Noiva Da Agonia
TrĂŞmula e sĂł, de um tĂşmulo surgindo,
Aparição dos ermos desolados,
Trazes na face os frios tons magoados,
De quem anda por tĂşmulos dormindo…A alta cabeça no esplendor, cingindo
Cabelos de reflexos irisados,
Por entre aureolas de clarões prateados,
Lembras o aspecto de um luar diluindo…NĂŁo Ă©s, no entanto, a torva Morte horrenda,
Atra, sinistra, gélida, tremenda,
Que as avalanches da IlusĂŁo governa…Mas ah! Ă©s da Agonia a Noiva triste
Que os longos braços lĂvidos abriste
Para abraçar-me para a Vida eterna!
Sonetos sobre Tristes
308 resultadosO Lago Do Cisne
Foram meus olhos, duas asas tontas
que ao teu redor, como ao redor da luz
queimaram suas ânsias e ficaram
mortos no chĂŁo, como cigarras mortas…No bailado em que estavas, sobre o palco,
meu desejo – esse fauno de alma triste,
tomaria teu corpo e bailaria
atĂ© que o mundo se fundisse ao sonho…Olhos de luar e vinho que me seguem
na ária da solidão em que me envolvo
sem volta, sem partida, sem transcurso…Foram meus olhos que te descobriram
e ficaram vogando esse abandono
de cisne branco sobre o lago imenso…
Olhos Suaves, que em Suaves Dias
Olhos suaves, que em suaves dias
Vi nos meus tantas vezes empregados;
Vista, que sobra esta alma despedias
Deleitosos farpões, no céu forjados:Santuários de amor, luzes sombrias,
Olhos, olhos da cor de meus cuidados,
Que podeis inflamar as pedras frias,
Animar cadáveres mirrados:Troquei-vos pelos ventos, pelos mares,
Cuja verde arrogância as nuvens toca,
Cuja hrrĂsona voz perturba os ares:Troquei-vos pelo mal, que me sufoca;
Troquei-vos pelos ais, pelos pesares:
Oh câmbio triste! oh deplorável troca!
Quando Eu Via o Triste Fim que Davam os Meus Amores
O cisne, quando sente ser chegada
A hora que põe termo à sua vida,
Harmonia maior, com voz sentida,
Levanta pela praia inabitada.Deseja lograr vida prolongada,
E dela está chorando a despedida;
Com grande saudade da partida,
Celebra o triste fim desta jornada.Assim, Senhora minha, quando eu via
O triste fim que davam meus amores,
Estando posto já no extremo fio,Com mais suave acento de harmonia
Descantei pelos vossos desfavores
La vuestra falsa fe y el amor mio.
Toledo
DiluĂdo numa taça de oiro a arder
Toledo Ă© um rubi. E hoje Ă© sĂł nosso!
O sol a rir… Vivalma… NĂŁo esboço
Um gesto que me nĂŁo sinta esvaecer…As tuas mĂŁos tacteiam-me a tremer…
Meu corpo de âmbar, harmonioso e moço
É como um jasmineiro em alvoroço
Ébrio de sol, de aroma, de prazer!Cerro um pouco o olhar onde subsiste
Um romântico apelo vago e mudo,
– Um grande amor Ă© sempre grave e triste.Flameja ao longe o esmalte azul do Tejo…
Uma torre ergue ao cĂ©u um grito agudo…
Tua boca desfolha-me num beijo…
A Vida que Vivemos
A vida que vivemos encerrou-se
na concha de coral duma lembrança.
Por muros altaneiros confmou-se,
volteia dentro deles em suave dança.Liberta de sonhar, por tal fronteira,
condenada a um eterno redopio,
pusilânime e triste timoneira
balançando ao sabor do teu navio,ó estranha expressão de movimento,
tĂŁo escrava de ti que nĂŁo tens fim,
Ăł reduto fechado dum tormentocujas mĂŁos me maltratam sĂł a mim,
deixa as aves lançarem no teu meio
essa sombra das asas por que anseio!
Ah! minha Dinamene! Assim deixaste
Ah! minha Dinamene! Assim deixaste
Quem nĂŁo deixara nunca de querer-te!
Ah! Ninfa minha, já não posso ver-te,
Tão asinha esta vida desprezaste!Como já pera sempre te apartaste
De quem tĂŁo longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
Que nĂŁo visses quem tanto magoaste?Nem falar-te somente a dura Morte
Me deixou, que tĂŁo cedo o negro manto
Em teus olhos deitado consentiste!Oh mar! oh céu! oh minha escura sorte!
