Passagens sobre Ficção

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Frases sobre ficção, poemas sobre ficção e outras passagens sobre ficção para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Tudo o que Somos é Ficção

Hå que entender que tudo o que somos é ficção.
Pessoas atrĂĄs de pessoas pedem-me conselhos. Acreditam que o que escrevo me torna em alguĂ©m especial, capaz de lhes entender o que fazem, o que sentem, atĂ© o que escrevem. Fico perdido, sem saber o que fazer, sem saber o que dizer. E Ă© por isso que escrevo. Escrever Ă© estar perdido e procurar, a cada frase, um caminho. Ou um simples sinal de que pode haver um caminho, de que pode haver uma esperança. Escrever Ă© procurar a esperança, todos os dias, no que nĂŁo existe, no que se escreve para ver se existe. NĂŁo sou escritor, nunca fui escritor, nĂŁo quero ser escritor. Sou apenas o gajo que escreve porque tem de escrever, porque os dias exigem que escreva, porque uma urgĂȘncia qualquer o obriga a escrever. Escrevo como necessidade biolĂłgica, e Ă s vezes custa tanto ter de escrever. NĂŁo dĂłi mas custa, Ă© uma dor de fora para dentro, como se as letras saĂ­ssem da pele, do por dentro dos ossos. E a literatura. O que raios Ă© a literatura? Estou-me nas tintas para a literatura. NĂŁo quero escrever literatura, nĂŁo quero os intelectuais do meu lado.

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Os historiadores antigos deixaram-nos deliciosas ficçÔes em forma de factos; o romancista moderno apresenta-nos factos entediantes em forma de ficção.

Sofro se isso acontecer, que alguĂ©m leia meus livros apenas no mĂ©todo do vira-depressa-a-pĂĄgina dinĂąmico. Escrevi-os com amor, atenção, dor e pesquisa, e queria de volta como mĂ­nimo uma atenção completa. (…) E no entanto o cĂłmico Ă© que eu nĂŁo tenho mais paciĂȘncia de ler ficção.

Os verdadeiros artistas e criadores constituem sempre contra-governos, governos nas sombras a partir das quais vão impugnando as certezas, as retóricas, as ficçÔes ou verdades oficiais e recordando, no que pintam, compÔem, interpretam ou fabulam que, contrariamente ao que sustém o poder, o mundo vai muito mal, e que a vida real estarå sempre abaixo dos sonhos e dos desejos humanos.

Como InĂștil Taça Cheia

Como inĂștil taça cheia
Que ninguém ergue da mesa,
Transborda de dor alheia
Meu coração sem tristeza.

Sonhos de mĂĄgoa figura
SĂł para Ter que sentir
E assim nĂŁo tem a amargura
Que se temeu a fingir.

Ficção num palco sem tåbuas
Vestida de papel seda
Mima uma dança de mågoas
Para que nada suceda.

FrĂ­gida

I
Balzac Ă© meu rival, minha senhora inglesa!
Eu quero-a porque odeio as carnaçÔes redondas!
Mas ele eternizou-lhe a singular beleza
E eu turbo-me ao deter seus olhos cor das ondas.

II
Admiro-a. A sua longa e plĂĄcida estatura
ExpÔe a majestade austera dos invernos.
NĂŁo cora no seu todo a tĂ­mida candura;
Dançam a paz dos céus e o assombro dos infernos.

III
Eu vejo-a caminhar, fleumĂĄtica, irritante,
Numa das mĂŁos franzindo um lençol de cambraia!…
NinguĂ©m me prende assim, fĂșnebre, extravagante,
Quando arregaça e ondula a preguiçosa saia!

IV
Ouso esperar, talvez, que o seu amor me acoite,
Mas nunca a fitarei duma maneira franca;
Traz o esplendor do Dia e a palidez da Noite,
É, como o Sol, dourada, e, como a Lua, branca!

V
Pudesse-me eu prostar, num meditado impulso,
Ó gĂ©lida mulher bizarramente estranha,
E trĂȘmulo depor os lĂĄbios no seu pulso,
Entre a macia luva e o punho de bretanha!…

VI
Cintila ao seu rosto a lucidez das jĂłias.
Ao encarar consigo a fantasia pasma;

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A ficção consiste não em fazer ver o invisível, mas em fazer ver até que ponto é invisível a invisibilidade do visível.

A ficção é uma forma particularmente eficaz para que pessoas que não se conhecem se liguem através do tempo e da distùncia.

Poesia e Verdade

De facto, entre a poesia e a verdade existe uma natural oposição: falsa moral e natureza fictícia. O poeta sempre necessita de algo falso. Quando ele pretende fincar os seus fundamentos na verdade, o ornamento da sua superestrutura é feito de ficçÔes; a sua acção consiste em estimular as nossas paixÔes e excitar os nossos preconceitos. A verdade, a exactidão de todo o tipo, é fatal à poesia. O poeta tem de olhar tudo através de meios coloridos e esforça-se a levar cada pessoa a fazer o mesmo. Existem espíritos nobres, é verdade, com os quais a poesia e a filosofia estão igualmente em dívida, mas essas excepçÔes não contrabalançam os danos resultantes dessa arte mågica.

Antes que Vosso Amor Meu Peito Vença

Serå brando o rigor, firme a mudança,
Humilde a presunção, våria a firmeza,
Fraco o valor, cobarde a fortaleza,
Triste o prazer, discreta a confiança;

Terå a ingratidão firme lembrança,
SerĂĄ rude o saber, sĂĄbia a rudeza,
Lhana a ficção, sofística a lhaneza,
Áspero o a mor, benigna a esquivança;

SerĂĄ merecimento a indignidade,
Defeito a perfeição, culpa a defensa,
Intrépito o temor, dura a piedade,

Delito a obrigação, favor a ofensa,
Verdadeira a traição, falsa a verdade,
Antes que vosso amor meu peito vença.