalento
Que te invade, e o pesar negro e profundo,
Esconde Ă  Natureza o sofrimento,

E fica no teu ermo entristecida,
Alma arrancada do prazer do mundo,
Alma viĂșva das paixĂ”es da vida.

Vós, Ninfas Da Gangética Espessura

Vós, Ninfas da gangética espessura,
cantai suavemente, em vez sonora,
um grande CapitĂŁo, que a roxa Aurora
dos filhos defendeu da noite escura.

Ajuntou-se a caterva negra e dura,
que na Áurea Quersoneso afouta mora,
para lançar do caro ninho fora
aqueles que mais podem que a ventura.

Mas um forte LeĂŁo, com pouca gente,
a multidão tão fera como nécia
destruindo castiga e torna fraca.

Pois, Ăł Ninfas, cantai! que claramente
mais do que Leonidas fez em Grécia,
o nobre Leonis fez em Malaca.

A Musa Enferma

Ó minha musa, então! que tens tu, meu amor?
Que descorada estĂĄs! No teu olhar sombrio
Passam fulguraçÔes de loucura e terror;
Percorre-te a epiderme em fogo um suor frio.

Esverdeado gnomo ou duende tentador,
Em teu corpo infiltrou, acaso, um amavio?
Foi algum sonho mau, visĂŁo cheia de terror,
Que assim te magoou o teu olhar macio?

Eu quisera que tu, saudĂĄvel e contente.
Só nobres idéias abrigasses na mente,
E que o sangue cristĂŁo, ritmado, te pulsara

Como do silabĂĄlirio antigo os sons variados,
Onde reinam, o par, os deuses decantados;
Febo — pai das cançÔes, e PĂŁ — senhor da seara!

Tradução de Delfim Guimarães

Divino Instante

Ser uma pobre morta inerte e fria,
HierĂĄtica, deitada sob a terra,
Sem saber se no mundo hĂĄ paz ou guerra,
Sem ver nascer, sem ver morrer o dia;

Luz apagada ao alto e que alumia,
Boca fechada Ă  fala que nĂŁo erra,
Urna de bronze que a Verdade encerra,
Ah! ser Eu essa morta inerte e fria!

Ah! fixar o efémero! Esse instante
Em que o teu beijo sĂŽfrego de amante
Queima o meu corpo frĂĄgil de Ăąmbar loiro;

Ah! fixar o momento em que, dolente,
Tuas pĂĄlpebras descem, lentamente,
Sobre a vertigem dos teus olhos de oiro!

InconstĂąncia

Procurei o amor que me mentiu.
Pedi Ă  Vida mais do que ela dava.
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarĂŁo nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer…
Um sol a apagar-se e outro a acender
Nas brumas dos atalhos por onde ando…

E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que hĂĄ de partir tambĂ©m… nem eu sei quando…

XI

Todos esses louvores, bem o viste,
NĂŁo conseguiram demudar-me o aspecto:
SĂł me turbou esse louvor discreto
Que no volver dos olhos traduziste…

Inda bem que entendeste o meu afeto
E, através destas rimas, pressentiste
Meu coração que palpitava, triste,
E o mal que havia dentro em mim secreto.

Ai de mim, se de lĂĄgrimas inĂșteis
Estes versos banhasse, ambicionando
Das nĂ©scias turbas os aplausos fĂșteis!

Dou-me por pago, se um olhar lhes deres:
Fi-los pensando em ti, fi-los pensando
Na mais pura de todas as mulheres.

Soneto XXXII

Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tĂ­mida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.

Fazia, de papel, toda uma armada;
e, estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino,
ao longo das sarjetas, na enxurrada…

Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que nĂŁo sĂŁo barcos de ouro os meus ideais:
sĂŁo feitos de papel, sĂŁo como aqueles,

perfeitamente, exatamente iguais…
– Que os meus barquinhos, lĂĄ se foram eles!
Foram-se embora e nĂŁo voltaram mais!

