Soneto IV – A Uma Senhora
Dos meus lares, dos meus que choro ausente,
Me vieste acordar saudade Ămpia,
Tu, amada do Anjo d’Harmonia,
Que te fazes ouvir tĂŁo docemente.Do piano o teclado obediente
Ao teu tocar encheu-se de magia,
E lá dos mortos na soidão sombria
Operou-se um milagre de repente.A morte sobre a fouce, entristecida,
Amarguradas lágrimas verteu,
Talvez do fero ofĂcio arrependida!Bellini do sepulcro a pedra ergueu;
E, cheio de alegria desmedida,
C’um sorriso de glĂłria um — bravo — deu.
Passagens sobre Lar
129 resultadosA liberdade não é um cartaz, que se lê na esquina de qualquer rua; é, sim, um poder vivo, que cada um sente em si mesmo, e em torno de si; é o génio protector do lar doméstico, a garantia dos direitos sociais, e o primeiro desses direitos.
O escritório é o lugar mais indicado para descansar das maçadas do lar.
Quando já nĂŁo suporto pensar nas vĂtimas dos lares desfeitos, começo a pensar nas vĂtimas dos lares intactos.
Minha MĂŁe, Minha MĂŁe!
Minha mĂŁe, minha mĂŁe! ai que saudade imensa,
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti.
CaĂa mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se voando em torno dos seus lares,
Suspensos do beiral da casa onde eu nasci.
Era a hora em que já sobre o feno das eiras
Dormia quieto e manso o impávido lebréu.
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,
E a Lua branca, além, por entre as oliveiras,
Como a alma dum justo, ia em triunfo ao CĂ©u!…
E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,
Vendo a Lua subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
Que mandasse um alĂvio a cada sofrimento,
Que mandasse uma estrela a cada escuridĂŁo.
Por todos eu orava e por todos pedia.
Pelos mortos no horror da terra negra e fria,
Por todas as paixões e por todas as mágoas…
Pelos mĂseros que entre os uivos das procelas
VĂŁo em noite sem Lua e num barco sem velas
Errantes através do turbilhão das águas.
Continua a Tempestade
Aqui, sobre estas aguas cor de azeite,
Scismo em meu lar, na paz que lá havia:
Carlota, á noite, ia ver se eu dormia
E vinha, de manhĂŁ, trazer-me o leite…Aqui, nĂŁo tenho um unico deleite!
Talvez… baixando, em breve, á Agoa fria,
Sem um beijo, sem uma Ave-Maria,
Sem uma flor, sem o menor enfeite…Ah! podesse eu voltar á minha infancia!
Lar adorado, em fumos, a distancia,
Ao pĂ© de minha IrmĂŁ, vendo-a bordar…Minha velha aia! conta-me essa historia
Que principiava, tenho-a na memoria,
«Era uma vez…»
Ah deixem-me chorar!
Amar-te Ă© Vir de Longe
Amar-te Ă© vir de longe,
descer o rio verde atrás de ti,
abrir os braços longos desde os sete
anos sob a latada ao pé do largo,
guardar o cheiro a figos vistos lá,
a olho nu, ao pé, ao pé de ti,
parar a beber água numa fonte,
um acaso perdido no caminho
onde os vimes me roçam a memória
e te anunciam mĂŁos e te perfazem;
como se o sino Ă hora de tocar
já fosse o tempo todo badalado,
e a tua boca se abrisse atrás do tojo,
e abaixo dos calções as pernas nuas
se rasgassem sĂł para o pequeno sangue,
tal o pequeno preço que me pedes.
Atrás da curva estavas, és, serias,
nos muros de granito, nas amoras.
Amar-te era lembrança e profecias,
uma porta já feita para abrir,
e encontrar o lar ou mĂşsica lavada
onde, se nasces, vives, duras, moras
— meu nome exacto e pão
no chĂŁo das alegrias.
Feliz, feliz Natal, a que faz que nos lembremos das ilusões de nossa infância, recorde-lhe ao avô as alegrias de sua juventude, e lhe transporte ao viajante a sua chaminé e a seu doce lar!
A Trágica Necessidade de Conquista e de Mudança
Em todos os tempos os homens, por algum pedaço de terra de mais ou de menos, combinaram entre si despojarem-se, queimarem-se, trucidarem-se, esganarem-se uns aos outros; e para fazê-lo mais engenhosamente e com maior segurança, inventaram belas regras às quais se deu o nome de arte militar; ligaram à prática dessas regras a glória, ou a mais sólida reputação; e depois ultrapassaram-se uns aos outros na maneira de se destruirem mutuamente.
Da injustiça dos primeiros homens, como da sua origem comum, veio a guerra, assim como a necessidade em que se acharam de adoptar senhores que fixassem os seus direitos e pretensões. Se, contente com o que se tinha, se tivesse podido abster-se dos bens dos vizinhos, ter-se-ia para sempre paz e liberdade.
