Passagens sobre Tentação

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Frases sobre tentação, poemas sobre tentação e outras passagens sobre tentação para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Agimos Sempre no Sentido do Destino

No fundo, a sabedoria do destino é a nossa própria. Porque a acompanhamos com uma consciência incessante daquilo que, no fundo, nos é permitido fazer. Podemos estar sujeitos a algumas tentações mas nunca nos enganamos. Agimos sempre no sentido do destino. As duas coisas formam uma só.
Quem se engana é porque ainda não compreende o seu destino. Quer dizer, não compreende qual a resultante de todo o seu passado – o qual lhe indica o futuro. Mas quer o compreenda ou não, indica-lho à mesma. Cada vida é aquilo que devia ser.

Sou um Verdadeiro Solitário

O meu sentido ardente de justiça social e de dever social estiveram sempre em estranho desacordo com uma marcada carência de necessidade directa de ligação com os homens e com as comunidades humanas. Sou um verdadeiro solitário («Einspänner»), que nunca pertenceu inteiramente e de todo o coração ao Estado, à Pátria, ao círculo dos amigos ou até mesmo à família mais chegada, mas antes pelo contrário experimentou sempre, em relação a todas essas ligações, um sentimento indomável de estranheza e de ânsia de isolamento, um sentimento que com a idade mais se intensifica. Apercebemo-nos nitidamente, mas sem o lamentarmos, que nos é limitada a convivência em sociedade com outros seres humanos. Um homem desta natureza perde, de certo modo, uma parte da sua maneira de ser inocente e despreocupada mas ganha em se sentir largamente independente das opiniões, dos hábitos e juízos dos homens, e não cai na tentação de estabelecer o seu equilíbrio numa base tão pouco sólida.

Tentação

Eu não resistirei à tentação,
não quero que de mim possas perder-te,
que só na fonte fria da razão
renasça a minha sede de beber-te.

Eu não resistirei à tentação
de quanto adivinhei nesta amargura:
um sim que só assalta quem diz não,
um corpo que entrevi na selva escura.

Resistirei a te chamar paixão,
a te perder nos versos, nas palavras:
mas não resistirei à tentação
de te dizer que o céu é o que rasa

a luz que nos teus olhos eu perdi
e que na terra toda não mais vi.

O silêncio é a minha maior tentação. As palavras, esse vício ocidental, estão gastas, envelhecidas, envilecidas. Fatigam, exasperam. E mentem, separam, ferem. Também apaziguam, é certo, mas é tão raro! Por cada palavra que chega até nós, ainda quente das entranhas do ser, quanta baba nos escorre em cima a fingir de música suprema! A plenitude do silêncio só os orientais a conhecem.

A Cultura e a Corrupção

Qualquer um pode ser bom no campo. Lá não há tentações. É por isso que as pessoas que não vivem na cidade são tão terrivelmente bárbaras. A civilização não é de modo nenhum uma coisa fácil de atingir. Há duas maneiras de um homem a alcançar. Uma é pela cultura e outra é pela corrupção. As pessoas do campo não têm qualquer oportunidade de praticar nenhuma delas e, por conseguinte, estagnam.

É como um poço sem fundo. Voltamos a sentir o apelo do nada, a tentação de cair, de nos rejuntarmos a uma obscuridade que nos convoca.

A única via para sair da corrupção, a única via para vencer a tentação é o serviço. Porque a corrupção vem do orgulho, da soberba, e o serviço humilha-nos: é justamente a caridade humilde a ajudar os outros.

A vaidade é uma doença espiritual muito grave.  É significativo que os Padres do Deserto tenham dito que a vaidade é uma tentação contra a qual devemos lutar toda a vida, porque volta sempre para nos roubar a verdade.

Nenhum homem merece uma confiança ilimitada – na melhor das hipóteses, a sua traição espera uma tentação suficiente.

