Textos sobre Devoção

10 resultados
Textos de devoção escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A Alma Dominada pela Solidão

Se protegerdes com demasiada devoção o jardin secret da tua alma, ele pode facilmente começar a florescer de um modo excessivamente luxuriante, transbordar para além do espaço que lhe estava reservado e tomar mesmo pouco a pouco posse da tua alma de domínios que não estavam destinados a permanecer secretos. E é possível que toda a tua alma acabe por se tornar um jardim bem fechado, e que no meio de todas as suas flores e dos seus perfumes ela sucumba à sua solidão.

A Humildade na Escrita

Nós, os que escrevemos, temos na palavra humana, escrita ou falada, grande mistério que não quero desvendar com o meu raciocínio que é frio. Tenho que não indagar do mistério para não trair o milagre. Quem escreve ou pinta ou ensina ou dança ou faz cálculos em termos de matemática, faz milagre todos os dias. É uma grande aventura e exige muita coragem e devoção e muita humildade. Meu forte não é a humildade em viver. Mas ao escrever sou fatalmente humilde. Embora com limites. Pois do dia em que eu perder dentro de mim a minha própria importância – tudo estará perdido.

A (Má-)Emoção Controlada Pela Razão

Há a ideia de que quando se concede à razão inteira liberdade ela destrói todas as emoções profundas. Esta opinião parece-me devida a uma concepção inteiramente errada da função da razão na vida humana. Não é objectivo da razão gerar emoções, embora possa ser parte da sua função descobrir os meios de impedir que tais emoções sejam um obstáculo ao bem-estar. Descobrir os meios de dminuir o ódio e a inveja é sem dúvida parte da função da psicologia racional. Mas é um erro supor que diminuindo essas paixões, diminuiremos ao mesmo tempo a intensidade das paixões que a razão não condena.
No amor apaixonado, na afeição dos pais, na amizade, na benevolência, na devoção às ciências ou às artes, nada há que a razão deseje diminuir. O homem racional, quando sente essas emoções, ficará contente por as sentir e nada deve fazer para diminuir a sua intensidade, pois todas elas fazem parte da verdadeira vida, isto é, da vida cujo objectivo é a felicidade, a própria e a dos outros. Nada há de irracional nas paixões como paixões e muitas pessoas irracionais sentem sómente as paixões mais triviais. Ninguém deve recear que ao optar pela razão torne triste a vida.

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As Coisas Têm um Preço em Função da Nossa Opinião

Que a nossa opinião atribui um preço às coisas, vê-se por aquelas, em grande número, em que nos fixamos por estimarmos não a elas mas sim a nós; e não consideramos nem as suas qualidades nem as suas utilidades, mas somente o que nos custa a obtê-las, como se isso fosse uma parte da sua substância; e chamamos de valor não ao que elas trazem mas sim ao que lhes colocamos. Daqui depreendo que somos grandes administradores do nosso investimento. Ele vale tanto quanto pesa, justamente porque pesa. A nossa opinião nunca o deixa correr sem carga útil. A compra dá valor ao diamante, e a dificuldade à virtude, e a dor à devoção, e o amargor ao medicamento.
Houve um só que, para chegar à pobreza, atirou os seus escudos nesse mesmo mar que tantos outros esquadrinham por todos os lados para pescar riquezas. Epicuro diz que ser rico não é alívio e sim mudança de dificuldades. Na verdade, não é a penúria, é antes a abundância que produz a avareza.

Em Todas as Sociedades Existe um Impulso Para a Conformidade

A imposição de padrões pelas sociedades aos seus extremamente diversificados indivíduos tem variado muito em diferentes períodos históricos e diferentes níveis de cultura. Nas culturas mais primitivas, onde as sociedades eram pequenas e ligadas a tradições muito estreitas, a pressão para o conformismo era naturalmente muito intensa. Quem ler literatura de antropologia ficará espantado com a natureza fantástica de algumas das tradições às quais os homens tiveram de se adaptar. A vantagem de uma sociedade grande e complexa como a nossa é permitir à variedade de seres humanos expressar-se de muitas maneiras; não precisa de haver uma adaptação intensa, como a que encontramos em pequenas sociedades primitivas. Mesmo assim, em toda a sociedade há sempre um impulso para a conformidade, imposto de fora pela lei e pela tradição, e que os indivíduos impõem sobre si mesmos, tentando imitar o que a sociedade considera o tipo ideal.
A esse respeito, recomendo um livro muito importante do filósofo francês Jules de Gaultier, publicado há cerca de cinquenta anos, chamado “Bovarismo”. O nome vem da heroína do romance de Gustave Flaubert, Madame Bovary, no qual essa jovem mulher infeliz sempre tentava ser o que não era. Gaultier generaliza isso e diz que todos temos tendência a tentar ser o que não somos,

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A Realidade Básica da Vida Está nas Relações Humanas