O povo tranquilo nos lares, nas famĂlias e no seio de uma grande cidade onde nada tem a temer para os seus bens nem para a vida, anseia por fogo e sangue, ocupa-se de guerras, ruĂnas, braseiros e matanças, suporta impacientemente que os exĂ©rcitos que mantĂŞm a campanha nĂŁo tenham recontros, ou se já se encontraram e nĂŁo sustentem combate, ou se enfrentam e nĂŁo seja sangrento o combate, e haja menos de dez mil homens no local.
A doença nĂŁo Ă© um processo para a piora; Ă© um processo para a purificação da alma. TambĂ©m a desarmonia do lar Ă© um processo para a purificação da alma. Em vez de ficares sofrendo por causa da desarmonia do lar, encare a situação com espĂrito humilde e esforça-te para solucionar os problemas e restabelecer a harmonia. Nisso consiste o forjamento e a purificação da alma.
Ninho Abandonado
Ă€ distinta famĂlia Simas, pela morte de seu chefe,
o Ilmo. Sr. JoĂŁo da Silva Simas.O vosso lar harmĂ´nico e tranqĂĽilo
Era um ninho de luz e de esperanças
Que como abelhas iriadas, mansas,
Nos vossos corações tinham asilo.Havia lá por dentro tanta crença
E tanto amor purĂssimo, cantando,
Que parecia um largo sol faiscando
Por majestosa catedral imensa.Agora o ninho está desamparado!
Sumiu-se dele o pássaro adorado,
O mais ideal dos pássaros do ninho.Não se ouve mais a música sonora
Da sua voz — dentro do ninho, agora,
Paira a saudade como um bom carinho.
O lar em que vocĂŞ nasceu era o lugar mais adequado para sua alma construir uma vida terrena que atendesse a seus anseios.
FamĂlias! Odeio-vos! Lares hermĂ©ticos; portas trancadas; possessões ciumentas da felicidade.
Raios não Peço ao Criador do Mundo
LX
Raios não peço ao Criador do Mundo,
Tormentas nĂŁo suplico ao Rei dos Mares,
Vulcões à terra, furacões aos ares,
Negros monstros ao báratro profundo:Não rogo ao deus de amor que furibundo
Te arremesse do pé de seus altares;
Ou que a peste mortal voe a teus lares,
E murche o teu semblante rubicundo.Não imploro em teu dano, ainda que os laços
Urdidos pela fé, com vil mudança
Fizeste, ingrata Nise, em mil pedaços:Não quero outro despique, outra vingança,
Mais que ver-te em poder de indignos braços,
E dizer quem te perde, e quem te alcança.
Gonçalves Crespo
Esta musa da pátria, esta saudosa
Niobe dolorida,
Esquece acaso a vida,
Mas não esquece a morte gloriosa.E pálida, e chorosa,
Ao Tejo voa, onde no chĂŁo caĂda
Jaz aquela evadida
Lira da nossa América viçosa.Com ela torna, e, dividindo os ares,
Trépido, mole, doce movimento
Sente nas frouxas cordas singulares.NĂŁo Ă© a asa do vento,
Mas a sombra do filho, no momento
De entrar perpetuamente os pátrios lares.
A casa, com lar; e a mulher, a fiar.
Olhe que a única maneira de na vida ser feliz, principalmente os seres como você, de uma grande sensibilidade, de uma extraordinária imaginação, a única maneira é construir-se um lar bem doce, bem cheio de luz onde, longe do mundo, se possa amar, se possa trabalhar, se possa viver.
Não há lugar melhor que o lar; sobretudo para o que não tem dinheiro para se divertir fora.
O homem mais feliz, seja ele um rei ou um camponĂŞs, Ă© o que encontrou a paz em seu lar.
O Belo é Necessário
Neste mundo o lindo Ă© necessário. Há mui poucas funções tĂŁo importantes como esta de ser encantadora. Que desespero na floresta se nĂŁo houvesse o colibri! Exalar alegrias, irradiar venturas, possuir no meio das coisas sombrias uma transmudação de luz, ser o dourado do destino, a harmonia, a gentileza, a graça, Ă© favorecer-te. A beleza basta ser bela para fazer bem. Há criatura que tem consigo a magia de fascinar tudo quanto a rodeia; Ă s vezes nem ela mesmo o sabe, e Ă© quando o prestĂgio Ă© mais poderoso; a sua presença ilumina, o seu contato aquece; se ela passa, ficas contente; se pára, Ă©s feliz; contemplá-la Ă© viver; Ă© a aurora com figura humana; nĂŁo faz nada, nada que nĂŁo seja estar presente, e Ă© quanto basta para edenizar o lar domĂ©stico; de todos os poros sai-lhe um paraĂso; Ă© um ĂŞxtase que ela distribui aos outros, sem mais trabalho que o de respirar ao pĂ© deles. Ter um sorriso que – ninguĂ©m sabe a razĂŁo – diminui o peso da cadeia enorme arrastada em comum por todos os viventes, que queres que te diga? Ă© divino.