Passagens sobre Bem

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Captar a Oportunidade no Momento Justo

Já percebeste que deves subtrair-te a essas tuas ocupações ilusórias e nocivas, mas ignoras ainda o modo de o conseguir. Ora há coisas que só estando presente te posso indicar! O médico também não pode determinar por carta a hora adequada para a alimentação ou para o banho: tem de tomar o pulso ao doente. Diz um antigo provérbio que o gladiador só forma o seu plano na arena a partir da observação do rosto do adversário, do modo como move os braços, da própria postura do corpo. Observações sobre os costumes, sobre os deveres, é possível fazê-las de um modo geral e por escrito; são conselhos que se podem dar não só a ausentes, como até à posteridade. Mas a maneira e a ocasião de tomar uma decisão concreta, isso ninguém pode aconselhá-lo à distância, é forçoso deliberar em face das próprias circunstâncias.
Para captar a oportunidade no momento justo é preciso não só estar presente, como estar atento. Põe-te, por conseguinte na expectativa, e assim que surpreenderes a oportunidade agarra-a com toda a rapidez, com toda a energia, e liberta-te definitivamente desses teus falacciosos deveres! Repara bem no conselho que te dou: em meu entender tens de libertar-te desse tipo de vida,

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A uma Regateira

A minha Isabel
saiu esta tarde
A matar de amores,
A vendar gorazes.

Deitada ao pescoço
A beatilha leva,
Pois de desprezar
Somente se preza,

Por fresco apregoa
O peixe, meu bem,
E no apregoar fresco
Quanto sal que tem!

Gadelhinhas louras,
Que pelas gadelhas
A minha alma anda
Pendurada nelas.

Em continhas brancas
Extremós vermelhos.
Porém como ela
Não há tal extremo.

Memória de prata
Metida no dedo,
Vá-se embora o ouro,
Que não tem tal preço.

Sainha de pano,
Barra de veludo,
Mantilha vermelha,
Sapata em pantufo.

Ao passar lhe disse
Pela requebrar:
Senhora Isabel
Quem fora goraz!

Fizera-lhe eu logo
Depressa um Soneto,
Porque de poeta
Tenho meus dois dedos.

Porém nesse passo
Entrou Bastião,
Pediu-me dinheiro,
Dei a tudo de mão.

Os Dias Zangados São Dias de Amor

Raios partam os dias zangados. Nada há que se possa fazer para fugir deles. Esperam por nós, como credores ajudados por juros injustificáveis, para nos cortarem a fatia do nosso coração que lhes cabe.
Não são como os dias tristes, que não conseguem habituar-se a uma realidade qualquer, que se revelou, sem querer, desiludindo-nos de uma ilusão que nós próprios inventámos, para mais facilmente podermos acreditar, falsamente, nela. Mas assemelham-se para mais bem nos poderem magoar. Depois. Quase ao mesmo tempo. Bem.
Quem não tem um dia zangado, em que ninguém ou nada corresponde ao que esperávamos? A felicidade é a excepção e o engano. Resulta mais de um esquecimento do que de uma lembrança.
Pouco há de certo neste mundo. São muitos os pobres, mas não são poucos os ricos. As pessoas do sexo masculino não se entendem nem com as pessoas do sexo masculino, nem com as do sexo feminino. As pessoas, sejam de que sexo e sexualidade forem, compreendem-se mal. Dão-se mal, por muito bem que se dêem. As mais apaixonadas umas pelas outras são as que menos bem aceitam as diferenças, as incompreensões, os dias zangados e as noites zangadas que apenas servem para nos relembrar que todos nós nascemos e morremos sozinhos.

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À Variedade do Mundo

Este nasce, outro morre, acolá soa
Um ribeiro que corre, aqui suave,
Um rouxinol se queixa brando e grave,
Um leão c’o rugido o monte atroa.

Aqui corre uma fera, acolá voa
C’o grãozinho na boca ao ninho üa ave,
Um demba o edifício, outro ergue a trave,
Um caça, outro pesca, outro enferoa.

Um nas armas se alista, outro as pendura
An soberbo Ministro aquele adora,
Outro segue do Paço a sombra amada,

Este muda de amor, aquele atura.
Do bem, de que um se alegra, o outro chora…
Oh mundo, oh sombra, oh zombaria, oh nada!