Acrobata Da Dor

Gargalha, ri, num riso de tormenta,
Como um palhaço, que desengonçado,
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
Agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta clown, varado
Pelo estertor dessa agonia lenta…

Pedem-te bis e um bis nĂŁo se despreza!
Vamos! retesa os mĂșsculos, retesa
Nessas macabras piruetas d’aço…

E embora caias sobre o chĂŁo, fremente,
Afogado em teu sangue estuoso e quente
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.

Cheiro De EspĂĄdua

“Quando a valsa acabou, veio Ă  janela,
Sentou-se. O leque abriu. Sorria e arfava,
Eu, viração da noite, a essa hora entrava
E estaquei, vendo-a decotada e bela.

Eram os ombros, era a espĂĄdua, aquela
Carne rosada um mimo! A arder na lava
De improvisa paixĂŁo, eu, que a beijava,
Hauri sequiosa toda a essĂȘncia dela!

Deixei-a, porque a vi mais tarde, oh! ciĂșme!
Sair velada da mantilha. A esteira
Sigo, até que a perdi, de seu perfume.

E agora, que se foi, lembrando-a ainda,
Sinto que Ă  luz do luar nas folhas, cheira
Este ar da noite Ă quela espĂĄdua linda!”

Anima Mea

Estava a Morte ali, em pé, diante,
Sim, diante de mim, como serpente
Que dormisse na estrada e de repente
Se erguesse sob os pés do caminhante.

Era de ver a fĂșnebre bachante!
Que torvo olhar! que gesto de demente!
E eu disse-lhe: «Que buscas, impudente,
Loba faminta, pelo mundo errante?»

— Não temas, respondeu (e uma ironia
Sinistramente estranha, atroz e calma,
Lhe torceu cruelmente a boca fria).

Eu nĂŁo busco o teu corpo… Era um trofĂ©u
Glorioso de mais… Busco a tua alma —
Respondi-lhe: «A minha alma jå morreu!»

Estoicismo

(A Manoel Duarte de Almeida)

Tu que nĂŁo crĂȘs, nem amas, nem esperas,
Espírito de eterna negação,
Teu hålito gelou-me o coração
E destroçou-me da alma as primaveras…

Atravessando regiÔes austeras,
Cheias de noite e cava escuridĂŁo,
Como n’um sonho mau, sĂł oiço um nĂŁo,
Que eternamente ecoa entre as esferas…

— Porque suspiras, porque te lamentas,
Cobarde coração? Debalde intentas
OpĂŽr ĂĄ Sorte a queixa do egoĂ­smo…

Deixa aos tĂ­midos, deixa aos sonhadores
A esperança vĂŁ, seus vĂŁos fulgores…
Sabe tu encarar sereno o abismo!

Diferente

Buscando o vĂŁo Ideal que me seduz,
Sem que o atinja me disperso e gasto,
E ansiosamente aos braços duma cruz
Ergo o perfil de iluminado e casto.

JĂĄ tristemente desdenhoso afasto
O manto de burel dos ombros nus;
E a noite pisa a forma do meu rasto,
Se deixo atrĂĄs de mim passos de luz.

Na minha tez suave e nazarena,
Transparecem vislumbres dessa pena
Que Deus pelos estranhos hĂ  sentido…

E frio e calmo, a divergir da Raça,
Mal poiso os låbios no cristal da taça
Por onde as outras almas tĂȘm bebido!

Primavera

Passei a Primavera de meus anos
Com maternais desvelos amorosos.
Com meiguices, afagos carinhosos,
Com mimos de solĂ­citos afanos.

Desenfaixado dos primeiros panos,
Pus-me em pé, dei passinhos vagarosos,
Logo corridas, saltos brincalhosos,
Travessuras de meninais enganos.

Nesta idade infantil da Primavera,
Com outros meus iguais brincÔes folgava.
Ah, quĂŁo gostoso, entĂŁo, o tempo me era!