Que pena sentirei que valha tanto,
Que inda tenha por pouco viver triste?
A Minha Estrela
A meu irmĂŁo AprĂgio A.
E eu disse – Vai-te, estrela do Passado!
Esconde-te no Azul da Imensidade,
Lá onde nunca chegue esta saudade,
– A sombra deste afeto estiolado.Disse, e a estrela foi p’ra o CĂ©u subindo,
Minh’alma que de longe a acompanhava,
Viu o adeus que do Céu ela enviava,
E quando ela no Azul foi-se sumindoSurgia a Aurora – a mágica princesa!
E eu vi o Sol do Céu iluminando
A Catedral da Grande Natureza.Mas a noute chegou, triste, com ela
Negras sombras também foram chegando,
E nunca mais eu vi a minha estrela!
O cisne, quando sente ser chegada
O cisne, quando sente ser chegada
A hora que põe termo a sua vida,
MĂşsica com voz alta e mui subida
Levanta pela praia inabitada.Deseja ter a vida prolongada
Chorando do viver a despedida;
Com grande saudade da partida,
Celebra o triste fim desta jornada.Assim, Senhora minha, quando via
O triste fim que davam meus amores,
Estando posto já no extremo fio,Com mais suave canto e harmonia
Descantei pelos vossos desfavores
La vuestra falsa fé y el amor mio.
Sonho
Sonhei – nem sempre o sonho Ă© coisa vĂŁ –
Que um vento me levava arrebatado,
Através desse espaço constelado
Onde uma aurora eterna ri louçã…As estrelas, que guardam a manhĂŁ,
Ao verem-me passar triste e calado,
Olhavam-me e diziam com cuidado:
Onde está, pobre amigo, a nossa irmã?Mas eu baixava os olhos, receoso
Que traĂssem as grandes mágoas minhas,
E passava furtivo e silencioso,Nem ousava contar-lhes, Ă s estrelas,
Contar Ă s tuas puras irmĂŁzinhas
Quanto és falsa, meu bem, e indigna delas!
Velho Tema IV
Eu nĂŁo espero o bem que mais desejo:
Sou condenado, e disso convencido;
Vossas palavras, com que sou punido,
SĂŁo penas verdades de sobejo.O que dizeis Ă© mal muito sabido,
Pois nem se esconde nem procura ensejo,
E anda Ă vista naquilo que mais vejo:
Em vosso olhar, severo ou distraĂdo.Tudo quanto afirmais eu mesmo alego:
Ao meu amor desamparado e triste
Toda a esperança de alcançar-vos nego.Digo-lhe quanto sei, mas ele insiste;
Conto-lhe o mal que vejo, e ele que Ă© cego
Põe-se a sonhar o bem que não existe.
Todo O Animal Da Calma Repousava
Todo o animal da calma repousava,
sĂł Liso o ardor dela nĂŁo sentia;
que o repouso do fogo em que ardia
consistia na Ninfa que buscava.Os montes parecia que abalava
o triste som das mágoas que dezia;
mas nada o duro peito comovia,
que na vontade d’outrem posto estava.Cansado já de andar pela espessura,
no tronco d’ĂĽa faia, por lembrança,
escreveu estas palavras de tristeza:“Nunca ponha ninguĂ©m sua esperança
em peito feminil, que, de natura,
somente em ser mudável tem firmeza”.
O CorrupiĂŁo
Escaveirado corrupiĂŁo idiota,
Olha a atmosfera livre, o amplo éter belo,
E a alga criptĂłgama e a Ăşsnea e o cogumelo,
Que do fundo do chão todo o ano brota!Mas a ânsia de alto voar, de à antiga rota
Voar, nĂŁo tens mais! E pois, preto e amarelo,
Pões-te a assobiar, bruto, sem cerebelo
A gargalhada da Ăşltima derrota!A gaiola aboliu tua vontade.
Tu nunca mais verás a liberdade! …
Ah! Tu somente ainda és igual a mim.Continua a comer teu milho alpiste.
Foi este mundo que me fez tĂŁo triste,
Foi a gaiola que te pĂ´s assim!
Pior Velhice
Sou velha e triste. Nunca o alvorecer
Dum riso sĂŁo andou na minha boca!
