A primeira sensação que experimento ao encontrar-me na presença de uma criatura humana, por humilde que seja a sua condição, Ă© da igualdade originĂĄria da espĂ©cie. Uma vez dominado por esta ideia, preocupa-me muito mais do que ser-lhe Ăștil ou agradĂĄvel, o nĂŁo ofender nem ao de leve a sua dignidade.
Passagens sobre Ăteis
273 resultadosA Revolução da Bondade
Acho que a grande revolução, e o livro «Ensaio sobre a Cegueira» fala disso, seria a revolução da bondade. Se nĂłs, de um dia para o outro, nos descobrĂssemos bons, os problemas do mundo estariam resolvidos. Claro que isso nem Ă© uma utopia, Ă© um disparate. Mas a consciĂȘncia de que isso nĂŁo acontecerĂĄ, nĂŁo nos deve impedir, cada um consigo mesmo, de fazer tudo o que pode para reger-se por princĂpios Ă©ticos. Pelo menos a sua passagem pelo este mundo nĂŁo terĂĄ sido inĂștil e, mesmo que nĂŁo seja extremamente Ăștil, nĂŁo terĂĄ sido perniciosa. Quando nĂłs olhamos para o estado em que o mundo se encontra, damo-nos conta de que hĂĄ milhares e milhares de seres humanos que fizeram da sua vida uma sistemĂĄtica acção perniciosa contra o resto da humanidade. Nem Ă© preciso dar-lhes nomes.
. Paulo, Outubro 1995″
Certeza Ănica Ă© o Mal Presente
Pois que nada que dure, ou que, durando,
Valha, neste confuso mundo obramos,
E o mesmo Ăștil para nĂłs perdemos
Conosco, cedo, cedo.O prazer do momento anteponhamos
Ă absurda cura do futuro, cuja
Certeza Ășnica Ă© o mal presente
Com que o seu bem compramos.AmanhĂŁ nĂŁo existe. Meu somente
Ă o momento, eu sĂł quem existe
Neste instante, que pode o derradeiro
Ser de quem finjo ser?
NĂŁo se pode ser nem mole nem inconstante nas amizades e inimizades. Ă preciso ser-se sincero e malcriado. Ă preciso dizer-se «Eu nĂŁo gosto de si». Ă preciso dizer-se «VocĂȘ Ă© um verme». Os inimigos sĂŁo mais fĂĄceis de criar que os amigos e Ă s vezes sĂŁo mais Ășteis e dĂŁo-nos maior satisfação.
Mediocridade de EspĂrito
O nosso mĂĄximo esforço de independĂȘncia consiste em opor, por vezes, um pouco de resistĂȘncia Ă s sugestĂ”es quotidianas. A grande massa humana nenhuma resistĂȘncia opĂ”e e segue as crenças, as opiniĂ”es e os preconceitos do seu grupo. Ela obedece-lhe sem ter mais consciĂȘncia do que a folha seca arrastada pelo vento.
SĂł numa elite muito restrita se observa a faculdade de possuir, algumas vezes, opiniĂ”es pessoais. Todos os progressos da civilização procedem, evidentemente, desses espĂritos superiores, mas nĂŁo se pode desejar a sua multiplicação sucessiva. Inapta a adaptar-se imediatamente a progressos rĂĄpidos e profundos em demasia, uma sociedade tornar-se-ia logo anĂĄrquica. A estabilidade necessĂĄria Ă sua existĂȘncia Ă© precisamente estabelecida graças ao grupo compacto dos espĂritos lentos e medĂocres, governados por influĂȘncias de tradiçÔes e de meio.
Ă, portanto, Ăștil para uma sociedade que ela se componha de uma maioria de homens mĂ©dios, desejosos de agir como toda a gente, que tĂȘm por guias as opiniĂ”es e as crenças gerais. Ă muito Ăștil tambĂ©m que as opiniĂ”es gerais sejam pouco tolerantes, pois o medo do juĂzo alheio constitui uma das bases mais seguras da nossa moral.
A mediocridade de espĂrito pode, pois, ser benĂ©fica para um povo,
Nenhuma coisa Ăștil se consegue pela pressa.
O xadrez Ă© um jogo Ăștil e honesto, indispensĂĄvel na educação da juventude.
