Passagens sobre AusĂȘncia

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Frases sobre ausĂȘncia, poemas sobre ausĂȘncia e outras passagens sobre ausĂȘncia para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Como se Morre de Velhice

Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.

Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
nĂŁo tem eco, na ausĂȘncia imensa.

Na ausĂȘncia, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.

Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estĂ­mulo ou recompensa
onde o amor equivale Ă  ofensa.

De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.

(JĂĄ nĂŁo se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)

AusĂȘncia

Por muito tempo achei que a ausĂȘncia Ă© falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje nĂŁo a lastimo.
NĂŁo hĂĄ falta na ausĂȘncia.
A ausĂȘncia Ă© um estar em mim.
E sinto-a, branca, tĂŁo pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamaçÔes alegres,
porque a ausĂȘncia, essa ausĂȘncia assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Que Amor Fez sem Remédio, o Tempo, os Fados?

Depois de tantos dias mal gastados,
Depois de tantas noites mal dormidas,
Depois de tantas lĂĄgrimas vertidas,
Tantos suspiros vĂŁos vĂŁmente dados,

Como nĂŁo sois vĂłs jĂĄ desenganados,
Desejos, que de cousas esquecidas
Quereis remediar mortais feridas,
Que amor fez sem remédio, o tempo, os Fados?

Se nĂŁo tivĂ©reis jĂĄ longa exp’riĂȘncia
Das sem-razÔes de Amor a quem servistes,
Fraqueza fora em vĂłs a resistĂȘncia.

Mas pois por vosso mal seus males vistes,
Que o tempo nĂŁo curou, nem larga ausĂȘncia,
Qual bem dele esperais, desejos tristes?

Temos de Ser o que Nos Apetecer

Se nĂŁo mudares, os outros fazem de ti o que querem.

A velha måxima «Se estås mal, muda-te» faz mesmo todo o sentido.

Se nĂŁo nos sentimos bem com determinado relacionamento, se nĂŁo estamos felizes no nosso trabalho, se nĂŁo conseguimos encarar certa pessoa ou se, simplesmente, nĂŁo nos sentimos bem naquele jantar, naquele ginĂĄsio ou naquela viagem, sĂł nos resta uma alternativa: mudar.

Acontece que, e apesar de parecer simples, essa decisĂŁo Ă© extremamente delicada. E porquĂȘ? Porque uma vez mais colocamos o mundo inteiro Ă  nossa frente. Em vez de nos respeitarmos e levarmos a cabo o nosso desejo de liberdade, saindo de onde estamos para onde queremos estar, nĂŁo, deixamo-nos ficar mesmo que o amor jĂĄ nĂŁo exista, mesmo que o patrĂŁo ou os colegas nos tratem mal, mesmo que continuemos a ser julgados ou cobrados pela mĂŁe, pelo pai, pelo tio ou pelo cĂŁo e por aĂ­ adiante. NĂŁo mudamos e o caldo entorna-se. Ou seja, Ă© o pior dos dois mundos.
NĂŁo comemos a sopa, nĂŁo nos nutrimos, e ainda nos queimamos por andarmos constantemente nas mĂŁos de uns e outros.

As pessoas relacionam-se mais por medo de se perderem umas às outras ou por necessidade de dominarem alguém do que por se amarem genuinamente,

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PrelĂșdio Da Gota D’ Água

Cheio da tua ausĂȘncia me angustio
a cada hora que passa… a cada instante…
– pelo meu pensamento, como um fio,
Ă©s uma gota d’ĂĄgua, tremulante…

Uma gota suspensa e cintilante,
lĂ­mpida e imĂłvel como um desafio…
Tua ausĂȘncia, – Ă© a presença triunfante
daquela gota que ficou no fio. . .

As outras todas, céleres, pingaram,
e caĂ­ram na terra onde secaram,
sĂł tu ficaste, Ășltima gota, assim

como uma estrela sem ter firmamento,
suspensa ao fio do meu pensamento
e a brilhar, sem cair… dentro de mim…

A Dor da AusĂȘncia Fica Mais Pequena

Quando vejo que meu destino ordena
Que, por me experimentar, de vĂłs me aparte,
Deixando de meu bem tĂŁo grande parte,
Que a mesma culpa fica grave pena,

O duro desfavor, que me condena,
Quando pela memĂłria se reparte,
Endurece os sentidos de tal arte
Que a dor da ausĂȘncia fica mais pequena.

Mas como pode ser que na mudança
Daquilo que mais quero, este tĂŁo fora
De me não apartar também da vida?

Eu refrearei tão åspera esquivança,
Porque mais sentirei partir, Senhora,
Sem sentir muito a pena da partida.

A concha

A minha casa Ă© concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciĂȘncia:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros sĂł areia e ausĂȘncia.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocĂȘncia
Se Ă s vezes dĂĄ uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.

E telhadosa de vidro, e escadarias
FrĂĄgeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.

A minha casa… Mas Ă© outra a histĂłria:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memĂłria.

Corpo de Mulher…

Corpo de mulher, brancas colinas, coxas
[brancas,
pareces-te com o mundo na tua atitude de
[entrega.
O meu corpo de lavrador selvagem escava em ti
e faz saltar o filho do mais fundo da terra.

Fui sĂł como um tĂșnel. De mim fugiam os
[pĂĄssaros,
e em mim a noite forçava a sua invasão
[poderosa.
Para sobreviver forjei-te como uma arma,
como uma flecha no meu arco, como uma pedra
na minha funda.