Apto e Inapto, Verdade e Mentira

A duração, seja os séculos para as civilizações, seja os anos e as dezenas de anos para o indivíduo, tem uma função darwiniana de eliminação do inapto. O que está apto para tudo é eterno. É apenas nisto que reside o valor daquilo a que chamamos a experiência. Mas a mentira é uma armadura com a qual o homem, muitas vezes, permite ao inapto que existe em si sobreviver aos acontecimentos que, sem essa armadura, o aniquilariam (bem como ao orgulho para sobreviver às humilhações), e esta armadura é como que segregada pelo inapto para prevenir uma situação de perigo (o orgulho, perante a humilhação, adensa a ilusão interior). Subsiste na alma uma espécie de fagocitose; tudo o que é ameaçado pelo tempo, para não morrer, segrega a mentira e, proporcionalmente, o perigo de morte. É por isso que não existe amor pela verdade sem uma admissão ilimitada da morte. A cruz de Cristo é a única porta do conhecimento.

A Realidade da Vida e a Realidade do Mundo

A nossa crença na realidade da vida e na realidade do mundo não são, com efeito, a mesma coisa. A segunda provém basicamente da permanência e da durabilidade do mundo, bem superiores às da vida mortal. Se o homem soubesse que o mundo acabaria quando ele morresse, ou logo depois, esse mundo perderia toda a sua realidade, como a perdeu para os antigos cristãos, na medida em que estes estavam convencidos de que as suas expectativas escatológicas seriam imediatamente realizadas. A confiança na realidade da vida, pelo contrário, depende quase exclusivamente da intensidade com que a vida é experimentada, do impacte com que ela se faz sentir.
Esta intensidade é tão grande e a sua força é tão elementar que, onde quer que prevaleça, na alegria ou na dor, oblitera qualquer outra realidade mundana. Já se observou muitas vezes que aquilo que a vida dos ricos perde em vitalidade, em intimidade com as «boas coisas» da natureza, ganha em refinamento, em sensibilidade às coisas belas do mundo. O facto é que a capacidade humana de vida no mundo implica sempre uma capacidade de transcender e alienar-se dos processos da própria vida, enquanto a vitalidade e o vigor só podem ser conservados na medida em que os homens se disponham a arcar com o ónus,

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A Instabilidade e Imprevisibilidade do Nosso Comportamento

Não deveis estranhar se hoje vedes poltrão aquele que ontem vistes tão intrépido: ou a cólera, ou a necessidade, ou a companhia, ou o vinho, ou o som de uma trombeta, tinham-lhe incutido coragem. Não se trata de uma coragem que a razão haja modelado; foram as circunstâncias que lhe deram consistência; não espanta, pois, que circunstâncias contrárias a tenham transformado.
Esta tão flexível variação e estas contradições que em nós se vêem, fizeram com que alguns imaginassem termos duas almas, e que outros supusessem que dois poderes nos acompanham e agitam, cada qual à sua maneira, um tendendo para o bem, o outro para o mal, já que tão brutal diversidade não poderia atribuir-se a uma só entidade.
Não somente o vento dos acidentes me agita consoante a direcção para que sopra, mas, ademais, eu agito-me e perturbo-me a mim próprio pela instabilidade da minha postura; e quem, antes do mais, se observar, nunca se achará duas vezes no mesmo estado. Confiro à minha alma ora um rosto ora outro, conforme o lado sobre que a pousar. Se falo de mim de diferentes maneiras é porque de maneiras diferentes me observo. Toda a sorte de contradições se podem encontrar em mim sob algum ponto de vista e sob alguma forma.

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A Cantiga do Optimismo

Não embarquem na cantiga do optimismo. Sempre que possível, vejam as coisas pelo lado ruim. Desejem o melhor, mas não deixem nunca de esperar o pior. E saibam que dois terços das conquistas do Homem se fizeram, mais do que pelo optimismo dos seus autores, em resultado do pessimismo dos vizinhos daqueles. Os compêndios irão contra vós. Dir-vos-ão que são cínicos, escapistas, pobres cultores da ideia de supremacia do mal sobre o bem, tristes conformistas destinados ao imobilismo e mais nada. Não acreditem. Se há uma coisa capaz de mover montanhas, é ter ao lado um sacana a dizer «Não consegues, pá, dês as voltas que deres não consegues» – e, aliás, nós próprios concordarmos com ele. Em todo o caso, o mal exerce efectivamente supremacia sobre o bem. Vocês sabem que as crianças choram antes de rir – e que. muito antes de aprenderem o potencial sedutor de um sorriso, já conhecem as virtudes chantagísticas de uma boa gritaria.

Não pensem que o método é meu. Insinuou-o Voltaire, no seu Candide, à revelia dos optimistas taralhoucos que vieram antes e depois dele, como Leibniz ou Godwin. Gramsci tratou da exegese. O verdadeiro segredo? O verdadeiro método? «É preciso atrair violentamente a atenção para o presente do modo como ele é.

