Colar De Pérolas
A F’licidade Ă© um colar de pĂ©rolas,
Pérolas caras, de valor pujante,
Belas estrofes de Petrarca e Dante
Mais cintilantes que as manhãs mais cérulas.Para que enfim esse colar bendito,
Perdure sempre, inteiramente egrégio,
Como uma tela do pintor Correggio,
Sem resvalar no lodaçal maldito:Faz-se preciso umas paixões bem retas,
Cheias de uns tons de muito sol — completas…
Faz-se preciso que do amor na febre,Nos grandes lances de vigor preclaro,
Desse colar esplendoroso e raro,
Nem uma pĂ©rola, uma sĂł se quebre!…
Passagens sobre Pérolas
55 resultadosQuando Cuido No Tempo Que, Contente
Quando cuido no tempo que, contente,
vi as pérolas, neve, rosa e ouro,
como quem vĂŞ por sonhos um tesouro,
parece tenho tudo aqui presente.Mas tanto que se passa este acidente,
e vejo o quĂŁo distante de vĂłs mouro,
temo quanto imagino por agouro,
porque d’imaginar tambĂ©m me ausente.Já foram dias em que por ventura
vos vi, Senhora (se, assi dizendo, posso
co coração seguro estar sem medo);Agora, em tanto mal não mo assegura
a prĂłpria fantasia e nojo vosso:
eu nĂŁo posso entender este segredo!
Frustração
Persegui-a com as mãos, como uma criança a um brinquedo.
Era um sonho; era mais: – a alegria que chega,
o prazer que nos toma e nos deixa inebriados,
atirando Ă corrente, num gesto, os sentidos…Ah! Povoou minhas noites de sono sem pálpebras;
dançava entre estrelas na distância, – via-a!
Meu destino! pensei, – eis o amor! – É esse sangue
que me queima por dentro e me agita: eis o amor!E alcancei-a! Eis o mar ao redor atordoante!
Nos meus braços em concha era como uma pérola
escondida, o mistĂ©rio do oceano a guardar…E de repente, Ă© estranho! esse vazio, esta ânsia!
Como a posse do amor está longe do amor
e o rumor que há na concha… está longe do mar!
A Mentira Ă© mais Interessante que a Verdade
«O que Ă© a verdade»? Perguntava Pilatos gracejando, talvez que nĂŁo esperasse pela resposta. Há quem se delicie com a inconstância, e considere servidĂŁo o fixar-se numa crença; há quem se afeiçoe ao livre-arbĂtrio tanto no pensar como no agir. E se bem que as seitas de filĂłsofos desta espĂ©cie hajam desaparecido, sobrevivem alguns representantes da mesma famĂlia, apesar de nas veias nĂŁo lhes correr tanto sangue como nas dos antigos. NĂŁo Ă© somente a dificuldade e a canseira que o homem experimenta ao perseguir a verdade, nem sequer o facto de, uma vez encontrada, se impor aos pensamentos humanos, o que leva a conceder Ă s mentiras os maiores favores; Ă© sim, um natural mas corrompido amor da prĂłpria mentira. Uma das Ăşltimas escolas dos Gregos examinou esta questĂŁo, mas deteve-se a pensar no que leva o homem a armar as mentiras, quando nĂŁo o faz por prazer, como os poetas, ou por utilidade, como os mercadores, mas pelo prĂłprio mentir.
Não sei como dizê-lo, mas a verdade é uma luz nua e crua que não mostra as máscaras, as cegadas e os cortejos do mundo com metade da altivez e da graciosidade com que aparecem iluminados pelos candelabros.
Toda a arte é autobiográfica, a pérola é a autobiografia da ostra.
A inocência tem na alma uma pérola, e as pérolas não se dissolvem no lodo.
Depois do espĂrito de discernimento, o que há de mais raro no mundo sĂŁo os diamantes e as pĂ©rolas.
Saudades
Serei eu alguma hora tĂŁo ditoso,
Que os cabelos, que amor laços fazia,
Por prémio de o esperar, veja algum dia
Soltos ao brando vento buliçoso?Verei os olhos, donde o sol formoso
As portas da manhĂŁ mais cedo abria,
Mas, em chegando a vĂŞ-los, se partia
Ou cego, ou lisonjeiro, ou temeroso?Verei a limpa testa, a quem a Aurora
Graça sempre pediu? E os brancos dentes,
por quem trocara as pérolas que chora?Mas que espero de ver dias contentes,
Se para se pagar de gosto uma hora,
NĂŁo bastam mil idades diferentes?
O VerĂŁo
Estás no verão,
num fio de repousada água, nos espelhos perdidos sobre
a duna.
Estás em mim,
nas obscuras algas do meu nome e Ă beira do nome
pensas:
teria sido fogo, teria sido ouro e todavia Ă© pĂł,
sepultada rosa do desejo, um homem entre as mágoas.
És o esplendor do dia,
os metais incandescentes de cada dia.
Deitas-te no azul onde te contemplo e deitada reconheces
o ardor das maçãs,
as claras noções do pecado.
Ouve a canção dos jovens amantes nas altas colinas dos
meus anos.
Quando me deixas, o sol encerra as suas pérolas, os
rituais que previ.
Uma colmeia explode no sonho, as palmeiras estĂŁo em
ti e inclinam-se.
Bebo, na clausura das tuas fontes, uma sede antiquĂssima.
Doce e cruel Ă© setembro.
Dolorosamente cego, fechado sobre a tua boca.
