Passagens sobre Bem

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Filosofia Simplificada

É uma objecção pobre contra um filósofo dizer que é ininteligível. Ininteligibilidade é um conceito relativo, e aquilo que o Caio ou Ticiano frequentemente louvado não entende nem por isso é ininteligível. E mesmo a filosofia tem, de facto, algo que segundo a sua natureza sempre permanecerá ininteligível à grande multidão. Mas é algo inteiramente outro se a ininteligibilidade está na coisa mesma. – Ocorre frequentemente que cabeças que, com grande exercício e habilidade, mas sem possuirem propriamente inventividade para tarefas mecânicas, se dispõem, por exemplo, a inventar uma máquina de tornear garrafas – fabricam perfeitamente uma, mas o mecanismo é tão difícil e artificioso ou as engrenagens rangem tanto, que se prefere voltar a tornear garrafas com as mãos, à moda antiga. O mesmo pode perfeitamente passar-se na filosofia. O sofrimento com a ignorância sobre os objectos primeiros, sobre os maiores, para todos os homens que sentem, que não são embotados ou estreitamente auto-suficientes, é grande e pode aumentar até se tornar insuportável. Mas se o martírio de um sistema antinatural é maior do que aquele fardo da ignorância, prefere-se no entanto continuar a suportar este. Pode-se bem admitir que também a tarefa da filosofia, se é em geral resolúvel,

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Entendimento Influenciado pela Vontade

Na ciência de julgar, alguma vez é desculpável o erro do entendimento, o da vontade nunca; como se o entender mal não fosse crime, erro sim; ou como se houvesse uma grande diferença entre o erro, e o crime: o entendimento pode errar, porém só a vontade pode delinquir. Assim se desculpam comummente os julgadores, mas é porque não vêem, que o que dizem que procedeu do entendimento, se bem se ponderar, procedeu unicamente da vontade. É um parto suposto, cuja origem, não é aquela que se dá. Querem os sábios enobrecer o erro, com o fazer vir do entendimento, e com lhe encobrir o vício que trouxe da vontade; mas quem é que deixa de ver, que o nosso entendimento quási sempre se sujeita ao que nós queremos; e que o seu maior empenho, é servir à nossa inclinação; por isso raras vezes se opõe, e o mais em que se ocupa, é em conformar-se de tal sorte ao nosso gosto, que ainda a nós mesmos fique parecendo, que foi resolução do entendimento aquilo que não foi senão acto da vontade.
O entendimento é a parte que temos em nós mais lisonjeira; daqui vem que nem sempre segue a razão,

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Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.

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Uma Vida Simples e Modesta

Não depender senão de si mesmo é, em nossa opinião, um grande bem, mas daí não se segue que devamos sempre contentar-nos com pouco. Simplesmente, quando nos falte a abundância, devemos poder contentar-nos com pouco, persuadidos de que gozam melhor a riqueza os que têm menor número de cuidados, e de que tudo quanto seja natural se obtém facilmente, enquanto o que não o é só se consegue a custo. As iguarias mais simples proporcionam tanto prazer quanto a mesa mais ricamente servida, sempre que esteja ausente o sofrimento causado pela necessidade, e o pão e a água ocasionam o mais vivo prazer quando são saboreados após longa privação.
O hábito de uma vida simples e modesta é, pois, uma boa maneira de cuidar da saúde e, ademais, torna o homem corajoso para suportar as tarefas que deve necessariamente cumprir na vida. Permite-lhe ainda apreciar melhor uma vida opulenta, quando se lhe enseje, e fortalece-o contra os reveses da fortuna. Por conseguinte, quando dizemos que o prazer é o soberano bem, não falamos dos prazeres dos devassos, nem dos gozos sensuais, como o pretendem alguns ignorantes que nos combatem e nos desfiguram o pensamento. Falamos da ausência de sofrimento físico e da ausência de perturbação moral.

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Riso

Tive o jeito de rir, quando menino,
Até beber as lágrimas choradas:
Com carantonhas, gestos, desatino,
Passou a nuvem e os pequenos nadas.

A rir de escuridões, de encruzilhadas,
Tornei-me afeito logo em pequenino;
Porque ri é que trago as mãos geladas,
E choro porque ri do meu destino.

Vivi de mais num mundo idealizado
Comigo só: E só de mim descreio
Entornava-me riso a luz em cheio

Quando o meu mundo foi principiado;
Rio agora que não sei donde me veio
Sempre o mal que me trouxe o bem sonhado.

A Vida é uma Montanha Russa

A vida não é uma linha reta em que alguém conquistado ou algo adquirido é uma segurança para todo o sempre; a vida é uma montanha russa e, de vez em quando, sim, é preciso ficares de pernas para o ar. Tudo passa, tu ficas. Sou tão assertivo relativamente a este tema porque sei que é a dependência que gera o apego, ou seja, se as pessoas forem independentes é impossível serem apegadas. É o ego que as vincula à ideia de que não são suficientemente boas para dependerem de si mesmas e é contra esta terrível armadilha que é preciso lutar.

