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Raros são os homens dotados de bastante caráter para se regozijarem com os sucessos de um amigo sem uma sombra de inveja.

A Importância da Segunda Leitura

Há escritores, dissera eu a Gambetti, que entusiasmam o leitor, quando este os lê pela segunda vez, em muito mais alto grau do que na primeira vez, com Kafka sempre me acontece assim. Conservo Kafka na memória como um grande escritor, tinha eu dito a Gambetti, mas, ao relê-lo, fiquei absolutamente com a impressão de ter lido um ainda muito maior. Não há muitos escritores que, à segunda leitura, se tornem mais importantes, mais admiráveis, na sua maior parte lemo-los pela segunda vez e envergonhamo-nos de alguma vez os ter lido, com centenas de escritores assim nos acontece, mas não com Kafka nem com os grandes russos, Dostoievski, Tolstoi, Turgueniev, Lermontov, nem com Proust, com Flaubert, com Sartre, que para mim se contam entre os maiores de todos. Não me parece que seja mau o método de ler uma segunda vez os escritores que tínhamos lido uma vez e nos tinham impressionado, pois eles são nesse caso ou ainda muito maiores, muito mais importantes, ou a sua importância desvanece-se por completo.

Muitos filhos só entenderão que deveriam ter conhecido e amado mais seus pais no dia em que ele fecharem os olhos para sempre.

Corre, Já entre Serras Escarpadas

Corre, já entre serras escarpadas,
Já sobre largos campos, murmurando.
o Tieté, e, as águas engrossando,
soberbo alaga as margens levantadas.

Penedos, pontes, árvores copada:
quanto topa, de cólera escumando,
com fragor espantoso vai rolando
nos vórtices das ondas empoladas.

Mas quando mais caudal, mais orgulhoso,
as margens rompe, cai precipitado,
atroando ao redor toda a campina.

O próprio retrato é dum poderoso,
pois quanto mais sublime é seu estado
mais estrondosa é a sua ruína.

Eu aprendi… que sempre posso fazer uma prece por alguém, quando não tenho forças para ajudá-lo de alguma outra forma.

A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos.

Da Emenda

Concluido me tendo a mi comigo
De deixar o caminho que levava,
Vendo com razões claras quanto errava
Em não me desviar do mais antigo.

Pois no trabalho seu, no mor perigo,
Meu amigo consigo a mi me achava;
E quando no meu mal algum buscava,
Achava-me comigo sem amigo.

Agora dei a volta por caminhos
De solitarios bosques enramados,
De feras bravas mansos passarinhos;

Que ainda que entre espinhos conversados,
Mais quero pé descalço entre espinhos,
Que dos homens humanos espinhados.