NĂŁo hĂĄ coisa tĂŁo preciosa, e tĂŁo Ăștil, que continuada nĂŁo enfade.
A mais honrosa das ocupaçÔes Ă© servir o pĂșblico e ser Ăștil ao maior nĂșmero de pessoas.
HĂĄ diversos tipos de curiosidade; uma de interesse, que nos leva ao desejo de aprender o que nos pode ser Ăștil, e outra, de orgulho, que provĂ©m do desejo de saber o que os outros ignoram.
Sucesso é Realização
O sucesso Ă© a realização de qualquer coisa valiosa para si. Pode ser a paz de espĂrito e felicidade; uniĂŁo no lar e na famĂlia; o gosto pelo trabalho; independĂȘncia financeira; alegria e satisfação por servir os outros; o desenvolvimento das forças construtivas inerentes ao homem; amar a vida e sentir-se satisfeito com o seu carĂĄcter, os seus ideais e os trabalhos realizados.
«Talvez ainda se nĂŁo tivesse encontrado uma definição de sucesso aplicĂĄvel a todas as pessoas» – escreveu Zu Tavern – «Cada um de nĂłs tem a sua ideia pessoal de sucesso, e essa mesma ideia vai-se modificando com a passagem do tempo. Para alguns, sucesso Ă© igual a fama; para outros, riqueza em dinheiro; para outros ainda, apenas amor e felicidade.»
Ă uma lei da natureza humana realizar, ganjear respeito, ser um trabalhador e construtor activo, deixar o mundo um pouco melhor que o encontrado. O homem foi feito para realizar. A maior satisfação da vida provĂ©m da realização. Isto prova-se pela sua estrutura fĂsica, mental e moral.
Quando faz qualquer coisa – para os outros ou para o seu prĂłprio bem – Ă© feliz e sente-se Ăștil.
O desejo de realizar nasce connosco.
NĂŁo hĂĄ Dicas para Namorar e Casar
Nunca me ensinaram as coisas realmente Ășteis: como Ă© que um rapaz arranja uma noiva, que tipo de anel deve comprar, se pode continuar a sair para os copos com os amigos, se Ă© preciso pedir primeiro aos pais, se tem de usar anel tambĂ©m. Palavra que fui um rapaz que estudou muito e nunca me souberam ensinar isto. Ensinaram-me tudo e mais alguma coisa sobre o sexo e a reprodução, sobre o prazer e a sedução, mas quanto ao namorar e casar, nada. E agora, como Ă© que eu faço?
Passei a pente fino as melhores livrarias de Lisboa e nĂŁo encontrei uma Ășnica obra que me elucidasse. Se quisesse fazer cozinha macrobiĂłtica, descobrir o «ponto G» da minha companheira para ajudĂĄ-la a atingir um orgasmo mais recompensador, montar um aquĂĄrio, criar mĂscaros ou construir um tanque Sherman em casa, sim, existe toda uma vasta bibliografia. Para casar, nem um folheto. Nem um «dĂ©pliant». Nada. Nem um autocolante. Para apanhar SIDA sei exactamente o que devo fazer. Para apanhar a minha noiva nĂŁo faço a mais pequena ideia.
Porque Ă© que o MinistĂ©rio da Juventude, em vez de esbanjar fortunas com iniciativas patetas (como aquela piroseira fascistĂłide dos Descobrimentos) e anĂșncios ridĂculos (como aqueles «Ya meu,
HĂĄ a oração da manhĂŁ e a da noite. Todavia, quando estamos sem fĂŽlego, assoberbados pelas dificuldades, pelos contratempos, pela fadiga, pode ser Ăștil repetir durante o dia uma breve oração. Por exemplo: «Eu sou a presença de Deus. Senhor, enche-me de Ti.»