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O Amor Social

É necessário voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena sermos bons e honestos. Vivemos já muito tempo na degradação moral, baldando-nos à ética, à bondade, à fé, à honestidade; chegou o momento de reconhecer que esta alegre superficialidade de pouco nos serviu. Uma tal destruição de todo o fundamento da vida social acaba por nos colocar uns contra os outros, na defesa dos próprios interesses, provoca o despertar de novas formas de violência e crueldade e impede o desenvolvimento de uma verdadeira cultura do cuidado do meio ambiente.

O exemplo de Santa Teresa de Lisieux convida-nos a pôr em prática o pequeno caminho do amor, a não perder a oportunidade de uma palavra gentil, de um sorriso, de qualquer pequeno gesto que semeie paz e amizade. Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo. Pelo contrário, o mundo do consumo exacerbado é, simultaneamente, o mundo que maltrata a vida em todas as suas formas.

O amor, cheio de pequenos gestos de cuidado mútuo, é também civil e político,

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Vita Nuova

De onde e veio esse tremor de ninho
A alvorecer na morta madrugada?
Era todo o meu ser… Não era nada,
Senão na pele a sombra de um carinho.

Ah, bem velho carinho! Um desalinho
De dedos tontos no painel da escada…
Batia a minha cor multiplicada,
– Era o sangue de Deus mudado em vinho!

Bandeiras tatalavam no alto mastro
Do meu desejo. No fervor da espera
Clareou à distância o súbito alabastro.

E na memória, em nova primavera,
Revivesceu, candente como um astro,
A flor do sonho, o sonho da quimera.

Os Partidos Forçaram-me à Ditadura

Sinceramente desejei evitar a ditadura, para onde os acontecimentos pareciam querer arrastar-me, e tive para isso de suportar duas crises ministeriais sucessivas. São esses mesmos, os partidos, que me forçam agora a ela. Um, recusando-se a colaborar no governo, contra o que eu desejava e devia esperar; o outro, fazendo causa comum nos tumultos da Câmara. Não há, por agora, outro meio de governar. Chegassem os republicanos ao poder, e teriam de recorrer à ditadura. Pois bem: se qualquer governo tem de a usar, e sem governo não se passa, ninguém com mais direito a fazê-lo do que vocês. Deram uma sessão parlamentar ininterrupta de seis meses. Ninguém poderá acusá-los de fugir do parlamento, onde tiveram os seus melhores dias, e que ainda hoje estaria aberto, se materialmente lho não houvessem impedido. Têm governado com tal lisura e tão firmes propósitos de acertar, que ganharam a simpatia e a confiança geral. Mostraram larga iniciativa de governo nos numerosos e complexos projectos apresentados nas Câmaras. Têm, enfim, unidade de vistas, resolução de mando, vontade de governar. Continuem a governar bem, como até aqui, e dar-lhes-ei todo o meu apoio.

Pronto para Receber a Felicidade

Estava tudo pronto para receber a felicidade,
e tu não vinhas.

Amei-te muito antes de te amar. Éramos o que
os amantes eram e nem precisávamos de
corpo para isso, porque o que dizíamos nos
satisfazia, e sempre que a vida acontecia era um
ao outro que tínhamos de falar. Se há coisa que
temo no mundo é o teu fim. Passo horas a sentir-me
indestrutível, a ter a certeza de que nada me
toca, de que nada me poderá doer o suficiente para
me fazer recuar, e depois vens tu. Tu e a tua imagem
a perder de vista, os teus olhos quando me olhas, a
tua boca quando me falas, e é então que percebo
que sou finito, pobre humano, e desato a chorar à
procura do telefone e de uma palavra tua que
me convença de que ainda existes. É na possibilidade
do teu fim que encontro a humildade.

Era o dia mais lindo de sempre na terra onde eu estava,
e tu não vinhas.

Não se sabe onde acaba o mundo mas eu sei que
a vida acaba no fundo dos teus lábios.

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Soneto VIII

Da virtude que move os Céus depende
Todo o bem, toda a glória e ser da terra,
E se u’hora faltasse, o vale, a serra,
A flor, o fruito, a fonte, o rio ofende.

Esse braço que amor de longe estende
Para esta alma, meu ser e vida encerra,
E se algu’hora Amor dela o desterra,
Que glória mais que vida ou ser pretende.

Mas nem há-de faltar essa virtude
Se não c’o mundo, nem faltar-me agora;
Vosso Amor até morte me assigura.

Então para que nunca mais se mude,
Se mudará, e mudar-se Amor nessa hora,
Será para outro Amor que sempre dura.

Poética

Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia

E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.

Não sei bem se é casa
Se é torre ou se é templo.
(Um templo sem Deus.)

Mas é grande e clara
Pertence ao seu tempo
…. Entrai, irmãos meus!

É preferível simular o bem a simular o mal, pois quem imita o bem acaba aprendendo o bem, ao passo que aquele que imita o mal acaba enveredando pelo caminho do mal.