Nós Estamos num Estado Comparável à Grécia
Nós estamos num estado comparável, correlativo à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma ladroagem pública, mesma agiotagem, mesma decadência de espírito, mesma administração grotesca de desleixo e de confusão. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se quer falar de um país católico e que pela sua decadência progressiva poderá vir a ser riscado do mapa – citam-se ao par a Grécia e Portugal. Somente nós não temos como a Grécia uma história gloriosa, a honra de ter criado uma religião, uma literatura de modelo universal e o museu humano da beleza da arte.
Passagens sobre História
759 resultadosCensura e Criatividade
Dos déspotas provêm, até certo ponto, os pensadores. A palavra acorrentada é terrível. O escritor duplica e triplica o seu estilo, quando um senhor impõe silêncio ao povo. Sai desse silêncio certa plenitude misteriosa que se filtra e se condensa em bronze no pensamento. A compreensão na história produz a concisão no historiador. A solidez granítica de tal ou tal prosa célebre não é mais do que um amontoamento feito por um tirano.
A tirania constrange o escritor a circunscrições de diâmetro, que são alargamentos de força. O período ciceroniano, apenas suficiente para Verres, sobre Calígula embotar-se-ia. Quanto menor for a exuberância da frase, maior será a intensidade do golpe. Sirva de exemplo a concisão de Tácito no exprimir e a sua veemência no pensar. A honestidade de um grande coração, condensada em justiça e em verdade, fulmina.
A posteridade é um colegial condenado a decorar cem versos. Chega a aprender dez de cor, balbucia algumas sílabas do resto: os dez, são a glória; o resto, a história literária.
Conversão Mental
Os métodos de conversão religiosa foram até agora considerados mais sob ângulos psicológicos e metafísicos que psicológicos e mecanísticos; contudo, as técnicas empregadas aproximam−se tanto frequentemente das modernas técnicas políticas de lavagem cerebral e controle da mente que cada uma delas lança luz sobre os mecanismos da outra. É conveniente começar com a história melhor documentada de conversão religiosa, que tem em comum com a conversão política o facto de um indivíduo ou grupo de indivíduos poder adoptar novas crenças ou padrões de comportamento, em resultado de revelações surgidas na mente repentinamente e com grande intensidade, muitas vezes depois de períodos de grande tensão emocional.
A História é o livro dos reis.
O povo, e só o povo, constitui a força motriz na criação da história universal.
Escrever a história é um modo de nos livrarmos do passado.
Para desenvolver as áreas nobres da emoção é preciso aprender a gerir os pensamentos. Somente assim é possível reeditar o filme da nossa história registado na memória e sofrer mudanças substanciais na personalidade. Existimos para escalar o topo das montanhas, ainda que tenhamos de passar pelos vales da ansiedade e das frustrações. É importante entendermos as causas do passado para reorganizarmos o presente, mas é igualmente importante gerirmos os pensamentos e as emoções do presente para acelerarmos o processo.
O Começo de Todas as Histórias
O começo de todas as histórias é, no princípio, ridículo. Parece não haver esperança de que esta coisa acabada de nascer, ainda incompleta e tenra em todas as suas articulações, seja capaz de se manter viva na organização completa do mundo, que, como todas as organizações completas, luta por se fechar. Contudo, não podemos esquecer que a história, se tiver uma justificação para existir, tem dentro de si a sua própria organização completa até antes de estar completamente formada; por esta razão não há motivo para desesperar com o princípio de uma história; num caso semelhante, os pais teriam de desesperar com o bebé porque não tinham nenhuma intenção de trazer para o mundo este ser ridículo e patético.
É claro que nunca sabemos se há razão ou não para o desespero que sentimos. Mas reflectindo sobre isso podemos obter um certo apoio; sofri anteriormente da falta deste conhecimento.
A poesia está mais próxima da verdade vital do que a história.
Na história universal existem eventos misteriosos, mas não insensatos.
Amor um Mal que Falta quando Cresce
Aquela fera humana que enriquece
A sua presunçosa tirania
Destas minhas entranhas, onde cria
Amor um mal que falta quando cresce;Se nela o Céu mostrou (como parece)
Quanto mostrar ao mundo pretendia,
Porque de minha vida se injuria?