O Saber Ajuda em Todas as Actividades
O mero filĂłsofo Ă© geralmente uma personalidade pouco admisÂsĂvel no mundo, pois supĂ”e-se que ele em nada contribui para o beÂnefĂcio ou para o prazer da sociedade, porquanto vive distante de toda comunicação com os homens e envolto em princĂpios e noçÔes igualmente distantes de sua compreensĂŁo. Por outro lado, o mero igÂnorante Ă© ainda mais desprezado, pois nĂŁo hĂĄ sinal mais seguro de um espĂrito grosseiro, numa Ă©poca e uma nação em que as ciĂȘncias florescem, do que permanecer inteiramente destituĂdo de toda espĂ©cie de gosto por estes nobres entretenimentos. SupĂ”e-se que o carĂĄcter mais perfeito se encontra entre estes dois extremos: conserva igual capacidade e gosto para os livros, para a sociedade e para os negĂłcios; mantĂ©m na conversação discernimento e delicadeza que nascem da cultura literĂĄria; nos negĂłcios, a probidade e a exatidĂŁo que resultam naturalmente de uma filosofia conveniente. Para difundir e cultivar um carĂĄcter tĂŁo aperfeiçoado, nada pode ser mais Ăștil do que as comÂposiçÔes de estilo e modalidade fĂĄceis, que nĂŁo se afastam em demasia da vida, que nĂŁo requerem, para ser compreendidas, profunda apliÂcação ou retraimento e que devolvem o estudante para o meio de homens plenos de nobres sentimentos e de sĂĄbios preceitos,
A bosta de boi Ă© mais Ăștil que os dogmas; serve para fazer estrume.
A Suprema Vantagem do Homem sobre todos os Seres
Foi para o ser capaz de adquirir o maior nĂșmero de artes que a natureza deu a ferramenta que Ă©, de longe, a mais Ăștil: a mĂŁo. E os que pretendem que o homem, longe de ser bem constituĂdo, Ă© o mais mal munido dos animais – dizem, na verdade, que ele nada tem nos pĂ©s, que Ă© nu e nĂŁo possui armas para a luta – estĂŁo errados: ou outros, de facto, dispĂ”em de um Ășnico recurso que nĂŁo podem trocar por um outro, e precisam, por assim dizer, de permanecer calçados para dormir ou para fazer tudo, jamais podem tirar a armadura que tĂȘm ao redor do corpo e jamais conseguem trocar a arma de que foram dotados pelo destino; o homem, pelo contrĂĄrio, dispĂ”e de mĂșltiplos meios de defesa e tem sempre a possibilidade de trocĂĄ-los, assim como pode possuir a arma que deseja e no momento que deseja. A mĂŁo, de facto, torna-se garras, presas ou chifres, e tambĂ©m pega na lança, na espada, ou e qualquer outra arma ou ferramenta, e ela Ă© tudo isso porque pode pegar e segurar tudo.
Essa Ă© a verdadeira alegria na vida, ser Ăștil a um objetivo que vocĂȘ reconhece como grande
Os Grandes Homens
Daqueles que comandaram batalhĂ”es e esquadrĂ”es sĂł resta o nome. O gĂ©nero humano nada tem para mostrar duma centena de batalhas travadas. Mas os grandes homens de que vos falo prepararam puros e perenes prazeres para os homens que ainda hĂŁo-de nascer. Uma eclusa a ligar dois mares, um quadro de Poussin, uma bela tragĂ©dia, uma nova verdade – sĂŁo coisas mil vezes mais preciosas do que todos os anais da corte ou todos os relatos de campanhas militares. Sabeis que, comigo, os grandes homens sĂŁo os primeiros e os herĂłis os Ășltimos.
Chamo «grandes homens» a todos aqueles que se distinguiram na criação daquilo que Ă© Ăștil ou agradĂĄvel. Os saqueadores de provĂncias sĂŁo meros herĂłis.
Tem a Virtude o Prémio
Tardio Ă s vezes, sempre merecido,
Tem a Virtude o prémio aparelhado
Ao profĂcuo talento, ao peito honrado,
Que do dever o stĂĄdio tem corrido.O SĂĄbio, que dos louros esquecido
SĂł no obrar bem os olhos tem cravado
InĂłpino tambĂ©m se acha c’roado
Por mĂŁos sob’ranas c’o laurel devidoĂtil Ă PĂĄtria seja, as paixĂ”es dome,
Seja piedoso, honesto, afĂĄvel, justo;
Que no futuro o espera Ănclito nome.»Assim falou Minerva ao Coro augusto,
Pondo no Templo do imortal Renome,
De glĂłria ornado, o teu prezado Busto.
Ătil Ă© ao mancebo amar, indecoroso ao velho.