Passagens sobre FĂșria

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Frases sobre fĂșria, poemas sobre fĂșria e outras passagens sobre fĂșria para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Ama-se um Corpo como Instrumento de Amar

Ama-se um corpo como instrumento de amar, como forma de onanismo de que o trabalho Ă© dele. Ou como ĂȘxtase de um terror paralĂ­tico. Ou como orientação ao impossĂ­vel que nĂŁo estĂĄ lĂĄ. Com raiva desespero de quem jĂĄ nĂŁo pode mais e nĂŁo sabe o quĂȘ. Como avidez insuportĂĄvel nĂŁo de o ter tido na mĂŁo, porque o podemos ter nela, sofregamente, boca seios o volume quente harmonioso da anca e tudo esmagar atĂ© Ă  fĂșria, ter o que aĂ­ se procura e que Ă© o que lĂĄ estĂĄ, mas nĂŁo o que estĂĄ atrĂĄs disso e Ă© justamente o que se procura e se nĂŁo sabe o que Ă© nem jamais poderemos atingir.

Orfeu Rebelde

Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fĂșria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.

Outros, felizes, sejam os rouxinĂłis…
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que hĂĄ gritos como hĂĄ nortadas,
ViolĂȘncias famintas de ternura.

Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legĂ­tima defesa.
Canto, sem perguntar Ă  Musa
Se o canto Ă© de terror ou de beleza.

A FĂșria Mais Fatal e Mais Medonha

Das FĂșrias infernais foi sempre a Inveja
No mundo a mais fatal e a mais medonha,
Pois faz dos bens dos outros a peçonha
Com que a si mesma se envenena e peja.

Com ira e com furor, raivosa, arqueja,
Com vinganças, traiçÔes, com ódios sonha.
Onde quer que se encoste e os olhos ponha,
Tragar as ditas dos mortais deseja.

MĂŁe dos males fatais Ă  Sociedade,
Vidas, honras destrĂłi, cismas fomenta,
Nutrindo n’alma as serpes da Maldade.

O próprio coração que come a alenta,
Vive afogada em ondas de ansiedade,
Da frenética raiva se alimenta.

As OpiniÔes

Quando me manifestei com tanto ardor contra a opiniĂŁo, estava ainda sob o seu jugo, sem me aperceber. Queremos ser estimados pelas pessoas que estimamos e, enquanto pude julgar favoravelmente os homens, ou pelo menos certos homens, os juĂ­zos que eles faziam a meu respeito nĂŁo me podiam ser indiferentes. Via que os juĂ­zos do pĂșblico sĂŁo muitas vezes justos; mas nĂŁo via que essa justiça resultava do acaso, que as regras sobre as quais os homens fundamentam as suas opiniĂ”es sĂŁo extraĂ­das apenas das suas paixĂ”es ou dos seus preconceitos, que provĂȘm deles, e que, mesmo quando ajuizam bem, Ă© frequente que esses bons juĂ­zos nasçam de um mau princĂ­pio, como acontece quando fingem honrar, a propĂłsito de algum sucesso, o mĂ©rito de um homem, nĂŁo por espĂ­rito de justiça, mas para se dar ares de imparcialidade, ao mesmo tempo que caluniam Ă  vontade esse homem relativamente a outros pontos.
Quando, porém, após longas e vãs pesquisas, vi que todos eles, sem excepção, se mantinham dentro do sistema mais iníquio e absurdo que um espírito infernal pode inventar; quando vi que, a meu respeito, a razão fora banida de todas as cabeças e a justiça de todos os coraçÔes;

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Minha MĂŁe que nĂŁo Tenho

Minha mãe que não tenho    meu lençol
de linho    de carinho    de distùncia
ĂĄgua memĂłria viva do retrato
que Ă s vezes mata a sede da infĂąncia.

Ai ĂĄgua que nĂŁo bebo em vez do fel
que a pouco e pouco me atormenta a lĂ­ngua.
Ai fonte que eu não oiço    ai mãe    ai mel
da flor do corpo que me traz Ă  mĂ­ngua.

De que Egipto vieste?    De que Ganges?
De qual pai tĂŁo distante me pariste
minha mãe    minha dívida de sangue
minha razĂŁo de ser violento e triste.

Minha mãe que não tenho    minha força
sumo da fĂșria que fechei por dentro
serås sibila    virgem    buda    corça
ou apenas um mundo em que nĂŁo entro?

Minha mãe que não tenho    inventa-me primeiro:
constrói a casa    a lenha e o jardim
e deixa que o teu fumo    que o teu cheiro
te façam conceber dentro de mim.

SĂĄtira

Besta e mais besta! O positivo Ă© nada…
(Perdoa, se em gramĂĄtica te falo,
Arte que ignoras, como ignoras tudo.)
Besta e mais besta! Na palavra embirro;
Que a besta anexa ao mais teu ser define.

DĂĄs-me louvor servil na voz do prelo,
Grande me crĂȘs, proclamas-me famoso,
Excelso, transcendente, incomparĂĄvel,
Confessas que d’Elmano a fĂșria temes…
E, débil estorninho, åguias provocas,
Aves de Jove, que o corisco empunham!

