A respeito de polĂtica (…) eu continuo a nĂŁo ter fĂ© em ninguĂ©m e a achar todos os mesmos.
Passagens sobre FĂ©
556 resultadosFlores Velhas
Fui ontem visitar o jardinzinho agreste,
Aonde tanta vez a lua nos beijou,
E em tudo vi sorrir o amor que tu me deste,
Soberba como um sol, serena como um vĂ´o.Em tudo cintilava o lĂmpido poema
Com Ăłsculos rimado Ă s luzes dos planetas:
A abelha inda zumbia em torno da alfazema;
E ondulava o matiz das leves borboletas.Em tudo eu pude ver ainda a tua imagem,
A imagem que inspirava os castos madrigais;
E as vibrações, o rio, os astros, a paisagem,
Traziam-me Ă memĂłria idĂlios imortais.E nosso bom romance escrito num desterro,
Com beijos sem ruĂdo em noites sem luar,
Fizeram-mo reler, mais tristes que um enterro,
Os goivos, a baunilha e as rosas-de-toucar.Mas tu agora nunca, ah! Nunca mais te sentas
Nos bancos de tijolo em musgo atapetados,
E eu nĂŁo te beijarei, Ă s horas sonolentas,
Os dedos de marfim, polidos e delgados…Eu, por nĂŁo ter sabido amar os movimentos
Da estrofe mais ideal das harmonias mudas,
Eu sinto as decepções e os grandes desalentos
E tenho um riso meu como o sorrir de Judas.
Uma doutrina que seja doce para com os que têm fé nela não contém inferno nem ameaças. Os que não têm fé, esses apenas sentirão em si uma vida fugidia.
Ver e nĂŁo Ver
Não vos tem acontecido alguma vez ter os olhos postos e fixos em uma parte, e porque no mesmo tempo estais com o pensamento divertido, ou na conversação, ou em algum cuidado, não dar fé das mesmas coisas que estais vendo? Pois esse é o modo e a razão porque naturalmente, e sem milagre, podemos ver e não ver juntamente. Vemos as coisas, porque as vemos: e não vemos essas mesmas coisas, porque as vemos divertidos.
O temor saudável provem da fĂ© – o temor errĂ´neo provem da dĂşvida.
Ă“ Trevas, que Enlutais a Natureza
Ă“ trevas, que enlutais a Natureza,
Longos ciprestes desta selva anosa,
Mochos de voz sinistra e lamentosa,
Que dissolveis dos fados a incerteza;Manes, surgidos da morada acesa
Onde de horror sem fim PlutĂŁo se goza,
NĂŁo aterreis esta alma dolorosa,
Que é mais triste que voz minha tristeza.Perdi o galardão da fé mais pura,
Esperanças frustrei do amor mais terno,
A posse de celeste formosura.Volvei, pois, sombras vĂŁs, ao fogo eterno;
E, lamentando a minha desventura,
Movereis Ă piedade o mesmo Inferno.
A Vaidade Acompanha-nos Até na Morte
Sendo o termo da vida limitado, nĂŁo tem limite a nossa vaidade; porque dura mais, do que nĂłs mesmos, e se introduz nos aparatos Ăşltimos da morte. Que maior prova, do que a fábrica de um elevado mausolĂ©u? No silĂŞncio de uma urna depositam os homens as suas memĂłrias, para com a fĂ© dos mármores fazerem seus nomes imortais: querem que a sumptuosidade do tĂşmulo sirva de inspirar veneração, como se fossem relĂquias as suas cinzas, e que corra por conta dos jaspes a continuação do respeito. Que frĂvolo cuidado! Esse triste resto daquilo, que foi homem, já parece um Ădolo colocado em um breve, mas soberbo domicĂlio, que a vaidade edificou para habitação de uma cinza fria, e desta declara a inscrição o nome, e a grandeza. A vaidade atĂ© se estende a enriquecer de adornos o mesmo pobre horror da sepultura.