Porque de minha morte se enobrece?Ora, enfim, sublimai vossa vitória,
Senhora, com vencer-me e cativar-me;
Fazei dela no mundo larga história.Pois, por mais que vos veja atormentar-me,
Já me fico logrando desta glória
De ver que tendes tanta de matar-me.
A história nos julgará pela diferença que fizermos na vida de todos os dias das crianças.
Gonçalves Dias
(AO PÉ DO MAR)
SE EU PUDESSE cantar a grande história,
Que envolve ardente o teu viver brilhante…
Filho dos trópicos que – audaz gigante –
Desceste ao túmulo subindo à Glória!Teu túmulo colossal – nest’hora eu fito –
Altivo, rugidor, sonoro, extenso –
O mar!… e ……. O sim, teu crânio imenso
Só podia conter-se no infinito…E eu – sou louco talvez – mas quando, forte,
Em seu dorso resvala – ardente – norte,
E ele espumante estruge, brada, grita,E em cada vaga uma canção estoura…
Eu – creio ser tu’alma que, sonora,
Em seu seio sem fim – brava – palpita!
Se a história se repete, e o inesperado sempre acontece, quão incapaz precisa o homem ser de aprender com a experiência?
O Amor Nunca Salva, mas alguém Tem uma Ideia Melhor?
Descobri, um pouco tarde, que afinal todos os meus livros são histórias de amor. Só que as daninhas estavam tão bem disfarçadas que eu próprio não tinha reparado. Às vezes, amo entre duas pessoas, outras de amor entre uma pessoa e uma ideia. Idalina enamora-se por «uma dança sem música». Sam Espinosa apaixona-se por uma mulher uns anitos mais velha (duzentos, coisa pouca), Greg quase é salvo da perdição por uma sósia de Angelina Jolie. O amor está no ar e também, como diria um poeta, o amor está no mar. O amor não salva, nunca salva, mas alguém tem uma ideia melhor?
Tão sensacional descoberta levou-me a cogitar no seguinte: e qual será a melhor forma de amar? Carente de modelos reais na vida humana, decidi procurá-los na natureza. Com a ajuda da televisão, claro, Canal Odisseia, National Geographic, Canal Panda, essas coisas. Pode-se lá chegar à natureza, nos dias que correm, senão pela televisão! Três rolos modelos logo me saltaram à vista: o Amor do Louva-a-deus; o Amor do Cisne; o Amor do Urso Polar.
Após alguma esmiuçação, concluí que qualquer um me parece bem, e tem as suas vantagens e desvantagens.
No romance do louva-a-deus,
Os Colombos
Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.
Nada é Certo
Ninguém avança pela vida em linha recta. Muitas vezes, não paramos nas estações indicadas no horário. Por vezes, saímos dos trilhos. Por vezes, perdemo-nos, ou levantamos voo e desaparecemos como pó. As viagens mais incríveis fazem-se às vezes sem se sair do mesmo lugar. No espaço de alguns minutos, certos indivíduos vivem aquilo que um mortal comum levaria toda a sua vida a viver. Alguns gastam um sem número de vidas no decurso da sua estadia cá em baixo. Alguns crescem como cogumelos, enquanto outros ficam inelutávelmente para trás, atolados no caminho. Aquilo que, momento a momento, se passa na vida de um homem é para sempre insondável. É absolutamente impossível que alguém conte a história toda, por muito limitado que seja o fragmento da nossa vida que decidamos tratar.
Desconfio dos discursos morais dos políticos, da religião. Se estudássemos as grandes frases morais de pessoas com poder, ao longo da História, veríamos que são muitas vezes prefácios a grandes tragédias.
Poema de Amor
Se te pedirem, amor, se te pedirem
que contes a velha história
da nau que partiu
e se perdeu,
não contes, amor, não contes
que o mar és tu
e a nau sou eu.E se pedirem, amor, e se pedirem
que contes a velha fábula
do lobo que matou o cordeiro
e lhe roeu as entranhas,
não contes, amor, não contes
que o lobo é a minha carne
e o cordeiro a minha estrela
que sempre tu conheceste
e te guiou — mal ou bem.Depois, sabes, estou enjoado
desta farsa.
Histórias, fábulas, amores
tudo me corre os ouvidos
a fugir.Sou o guerreiro sem forças
para erguer a sua espada,
sou o piloto do barco
que a tempestade afundou.Não contes, amor, não contes
que eu tenho a alma sem luz.…Quero-me só, a sofrer e arrastar
a minha cruz.