Natureza
Aos Poetas
Tudo por ti resplende e se constela,
Tudo por ti, suavĂssimo, flameja;
És o pulmão da racional peleja,
Sempre viril, consoladora e bela.Teu coração de pérolas se estrela,
E o bom falerno dás a quem deseja
Vigor, saúde a crença que floreja,
Que as expansões do cérebro revela.Toda essa luz que bebe-se de um hausto
Nos livros sĂŁos, todo esse enorme fausto
Vem das verduras brandas que reluzem!Esse da idéia esplêndido eletrismo,
O forte, o grande, audaz psicologismo,
Os organismos naturais produzem…
Lágrimas
Ela chorava muito e muito, aos cantos,
Frenética, com gestos desabridos;
Nos cabelos, em ânsias desprendidos
Brilhavam como pérolas os prantos.Ele, o amante, sereno como os santos,
Deitado no sofá, pés aquecidos,
Ao sentir-lhe os soluços consumidos,
Sorria-se cantando alegres cantos.E dizia-lhe entĂŁo, de olhos enxutos:
– “Tu pareces nascida da rajada,
“Tens despeitos raivosos, resolutos:“Chora, chora, mulher arrenegada;
“Lagrimeja por esses aquedutos…
-“Quero um banho tomar de água salgada.”
O amor puro engrandece as almas; e quem sabe amar, sabe morrer. Não há pérola semelhante ao amor.
há-de flutuar uma cidade…
há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu… como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcadopor vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentĂssimos… sem ninguĂ©me nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentado Ă porta… dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci… acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no
coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala Ă minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dĂşvidas que alguma vez me visite a felicidade
Afrodite II
Cabelo errante e louro, a pedraria
Do olhar faiscando, o mármore luzindo
AlvirrĂłseo do peito, – nua e fria,
Ela Ă© a filha do mar, que vem sorrindo.Embalaram-na as vagas, retinindo,
Ressoantes de pĂ©rolas, – sorria
Ao vĂŞ-la o golfo, se ela adormecia
Das grutas de âmbar no recesso infindo.Vede-a: veio do abismo! Em roda, em pêlo
Nas águas, cavalgando onda por onda
Todo o mar, surge um povo estranho e belo;Vêm a saudá-la todos, revoando,
Golfinhos e tritões, em larga ronda,
Pelos retorsos bĂşzios assoprando.
A Imensa Imoralidade da ExistĂŞncia
Viver era como correr em cĂrculo num grande labirinto, esse gĂ©nero de labirinto para crianças que se vĂŞ em certos parques de jogos modernos; em cima de uma pedra no meio do labirinto há uma pedra brilhante; os mĂudos chegam com as faces coradas, cheios de uma fĂ© inabalável na honestidade do labirinto e começam a correr com a certeza de alcançarem dentro de pouco tempo o seu alvo. Corremos, corremos, e a vida passa, mas continuaremos a correr na convicção de que o mundo acabará por se mostrar generoso para quem correr sem desĂŁnimo, e quando por fim descobrimos que o labirinto sĂł aparentemente tende para o ponto central, Ă© tarde demais – de facto, o construtor do labirinto esmerou-se a desenhar várias pistas diferentes, das quais sĂł uma conduz Ă pĂ©rola, de modo que Ă© o acaso cego e nĂŁo a justiça lĂşcida o que determina a sorte dos que correm.
Descobrimos que gastámos todas as nossas forças a realizar um trabalho perfeitamente inútil, mas é muito tarde já para recuarmos. Por isso não é de espantar que os mais lúcidos saiam da pista e suprimam algumas voltas inúteis para atingirem o centro cortando caminho. Se dissermos que se trata de uma acção imoral e maldosa,
A Uma Dama.
VĂŞs esse Sol de luzes coroado,
Em pérolas a Aurora convertida;
VĂŞs a Lua, de estrelas guarnecida;
Vês o Céu, de planetas adornado?O céu deixemos: vês, naquele prado,
A rosa com razĂŁo desvanecida,
A açucena por alva presumida,
O cravo por galã lisonjeado?Deixa o prado: vem cá, minha adorada:
VĂŞs desse mar a esfera cristalina
Em sucessivo aljĂ´far desatada?Parece aos olhos ser de prata fina…
VĂŞs tudo isto bem? Pois tudo Ă© nada
Ă€ vista do teu rosto, Catarina.
Soneto XXXXIIII
Do fundo sobe do mar Indo acima
A recolher o orvalho a concha, e nela,
Despois que pouco a pouco se congela,
A pérola nos dá de tanta estima.Hoje, despois que o Céu choveu de cima
O rico orvalho, aquela concha, aquela
Divina humana, mais que todas bela,
O mundo pobre com seu parto anima.Mas ai que a concha aberta o orvalho fino
Recebe, e em pedra dá; porém, Maria,
De outra invenção e modo extraordinário.E como vem tão pobre este minino?
Vem tosca pedra, e seu preço e valia
Só conhece o discreto lapidário.
A umas Lágrimas de uma Despedida
Quando de ambos os céus caindo estava
O rico orvalho, em pérolas formado,
E sobre as frescas rosas derramado,
Igual beleza recebia e dava.Amor que sempre ali presente estava,
Como competidor de meu cuidado,
Num vaso de cristal de ouro lavrado
As gotas uma a uma entesourava.Eu, c’os olhos na luz, que aquele dia,
Entre as nuvens do novo sentimento,
Escassamente os raios descobria,Se me matar (dizia) apartamento,
Ao menos não fará que esta alegria
NĂŁo seja paga igual de meu tormento.
Dá o santo aos cães, atira tuas pérolas aos porcos; o que importa é dar.
Cada mulher é um mundo insondável a ser explorado, uma pérola viva no teatro da existência, um universo de emoções e pensamentos.