Inocente brincar sĂł me encantava:
Feliz, se aqui ficando eu conhecera
A força do prazer que desfrutava!

Visita

Adornou o meu quarto a flor do cardo,
Perfumei-o de almiscar recendente;
Vesti-me com a purpura fulgente,
Ensaiando meus cantos, como um bardo;

Ungi as mĂŁos e a face com o nardo
Crescido nos jardins do Oriente,
A receber com pompa, dignamente,
Mysteriosa visita a quem aguardo.

Mas que filha de reis, que anjo ou que fada
Era essa que assim a mim descia,
Do meu casebre ĂĄ humida pousada?…

Nem princezas, nem fadas. Era, flor,
Era a tua lembrança que batia
Ás portas de ouro e luz do meu amor!

Triste Regresso

Uma vez um poeta, um tresloucado,
Apaixonou-se d’uma virgem bela;
Vivia alegre o vate apaixonado,
Louco vivia, enamorado dela.

Mas a PĂĄtria chamou-o. Era o soldado,
E tinha que deixar p’ra sempre aquela
Meiga visĂŁo, olĂ­mpica e singela!
E partiu, coração amargurado.

Dos canhÔes ao ribombo e das metralhas,
Altivo lutador, venceu batalhas,
Juncou-lhe a fronte aurifulgente estrela,

E voltou, mas a fronte aureolada,
Ao chegar, pendeu triste e desmaiada,
No sepulcro da loura virgem bela.

Uma Amiga

Aqueles que eu amei, nĂŁo sei que vento
Os dispersou no mundo, que os nĂŁo vejo…
Estendo os bracos e nas trevas beijo
VisĂ”es que a noite evoca o sentimento…

Outros me causam mais cruel tormento
Que a saudade dos mortos… que eu invejo…
Passam por mim… mas como que tem pejo
Da minha soledade e abatimento!

Daquela primavera venturosa
NĂŁo resta uma flor so, uma so rosa…
Tudo o vento varreu, queimou o gelo!

Tu so foste fiel – tu, como dantes,
Inda volves teus olhos radiantes…
Para ver o meu mal… e escarnece-lo!

XIV

Quem deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata, civil correspondĂȘncia,
Ou desconhece o rosto da violĂȘncia,
Ou do retiro a paz nĂŁo tem provado.

Que bem Ă© ver nos campos transladado
No gĂȘnio do pastor, o da inocĂȘncia!
E que mal Ă© no trato, e na aparĂȘncia
Ver sempre o cortesĂŁo dissimulado!

Ali respira amor sinceridade;
Aqui sempre a traição seu rosto encobre;
Um sĂł trata a mentira, outro a verdade.

Ali não hå fortuna, que soçobre;
Aqui quanto se observa, Ă© variedade:
Oh ventura do rico! Oh bem do pobre!

Soneto Da Perdida Esperança

Perdi o bonde e a esperança
Volto pĂĄlido para casa.
A rua Ă© inĂștil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princĂ­pio do drama e da flora.

NĂŁo sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
porque nĂŁo? na noite escassa

com um insolĂșvel flautim.
Entretanto hĂĄ muito tempo
nĂłs gritamos: sim! ao eterno.

José

Se coubessem mil coisas num sĂł dia
E se ele nĂŁo fosse um sĂł, mas fosse mil
Pelos Faux mounnaieurs!!! NĂŁo haveria
Quem fizesse mais coisas no Brasil

Um romance, um besigue, um pensamento
Um cigarro, um cachorro, uma piada
Outro Besigue, gide, namorada
Resultado final: – padecimento!

O mundo muda e ele vai seguindo
Abafando os concursos que vĂȘm vindo
Trabalhar! Trabalhar nunca foi bom…

Antes ir os cinemas percorrendo
Namorando, sofrendo, andando e lendo
Colocado entre Deus e entre Mammon.