No meio das nossas máquinas perdemos de vista o facto de que a realidade básica da vida não está na política, nem na indústria, mas nas relações humanas – as associações entre homem e mulher e as destes com os filhos. Em redor destes dois núcleos do amor – amor entre macho e fêmea e amor de mãe – toda a vida evolve. Há o caso daquela jovem revolucionária que, ao realizar-se o «funeral vermelho» do seu amante (morto no levantamento de 1917, em Moscovo), se lançou ao túmulo e, agarrada ao caixão do defunto, gritou: «Enterrem-me também: que me importa a mim a Revolução, agora que ele morreu?»
Esta moça poderia estar iludida ao julgar o seu namorado um ser único na terra – mas sabia com essa sabedoria ingénita da mulher, que a tremenda revolução era um incidente sem importância, se comparada ao Mississipi de uniões amorosas, de gerações de novos seres e de morte que constitui o caudal central da vida. Essa rapariga não ignorava, embora jamais houvesse pensado nisso, que a família é mais que o Estado: sabia que a devoção amorosa e o desespero calam mais fundo no coração do que tudo quanto é económico,

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A Recompensa de Todas as Virtudes Reside na Sua Prática

Devemos fazer tudo no sentido de sermos tão gratos quanto possível. A gratidão é um bem que nos pertence a nós, assim como a justiça (ao contrário do que vulgarmente se crê) tira o seu valor mais de si mesma do que da aplicação aos outros. Cada um de nós ao ser útil aos outros, é útil a si mesmo. Não digo isto no sentido de cada um pretender ajudar quando é ajudado, proteger quando é protegido, ou no sentido de que um bom exemplo acaba por redundar em benefício do seu autor (tal como os maus exemplos recaem nos seus autores – e por isso ninguém tem pena das vítimas de injúrias que as próprias vítimas, por também as fazerem, mostram ser possíveis); quero, sim, dizer é que a recompensa de todas as virtudes reside na sua prática! Não é com vista a obter uma recompensa que nós as praticamos: o prémio de uma acção correcta é essa mesma acção! Eu não me mostro grato para que um outro, levado pelo meu exemplo, me faça um favor de melhor vontade, mas porque a gratidão provoca um sentimento da mais pura e bela alegria. Não me mostro grato porque isso me possa ser útil,

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O Meu Amor é uma Devoção Absoluta e uma Agonia

São quatro horas da manhã: devia deitar-me em vez de escrever, mas não consigo. Deixei-a há três horas e só tenho pensado em si, não posso impedir-me de lho dizer. Prometeu–me amizade, uma amizade um pouco diferente da que concede à multidão dos seus amigos. Estou-lhe muito grato. Por mim, consagro-lhe a minha vida inteira e o que tiver de espírito, de faculdades, de forças físicas e morais, em troca dessa amizade, insignificante mas preciosa. Só por ela vivo, juro-lhe. Juro-lhe que em momento algum, nem de noite nem de dia, nem no meio dos afazeres, a sua imagem me abandona. O meu amor é uma sensação constante que coisa alguma suspende, interrompe e que é alternadamente uma devoção absoluta, de certa doçura, e uma agonia tão horrível que se ma prolongasse dois dias seguidos acabaria comigo.

O Carácter não se Revela no muito Consumir, mas no muito Criar

A primeira regra do carácter é a unidade – ou, nas palavras de Goethe, «ser um todo ou juntar-se a um todo». E a segunda, avançar, nunca recuar. Essas duas regras traçam uma linha de desenvolvimento em ascensão, da qual o homem de valor pode desviar-se numa certa medida, não tanto, porém, que os desvios enublem a regra. No primeiro grupo de instintos, por exemplo, poderá ser admitido o da limpeza, embora seja instinto com raízes no impulso negativo da repugnância. «Na criança – diz Nietzsche – o senso da limpeza deve ser estimulado vivamente, porque mais tarde florirá sobre aspectos novos até às alturas da virtude.» O asseio está próximo da devoção; e como é, se não há deuses? Mas não queremos chegar ao ascetismo de um banho frio perpétuo, nem que nos tornemos Apolos do cabelo bem penteado, nem vítima das manicuras; e sentiremos sempre uma secreta inveja daquele estadista teólogo que não deixava a sua ortodoxia interferir no seu apetite.
A mesma atitude tomaremos em relação à pugnacidade e à sua espora, o orgulho; temos aqui virtudes, não vícios – que podamos para que se desenvolvam melhor. Nada de impetuosidade briguenta e de presunção; a presunção é o orgulho da vitória apenas imaginária,

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Os Vários Tipos de Amor

Parece-me que podemos, com maior razão, distinguir o amor em função da estima que temos pelo que amamos, em comparação com nós mesmos. Pois quando estimamos o objecto do nosso amor menos que a nós mesmos, temos por ele apenas uma simples afeição; quando o estimamos tanto quanto a nós mesmos, a isso se chama amizade; e quando o estimamos mais, a paixão que temos pode ser denominada como devoção. Assim, podemos te afeição por uma flor, por um pássaro, por um cavalo; porém, a menos que o nosso espírito seja muito desajustado, apenas por seres humanos podemos ter amizade. E de tal maneira eles são objecto dessa paixão que não há homem tão imperfeito que não possamos ter por ele uma amizade muito perfeita, quando pensamos que somos amados por ele e quando temos a alma verdadeiramente nobre e generosa.
Quanto à devoção, o seu principal objecto é sem dúvida a soberana divindade, da qual não poderíamos deixar de ser devotos quando a conhecemos como se deve conhecer. Mas também podemos ter devoção pelo nosso príncipe, pelo nosso país, pela nossa cidade, e mesmo por um homem particular quando o estimamos muito mais que a nós mesmos. Ora,

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