És de rábula vil corrupta imagem;
Tu vendes o louvor, como ele as partes,
Mas ele na enxovia infĂąmias paga,
E tu, com tĂșstios, que aos caloiros pilhas,
Compras gravatas, em que a tromba enorme
Sumas ao dia, que de a ver se embrusca,
Qual em tenra mĂŁozinha esconde a face
Mimoso infante de papÔes vexado.
Útil descuido aos cárceres te furta,
À digna habitação de ti saudosa
(Digo, o Castelo), estĂąncia equivalente
Aos méritos morais, que em ti reluzem.

De saloios vinténs laråpio sujo,
A glĂłria do teu Ăłdio restitui
A quem no teu louvor desacreditas.
Se honrada pelos sĂĄbios d’Ulisseia
(D’Ulisseia nĂŁo sĂł,

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A mulher Ă© uma heroĂ­na, quando a sua virtude nĂŁo corre o menor perigo; uma criança, quando trata de resistir, e uma fĂșria quando trata de vingar-se.

Rebeca se levantou Ă  meia-noite e comeu punhados de terra no jardim, com avidez suicida, chorando de dor e fĂșria, mastigando minhocas macias e espedaçando os dentes nas cascas de caracĂłis.

A Habilidade EspecĂ­fica do PolĂ­tico

A habilidade especĂ­fica do polĂ­tico consiste em saber que paixĂ”es pode com maior facilidade despertar e como evitar, quando despertas, que sejam nocivas a ele prĂłprio e aos seus aliados. Na polĂ­tica como na moeda hĂĄ uma lei de Gresham; o homem que visa a objectivos mais nobres serĂĄ expulso, excepto naqueles raros momentos (principalmente revoluçÔes) em que o idealismo se conjuga com um poderoso movimento de paixĂŁo interesseira. AlĂ©m disso, como os polĂ­ticos estĂŁo divididos em grupos rivais, visam a dividir a nação, a menos que tenham a sorte de a unir na guerra contra outra. Vivem Ă  custa do «ruĂ­do e da fĂșria, que nada significam». NĂŁo podem prestar atenção a nada que seja difĂ­cil de explicar, nem a nada que nĂŁo acarrete divisĂŁo (seja entre naçÔes ou na frente nacional), nem a nada que reduza o poderio dos polĂ­ticos como classe.

Spleen

Fora, na vasta noute, um vento de procela
Erra, aos saltos, uivando, em rajadas e em fĂșria;
E num rumor de choro, uma voz de lamĂșria,
Ouço a chuva a escorrer nos vidros da janela.

No desconforto do meu quarto de estudante,
Velo. Sinto-me como insulado da vida.
Eu imagino a morte assim, aborrecida
SolidĂŁo numa sombra infinita e constante…

Tu, que Ă©s forte, rebrame em fĂșria, natureza!
Eu, caĂ­do num fundo abismo de tristeza,
Invejo-te a expansĂŁo livre do temporal;

E, no tédio feroz que me assalta e me toma,
Sinto ansiarem-me n’alma instintos de chacal…
E compreendo Nero incendiando Roma.

Coragem IlusĂłria

HĂĄ cinco espĂ©cies de coragem, assim denominadas segundo a semelhança: suportam as mesmas coisas, mas nĂŁo pelos mesmos motivos. Uma Ă© a coragem polĂ­tica: provĂ©m da vergonha; a segunda Ă© prĂłpria dos soldados: nasce da experiĂȘncia e do facto de conhecer, nĂŁo – como dizia SĂłcrates – os perigos, mas os recursos contra eles; a terceira brota da falta de experiĂȘncia e da ignorĂąncia, e por ela sĂŁo induzidas as crianças e os loucos, estes quando enfrentam a fĂșria dos elementos, aquelas quando pegam em serpentes. Outra espĂ©cie Ă© a de quem tem esperança: graças a ela, arrostam os perigos aqueles que, muitas vezes, tiveram sorte (…) e os Ă©brios; o vinho, de facto, excita a confiança.
Outra ainda dimana da paixĂŁo irracional, por exemplo, do amor e da ira.
Se alguĂ©m estĂĄ enamorado, Ă© mais temerĂĄrio que cobarde e enfrenta muitos perigos, como aquele que no Metaponto matou o tirano, ou o cretense de que fala a lenda; o mesmo se passa com a cĂłlera e com a ira. Pois a ira Ă© capaz de nos pĂŽr fora de nĂłs. Por isso, se afiguram tambĂ©m corajosos os javalis, embora nĂŁo sejam; quando fora de si, tĂȘm uma qualidade semelhante,