Mas desce a hora da vingança, e eu amo-te.
Corpo de pele, de musgo, de leite ĂĄvido e firme.
Ah os copos do peito! Ah os olhos de ausĂȘncia!
Ah as rosas do pĂșbis! Ah a tua voz lenta e
[triste!

Corpo de mulher minha, persistirei na tua graça.
Minha sede, minha Ăąnsia sem limite, meu
[caminho indeciso!
Escuros regos onde a sede eterna continua,
e a fadiga continua, e a dor infinita.

De Longe Te Hei-de Amar

De longe te hei-de amar
– da tranquila distĂąncia
em que o amor Ă© saudade
e o desejo, constĂąncia.

Do divino lugar
onde o bem da existĂȘncia
Ă© ser eternidade
e parecer ausĂȘncia.

Quem precisa explicar
o momento e a fragrĂąncia
da Rosa, que persuade
sem nenhuma arrogĂąncia?

E, no fundo do mar,
a Estrela, sem violĂȘncia,
cumpre a sua verdade,
alheia Ă  transparĂȘncia.

Ó tu, consolador dos malfadados

Ó tu, consolador dos malfadados,
Ó tu, benigno dom da mão divina,
Das mĂĄgoas saborosa medicina,
Tranquilo esquecimento dos cuidados:

Aos olhos meus, de prantear cansados,
Cansados de velar, teu voo inclina;
E vĂłs, sonhos d’amor, trazei-me Alcina,
Dai-me a doce visĂŁo de seus agrados:

Filha das trevas, frouxa sonolĂȘncia,
Dos gostos entre o férvido transporte
Quanto me foi suave a tua ausĂȘncia!

Ah!, findou para mim tĂŁo leda sorte;
Agora Ă© sĂł feliz minha existĂȘncia
No mudo estado, que arremeda a morte.

A Despedida

TrĂȘs modos de despedida
Tem o meu bem para mim:
– «AtĂ© logo»; «atĂ© Ă  vista»:
Ou «adeus» – É sempre assim.

«Adeus», é lindo, mas triste;
«Adeus» 
 A Deus entregamos
Nossos destinos: partimos,
Mal sabendo se voltamos.

«Até logo», é jå mais doce;
Tem distancia e ausĂȘncia, Ă© certo;
Mas nĂŁo Ă© nem ano e dia,
Nem tĂŁo-pouco algum deserto.

Vale mais «até à vista»,
Do que «até logo» ou «adeus»;
«À vista», lembra, voltando,
Meus olhos fitos nos teus.

TrĂȘs modos de despedida
Tem, assim, o meu Amor;
Antes nĂŁo tivesse tantos!
Nem um só
 Fora melhor.

A Morte pela SolidĂŁo

Morrer Ă© quando hĂĄ um espaço a mais na mesa afastando as cadeiras para disfarçar, percebe-se o desconforto da ausĂȘncia porque o quadro mais Ă  esquerda e o aparador mais longe, sobretudo o quadro mais Ă  esquerda e o buraco do primeiro prego, em que a moldura nĂŁo se fixou, Ă  vista, fala-se de maneira diferente esperando uma voz que nĂŁo chega, come-se de maneira diferente, deixando uma porção na travessa de que ninguĂ©m se serve, os cotovelos vizinhos deixam de impedir os nossos e faz-nos falta que impeçam os nossos.

A Dor como PadrĂŁo para a Intensidade dos Sentidos

Normalmente, a ausĂȘncia de dor Ă© apenas a condição fĂ­sica necessĂĄria para que o indivĂ­duo sinta o mundo; somente quando o corpo nĂŁo estĂĄ irritado, e devido Ă  irritação voltado para dentro de si mesmo, podem os sentidos do corpo funcionar normalmente e receber o que lhes Ă© oferecido. A ausĂȘncia de dor geralmente sĂł Ă© «sentida» no breve intervalo entre a dor e a nĂŁo-dor; mas a sensação que corresponde ao conceito de felicidade do sensualista Ă© a libertação da dor, e nĂŁo a sua ausĂȘncia. A intensidade de tal sensação Ă© indubitĂĄvel; na verdade, sĂł a sensação da prĂłpria dor pode igualĂĄ-la.

As LĂĄgrimas

Exaltemos as lĂĄgrimas. Na pele das veias,
bom dia, ĂĄguas. GratidĂŁo ao rosto, Ă s cores,
ao sulco nos olhos. PorquĂȘ este ardor, este
temor da erva pisada? Adormecem comigo,

meigas fĂĄbricas de quietude e solidĂŁo
no calmo azul branco da sua breve cor.
Que longe se vĂŁo no ar amargo, sob o Ă­mpeto
delirante de as transformar em leis extintas,

ironias ou jĂșbilos. Rolem ou finjam
incansĂĄveis trabalhos ou dores, assim
conspiram em outras portas, outros mistérios.

Perco-as entre conversas, o sono, o amor.
Aos olhos desertos sua ausĂȘncia os desgasta.
Louvemos nas lĂĄgrimas o seu fulgor vĂŁo.

AusĂȘncia Misteriosa

Uma hora sĂł que o teu perfil se afasta,
Um instante sequer, um sĂł minuto
Desta casa que amo — vago luto
Envolve logo esta morada casta.

Tua presença delicada basta
Para tudo tornar claro e impoluto…
Na tua ausĂȘncia, da Saudade escuto
O pranto que me prende e que me arrasta…

Secretas e sutis melancolias
Recuadas na Noite dos meus dias
VĂȘm para mim, lentas, se aproximando.

E em toda casa, nos objetos, erra
Um sentimento que nĂŁo Ă© da Terra
E que eu mudo e sozinho vou sonhando…