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A natureza parece ter escondido no fundo do nosso espírito talentos e habilidades que desconhecemos; só as paixões conseguem trazê-las à superfície, e dar-nos às vezes ideias mais acertadas e concretas que a arte não saberia fazer.

Amar sem Possuir é um Tormento

Se a ti, onde Amor leva o pensamento,
Meu triste coração levar pudesse,
Dó terias, cruel, do que padece,
S’inda em teu peito cabe sentimento.

Amar sem possuir é um tormento
Que só quem o suporta é que o conhece.
Não o conheces tu, pois te arrefece
Sempre, na ausência, o frio esquecimento.

Tu tens um coração que se persuade
Dever amar só quando se deleita
Na posse do prazer, da sociedade.

O meu segue outra estrada mais direita,
Ama distante, ferem-no a Saudade
O Ciúme infernal, a vil Suspeita.

Homem, um Corpo Choro!

Aqui, dizeis, na cova a que me abeiro,
Não ‘stá quem eu amei. Olhar nem riso
Se escondem nesta leira.
Ah, mas olhos e boca aqui se escondem!
Mãos apertei, não alma, e aqui jazem.
Homem, um corpo choro!

Doente

Que negro mal o meu! estou cada vez mais rouco!
Fogem de mim com asco as virgens d’olhar cálido…
E os velhos, quando passo, vendo-me tão pálido,
Comentam entre si: – coitado, está por pouco!…

Por isso tenho ódio a quem tiver saúde,
Por isso tenho raiva a quem viver ditoso,
E, odiando toda a gente, eu amo o tuberculoso.
E só estou contente ouvindo um alaúde.

Cada vez que me estudo encontro-me diferente,
Quando olham para mim é certo que estremeço;
E vai, pensando bem, sou, como toda a gente,
O contrário talvez daquilo que pareço…

Espírito irrequieto, fantasia ardente,
Adoro como Poe as doidas criações,
E se não bebo absinto é porque estou doente,
Que eu tenho como ele horror às multidões.

E amando doudamente as formas incompletas
Que às vezes não consigo, enfim, realizar,
Eu sinto-me banal ao pé dos mais poetas,
E, achando-me incapaz, deixo de trabalhar…

São filhos do meu tédio e duma dor qualquer
Meus sonhos de neurose horrivelmente histéricos
Como as larvas ruins dos corpos cadavéricos,

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No que diz respeito a geração de animais parecidos entre si, como zangões e vespas, os fatos em todos os casos é que são semelhantes a um certo ponto, mas os zangões são desprovidos dos recursos extraordinários que caracterizam as abelhas, o que devemos esperar; por que eles não têm nada de divino como as abelhas têm.

Eu detestaria concluir que, sem Deus, a vida não teria sentido e, depois de dar um tiro nos miolos, ler no jornal no dia seguinte que Ele foi encontrado.

Se é verdade que coisas há que nos são desconhecidas, verdade é também que o Homem nos é desconhecido. A que correspondem então «aprovação» e «reprovação»?

Cada princípio é um juízo, cada juízo é o resultado de uma experiência e a experiência só se adquire com o exercício dos sentidos.

Fixo instantes súbitos que trazem em si a própria morte e outros nascem – fixo os instantes de metamorfose e é de terrível beleza a sua sequência e concomitância.

A Alma Não se Usa na Superfície do Mundo

Se alguma coisa há que esta vida tem para nós, e, salvo a mesma vida, tenhamos que agradecer aos Deuses, é o dom de nos desconhecermos: de nos desconhecermos a nós mesmos e de nos desconhecermos uns aos outros. A alma humana é um abismo obscuro e viscoso, um poço que se não usa na superfície do mundo. Ninguém se amaria a si mesmo se deveras se conhecesse, e assim, não havendo a vaidade, que é o sangue da vida espiritual, morreríamos na alma de anemia. Ninguém conhece outro, e ainda bem que o não conhece, e, se o conhecesse, conheceria nele, ainda que mãe, mulher ou filho, o íntimo, metafísico inimigo.

Colombianos! A minha última vontade é a felicidade da pátria. Se a minha morte contribuir para o fim do partidarismo e para a consolidação da União, baixarei em paz à sepultura.

Soneto Do Amor Como Um Rio

Este infinito amor que um ano faz
Que é maior do que o tempo e do que tudo
Este amor que é real, e que, contudo,
Eu já não cria que existisse mais.

Este amor que surgiu insuspeitado
E que dentro do drama fez-se em paz
Este amor que é o túmulo onde jaz
Meu corpo para sempre sepultado.

Este amor meu é como um rio; um rio
Noturno, interminável e tardio
A deslizar macio pelo ermo

E que em seu curso sideral me leva
Iluminado de paixão na treva
Para o espaço sem fim de um mar sem termo.