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A Tempestade

Cobre-se ó céu de grossas negras nuvens,
Os ventos mais e mais cada hora crescem,
Jå se escurece o céu, jå. com soberba
Inchadas grossas ondas se levantam.
A nau começa jå passar trabalho,
Jå começa gemer, e em tal afronta
O apito soa, brada o mestre, acodem
Com presteza varÔes no mar expertos.
PÔe-se o fero Vulturno junto ao cabo,
Levanta lå no céu furiosas ondas;
Austro bramando corre ali com fĂșria,
Dando um balanço à nau que quase a rende,
Vem com grande furor BĂłreas raivoso,
Comete por davante, o passo impide,
Encontra as grandes velas, e, por força,
Ao mastro as pega e a nau atrĂĄs empuxa:
Rompe-se por mil partes o céu, e arde
Em ligeiro, apressado, vivo fogo.
Um rugido espantoso vai correndo
Desde o AntĂĄrctico PĂłlo ao seu oposto.
Arremessam-se lanças pelos ares
De congelada pedra em ĂĄgua envolta;
Com espantoso Ă­mpeto, e rasgadas
As densas negras nuvens raios cospem:
De um golpe as velas vĂȘm todas abaixo.

DemĂŽnios

A lĂ­ngua vil, ignĂ­voma, purpĂșrea
Dos pecados mortais bava e braveja,
Com os seres impoluĂ­dos mercadeja,
Mordendo-os fundo injĂșria por injĂșria.

É um grito infernal de atroz luxĂșria,
Dor de danados, dor do Caos que almeja
A toda alma serena que viceja,
SĂł fĂșria, fĂșria, fĂșria, fĂșria, fĂșria!

SĂŁo pecados mortais feitos hirsutos
DemĂŽnios maus que os venenosos frutos
Morderam com volĂșpia de quem ama…

Vermes da Inveja, a lesma verde e oleosa,
AnÔes da Dor torcida e cancerosa,
Abortos de almas a sangrar na lama!

SolilĂłquio

JĂĄ que o sol pouco a pouco se desmaia
E meu mal cada vez mais se desvela,
Enquanto a pena, a Ăąnsia, a mĂĄgoa vela,
Quero aqui estar sozinho nesta praia.

Que bravo o mar se vĂȘ! Como se ensaia
Na fĂșria e contra os ares se rebela!
Como se enrola! Como se encapela!
Parece quer sair da sua raia.

Mas também que inflexível, que constante
Aquela penha estå à força dura
De tanto assalto e horror perseverante!

Ó empolado mar, penha segura,
Sois a imagem mais prĂłpria e semelhante
De meu fado e da minha desventura.

A Negra FĂșria CiĂșme

Morre a luz, abafa os ares
Horrendo, espesso negrume,
Apenas surge do Averno
A negra fĂșria CiĂșme.

Sobre um sĂłlio cor da noite
Jaz dos Infernos o Nurne,
E a seus pés tragando brasas
A negra fĂșria CiĂșme.

Crespas vĂ­boras penteia,
Dos olhos dardeja lume,
Respira veneno e peste
A negra fĂșria CiĂșme.

Arrancando Ă  Morte a fouce
De buĂ­do, ervado gume,
Vem retalhar coraçÔes
A negra fĂșria CiĂșme.

Ao cruel sĂłcio de Amor
Escapar ninguém presume,
Porque a tudo as garras lança
A negra fĂșria CiĂșme.

Todos os males do Inferno
Em si guarda, em si resume
O mais horrĂ­vel dos monstros,
A negra fĂșria CiĂșme.

Amor inda Ă© mais suave,
Que das rosas o perfume,
Mas envenena-lhe as graças
A negra fĂșria CiĂșme.

Nas asas de Amor voamos
Do prazer ao ĂĄureo cume,
Porém de lå nos arroja
A negra fĂșria CiĂșme.

Do férreo cålix da Morte
Prova o funesto azedume
Aquele a quem ferve n’alma
A negra fĂșria CiĂșme.

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Balada do Amor através das Idades

Eu te gosto, vocĂȘ me gosta
desde tempos imemoriais.
Eu era grego, vocĂȘ troiana,
troiana mas nĂŁo Helena.
SaĂ­ do cavalo de pau
para matar seu irmĂŁo.
Matei, brigĂĄmos, morremos.

Virei soldado romano,
perseguidor de cristĂŁos.
Na porta da catacumba
encontrei-te novamente.
Mas quando vi vocĂȘ nua
caĂ­da na areia do circo
e o leĂŁo que vinha vindo,
dei um pulo desesperado
e o leĂŁo comeu nĂłs dois.

Depois fui pirata mouro,
flagelo da TripolitĂąnia.
Toquei fogo na fragata
onde vocĂȘ se escondia
da fĂșria de meu bergantim.
Mas quando ia te pegar
e te fazer minha escrava,
vocĂȘ fez o sinal-da-cruz
e rasgou o peito a punhal…
Me suicidei também.

Depois (tempos mais amenos)
fui cortesĂŁo de Versailles,
espirituoso e devasso.
VocĂȘ cismou de ser freira…
Pulei muro de convento
mas complicaçÔes políticas
nos levaram Ă  guilhotina.

Hoje sou moço moderno,
remo, pulo, danço, boxo,
tenho dinheiro no banco.
VocĂȘ Ă© uma loura notĂĄvel,
boxa, dança, pula, rema.

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