Gritando que me acudam, em voz rouca,
Eu, náufraga da Vida, ando a morrer!A Vida, que ao nascer, enfeita e touca
De alvas rosas a fronte da mulher,
Na minha fronte mĂstica de louca
MartĂrios sĂł poisou a emurchecer!E dizem que sou nova… A mocidade
Estará só, então, na nossa idade,
Ou está em nós e em nosso peito mora?!Tenho a pior velhice, a que é mais triste,
Aquela onde nem sequer existe
Lembrança de ter sido nova… outrora…
Sem Culpa…
Dizes agora que eu quis acabar;
que sou culpada dos teus tristes dias;
que nĂŁo te amei ou nĂŁo te soube amar;
porém é falsa a teima em que porfias.Deixavas-me sozinha, a delirar
ciĂşmes, em loucuras e bravias
crispações; começava a agonizar
o meu amor, e tu… nada fazias!NĂŁo querias acabar mas insististe
nesta separação tão longa e triste
e escrevias-me cartas tĂŁo banais!…Porque quiseste ser o meu ausente?
…se o meu amor já era tĂŁo doente
e eu nĂŁo podia acreditar-te mais!
As Montanhas
II
Agora, oh! deslumbrada alma perscruta
O puerpério geológico interior,
De onde rebenta, em contrações de dor,
Toda a sublevação da crusta hirsuta!No curso inquieto da terráquea luta
Quantos desejos férvidos de amor
NĂŁo dormem, recalcados, sob o horror
Dessas agregações de pedra bruta?!Como nesses relevos orográfĂcos,
InacessĂveis aos humanos tráficos
Onde sĂłis, em semente, amam jazer,Quem sabe, alma, se o que ainda nĂŁo existe
Não vive em gérmen no agregado triste
Da sĂntese sombria do meu Ser?!
Lamento
Um diluvio de luz cae da montanha:
Eis o dia! eis o sol! o esposo amado!
Onde ha por toda a terra um sĂł cuidado
Que nĂŁo dissipe a luz que o mundo banha?Flor a custo medrada em erma penha,
Revolto mar ou golfo congelado,
Aonde ha ser de Deus tĂŁo olvidado
Para quem paz e alivio o céo não tenha?Deus é Pae! Pae de toda a creatura:
E a todo o ser o seu amor assiste:
De seus filhos o mal sempre Ă© lembrado…Ah! se Deus a seus filhos dá ventura
N’esta hora santa… e eu sĂł posso ser triste…
Serei filho, mas filho abandonado!
CrepĂşsculo
Alada, corta o espaço uma estrela cadente.
As folhas fremem. Sopra o vento. A sombra avança.
Paira no ar um languor de mĂstica esperança
e de docĂşra triste, inexprimivelmente.Ă€ surdina da luz irrompe, de repente,
o coro vesperal das cigarras. E mansa,
E marmórea, no céu, curvo e claro, balança,
entre nuvens de opala, a concha do crescente.Na alma, como na terra, a noite nasce. É quando,
da recĂ´ndita paz das horas esquecidas,
vĂŁo, ao luar da saudade, os sonhos acordando…E, na torre do peito, em plácidas batidas,
melancolicamente o coração chorando,
plange o réquiem de amor das ilusões perdidas.
Eterna Dor
Alma de meu amor, lĂrio celeste,
Sonho feito de um beijo e de um carinho,
Criatura gentil, pomba de arminho,
Arrulhando nas folhas de um cipreste.Ă“ minha mĂŁe! Por que no mundo agreste,
Rola formosa, abandonaste o ninho?
Se as roseiras do Céu não têm espinhos,
Quero ir contigo, Ăł lĂrio meu celeste!Ah! se soubesses como sofro, e tanto!
Leva-me Ă terra onde nĂŁo corre o pranto,
Leva-me, santa, onde a ventura existe…Aqui na vida – que tamanha mágoa! –
O prĂłprio olhar de Deus encheu-se d’água…
Ă“ minha mĂŁe, como este mundo Ă© triste!
Noite De Saudade
A Noite vem poisando devagar
Sobre a Terra , que inunda de amargura…
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura…NinguĂ©m vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que Ă© cheia de tortura…
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a Noite escura!Porque és assim tão escura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma Saudade igual Ă que eu contenho!Saudade que eu sei donde me vem…
Talvez de ti, Ăł Noite!…Ou de ninguĂ©m!…
Que eu nunca sei quem sou, nem o que eu tenho!!