As Desvantagens das Nossas Paixões

Quanto mais um homem se emaranha numa paixão, tanto mais os acontecimentos, em si indiferentes, se traduzem para ele em dor, enganando justamente, pela sua indiferença, a avidez tensa em que esse homem se encontra. Um ambicioso sofrerá porque uma pessoa célebre não lhe reconheceu importância; essa mesma pessoa célebre tentará insuflar escrúpulos de tentação a algum evangélico de quem procurará a conversação; escrúpulos que, por sua vez, irritarão um individualista, que será atingido por eles, malgrado seu. A inveja, ambição ruminada, está na base de todas as angústias que sofremos. Não toleramos que uma coisa aconteça indiferentemente, por acaso, escapando à nossa chancela.
Qualquer género de fervor acarreta consigo a tendência para sentir uma lei preestabelecida na vida, uma lei que castiga os que abusam ou descuram esse mesmo fervor. Um estado de paixão – mesmo que fosse a embriaguez da absoluta autodeterminação – organiza e anima de tal forma o Universo que toda a desgraça, parece, depois, provocada por uma ruptura do equilíbrio vital dessa paixão difusa, que, assim, se defende como um corpo vivo. E, segundo o temperamento de cada um, teremos a sensação de que abusámos, ou de que fomos inferiores; de qualquer forma, sentir-nos-emos organicamente punidos pela própria lei da paixão e do Universo.

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Renunciar à Sede de Poder

Quem não conheceu a tentação de ser o primeiro na cidade nada compreenderá do jogo político, da vontade de submeter os outros para deles fazer objectos, nem adivinhará os elementos de que é composta a arte do desprezo. A sede de poder, raros são os que não a tenham num grau ou noutro experimentado: é-nos natural, e contudo, se a considerarmos melhor, assume todos os carácteres de um estado mórbido do qual apenas nos curamos por acidente ou então por meio de um amadurecimento interior, aparentado com o que se operou em Carlos V quando, ao abdicar em Bruxelas, no topo da sua glória, ensinou ao mundo que o excesso de cansaço podia suscitar cenas tão admiráveis como o excesso de coragem. Mas, anomalia ou maravilha, a renúncia, desafio às nossas contantes, à nossa identidade, sobrevém somente em momentos excepcionais, caso limite que satisfaz o filósofo e perturba profundamente o historiador.

Da Índole dos Homens

A índole é, muitas vezes, ocultada; outras, subjugada; quase nunca extinta. A força faz a índole mais violenta, em represália; a doutrina e o discurso tornam-a menos importuna; somente o costume alcança alterá-la e refreá-la. Àquele que busca vencer a sua própria índole não se deve propor tarefas nem muito grandes nem muito pequenas; as primeiras tornar-le-ão desalentado ante os sucessivos fracassos; as outras, devido às repetidas vitórias, tornar-le-ão convencido. A princípio, deve-se adestrar com auxílios, como o fazem os nadadores com bexigas ou cortiças; mas ao cabo de certo tempo, é mister se adestre com desvantagens, como os dançarinos com sapatos pesados. Chega-se a grande perfeição quando a prática é mais árdua do que o uso. Quando a índole é pujante e, por consequência, difícil de vencer, o primeiro passo será resistir-lhe e deter-lhe os ímpetos a tempo, a exemplo daquele que, quando estava irado, repetia as vinte e quatro letras do alfabeto; em seguida, racioná-la em quantidade, como o que, proibido de beber vinho, passou dos repetidos brindes a um trago nas refeições; por fim, anulá-la de todo.
Não erra o antigo preceito em recomendar que, para endireitar a índole, se a encurve até ao extremo contrário,

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Não é poeta aquele que não tenha sentido a tentação de destruir ou criar outra linguagem.

Deus ama-nos gratuitamente como uma mãe ama um filho. E o filho deixa-se amar; é assim a graça de Deus.

E nós, todavia, tantas vezes, para termos a certeza, queremos controlar a graça: temos a tentação de a mercantilizar.