Uma mãe que dependa do bem–estar do filho e que viva para ele é uma mulher que não encontrará forças para lhe esticar o braço quando ele cair e precisar de uma verdadeira mãe, pois serão sempre dois a sofrer da mesma epidemia, da mesma dor, da mesma frustração ou desilusão; um homem que use e abuse da estabilidade profissional e financeira que conquistou e que dependa disso para, pensa ele, ser o que é, é alguém que mais tarde ou mais cedo, e num daqueles loopings da vida em que o que era já não é,

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Mil dias não bastam para aprender o bem; mas para aprender o mal, uma hora é demais.

A Inépcia é Pior que a Falsidade

Toda a gente pode falar com verdade; mas falar com ordem, com prudência e capazmente, poucos o podem. Por isso, a falsidade que vem da ignorância não me ofende; a inépcia, sim. Quebrei várias negociações que me eram úteis, por causa da estupidez que punham nas discussões aqueles com quem negociava. Nem uma vez por ano me irrito com as faltas dos meus subordinados; mas, no que respeita à idiotice e teimosia das suas alegações, às desculpas e defesas asininas e brutas, andamos todos os dias às turras. Não entendem nem o que se lhes diz nem a razão das coisas e respondem na mesma; é de desesperar.
Só outra cabeça é capaz de impressionar fortemente a minha e acomodo-me melhor com os erros dos meus do que com a sua leviandade, impertinência e estupidez. Que façam menos, contanto que façam bem alguma coisa; vive-se na esperança de lhes excitar a vontade, mas de estúpidos não há que esperar nem que lucrar coisa que valha.

Adoração

Vi o teu rosto lindo,
Esse rosto sem par;
Contemplei-o de longe mudo e quedo,
Como quem volta de áspero degredo
E vê ao ar subindo
O fumo do seu lar!

Vi esse olhar tocante,
De um fluido sem igual;
Suave como lâmpada sagrada,
Benvindo como a luz da madrugada
Que rompe ao navegante
Depois do temporal!

Vi esse corpo de ave,
Que parece que vai
Levado como o Sol ou como a Lua
Sem encontrar beleza igual à sua;
Majestoso e suave,
Que surpreende e atrai!

Atrai e não me atrevo
A contemplá-lo bem;
Porque espalha o teu rosto uma luz santa,
Uma luz que me prende e que me encanta
Naquele santo enlevo
De um filho em sua mãe!

Tremo apenas pressinto
A tua aparição,
E se me aproximasse mais, bastava
Pôr os olhos nos teus, ajoelhava!
Não é amor que eu sinto,
É uma adoração!

Que as asas providentes
De anjo tutelar
Te abriguem sempre à sua sombra pura!
A mim basta-me só esta ventura
De ver que me consentes
Olhar de longe…

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Dar o que Temos é Pouco

Quem apenas dá o que tem dá sempre pouco. Cada um de nós é muito mais do que aquilo que possui. Assim, mais do que dar o que temos, devemos dar o que somos.

Quem dá o que é irradia o bem da sua existência, semeia-se enquanto bondade… faz-se mais e melhor.

Há quem tenha tudo e não seja nada. Julgando que o seu valor está no que possui, exibe os seus bens como se fossem condecorações… desprezando não só o que é, mas, e ainda mais importante, o que poderia ser.

Quanto às coisas materiais, será melhor merecer o que não se tem do que ter o que não se merece… tal como é preferível ser credor do que devedor.

Nunca é bom depender do que não depende de nós.
Hoje confundem-se desejos com necessidades. Na verdade, não são sequer comparáveis, na medida em que os desejos buscam uma satisfação inalcançável. Pois assim que se sacia um desejo, logo outro, maior, toma o seu lugar. São vontades estranhas à nossa paz e capazes de alimentar contra nós uma guerra sem fim. É importante que atendamos às nossas verdadeiras carências, mas com o cuidado de afastar daí todos os desejos que querem passar por elas.

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A Moralidade Pública Degradada

As crianças ficam todas contentes quando encontram na praia alguns calhaus coloridos; nós preferimos enormes colunas variegadas, importadas das areias do Egipto ou dos desertos do Norte de África para a construção de algum pórtico ou de um salão de banquetes com capacidade para uma multidão. Olhamos com admiração paredes recobertas de placas de mármore, embora cientes do material que lá está por baixo. Iludimos os nossos próprios olhos: quando recobrimos os tectos a ouro o que fazemos senão deleitar-nos com uma mentira ? Sabemos bem que por baixo desse ouro se oculta reles madeira! Mas não são só as paredes ou os tectos que se recobrem de uma ligeira camada: também a felicidade destes aparentes grandes da nossa sociedade é uma felicidade «dourada»! Observa atentamente, e verás a corrupção que se esconde sob essa leve capa de dignidade. Desde que o dinheiro (que tanto atrai a atenção de inúmeros magistrados e juízes e tantos mesmo promove a magistrados e juízes!…), desde que o dinheiro, digo, começou a merecer honras, a honra autêntica começou a perder terreno; alternadamente vendedores ou objectos postos à venda, habitua-mo-nos a perguntar pela quantidade, e não pela qualidade das coisas. Somos boas pessoas por interesse,