Vivemos com vaidade, e com vaidade morremos; arrancando os últimos suspiros, estamos dispondo a nossa pompa fúnebre, como se em hora tão fatal o morrer não bastasse para ocupação; nessa hora, em que estamos para deixar o mundo, ou em que o mundo está para nos deixar, entramos a compor, e a ordenar o nosso acompanhamento,
As Profecias
(fragmentos)
I
depois de tudo
minha casa permanecerá nos fundosminguantes novos
cidades mortas
ruas desconhecidasbarcos de vento
perdidos sonsfoi lá que brinquei de longe
e perdi-me de mim
foi lá a primeira tosquia
quando me tiraram tudonem o leque
para afugentar a maturação
nem a haste
para defender-me das feras
nem o silĂŞncio
para vestir-me no esquecimentodepois de tudo
minha casa permanecerá nos fundosfoi lá que brinquei de longe
e me perdi de mimII
A flor abre-se em terra
para o forte a ser nosso.Perto estamos
dos rios coagulados
de mel colhido aos tempos.
Perto estamos
da nocturna fé de ser impuro
benvinda das lonjuras.Perto estamos dos infantes campos
junto ao longe tranquilo de viver.
Ouvi, solitárias meninas, solitários meninos:
o vento chĂŁo que varre os prados
onde somos horizontais,
afinal.III
Trago a palma na mĂŁo, aqui estou,
A fé abala montanhas.
Quando alguĂ©m se entrega ao ofĂcio de ensinar, com uma fĂ© conspĂcua e soberana, acreditem que a desilusĂŁo vive nele, como as ondinas num lago, como no elemento que as criou.
Tanto o que promete da melhor fĂ© amor eterno, como aquele que acredita neste e semelhantes juramentos, sĂŁo ludĂbrios, um do coração, outro da vaidade.
Paciência e fé. É o que eu tenho buscado.
O esforço dura quanto dura a fé.
Andar somente pela fé é andar cegamente.
Inania Verba
Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava,
O que a boca nĂŁo diz, o que a mĂŁo nĂŁo escreve?
– Ardes, sangras, pregada a’ tua cruz, e, em breve,
Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava…O Pensamento ferve, e Ă© um turbilhĂŁo de lava:
A Forma, fria e espessa, Ă© um sepulcro de neve…
E a Palavra pesada abafa a Idéia leve,
Que, perfume e dano, refulgia e voava.Quem o molde achará para a expressão de tudo?
Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas
Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta?E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo?
E as palavras de fé que nunca foram ditas?
E as confissões de amor que morrem na garganta?!
Te desejo uma fé enorme. Em qualquer coisa, não importa o quê. Desejo esperanças novinhas em folha, todos os dias. Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo.
Mais verdade diz a fé do que os olhos.
Uma visita ao hospĂcio mostra que a fĂ© nĂŁo prova nada.
O Segredo de Salvar-me Pelo Amor
Quem há aà que possa o cálix
De meus lábios apartar?
Quem, nesta vida de penas,
Poderá mudar as cenas
Que ninguém pôde mudar ?Quem possui na alma o segredo
De salvar-me pelo amor?
Quem me dará gota de água
Nesta angustiosa frágua
De um deserto abrasador?Se alguém existe na terra
Que tanto possa, és tu só!
Tu sĂł, mulher, que eu adoro,
Quando a Deus piedade imploro,
E a ti peço amor e dó.Se soubesses que tristeza
Enluta meu coração,
Terias nobre vaidade
Em me dar felicidade,
Que eu busquei no mundo em vĂŁo.Busquei-a em tudo na terra,
Tudo na terra mentiu!
Essa estrela carinhosa
Que luz à infância ditosa
Para mim nunca luziu.Infeliz desde criança
Nem me foi risonha a fé;
Quando a terra nos maltrata,
Caprichosa, acerba e ingrata,
Céu e esperança nada é.Pois a ventura busquei-a
No vivo anseio do amor,
Era ardente a minha alma;
Conquistei mais de uma palma
Ă€ custa de muita dor.
Aos Olhos Dele
Não acredito em nada. As minhas crenças
Voaram como voa a pomba mansa,
Pelo azul do ar. E assim fugiram o
As minhas doces crenças de criança.Fiquei então sem fé; e a toda gente
Eu digo sempre, embora magoada:
NĂŁo acredito em Deus e a Virgem Santa
É uma ilusão apenas e mais nada!Mas avisto os teus olhos, meu amor,
Duma luz suavĂssima de dor…
E grito então ao ver esses dois céus:Eu creio, sim, eu creio na Virgem Santa
Que criou esse brilho que m’encanta!
Eu creio, sim, creio, eu creio em Deus!