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Beijos Do Céu

Sonhei-te assim, ó minha amante, um dia:
– Vi-te no céu; e, anamoradamente,
De beijos, a falange resplendente
Dos serafins, teu corpo inteiro ungia…

Santos e anjos beijavam-te… Eu bem via
Beijavam todos o teu lábio ardente;
E, beijando-te, o próprio Onipotente,
O próprio Deus nos braços te cingia!

Nisto, o ciúme – fera que eu não domo –
Despertou-me do sonho, repentino
Vi-te a dormir tão plácida a meu lado…

E beijei-te também, beijei-te… e, ai! como
Achei doce o teu lábio purpurino.
Tantas vezes assim no céu beijado!

a capitalização do amor

não escondemos que aprendemos a
capitalizar o amor, entregando
amplamente os nossos melhores
momentos às raparigas mais carentes.
o amor, sabemos bem, é o caminho directo
para a inutilidade, e nós procuramos as
raparigas que mais rapidamente se
inutilizem perante as coisas clássicas
da vida. não nos queremos atarefar com
a vulgaridade, e gostaríamos até de
impregnar cada gesto com características
alienígenas, mas o tempo escapa-se e o
dinheiro também e, se só pensamos no amor,
não temos como fazer de outro modo
senão vendê-lo entusiasticamente, como
fontes de trovões bonitos jorrando nas
praças mais movimentadas das cidades. e
as raparigas correm para nós urgentes
e cheias de vida, férteis de tudo quanto o
amor se abate sobre elas, uma alegria rica
de se ver, e nós a balançar os braços para
chamar a atenção de mais e mais e
já nem sabemos como parar, como forças
incontroladas, à semelhança de mecanismos
ferozes da natureza, e só sairemos daqui
quando desfalecermos de amor até
pelas raparigas mais feias

Sabedoria Prática Inexistente

A maioria dos luxos e muitos dos chamados confortos da vida não só são dispensáveis como constituem até obstáculos à elevação da humanidade. No que diz respeito a luxos e confortos, os mais sábios sempre viveram de modo mais simples e despojado que os pobres. Os antigos filósofos chineses, indianos, persas e gregos eram uma classe que se notabilizava pela extrama pobreza de bens exteriores, em contraste com a sua riqueza interior. Embora não saibamos muito a seu respeito, é de admirar que saibamos tanto quanto sabemos. O mesmo acontece com reformadores e benfeitores mais recentes, da nacionalidade deles. Ninguém pode ser um observador imparcial e sábio da raça humana, a não ser da posição vantajosa a que chamaríamos pobreza voluntária.
O fruto de uma vida de luxo é também luxo, seja em agricultura, comércio, literatura ou arte. Hoje em dia há professores de filosofia, mas não há filósofos. Contudo é admirável ensinar filosofia porque um dia foi admirável vivê-la. Ser um filósofo não é apenas ter pensamentos subtis, nem sequer fundar uma escola, mas amar a sabedoria a ponto de viver, segundo os seus ditames, uma vida de simplicidade, independência, magnanimidade e confiança. É solucionar alguns problemas da vida não só na teoria mas também na prática.

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Sèvres Partido

A amazona negra era bella como o sol e triste como o luar, e ninguem acredita mas era pastora de galgas. Figura negra muito esguia, cypreste procurando vaga na margem do caminho.

Nas manhãs de Outomno, frias como os degraus do tanque, era Ella quem largava às galgas a lebre cinzenta, e a que a filásse já sabia com quem dormia a sésta. E as galgas já nem dormiam bem noutra almofada.

Sobre a relva, na sombra arrendilhada das folhas amarellecidas dos plátanos onde os repuxos do tanque cuspiam lagryrnas de vidro, a Amazona negra sonhava o seu Principe encantado e a galga do dia dormia quieta, estendido o focinho no ventre d’Ella.

Uma manhã mais turva as galgas todas voltaram tristes, de focinhos pendidos – e nenhuma para dormir a sésta!

Uma flauta triste vinha de viagem pelo caminho; chorava de seguida imensas canções de choros e tinha acompanhamentos funéreos de guisalhádas surdas.

Callou-se a flauta, um cypreste distante gemia baixinho as dôres da tatuagem que lhe iam abrindo no peito. O pastor lembrava ali o nome do seu Bem. Pendia-lhe da cinta uma lebre cinzenta e a funda torcida.

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